Uma flor para uma flor
Clementine, em seu gabinete, admirava o claro céu da paisagem emoldurada pela janela. O dia estava muito quente e, como todos iguais àquele, deixava-a com muita preguiça. Fazia já alguns dias desde o casamento de Maria Belinha com Valentim. Pouco depois da festa ambos partiram para uma viagem sem destino certo. Iriam explorar o mundo e depois comprar uma casa em algum lugar.
Bárbara se via tão chorosa por aqueles dias, que era difícil até mesmo conversar consigo. Não que Clementine tentasse muito. Imaginava a dor de ver um filho partir depois de anos junto a si e pensou se seria capaz de ver Émile partir um dia, quando ele finalmente se casasse e começasse a própria família. Ele, que era seu maior tesouro e que mudara sua vida para melhor.
A casa parecia vazia sem a enérgica moça se agitando pelos cômodos. Marcel passava ainda mais tempo com o sobrinho e também estava tristonho pela partida daquela que fora, por anos, sua amiga mais próxima.
Primeiro Antônia, depois Valentin e Maria Belinha, quem seria o próximo a partir? Quem seria o culpado de deixar a casa ainda mais silenciosa e fria?
— Minha namorada não trabalha mais, é uma preguiçosa. — A voz de Ícaro chamou a atenção.
Ele estava parado na porta do gabinete, desalinhado, porém limpo. Vestia apenas camisa, calça e botas devido o calor e tinha um pequeno vaso em mãos no qual uma jovem planta ostentava em sua haste mais longa uma flor de cor vermelha.
— Aonde vai com essa planta? — Clementine questionou.
— É sua. — Ícaro fechou a porta do gabinete e se aproximou. — Dona Perpétua plantou para você, mas disse que eu deveria fingir que foi obra minha.
A francesa sorriu, pois a sogra era mesmo uma graça.
— Havia também uma frase que eu deveria dizer ao entregar a planta. Qual era mesmo? — Ícaro olhou para cima na tentativa de lembrar. — Ah! Era "uma flor para uma flor".
A mulher gargalhou. Era bonito. Perpétua tinha mesmo um coração iluminado.
— Então você decidiu matar todo o romantismo? — Clementine questionou ao namorado, que colocou o vaso no chão em um canto do gabinete, e depois olhou para ela com as mãos posicionadas na cintura.
— Foi isso que aconteceu agora? — Ele se aproximou dela que ainda estava sentada. — Matei o romantismo? Pobres dos amantes do mundo que vão precisar seguir sem ele.
Ela gargalhou uma vez mais. Quando mal humorado Ícaro era intragável, mas de bom humor era um deleite, e desde que Valentim se casara o humor dele estava sempre esplêndido.
— Sabe, eu não matei o romantismo. Apenas fui mais prático, como você. — Ícaro sustentou o olhar da mulher e depois a puxou para si. — Me beije.
O corpo dela se chocou contra o do homem e ele a enlaçou com um braço. Os lábios de ambos se encontraram antes mesmo que Clementine passasse os braços por sobre os ombros dele e o enlaçasse pelo pescoço. Os corações aceleraram enquanto as línguas quentes dançavam dentro das bocas.
Com uma das mãos, o homem começou a arrancar as presilhas do cabelo da namorada, jogando-as ao chão. Rapidamente Clementine tinha os compridos fios completamente soltos. Ícaro os segurou e puxou para baixo, fazendo com que a cabeça da mulher tombasse para trás e deixasse o pescoço dela completamente exposto.
Ícaro beijou do maxilar ao colo. Cada vez que os lábios quentes tocavam a pele de Clementine, ela se arrepiava por inteiro, tremendo. As partes íntimas da mulher davam sinal de excitação e as dele também, ela pôde sentir quando passou a mão sobre a região.
De olhos fechados ela sentia o calor do prazer inundar o próprio corpo. Então alguém bateu na porta.
Ambos se separaram. Émile chorava do outro lado, e com o coração acelerado de medo Clementine correu para acudi-lo.
Quando abriu as portas viu que o irmão segurava nos braços o sobrinho choroso, a criança também gritava, algo muito atípico vindo de Émile.
— Peço desculpas pela interrupção, mas não consigo acalmá-lo. — Marcel disse cheio de preocupação.
— O que aconteceu? — Clementine começou a embalar o filho.
— Estávamos passeando perto da mata quando ele começou a chorar enquanto apontava e dizia que viu um bicho. — O irmão explicou.
— Havia algum animal? — A mãe tentava acalmar o menino, mas não tinha muito sucesso na empreitada.
— Não vi animal algum, mas me parece impossível que ele tenha imaginado algo. Você entende como Émile é tranquilo. — O francês pontuou.
— Talvez seja algum invasor. — Ícaro opinou. — Vou procurá-lo.
O homem já saía da sala quando o cunhado gritou para ele:
— Também irei!
Ambos saíram e Clementine, aos poucos, serenou Émile.
Ícaro, Marcel e mais cinco homens armados fizeram uma incursão pela mata, porém nada foi encontrado. Era, de fato, intrigante.
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