"Maldito pesadelo"
Notas: Olá pessoal! Bem, este cap é importante para a reta final em muitos sentidos. Quero que vocês sintam os diferentes sentimentos durante a leitura.
Me caiu a ficha hoje que o número do cap é 60. 60 fudidos capítulos.
Meu Deus, estou abismada. E, bem, está quase no fim.
Sinto que minha escrita evoluiu tanto desde o início... Escrever Terra Molhada me pegou de jeito. Pensar que eu pensei em desistir da história no meio dela... Eu teria me arrependido tanto.
Amo vocês, leitores.
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Severus já havia visto muitas coisas na vida, mas nunca vira tanta destruição e ódio grátis. Momentos deprimentes como aquele poderiam ser únicos, mas a verdade era que nunca eram. Estavam acontecendo com tanta frequência, que os familiares dos falecidos já se viam incapazes de derramar mais lágrimas. Era vida ou morte. Todos sabiam dessa rega básica.
Três anos haviam se passado, claro que a guerra estava lá, no seu ápice. Para ser franca, aquele ano era considerado o do início. Todo o acontecimento passado não passava de preparação, toda a morte passada e ataque a vilarejos não passavam de preparação. Era fogo no fogo, morte ou vida, felicidade ou tristeza, vitória ou derrota.
Severus estava aí, acima do corpo de uma mulher grávida. Agora ambos estavam mortos, bebê e mãe. Ele sentia vontade de vomitar.
--Severus, levanta.
James estende a mão para Severus. O jovem não havia notado que o outro estava por perto... Bem, eles sempre estavam por perto, mas às vezes pareciam tão longe. Severus a pega de forma relutante, se pondo de pé com as pernas trémulas. Odiava cenas como aquela que testemunhava.
Aquilo teria fim? Ela parecia ter quase oito meses de gravidez, mais umas poucas semanas e seu bebê chegaria ao mundo... Mas não, o ciclo fora interrompido de forma bruta. Ela deveria ter tido dias tão felizes, era tão nova... Por quê? Por que o mundo parecia tão declinado a um final trágico?
--James, eu...
--Calma, respira. Não há nada que possamos fazer, ela e o bebê estão mortos.
Não apenas ela e o bebê, Severus sabia. Um ataque acontecera aí, e ele lutara, assim como James. Severus sabia ter sido vencedor, afinal, os comensais haviam recuado. Vários estavam sendo mandados à Azkaban neste exato instante. Então por que ele se sentia derrotado? Porque trouxas inocentes haviam sido mortos, porque o ministério teria que apagar a memória recente dos vivos... Porque uma memória falsa seria implantada em suas cabeças ignorantes.
Porque bruxos que juraram fidelidade à Ordem estavam morrendo, aos poucos, num ciclo vicioso de dor.
Ele se afasta do toque carinhoso de James, não queria olhar para sua face naquele instante. Ambos tinham 20 anos, ambos estavam em estado perfeito para continuar lutando pela ordem. O problema é que Severus não sabia se conseguiria continuar naquele jogo por muito mais tempo. Mas ele havia entrado nessa... Ele havia aceitado e, agora, depois de 3 anos, ele precisava cumprir sua promessa.
Ele se volta para James.
--Eu quero voltar para a sede... Não consigo ajudar na limpeza.
Régulos estava bem, fato seja dito. Mas apenas fisicamente, porque mentalmente estava acabado. Lily insistia em participar dessas missões imensamente perigosas, enquanto ele permanecia na sede da Ordem. Ele conseguia passar dias com os olhos voltados para seu braço esquerdo, e mais dias ainda com os pensamentos focados nos amigos. E eles conseguiam passar dias longe da sede.
Régulos ouvia gritos todas as noites. Ele tinha uma vaga ideia das pessoas que gritavam, não, ele tinha certeza de que eram elas. Lily dormia serenamente ao seu lado, mas separada tinha pesadelos, então ela o abraçava durante o sono e ele a escutava falar enquanto dormia, pois Lily era assim, ela liberava sonhos, medos, objetivos, os quais Régulos mantinha a sete chaves. Severus dormia no quarto ao lado, e Régulos sabia que James, Sirius e Remus tinham quartos separados. E eles tinham pesadelos, e eles gritavam como Lily. Toda a manhã Régulos os encontrava juntos, na mesma cama, encolhidos no espaço pequeno.
