"Tão curioso"
Lily abriu seus olhos com uma leve dificuldade. O local onde se encontrava era claro demais e, para piorar, um vulto preto não parava de se mexer em sua frente, andando de um lado para o outro, o que a causava uma leve dor de cabeça pela forma que se forçava a ajustar os olhos para descobrir quem era. Havia vozes "baixas" e Lily podia jurar que a voz de Severus falava mais alto entre todas, e a voz mais calma era inconfundível, Remus tentava acalmá-lo com uma paciência desconhecida.
Uma pergunta girava pela mente de Lily. Onde estava? A garota lembrava de ter sonhado uma coisa imensamente estranha. Severus em seu sonho dissera que estava namorando com três pessoas, os três marotos. Foi um sonho um tanto assustador... Quer dizer, ela não sabia se havia sido mesmo um sonho. Às vezes ela achava não conhecer Severus o suficiente.
--Gente...--Ela consegue murmurar com uma dificuldade alarmante.--Onde eu estou?
Não demorou muito para o vulto preto se ajoelhar em sua frente, mas precisamente com o rosto acima de sua cabeça. Lily finalmente pôde ver quem era (não que ela já não soubesse, pois era meio óbvio). Severus estava assustado e com a preocupação totalmente percebível em seus olhos escuros.
--Você ficou desmaiado por duas horas!--Ele fala alto demais, o que faz Lily sentir seus ouvidos apitarem. O que custava para Severus ser um pouco delicado? Ela havia acabado de acordar de seu primeiro... Espera, ela havia desmaiado?
--Eu desmaiei... Sério?--Ela não evita a pergunta.--Eu nunca desmaiei na minha vida e hoje eu consegui desmaiar? O que aconteceu?
Severus franze uma sobrancelha e outras três cabeças aproveitam para entrar no campo de visão da ruiva. O que James, Sirius e Remus estavam fazendo aí?
--Bem... Eu falei algo que abaixou a sua pressão...
Dessa vez é Lily quem franze uma sobrancelhas. O que Severus poderia ter dito para a sua pressão abaixar tanto ao ponto de ela desmaiar? Teria que ser algo terrível, e Lily duvidava muito que Severus tivesse algo de tão terrível pa... Espera, era Severus Snape em sua frente, óbvio que ele teria.
--Falou o quê?
Severus olha para James, Sirius e Remus logo atrás do mesmo. Eles pareciam ponderar sobre o que diriam para ela, e Lily não era capaz de imaginar o que poderia ser.
--Falem logo!
Severus parece bufar, ela não pôde o culpar.
--Você sabe que eu tenho uma queda pelos três, não sabe?--Lily pisca confusa ao notar que Severus havia falado aquilo na frente deles, mas prefere não dizer nada ao concordar com a cabeça.--Bem, os três gostam de mim também. Então hoje de manhã decidimos embarcar em uma relação... O que significa que estamos namorando... Eu estou namorando James, Sirius e Remus.
A garota não desmaiou, o que foi uma melhora imensa, mas ela também não evitou quando sua boca abriu em um O. A memória da tarde havia voltado, e ela estava muito envergonhada. Ela não acreditava (duvidava que fosse acreditar) no que havia acabado de escutar. Seu melhor amigo estava namorando três... Severus estava namorando três caras, e ela nem se importava por ser três garotos, mas por ser AQUELES garotos. Ela não o julgava... Mas ela também queria saber muito como uma merda daquelas havia acontecido. Não era uma merda, mas ela não sabia como definir aquilo.
--Alguém me explica?! Como é que você está namorando três pessoas ao mesmo tempo? Como foi que isso aconteceu? Por favor, preciso de detalhes, estou abismada!--Ela não evitou que as perguntas explodissem para fora de sua boca. Aquilo era... Aquilo era tão estranho.
Ela sabia que não era uma pegadinha, Severus não brincaria com algo tão sério. Nem os marotos brincariam com algo tão sério. Ninguém brincaria com algo tão sério.
--Bem, a gente se gosta... E, bem, para evitar problemas, como ciúmes, dor, todo tipo de sofrimento, chegamos na questão que é muito melhor embarcarmos em uma relação juntos... Daí ninguém realmente se machuca... e...
--Okay!--Lily se coloca em pé rápido, talvez rápido demais.
Por que ela havia gritado o "okay"? Não fazia ideia, só sabia que seu cérebro já não era mais capaz de processar informações como aquela desde o dia que Severus começou a corresponder os sentimentos de Remus.
--Lily, cuidado, está tonta!
Severus corre ao seu socorro, a pegando nos braços para impedir que caísse de cara no chão (coisa que estaria prestes a acontecer caso Severus não tivesse a segurado). Era muita informação para conseguir processar, e ela não tinha muita facilidade para entender relações. Ela tinha medo que os marotos estivessem brincando com Severus para depois quando cansassem largá-lo na sarjeta.
--Eu não tenho palavras.--Ela decide por fim.--Mas eu vou respeitar, só espero que você saiba o que está fazendo.
