11 - O PALHAÇO
─ O que diabos ela falou no seu ouvido?
─ Nada Severino. Você viu o altar enorme ao lado da cama dela? E o livro preto com aquela estrela de cinco pontas na capa?
─ Uma vez eu tive de entrar no quarto deles, para trocar a resistência do chuveiro que havia queimado, só aí que eu descobri que eles eram bruxos. ─ ele se benze diversas vezes. ─ Haviam dois livros em pé na frente do espelho na época, aquele de capa preta e um outro vermelho, bem mais grosso, eu perguntei que livros eram aqueles e o esposo dela me disse que eram os seus livros das sombras, eu quase mijei nas calças, e saí rapidinho de lá.
─ Como você pode ter medo de uma senhora tão boazinha? ─ perguntei sacaneando ele, que realmente parece apavorado. ─ Cara, um livro das Sombras, é quase um diário dos bruxos, é onde escrevem seus feitiços e segredos. Não é uma bíblia de satanás como você deve pensar! ─ eu ri alto da cara dele nesse momento, e ele me empurrou.
─ Não brinca com essas coisas Marcos! Eu não gosto, tenho muito medo disso. Eu já prefiro mil vezes encarar o louco do 207, do que encarar essa senhora e sua bruxaria! ─ ele realmente fala sério, quando diz que tem medo, está visível no rosto dele.
─ Oi. ─ disse uma senhora negra, bem gorda que acabou de abrir a porta do quarto em frente.
─ A senhora também tem lixo ainda para jogar fora? ─ perguntei.
─ Não, eu só queria dizer para não acreditar em nada que essa mulher disser ou fizer! Ela não bate bem da cabeça, para você ter uma ideia ela e o marido conversam com as plantas!
─ Bom dia dona Luzia, nós estamos com pressa temos pouco mais de uma hora para terminar o serviço. ─ disse o Severino, enquanto vinha em minha direção.
─ Qual o seu nome rapaz? perguntou ela.
─ Meu nome é Marcos, prazer dona Luzia. ─ apertamos as mãos, mas logo em seguida o Severino me puxou pelo braço e fomos descendo para o terceiro andar, após mandar o elevador para lá.
─ Vamos logo com isso Marcos, temos pouco tempo. ─ ele vai colhendo o lixo, enquanto eu vou varrendo com o vassourão. ─ Você está ficando maluco? Aquela é a macumbeira de que falei!
─ Bem que eu estranhei aquela luz de velas atrás dela! Ela não tem luz no quarto dela não?
─ Dizem que ela está sempre no escuro! Meu Deus do céu, eu não queria ficar lembrando dessas coisas não cara! ─ ele termina de recolher o lixo e pega o seu vassourão.
─ Como assim no escuro?
─ Ela é macumbeira das brabas, dizem que ela tem uma bacia daquelas antigas de alumínio bem no meio do quarto, e dentro dele ficam cinco crânios de boi cercados de velas, representando o pentagrama invertido. Dizem que ela nunca pode deixar as velas apagar, então elas sempre serão vistas acesas. ─ novamente ele começa a se benzer.
─ Rapaz, se eu contar tudo que existe de estranho envolvendo este lugar, acho que ninguém acreditaria!
─ Vamos logo Marcos, não gosto dessa sensação!
─ Que sensação? ─ eu pego a minha pá e colho o lixo que juntei com a vassoura.
─ Eu me sinto como se estivessem nos observando. ─ ele colhe com a pá o lixo dele também.
─ E ai Severino, bom dia! ─ um rapaz negro muito forte, muito forte mesmo, sai de um dos quartos com uma mochila nas costas.
─ Fala aí bombado!
─ Bombado não, quantas vezes eu tenho que dizer que isso tudo aqui é natural! ─ ele ficou exibindo os bíceps para o cearense.
─ Viu isso Marcos? Mas do que adianta ter dois metros de altura e todos estes músculos, se você não pode chegar nem perto de uma agulha! ─ ele riu muito enquanto balançava a cabeça.
─ Paraíba, paraíba se eu te pegar! ─ o negão só ameaçou correr, batendo o pé no chão na direção dele, e ele saiu em disparada.
─ Qual é Almir, é brincadeira pô. ─ ele vem se aproximando lentamente, de onde está o seu carrinho de limpeza.
─ Fala aí, cuidado com esse cearense que ele é um grande filho da puta hein? ─ eu ainda ria do Severino, quando ele esticou a sua mão direita para mim. ─ Meu nome é Almir, eu sou o outro rapaz da limpeza. Meu turno começa depois do seu primeiro turno e vai até as 16:00hs.
─ Meu nome é Marcos. Então o seu turno são seis horas corridas, não é? Eu acho melhor assim, você fica um pouco mais livre.
─ Cara não dá para aproveitar muito não, aqui depois das 22 horas acontecem coisas sinistras! Você vai ver. ─ disse apontando para mim, com os olhos bem arregalados.
─ Qual é Almir, me diz que coisas são essas! ─ perguntei bem sério para ele.
─ Agora não dá para te contar nada, tenho que comprar pão e algo para comer no almoço. Valeu pessoal vou nessa, depois nos falamos. ─ acenou com a mão e correu em direção as escadas.
─ Valeu! ─ eu e o Severino respondemos, enquanto íamos colocando os nosso carrinhos no elevador.
─ Ele faz as mesmas coisas que eu? ─ perguntei enquanto descíamos as escadas para o segundo andar.
─ Não, ele lava o prédio todo, e sozinho.
─ Poxa! Ele deve ser uma fera, lavar isso tudo sozinho?! ─ nesse momento, chegamos no segundo andar.
─ O cara é muito bom mesmo, eu sacaneio ele para caralho, mas o cara é um monstro no trabalho! ─ o cearense entra no elevador para pegar os carrinhos, eu me viro para o corredor nesse momento, pois ouvi uma respiração alta e ofegante.
─ Severino, que porra é essa?! Diz que é uma pegadinha, cara pelo amor de Deus! ─ o que eu vi me fez gelar dos pés a cabeça, um palhaço parado em frente a porta aberta do 207, ele está agachado no chão balançando o corpo igual a um demônio, com a ponta de um facão enorme fixa no chão. Ele fica balançando o cabo de um lado para o outro, com a palma da mão direita encima do cabo. Aquela pouca iluminação, deixou aquela cena tão mais sinistra!
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