Eles não moravam na Ordem, a princípio, afinal, depois da formatura, eles achavam poder viver normalmente, com suas próprias casas e o namoro. O plano dos marotos era morarem juntos, os quatro. Severus apresentou total afinidade com a ideia. Mas então seus nomes vazaram depois de uma missão que foram juntos, Remus se machucou e Dumbledore os obrigou a ficarem na Ordem, para não haver futuros problemas maiores. Problemas maiores como a relação que nutriam... Depois de tanto tempo, era um milagre o fato de não ter vazado.
Remus ficou bem, não foi sério, mas a expressão nos rostos de Severus, Sirius e James disse tudo. Guerras matavam, guerras somente matavam. Esse se tornou o maior medo deles.
Agora, três anos depois, por algum tipo de milagre, nenhum deles havia sido capturado. Régulos sabia que eles eram bons, inteligentes, velozes, apaixonados, determinados, mas ele tinha medo, um medo aterrorizante.
Lily e ele haviam jurado algo no dia que a marca sumiu de seu braço, um dos dias mais importantes de sua vida. A promessa não fora selada com um voto perpétuo, mas era tão poderosa quanto.
E se ela não se tornasse realidade? E se haviam jurado algo falho?
Verdade seja dita, o amor entre eles só havia se fortalecido, assim como o amor dos meninos.
Apesar de toda a dor, toda a noite livre os quatro estavam juntos. Toda a noite Remus lia uma poesia diferente para Severus, toda a noite Sirius contava uma piada sem graça, toda a noite James pegava no sono com a cabeça acima da de Severus. Toda a noite era possível sentir o amor que havia entre eles.
E Régulos era inteligente o suficiente para saber que se um deles morresse, detonaria os outros três. E isso seria um pesadelo.
Mas eles sempre arriscavam a vida, sempre estavam prontos para entrar numa missão. E eles sempre iam juntos, sempre entravam nessa sem pensar nas consequências. Sempre estavam prontos para o que der e vier. E era sempre o mesmo ritual antes de embarcarem.
Eles se colocavam em círculo e davam as mãos. Eles se fitavam com um sorriso enorme, e diziam o quanto se amavam. Então eles iam, e esse ritual era como um adeus.
Lily, essa beijava Régulos, apenas um selinho. Suas próximas palavras soavam feito uma bomba, "você já sabe o que vai ganhar quando eu voltar". E Régulos não pensava no beijo de tirar o fôlego e nem no sexo, ele pensava na próxima vez que ela diria a mesma coisa. Pois ela sempre ia, com eles. O ritual era um selinho e aquelas malditas palavras.
E era um pesadelo, um pesadelo sem fim.
Quando essa guerra acabaria, afinal?
Régulos levanta a cabeça, a tempo de ver uma cabeleira negra entrar na cozinha. Severus parecia acabado, tão fisicamente quanto mentalmente. James vinha atrás, a expressão preocupada, os cabelos normalmente revoltos mais bagunçados que o normal.
--Ei, o que aconteceu?
Os olhos de ambos os garotos vão em direção a Régulos, que os olhava como se uma bomba estivesse prestes a explodir. Eles não haviam percebido sua presença antes de entrarem.
--Oi, Régulos--James responde, se pondo sentado na cadeira em frente a Régulos. Severus se coloca sentado em seu colo, como normalmente gostava de fazer. A cabeça deita no ombro de James e ele rodeia sua nuca com os braços antes de fechar os olhos.--Está tudo bem, nós vencemos essa. Severus só quis voltar mais cedo.
Régulos meneia a cabeça, aliviado. Não perguntaria sobre Lily, queria ver com seus próprios olhos.
--Isso é bom... Severus, está bem?
Severus abre um dos olhos e analisa Régulos por um curto tempo. Estava longe de parecer bem.
--Estou um pouco enjoado... Sangue demais.
Sempre era assim. Severus estava odiando tudo aquilo mais do que qualquer um. O fim não chegava, e ele parecia já ter perdido as esperanças.
