"Tão amada e velha esperança"
Remus ficou preocupado, sobretudo quando olhou a página do feitiço e não encontrou nada nas bordas. Lily tentou o convencer de que estava aí, mas não havia nada, literalmente. Ninguém conseguia ver uma runa sequer naquela imensidão de palavras.
Lily, Severus e Régulos não poderiam estar mais aflitos. O que significava aquilo? Como aquelas runas haviam desaparecido de tão repente? Tinha que haver um truque, um truque maligno. Seus corações se encontravam destroçados.
--Mas estava aí ontem!--a garota choraminga, ansiosa.
Régulos parecia que iria cavar um buraco sob seus pés. Severus não poderia culpá-lo, também balançava a perna e andava de um lado para o outro em um claro sinal de nervosismo. Eles precisavam saber o porquê de as letras terem desaparecido tão de repente, e de ontem terem aparecido da mesma forma.
Um truque... Não passava de um truque.
--Se todos vocês viram.--Remus analisa a página.--Há um encantamento jogado neste livro.
Severus arqueia uma sobrancelha, parando de andar para analisar a fala e o rosto pensativo de Remus.
Encantamento?
--Como?--A pergunta chega a soar idiota quando solta.
--É uma hipótese.--Seus olhos focam nos de Severus.--Vocês viram, apareceu do nada de acordo com vocês. E agora não existe mais... Não é óbvio que há algo nele?
Severus havia ficado ansioso demais para considerar essa hipótese a minutos atrás. Pensando bem, Remus poderia estar certo.
Remus não estava bem, mas também não estava pior do que Sirius. A primeira vez sempre é a mais difícil, Remus havia dito naquela manhã. Severus estava planejando meios de passar a noite na enfermaria caso Sirius não saísse de lá. Não seria tão ruim dormir em uma cama vazia ou sentado em uma portona, portanto que pudesse checar Sirius quando quisesse.
--E você saberia como tirar o encantamento?!--Lily pergunta afoita, e os olhos de Remus se arregalam pelo susto.--Se você descobriu tão fácil, então você pode tirar!
Remus suspira, o rosto expressando um tipo de vergonha cruel.
--Lily, eu sei que você está preocupada com Régulos.--Ele tenta soar de uma forma que não fosse triste.-- A questão é que saber quando é e quando não é um encantamento, é fácil, mas eu preciso descobrir as condições desse encantamento, para saber como tirá-lo.
O rosto da ruiva parece murchar.
--Oh, eu entendo... Mas isso demorará?
Remus coça a nuca, seus olhos agora voltados para a figura de Régulos. O garoto olhava para a janela do dormitório dos marotos, fitando um ponto pouco interessante do Lago Negro. Ele aparentava preocupação, mas não demonstrava feito a garota destroçada. O coração de Lily poderia se parti por qualquer coisa nessa altura do campeonato... Ela havia sido amaldiçoada como todos naquela sala.
O amor era a pior e mais cruel maldição.
--Lily, depende muito. Eu não posso ser exato, mas prometo que irei começar hoje mesmo a pesquisar!
A garota olha para Régulos, dor fazendo presença em seus olhos. As mãos dele tremiam.
Animar Régulos e Lily não seria uma tarefa fácil. Os dois haviam ficado extremamente felizes com a aparição estranha das runas, então saber que elas haviam desaparecido quando poderiam estar prestes a descobrir alguma forma de resolver aquela história cruel, foi terrível.
Lily demonstrava a tristeza, Régulos, apesar de ser percebível que estava triste, se encontrava impassível. Severus preferia mil vezes que ele demonstrasse algo, mas sabia que isso só aconteceria quando Lily não estivesse por perto, e ele estivesse com a cabeça abaixo das cobertas.
--Não fiquem com essas expressões.
Severus entrega um copo de chocolate quente para Lily e outro para Régulus, mas isso de nada os animada.
--Como não ficar com essas expressões?--Lily devolve, irritada.--Eu tinha certeza de que teríamos a resposta, mas agora irá demorará dias, quem sabe semanas, meses, para Remus desvendar um misero encantamento! E eu não faço ideia de como ajudar, e isso me faz sentir impotente, porque eu deveria estar ajudando! Mas sou um peso morto! Remus vai dar o seu melhor, mas eu não sei se será o suficiente, não se eu não der o meu melhor também!
Severus suspira, se pondo sentado em sua frente. Ele precisava ser calmo, Lily estava a um palmo de começar a chorar.
--Eu irei ajudá-lo, sou bom com encantamentos...
Dessa vez a garota é quem suspira, escondendo o rosto entre as mãos. Ela não era boa com encantamentos... Não tão boa quanto Régulos e Severus. Ela dava o seu melhor nas aulas, mas nunca saberia exatamente como ajudar a desvendar algum.
