"Não toca em mim!"
NOTA: GATILHO! Capítulo com cenas fortes.
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A culpa lhe consumia, as últimas palavras de sua mãe vagavam em sua mente. Se lembrava vagarosamente no dia Primeiro de Setembro, daquelas palavras baixas de alguém que estava com pressa para chegar em casa.
"Se cuida, filho."
Se cuida, filho... Severus por acaso se encontrava nas melhores condições para se cuidar?! Seu mundo estava destruído, as coisas haviam simplesmente decidido explodir em sua cara e o abandonado à própria sorte naquele ano terrível. Não sentia nem vontade de ferrar com a vida daqueles três miseráveis. A única coisa que queria era continuar deitado naquele leito, sem sair naquela maldita ala hospitalar.
--Senhor Snape...--Severus bufa ao som da voz de Madame Promfey.--O enterro será daqui a duas horas, você deveria...
--Eu não vou...
Severus não iria ir lá, não iria ir lá para ver o corpo de sua mãe sendo colocado embaixo da terra. Ele não queria ver as marcas das mãos de Tobias no pescoço dela, mesmo que estivesse com maquiagem. Ele não aguentaria olhar para o corpo dela, sabendo que a deixara com Tobias naquela casa caindo aos pedaços, quando poderia ter arrumado uma forma de a tirar das garras daquele trasgo.
--Você não quer se despedir dela?
Ela não estaria lá de qualquer jeito, por que iria se despedir de um cadáver?
--Não...
Madame Promfey suspira, fechando as cortinas do leito de Severus para lhe dar mais privacidade.
O garoto suspira, se sentando na cama macia, somente para suspirar de uma forma cansada. Por que ainda estava aí? Por que ainda estava existindo se só estava na Terra para sofrer? Lily nunca o amaria, os marotos ferravam com toda sua saudade mental, sua mãe estava morta e seu pai alcoólatra que a havia matado... Então por que ainda permanecia no mundo? Mas fácil seria se jogar da Torre de Astronomia, não faria falta para ninguém de qualquer maneira. Ainda ganharia um bônus por voltar aos braços de sua mãe.
O Sonserino respira fundo, colocando seus pés para fora dos cobertores. Se fosse para fazer tal loucura, faria antes que sua coragem fosse embora, assim poderia mostrar para sua mãe que uma vez da vida havia sido corajoso, já que nunca havia tido a decência de enfiar uma faca no pai.
Só esperava que a neve alta não o impedisse de morrer.
James já havia se sentindo um monstro várias vezes de sua vida, então aí, sentado no chão gelado da Torre de Astronomia, enquanto focava seus olhos nos flocos brancos que desciam em direção ao chão, tentava conter suas lágrimas.
Quando Remus lhe contara o motivo pelo qual o Sonserino havia tido o ataque, ele quase teve um real infarto. Não acreditava que havia sido o real responsável por causar tanta dor para aquele garoto perfeito, mas sabia que não havia como voltar ao passado sem causar consequências sérias... Embora ele sonhasse com a chance de mudar tudo.
James sabia que nunca teria a menor chance com o Sonserino de olhos escuros como a noite. Snape nunca, sob circunstância alguma, aceitaria ter algo com James Potter... Já estava cansado de pensar nisso.
Passos são escutados nas escadas, lentos e levemente apreensivos. O garoto de cabelos bagunçados se levanta e fica alerta. Esperava não ganhar uma detenção por se encontrar aí em cima em um momento tão frio do dia.
A porta se abre e dois pezinhos pequenos e descalços cruzam a mesma, assim como braços brancos demais e um rosto pálido. James arregala os olhos ao perceber que aquele era Severus.
Severus arregala os olhos, dando três passos assustados para trás. Ele cai no chão pela rapidez do movimento e bufa pela dor latejante que se fez em suas costas segundos depois.
James balança a cabeça, saindo do transe que havia se feito presente. Então ele corre até a figura no chão, parando no meio do caminho ao ver os olhos aguados o fitando. Severus tentava engatilhar para longe... Severus estava quebrado, Severus Snape estava totalmente quebrado em sua frente.
--Snape, oi... Eu não vou fazer nada com você, eu só quero te ajudar...--James tenta, andando mais dois passos para frente, antes de ser forçado a parar novamente. Severus engatinha para mais longe, e num último momento dar um saltinho para ficar de pé.
Ele parecia um gato arrisco.
James suspira, então pega a varinha. O Sonserino arregala os olhos por um segundo, achando que fosse seu fim. James então a joga para longe, contra todas as probabilidades. Severus de repente se vê confuso... Bem, ele não era o único, até James se encontrava confuso.