Pelo menos James, Sirius e Remus ainda pareciam ter.
--Severus, James!
Sirius e Remus entram correndo na cozinha, desesperados. Felizmente, suas expressões logo se iluminam ao ver James e Severus seguros. Os dois se aproximam, e beijam a cabeça de um Severus cansado. Ele estava a um fio de pegar no sono, mas mesmo assim sorri com o carinho.
Mais um pouco e Régulos perguntaria sobre Lily.
--Vocês estão bem?
Remus parecia mancar, seu rosto não parecia tão alegre, e correr até a cozinha poderia muito bem ter sido um desafio enorme. Já Sirius, esse estava com a camiseta sangrenta e o sangue era dele. Claro que haviam se machucado.
--Estamos.--Remus responde, sem querer se estender muito.
Agora eles olhavam para Severus, como se ele fosse o bem mais precioso. Suas expressões revelavam muitas coisas, muitos sentimentos perigosos. Eles tomavam cuidado com isso no campo de batalha? O amor mostrado poderia gerar problemas sérios.
Mortes.
Régulos não quis prolongar seu tempo aí, então ele apenas se levantou e, sem ser notado, andou em direção ao quarto. As coisas de Lily estavam em cima de sua cama, a mantendo desarrumada. O cheiro de seu perfume (quem usa perfume para ir na guerra?) preenchia a atmosfera do quarto. Era viciante.
--Ei,--Régulos se vira. Sirius havia o seguido.--Está tudo bem?
Régulos analisa Sirius, a sobrancelha arqueada.
--Eu que deveria perguntar. O que aconteceu na sua barriga?
Sirius olha para a camiseta ensanguentava. Ele não parecia se importar.
--Só foi um arranhão, não é nada fundo.--Seus olhos voam para o rosto do irmão mais novo, como se soubesse de algo sobre Régulos que nem ele mesmo poderia saber sobre si.--Lily está bem.
Régulos solta o ar que nem notara estar segurando. Era um alívio tão grande saber que Lily estava bem. Ele não sentia nenhum conforto real desde o dia que recebera a marca, seus bons momentos sempre dependeram da segurança da garota que percebera amar. O começo da relação foi tão estranho... Mesmo antes de firmarem esse acordo silencioso ele fora estranho.
Eles não estavam namorando, Régulos não havia feito qualquer pedido, mas, mesmo assim, eles se beijavam, se preocupavam um com o outro, dormiam juntos... Eles tinham algo, algo forte e duradouro.
--Ótimo.-- Régulos diz, por fim--Quer ajuda para limpar isso?
--Severus quer limpar. Ele disse que eu fico até bonito com a camiseta cheia de sangre.
Régulos arqueia uma sobrancelha. Era difícil acreditar nisso.
--Tem certeza que ele não soou sarcástico?
--Okay, ele parecia irritado. Odiou me ver assim.
E essa era a relação dramática daquelas quatro criaturas. Eles se amavam, afinal.
--Dormindo?
--Lily, que demora.
Régulos se coloca sentado na cama. Horas haviam se passado e ele ainda não havia conseguido pregar os olhos. Precisava de Lily, não a via a quatro dias. Aquela batalha havia a mantido afastada por quatro longos dias... Pelo menos não fora como a de um ano atrás, que mantivera todos longe por um mês.
Essa maldita guerra não tinha fim.
--Desculpa, eu fiquei para ajudar na limpa.
Régulos abre os braços, abrigando a garota suja. Ele a abraça com força, sentindo seu cheiro. Ela fedia a sangue, mas estava bem, muito bem. Portanto que ela continuasse viva, estava tudo bem.
--Que saudade...
Os olhos verdes estavam brilhantes. Eles sempre eram malditamente brilhantes. Régulos a amava tanto.
--Eu quero muito beijá-la, mas isso não vai acontecer até você tomar um banho.
--Vai ter que tomar também, seu pijama ficou todo sujo com o sangue na minha roupa.
--Vamos tomar banho juntos?
Apesar de toda a dor, o riso a seguir foi o mais sincero que poderiam dar em semanas.
--Eu quero tomar um banho rápido, estou cansada. Quero dormir abraçadinha com você hoje, mas amanhã eu prometo cumprir minha promessa.