--Eu estou com medo...--Seu murmuro é baixo, mas alto o suficiente para Severus escutar.--Muito medo...
Os olhos de Severus correm para Régulos, pacientemente sentado ao lado de Lily. O garoto continuava impassível e pensativo, como se não soubesse o sentimento que deveria mostrar. Severus o entendia bem.
--O que vocês acham de conversar?
Os olhos de ambos focam em Severus, como se não tivessem entendido a pergunta. Nem Severus havia entendido o motivo pelo qual perguntava, mas sabia que seria ótimo para eles.
--Como assim?--É Lily quem fala, e Severus não pôde evitar a expressão triste. Ele queria que Régulos falasse alguma coisa, queria que ele mostrasse um pouco do que realmente estava sentimento para a ruiva. Queria que ele confiasse na garota o suficiente para chorar em sua frente.
--Por que não conversam sobre o que estão sentindo com tudo isso? Seria bom se vocês desabafassem um para o outro e se consolassem.
Lily parece avaliar a ideia, mas Régulos pela primeira vez demonstra um sentimento, medo... Ele estava com medo de mostrar fraqueza na frente da garota que sabia amar, embora não demonstrasse em palavras.
O ato de lidar com sentimentos era um território assustador para um Sonserino.
A garota não tarda a se voltar para Régulos, os olhos verdes aguados e ansiosos.
--Quer desabafar?--A sua pergunta não soa tão idiota quanto soaria na boca de qualquer um dos dois garotos. Não por serem caras, mas por serem Sonserinos orgulhosos.
Severus sabia que Régulos cederia, não precisava de muito para saber. A confiança que Régulus construía ao redor de Lily estava quase pronta, só era necessário um apelo como aquele para ela se tornar completa. A garota não era alguém que quebrava a confiança de alguém sem ter um sério motivo, e Severus já havia provado isso a pouco tempo atrás, quase a perdendo por esse pequeno deslize.
Sem ter motivo para ficar no quarto, Severus anda de ré até a porta, saindo da pequena sala de móveis cheios de poeira.
O corredor estava silencioso, tão silencioso quanto um corredor deveria estar às sete e pouco da noite. A maioria dos alunos deveria estar se preparando para o jantar, outros deveriam estar aproveitando o ar noturno enquanto podiam.
Severus andava em passos calmos até a enfermaria, sabia que Remus estaria lá junto à Sirius, analisando e estudando a página misteriosa sem auxílio de nenhum livro. Ou quem sabe tivesse passado na biblioteca.
Ele abre a porta da enfermaria lentamente, entrando na pontinha dos pés. Não queria chamar a atenção de Madame Promfey, muito menos de algum doente bisbilhoteiro. Já havia provado o quão difícil de lidar pessoas fofoqueiras conseguiam ser. Não que ele tivesse tentado.
Remus realmente estava lá, atrás da cortina fechada, sentado em uma cadeira ao lado de um Sirius que roncava alto. O livro estava em suas mãos, aberto na página do feitiço. Um outro livro, mais fino, estava em cima da cama de Sirius, aberto em uma página de letras minúsculas. Remus parecia cansado.
O poeta mal nota a sua aproximação, apenas levanta a cabeça quando Severus se coloca sentado no pé da cama de Black. Sirius parecia dormir pesado, não acordaria com facilidade. Seus roncos era um motivo o suficiente para Severus pensar assim.
Severus fecha a cortina e lança um Abaffiato no pequeno espaço. Remus coloca um mini sorriso em sua face, achando aquela cautela fofa.
--Oi, Sev.
Severus sorri maroto. Remus não deveria se esforçar tanto depois da noite passada, mas ele estava. E de acordo com as pesquisas de Severus, três dias depois da transformação deveriam ser de puro descanso, sem esforço mental e físico, mas não era como que se Remus fosse obedecer e pudesse obedecer.
Madame Promfey o impediu de fazer esforços até as quatro e meia da tarde, e, de acordo com Remus, isso bastava. Mas não, Severus via pelas olheiras de Remus que não bastava... Ele precisava de mais tempo... Ele precisava de muito mais descanso.
--Você deveria estar descansando...
O pequeno sorriso de Remus se desmancha, e um suspiro baixo se solta de seus lábios. Os olhos se voltam para a figura de Sirius, e um risinho sem sentido, mas lindo, toma o curto silêncio.
--E você acha que eu consigo descansar com esse trator aqui?
Severus não evita o riso alto, mas seus olhos se reviram imediatamente depois do episódio desnecessário.
--E por que você não acorda o trator? Ele não está apenas incomodando você, mas também toda a enfermaria.
Remus dá de ombros, e Severus arqueia uma sobrancelha.
--E você acha que eu não tentei?