--Eu não irei fazer nada contra você, eu só queria te ajudar, okay?--Severus dá mais um curto passo para trás, deixando claro que James estava certo em suas palavras... O Sonserino nunca o veria como alguém capaz de não lhe causar dor.--Eu queria saber o que você está fazendo aqui...
Severus bufa.
--Não lhe devo satisfações, se eu estou aqui, é porque eu sou livre para circular por onde eu bem quiser!
James respira fundo, sabia que seria complicado, aquele Sonserino era uma das criaturas mais complicadas no universo inteiro. Não que Snape não tivesse motivos os suficientes para ser assim.
--Bem, você está descalço e com uma camiseta imensamente fina e ainda com uma bermuda. Suas pernas estão roxas, seus pés estão imensamente brancos e falta pouco para você morrer congelado...
Severus revira os olhos, havia ido até aí para morrer, não para aguentar aquela criatura em sua frente. Por que diabos James Potter tinha que estar aí? Por que ele não podia simplesmente estar no Dormitório da Grifinória, atormentando seus amigos?
--E daí que eu estou assim? Faça o favor de me deixar em paz e saia daqui!
James levanta uma sobrancelha, esperando o garoto de olhos escuros dizer o motivo pelo qual estava aí em cima em uma tarde congelante. Ele deveria estar na Enfermaria, ou voltando para a Sonserina. Menos naquela maldita Torre.
O que Snape queria fazer? A ideia de que ele poderia estar querendo se jogar atormentava os pensamentos de James.
Ele não deveria pensar que Snape faria isso... Mas e se...
--Snape, você não deveria estar aqui, eu vou te levar de vol...
No momento que James iria tocar no ombro de garoto, ele nota que havia cometido um erro grave.
O de olhos escuros salta para trás, segurando o braço de James com força. No segundo depois, James estava gemendo com uma dor terrível... Como aquela criatura magra como uma folha poderia ter tanta força? Ele havia o jogado no chão!
--NÃO TOCA EM MIM! --O Sonserino grita alto, o que faz James se sentir levemente incomodado.--ENTENDEU? Não toca em mim!
James ainda não havia conseguido se sentar ao vê-lo correr para fora da Torre de Astronomia, imensamente assustado, quebrado, derrotado de todas as formas possíveis... Severus Snape não estava bem, Severus nunca esteve bem... E quem sabe fora sido isso que fizera James suspirar de forma cansada, se sentar e focar seus olhos na porta. Ele sentia que Severus voltaria uma hora ou outra para aquele inferno congelante.
O diretor fitava o garoto congelando em sua frente. Seus olhos estavam presos naquele rosto imensamente magro enquanto esperava que Severus terminasse de vestir o casaco que ele havia emprestado-lhe.
--Você não deveria andar pelo castelo com roupas tão finas em um inverno congelante. Deveria ter vestido algo melhor antes de sair da Enfermaria...--Dumbledore tenta o repreender, a voz preocupada.
Severus revira os olhos, apertando o casaco contra o corpo. Suas pernas estavam tremendo.
--Eu só vim aqui pedir algo... Eu espero mesmo que o senhor aceite.
Dumbledore levanta uma sobrancelha.
--O que seria?
Severus suspira e anda mais para perto da lareira. Ele suspira de prazer com aquela sensação incrível que era sentir as suas pernas se aquecerem.
--Eu não quero mais punir aqueles três, arranja outra detenção para Black... Eu não posso tê-los por perto, é imensamente tóxico para mim.
Severus havia sido sincero com suas palavras. Estava se intoxicando com os três por perto... Era demais para ele aguentar por mais alguns dias, ainda mais depois do que havia ocorrido de manhã cedo com Potter na Torre de Astronomia... Ele teria pulado se ele não estivesse lá, mas agora a sua coragem havia se esvaziado... Teria que ser em algum outro momento.
Dumbledore suspira, avaliando o estado lamentável do garoto de olhos negros... Ninguém merecia tanto fardo para carregar.
--Claro, irei providenciar que eles saiam da Sonserina agora mesmo. Quer ficar aqui enquanto eu não volto?
Severus balança a cabeça em concordância. Não queria ter que sair de perto daquele fogo. Era confortável estar em um lugar onde se sentia seguro.
--Volto logo.
Severus sorri levemente ao vê-lo sair daí, somente para depois bufar frustrado. Ele puxa uma cadeira para frente do fogo e se senta, os olhos negros avaliando as chamas. De repente, um pensamento vergonhoso surge no emaranhado de dor.
Seria ruim se ele colocasse as mãos nas chamas? Não faria diferença se ele as queimassem, faria?
Severus suspira, saindo da cadeira para se ajoelhar em frente ao fogo. Então ele respira fundo antes de levar suas mãos em direção às chamas.
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