"Seu sortudo de merda"
É engraçado a forma como o tempo passa, às vezes lentamente, às vezes rapidamente e outras vezes das duas formas. Duas semanas e Severus já estava sem os curativos em suas mãos e braços, livre para voltar à sua rotina de sempre, o que, de fato, seria ótimo para os marotos, mas Severus não parecia nada feliz. Lily parecia cada vez mais ansiosa, os sorrisos que antes eram vistos constantemente em seu rosto já não se faziam tão presentes. Régulos se encontrava tão calado, que até aqueles poucos seguidores que o seguiam, haviam desistido de puxar assuntos envolvendo fama e dinheiro... Bem, haviam desistido de ficar perto de Régulos. Remus parecia escrever mais do que o normal (havia um normal?). Sirius parecia mais focado em seus estudos, e os professores estavam abismados pela melhora desnecessária, mas totalmente bem recebida. James, bem... James parecia muito mais romântico do que o normal, e as garotas se faziam encantadas apenas por um sorriso que ele lhes lançava. Claro que ele estava fazendo isso para testar... Amaria tornar a usar com Severus.
O Natal não havia sido uma data feliz, pelo menos para Lily, James, Sirius, Remus e Régulos. Havia sido uma data um tanto triste e quebrada, pois nenhum deles permaneceu na escola para desejar um próspero ano menos caótico ao Sonserino na Ala Hospitalar, já que Severus ne negou a sair de lá.
--Você está muito melhor...
Severus levanta uma sobrancelha ao ver o garoto sentado em sua cama. Régulos parecia nervoso, com seus olhos inquietos. Pareciam não querer passar muito tempo focados no Sonserino de olhos ônix.
--Olá, o que faz aqui?
Severus anda até sua cama, seus braços e mãos estavam com cicatrizes escuras. Régulos tenta não olhar para elas, mesmo que estivesse tentado a falhar.
--Eu vim te ver... Não passei muito na Ala Hospitalar, então...
Severus balança a cabeça e se senta ao lado do garoto, porém sem dizer nada. Ele deixa o tempo a mando do silêncio completamente constrangedor.
--Eu queria conversar com você... Você é meu único amigo, Sev... Eu não suporto te ver sofrer, ainda mais depois do que você contou...
Severus arqueia uma sobrancelha com a fala de Régulos. Ele havia dito aquilo?
Você é meu único amigo.
Para Severus, Régulos tinha todos os amigos do mundo.
--Como assim eu sou seu único amigo?
Severus observa Régulos dá de ombros.
--Eu só tenho seguidores, esses seguidores que me abandonaram depois dessas duas semanas. De acordo com eles, eu ando estranho... Então não tenho nenhum amigo além de você. Eu tenho medo de te perder... Sabe? Eu tenho um medo gigante de te perder...
Severus arregala os olhos ao ver lágrimas escorrendo pelo rosto de Régulos. Há um leve desespero que toma conta de seu corpo ao notar que não fazia ideia de como consolar o mais novo. Régulos parecia querer pular em seus braços.
--Olha Reg, eu me sinto honrado por você me considerar o seu único amigo, mas eu realmente não sei como te consolar.--Severus soa sincero, esperando que, com isso, Régulos parasse de chorar. Mas a situação piora, a situação simplesmente decide piorar.
Severus respira fundo e olha para os lados. Esperava arranjar alguma forma de consolar o amigo desesperado, mas não parecia haver nada a ser feito, a não ser, quem sabe... Severus joga tudo para o alto e abre seus braços. Ele puxa a cabeça de Régulos para seu peito e o ajeita com cuidado em seus braços.
O Sonserino não era o melhor com palavras, quem dirá com sentimentos.
Aquele caderno nunca esteve tão recheado. Remus se sentia no céu por ter conseguido terminar de escrever tudo o que queria para Severus. Havia demorado duas semanas inteiras, mas valera à pena.
--Por que parece tão feliz?
Remus levanta os olhar para fitar Sirius, esse que entrava no Dormitório. Suas mãos estavam cheias de livros. O garoto estava prestes a passar uma tarde inteira estudando, o que, de certa forma, chegava a ser assustador. Nessas duas semanas, Sirius havia tido uma melhora gigante nas aulas, então, embora já fosse bem antes, Remus queria que ele continuasse tão focado nos estudos quanto estava agora.
--Terminei de escrever tudo que queria escrever para Severus... Espero que ele goste.--Remus soa doce, sem querer se estender na conversa. Sirius, então, apenas meneia a cabeça.
Tão rápido quanto o flash, James surge no Dormitório. Parecia exausto... Estava exausto.
--Caramba James, correu uma maratona?!
James não presta atenção em Sirius, apenas corre até sua cama. Ele se joga sobre os lençóis. Nunca correra tanto em sua vida.
--Puta que pariu, eu não deveria ter corrido tão rápido...--Sirius e Remus concordavam.--Mas é que eu tenho uma notícia fantástica! Acho que vocês irão amar!
Sirius e Remus se levantam de suas camas e andam até a cama de James. Eles param em sua frente, ansiosos.
--Conta!--Sirius exige.
James se senta. Sentia o corpo inteiro levemente quebrado pela corrida que teve da Ala Hospitalar até aí.
--Snape saiu da Enfermaria, o que significa que ele melhorou totalmente.
Sirius e Remus arregalam os olhos e sorrisos sinceros aparecem em seus lábios. Essa notícia era maravilhosa!
--Merlin, isso é fantástico! Agora a gente pode se aproximar dele!--Remus soa sonhador. Abraçava o caderno com força em seu peito. Nesse momento, mais do que em todos, ele era seu bem mais precioso.
--Sim, só que... Sobre isso...--James e Remus olham com as sobrancelhas arqueadas para Sirius.--Acho bom um tentar se aproximar de cada vez, para não assustá-lo, sabe...
A preocupação que Sirius conseguia mostrar em sua voz, soava levemente assustadora. Geralmente Sirius não era tão preocupado.
--É, ele tem razão...--Remus diz e olha para o caderninho em seu peito por alguns segundos.--O aniversário de 18 anos dele é daqui a alguns poucos dias...
--Dia 9?--James pergunta levemente confuso. Não era bom com datas... Ano passado havia esquecido seu aniversário de 17 anos.
--Sim.--Remus responde e abre o caderninho em nenhuma página especifica. Apenas gostava de ler as frases aleatórias que escrevia. O acalmava... Ler o interior de sua alma parecia interessante.
"Fogo ardente em seus olhos, sua sede por conhecimento me transforma em uma chaminha fraca. Me acenda! Me acenda novamente, eu imploro de joelhos, oh, eu imploro."
--A gente pode ler tudo que você escreveu?--Sirius pergunta em um tom inocente demais para o gosto de Remus. O lupino lança um olhar completamente mortal em sua direção.
--Não! Eu escrevi para o Snape, vocês não podem ler.
James revira os olhos, sendo seguido prontamente pelo melhor amigo canino. Aquilo era idiota, completamente idiota, o que custava Remus mostrar o que havia escrito? Havia pornografia aí dentro, por acaso?
--Que seja, não precisa mostrar. Vamos discutir para ver quem irá tentar se aproximar de Snape primeiro.--Sirius dá de ombros, assim como James. Remus acabaria mostrando algum dia, por foça, provavelmente.--Eu não posso ser o primeiro, principalmente depois do que eu fiz.
Remus e James concordam. Nunca seriam idiotas ao ponto de deixar Sirius se aproximar por primeiro.
--Eu também não posso...--A dor de James parece palpável.-- Eu que comecei com toda essa merda, então só pode ser você, Remus.
Sirius e James focam seus olhos no garoto. Remus tenta conter o sorriso em seus lábios, mas falha de uma forma miserável. James e Sirius estavam frustrados.
--Seu sortudo de merda! Eu espero mesmo que esteja feliz, porque você terá que fazê-lo ficar!
Remus teria rido da fala de Sirius, mas estava com um medo gigante de acabar falhando naquilo que precisava acertar.
--Eu não falharei... Ele irá sorrir, de uma maneira ou de outra, eu o farei sorrir.
Régulos havia desabafo por meia hora com Severus. Embora Severus amasse dizer que era péssimo com as palavras, Régulos o achava ótimo. Nunca estivera mais leve quanto naquele momento. Só se sentia mal por ter feito Severus perder seu tempo dessa maneira, mas o mais velho parecia até que agradecido. Estranho, Severus agradecido.
--Você não parece irritado por eu ter feito você perder trinta minutos me escutando.
Severus revira os olhos e torna a pegar um dos pedaço de chocolate que Régulos havia trazido para ele.
--Não me importo, você fez com que eu esquecesse de algumas coisas ruins...
Régulos maneia a cabeça. Odiava vê-lo mal, principalmente depois de ter ganho tanta paranoia ao Severus contar sobre o que aconteceu com sua mãe, além da verdade sobre a família, mesmo que apenas em uma frase... Severus teve uma infância terrível... Régulos não era capaz de imaginar ele aguantando tanta dor.
Régulos pega um pedaço de chocolate ao lado e o come com uma paciência assustadora.
--Você não planeja colocar as mãos no fogo novamente, planeja?--Régulos pergunta em um sussurro. Não queria ter que falar aquilo em voz alta.
Severus dá de ombros e pega o último pedaço de chocolate do pacote.
--Depende.
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