Um outro suspiro se solta dos lábios de Severus, e sua cabeça vai de um lado para o outro.
--Eu só digo que não é bom você se forçar tanto agora. Você precisa estar bem para pesquisar sobre esse encantamento, e eu quero ajudar.
--Eu sei, Sev.--Remus diz com carinho.--Mas eu não consigo esperar mais um pouco quando eles parecem tão preocupados. Eu sinto que Lily vai explodir e que Régulos não será salvo a tempo se eu não encontrar logo uma solução. Entende?
Não era um problema de Remus, não era nem um problema de seus melhores amigos. Era um problema do irmão de seu melhor amigo, e da garota que amava o irmão de seu melhor amigo. Remus não tinha motivo para se preocupar, mas ele estava preocupado... Ele estava muito preocupado.
Severus retira o livro com delicadeza de suas mãos, marca a página do feitiço e o fecha. Remus arqueia uma sobrancelha, irritado e curioso. Severus pega suas mãos e olha no fundo dos olhos caramelo, com o sorriso mais doce presente em seus lábios.
--Isso não será encontrado com ansiedade.
--Eu sei, mas...
--Eu repito, isso não será encontrado com ansiedade. Nós iremos pesquisar juntos, encontraremos o encantamento, removeremos essa maldição do braço de Régulos, a Ordem da Fênix o manterá seguro, e tudo ocorrerá tão certo quanto deve ocorrer.
Remus suspira, o mini sorriso voltando à sua face.
--Como você pode ter tanta certeza?
Severus não sabia se tinha certeza, pouco sabia se o mundo estaria em pé no dia seguinte. O que ele tinha era esperança, a esperança que no passado estava enterrada no fundo de sua mente, fraca, quase inútil, mas que de alguma maneira o manteve vivo até o dia de hoje. Ele precisava transmitir essa esperança para Remus, para que ele acreditasse, ao menos.
--Você não tem esperança?
Os olhos de Remus se estreitam.
--E desde quando você tem?
Severus massageia as mãos de Remus, paciente, carinhoso, bondoso.
--Não sei, só sei que ficou mais forte quando eu me apaixonei por você e aceitei que sentia algo por James e Sirius. Vocês são minha luz na escuridão.
E os lábios rasgados de Remus agora estavam nos seus, transmitindo um amor tão forte quanto o medo que todos tinham do futuro próximo. Remus movia a boca com desespero, e Severus tentava o acalmar com um toque carinhoso. O licantropo estava com gosto de molho de cenoura, e não era um gosto tão ruim quanto parecia ser, embora Severus confessasse que preferia mil vezes um gosto de menta.
E eles se separam, os olhos pregados um no outro.
--Sev...
--Sim?
--Você poderia ser a minha esperança?
Severus aperta mais forte as mãos de Remus, contendo a vontade de chorar.
--Sim, mas por que necessariamente eu deveria ser a sua esperança?
Um beijo é depositado em sua cabeça, tão carinho quanto uma brisa de verão.
--Porque você é a minha luz na escuridão, assim como eu, Sirius e James somos a sua.
Aquela simples frase foi capaz de desarmar Severus até os ossos.
Régulos se sentia quebrado, perdido, sozinho, morto e todas as coisas ruins que alguém poderia sentir. Lily o abraçava com força, tentando permanecer forte e não chorar como Régulos chorava. A cabeça do Sonserino estava em seu ombro, e sua boca soltava soluços altos enquanto os olhos transbordavam. A garota contava até dez enquanto massageava suas costas, achando uma péssima hora para colocar todo o medo para fora em forma líquida.
Aquele momento era de Régulos... Ela não o estragaria colocando a atenção em si.
Régulos havia se mostrado difícil no começo, como se temesse colocar seus sentimentos em palavras. Mas só bastou uns poucos incentivos pela parte de Lily, para ele transbordar. Pelo menos ele confiava nela o suficiente para mostrar o que sentia agora... Era um grande passo andado.
Mas aí, enquanto ela massageava suas costas no escuro, ela ficava se perguntando como seria o futuro que os aguardava. Se perguntava se ela e Régulos ficariam juntos, ou se uma tragédia do destino os afastaria. Ela não diria que não estava com medo, pois temia ter seu coração destroçado.
Destroçado...
Naquele momento, diante de tantos pensamentos negativos, quem sabe a única coisa capaz de os fazer andar e cumpri com as exigências do tempo, era a tão amada e velha esperança.
A garota não tinha tanta esperança quanto deveria, mas o pouco de esperança que tinha seria o suficiente ao longo do caminho. Quer dizer, ela rezava para ser o suficiente.
Um soluço alto corta seus pensamentos, e um beijo casto é deixado na bochecha do mais novo.
Por Régulos ela teria toda a esperança do mundo.
Por Régulos ela mudaria o mundo.
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