Severus não sabia, mas tinha leve ideia de que um dia, não logo, entenderia o que estava fazendo. A ruiva havia soado totalmente séria quando falou.
--Severus, Régulos finalmente está lúcido. Acho que está na hora de explicar para ele.--Sirius chama a atenção de Severus, que olha na direção de onde Régulos se encontrava de forma assustada. Ele não queria fazer mais alguém ter que entender aquilo, Lily mal havia entendido.
--Espera, onde eu estou?--Lily finalmente olha ao redor de onde se encontrava. Com toda a certeza não era o pátio. Severus não havia respondido quando ela acordou.
--É uma sala de aula, nós não podíamos deixá-los lá fora. Logo vai chegar à noite e é lua ch...
Severus se assustou quando Remus cuspiu a água que bebia de uma forma completamente dramática. Ele estava terrivelmente estranho o dia inteiro e Severus não podia evitar a curiosidade. Por que Remus estava tão inquieto? Por que havia cuspido a água antes que terminasse de falar?
--Remus, está tudo bem?
O garoto balança a cabeça rápido demais quando Severus pergunta. E agora os três pareciam estar inquietos e preocupados com algo que Severus desconhecia. O Sonserino poderia definir o que sentia como uma curiosidade imensa.
O que estavam escondendo dele? E por que haviam ficado estranhos do nada?
--Eu só preciso ir em algum lugar agora, okay? Estou absolutamente atrasado!
Severus prestou atenção na forma que Remus correu para fora da sala, como se estivesse atrasado para algum evento (Severus não fazia ideia de qual evento poderia ser). James e Sirius ainda permanecem na sala, Sirius ao lado de um Régulos levemente aterrorizado, enquanto James ficava ao lado da porta, parecendo pensar se deveria ou não ficar. Severus franze as sobrancelhas, pensativo.
--Eu irei ver Remus, vocês conseguem lidar com Régulos?
Severus olha para James, prestando atenção em sua postura tensa. Ele queria muito entender o porquê de terem ficado tão estranhos.
--Pode ir...
O garoto não diz outra antes de sair caminhando rapidamente para fora da sala de aula, deixando apenas Régulos, Sirius, Lily e o próprio Severus para trás. O Sonserino não podia negar a vontade enorme que tinha em descobrir o porquê dos três parecerem tão tensos, tão aterrorizados, tão nervosos... Tão... Tão pensativos.
O que eles estavam tramando?
--Você vai ter que contar para ele.--James dispara quando ver Remus bebendo a poção Matacão na enfermaria. Promfey estava parado ao seu lado de forma paciente, já sabendo que viria uma discussão por aí pela forma que bufou quando James adentrou o recinto.
--Eu sei que eu terei que contar.--Remus retruca.--Eu só não tinha parado para pensar nisso até hoje de tarde. Ele não vai aceitar...
--Você não tem como saber.
--Você sabe de quem estamos falando?
Promfey retira o frasco vazio das mãos de Remus rápido demais, o assustando por um curto segundo. .
--Eu irei deixá-los sozinhos. Só tentem não brigar, por favor.
Promfey sai caminhando rapidamente para longe deles, como se fossem contagiosos. Remus não a culpava, ela deveria estar cansada de escutar discussões de alunos em período hormonal que poderiam muito bem destruir algumas coisas em acessos de raiva... Remus já havia destruído três frascos de poções do sono, mas nunca algo grande.
--Olha,--James decide voltar à conversa.--De nós três, ele prefere você. Eu acho que com paciência, ele vá entender.
--Se ele descobrir, eu aposto que irá acabar com a nossa relação tão rápido quanto ela começou.
James suspira. Ele também havia se assustado quando notou que Severus não sabia desse detalhe especifico de Remus. Severus estava aprendendo a ser mais aberto, pelo o que estavam notando nesse tempo todo, mas a questão era que eles não sabiam como o Sonserino reagiria quando soubesse da licantropia de Remus... Será que ele seria preconceituoso? Ele se afastaria? Nunca mais falaria com eles? O que eles fariam se o Sonserino os abandonassem na sarjeta?
--Se você contar...
--Eu não vou contar tão cedo.--Remus dispara, não deixando que James continuasse o que diria.--Um dia eu conto, mas não será tão cedo, entendeu? Vou contar quando uns bons meses passarem e eu me sentir seguro para confiar o segredo a mais alguém.
James suspira. Ele não tinha como convencer o outro, Remus era teimoso, talvez mais teimoso que Severus. E o problema era dele, do garoto que passava pelo inferno todo o mês... James não era ninguém para forçá-lo a algo.
Severus achava muitas coisas estranhas, mas a forma como os marotos estavam agindo era o que ele mais achava. Quer dizer, Remus estava bipolar o dia inteiro e as olheiras se situavam abaixo de seus olhos de uma forma escura demais. Os outros dois haviam ficado inquietos demais quando ele quase citara a lua cheia e estranhamente haviam desaparecido depois que Severus terminara de fazer Régulos entender a relação.