De dormir juntinho a ela, a transar, ele preferia mil vezes dormir. Não que ele não gostasse do sexo, ele apenas não conseguia pensar muito nisso quando sabia que no dia seguinte ela poderia ir e nunca mais voltar. Abraçar ela, a olhar enquanto dormia sem pregar seus próprios olhos... Isso era mil vezes mais duradouro.
E se ele havia acabado de se oferecer para ir tomar banho com ela, fora justamente para ajudá-la com os machucados. Ele sabia que Lily acabaria achando que ele queria transar, porque esse era o intuito de Régulos. Ele queria que ela não soubesse a tamanha preocupação que acometia seus pensamentos... Ele queria que ela não se preocupasse.
--Okay.
Então ela vai, lentamente, exausta.
Ele se sentia tolo por ficar parado enquanto ela arriscava sua vida.
--Você é a luz em meus dias escuros, você é a tocha em meio a escuridão sem fim. Você é a razão de eu voltar, você é a razão de eu amar. Você é o diário do meu coração, é o segredo do meu viver. Você é o sorriso em meio a carrancas, é a névoa em meio a dor. Você é o meu tudo, você é o meu nada, você é mais do que eu poderia sonhar.
Severus bate palmas. Mais uma noite, mais uma poesia de Remus. E ele estava chorando.
--Severus... Não chora.
Tarde demais, o pedido de James não fora concedido. Quando se tornara alguém tão fraco? Chorar era uma maldição. Chorar não faria nada se tornar mais fácil, apenas mais complicado.
--Ei, Sev...
Sirius o abraça, a cabeça se enterrando nos fios negros. Havia algo de leve num toque carinhoso desses, que o deixava mais vivo, e o fazia se sentir mais amado.
Eles eram seu tudo.
--Você fica feio chorando.--James comenta, como uma forma de descontrair. Não foi o suficiente, Severus apenas fungou.
Estavam juntos a anos, e o amor só aumentara. Ninguém melhor para falar sobre isso, Severus sabia de primeira mão. James era brilhante, Remus era magnífico e Sirius, bem, Sirius era Sirius. Eles se completavam, estavam sempre juntos para o que der e vier.
Medo era tudo que sentiam quando se desencontravam numa batalha.
E se algo acontecesse?
Eles ficavam desesperados, perdidos, desolados. Seus olhos não paravam até que checassem o outro. Severus sentia algo maior entre Sirius, James e Remus nesses momentos, mas nunca tivera coragem de tocar no assunto. Eles se amavam, fato, mas não era aquele amor entre amigos... Eles tinham aquela relação estranha, eles tinham aquele relacionamento desde o último ano em Hogwarts. Funcionava, não era um amor apenas voltado para Severus.
Embora não comentassem, Severus sentia um amor maior toda a vez que eles se olhavam nos olhos. Sabia que eles queriam falar sobre isso. Severus já havia visto eles se tocarem também nas relações sexuais, mas nunca haviam comentado um "Eu te amo" fora no quesito "ei, você é meu melhor amigo".
Eles se amavam tanto quanto amavam Severus.
--Eu vou parar de chorar logo, mas não me forcem!
Remus e James o abraçam também. Era o tipo de abraço que te esquenta de dentro para você, que é capaz de te comer vivo, de te enviar para novos ares.
É bom, é brilhante.
--Eu amo vocês demais...
--Nós também o amamos.
A perfeição com que falavam ao mesmo tempo era estranha. Eles pareciam gêmeos dessa forma, e pensar nisso fazia Severus ri.
Eles eram mesmo seu tudo.
Faltava pouco para Severus completar 21 anos. Nove de Janeiro estava tão perto quanto a próxima batalha. Severus só rezava para ela não ocorrer logo... De preferência, poderia nunca ocorrer.
Voldemort seria derrotado? Quem faria isso? Qual era o plano do universo para esse maldito jogo? Qual seria a próxima pessoa a morrer? O que ele precisava fazer para o pesadelo acabar?
Tudo não passava de um pesadelo... Um maldito pesadelo.
Abraçado a Lily naquela noite congelante, Régulos se perguntava tanto quanto Severus:
Qual seria o maldito fim de tudo aquilo?
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