Severus os procura por todo o castelo, até na Grifinória fora pedir sobre eles, mas ninguém parecia saber onde estavam. Um garoto chegou a dizer que eles nunca ficavam na Grifinória em noites de lua cheia, o que fizera Severus criar um monte de teorias sobre onde eles poderiam estar. Aquilo era muito assustador e estranho.
Quer dizer, será que eles faziam um tipo de ritual na lua cheia? Severus não conseguia chegar a uma ideia certa do motivo de ele ter ficado tão curioso sobre a forma estranha que eles agiram.
O garoto agora se encontrava no pátio, aguardando a noite chegar enquanto se sentia incrivelmente solitário. Eles nem haviam se despedido direito dele, e Severus não fizera questão de passar um tempo com Lily e Régulos depois que deixara a sala de aula vazia. Os amigos haviam entendido, mas ainda estavam processando a nova informação, de uma forma que Severus achava que não fosse conseguir manter uma conversa com eles enquanto não estivessem agindo normalmente.
A noite se aproximava rapidamente e logo a lua cheia apareceria acima de sua cabeça, os uivos começariam e os animais se esconderiam.
Havia uma certa selvageria em noites de lua cheia em Hogwarts.
Estamos atrasados, seus idiotas!
Severus se assusta quando a voz de Remus soa alta em alguma parte do pátio, estranhamente rouca e dolorosa. Severus não consegue fazer qualquer coisa que não fosse se levantar e olhar ao redor do pátio, como se Remus fosse aparecer em sua frente a qualquer segundo.
A culpa não é minha! Vocês que se atrasaram!
James! James também estava por perto. Severus não evita quando seus pés começam a seguir as vozes altas que soavam, querendo os achar. Era como se um imã o puxasse em direção aos três, como se tivesse algo grande para ele ver quando chegasse, como uma surpresa. Uma surpresa para ele!
Entre logo no salgueiro! Tomou a poção?
Aquele era Sirius! Mas como assim entrar no salgueiro? Severus começa a correr, querendo alcançar os três novos namorados. A noite se aproximava de uma forma assustadora atrás de si e ele quase não era capaz de ver onde pisava, o chão estava ficando cada vez mais escuro. Ele não estava conseguindo ajustar a visão.
Sim, seu idiota!
Ele consegue chegar a tempo de ver um rabo felpudo adentrando um buraco atrás do enorme Salgueiro Lutador. Sua respiração estava acelerada e seu cérebro a mil, formulando perguntas sem respostas. A lua cheia surgia logo atrás da Casa dos Gritos, que parecia muito mais assustadora na escuridão que se instalava por todo o vasto campo verde.
Severus poderia simplesmente voltar para o castelo, pois estava ficando tarde e ele precisava fazer as lições que mantinha pendentes. Mas ele estava curioso e seus três namorados haviam desaparecido, sobrando apenas um rabo negro e felpudo como pista. Onde eles haviam se metido? Entraram no buraco?
Severus não evita que seus pés o levem até o buraco, o assustando quando não sente o salgueiro o jogar para longe. Ele deveria lutar contra a aproximação de alunos, não deixar que eles se aproximassem. Aquilo estava estranho...
O Sonserino engole em seco, estudando o vasto buraco. Ele pensa ouvir um uivo e um ganido soando ao longe, dentro do buraco, mas não diz (nem pensa) nada antes de tomar a coragem que precisava para se tacar no buraco perfeito para o seu tamanho. Ele escorrega para dentro, caindo em um chão batido de terra com um baque, tal baque que machuca suas bambas. Ele pensa escutar um grito, um latido, um outro uivo alto e um ganido pior ainda de dor. Havia algo grande no buraco, algo grande demais para o seu cérebro processar.
Severus se coloca em pé veloz, e seus olhos se arregalam quase que institivamente ao notar o que acontecia em sua frente. A sua curiosidade havia o levado para o pior lugar possível... A curiosidade mataria o gato.
Havia um cachorro, um cervo e Remus Lupin que se contorcia no chão enquanto se transformava em uma enorme fera, Severus conheceria aquele cabelo em qualquer lugar. O Sonserino sente como se todo o ar deixasse os seus pulmões quando o cervo se transforma em uma pessoa, não uma pessoa qualquer, mas James Potter.
O que estava acontecendo?!
--Severus, corre!
Ele não consegue prestar atenção no grito de James, seus olhos permanecem no que acontecia no chão em sua frente. Ele não acreditava no que estava vendo.
Remus Lupin, a pessoa que descobrira estar apaixonado, era um lobisomem.
A transformação termina e a fera rosna enquanto todos os seus pelos se arrepiam. James corre em sua direção rápido demais para Severus conseguir processar, ao mesmo tempo que a fera parece começar a correr em sua direção. Severus grita, e tudo desaparece diante de seus olhos quando um o breu faz presença.
Havia desmaiado, e ele nunca saberia o que viria a acontecer em seguida pelo exato motivo.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro