"Heróis"
Eles sabiam ser tolos, os três.
Eles eram tolos apaixonados, claro, mas mesmo assim, eram tolos.
Quando receberam a notícia chocante de que Frank e Alice Longbotton haviam sido deixados nus, ensanguentados e malucos em algum lugar para serem achados. Eles sentiram vontade de vomitar e entraram em pânico, porque Severus poderia ser o próximo.
E, bem, eles não se orgulhavam de suas escolhas mal pensadas, mas eles precisavam impedir que Severus fosse torturado ao ponto de acabar como os Longbottons (eles eram inteligentes o suficiente para saberem que Severus nunca falaria nada). Odiavam a sensação de que logo tudo se transformaria em um perfeito caos.
E estava se transformando em um perfeito caos neste exato instante.
--Severus!
Um feitiço atingiu Voldemort pelas costas e outro passou de raspão na orelha de James. O rapaz mais alto só teve tempo para pular em cima de Severus antes que o verdadeiro terror começasse. Uma equipe realmente grande de soldados adentrou o local. Por sorte de Voldemort e completo azar da Ordem da Fênix, os comensais aí presentes estavam preparados para uma luta.
Ela já ocorria lá fora (a batalha), na pequena cidade antiquada. Pela primeira vez, a Ordem da Fênix havia conseguido invadir a velha mansão empo relhada. Não era um bom sinal, Voldemort sabia. Eles estavam ficando mais fracos... Seus soldados estavam mais fracos.
Severus tornou a olhar completamente irritado para o rosto de James. Não esperava que aquilo literalmente fosse acontecer...
--Sai de cima de mim!--Ralhou. Não deveria ficar irritado com James depois de esse salvar sua vida, mas a batalha estava ocorrendo ao redor deles, e James só conseguia o fitar com um olhar doce e completamente idiota. Eles deveriam fazer alguma coisa que prestasse.
O mais alto não obedeceu ao pedido, então Severus o empurrou no chão e ficou em pé num salto (não sabia de onde havia tirado a força para empurrar James, mas levando em conta que seu namorado era magro como uma pena). Estava sem varinha, fraco e assustado, mas precisava lutar.
--Nem vem!--James se levanta muito mais rápido do que Severus, ao mesmo tempo que desvia de uma luz roxa assustadora. Ele segura Severus com força e o leva para longe dos feitiços, azarações e maldições mortais, o mantendo protegido atrás de uma estátua. Estavam numa sala de jantar gigantesca, mas com todas aquelas pessoas se tornava pequena.
Era feitiço atrás de maldição, azaração atrás de feitiço. Alguns encantamentos perdidos eram lançados em direções estranhas. A luta não era mais exclusiva da sala de jantar, a porta que dava para o corredor estava aberta.
--O que você pensa que está fa...--Antes que Severus pudesse terminar de falar, James o corta com um beijo, mas só fica nisso, num único tocar de lábios. Não poderia se exceder, mesmo que sua vontade fosse tacar Severus naquele chão e o foder como se não tivesse amanhã. Era pedir muito?
--Eu, Sirius e Remus ficamos tão assustados! Achamos que já fosse tarde quando chegamos aqui... Você está...
Uma luz azul bateu contra a estátua, impedindo James de continuar a falar. Eles estavam em uma batalha... Claro. Não era momento para conversar, ele precisava continuar lutando... Precisava se certificar que Sirius e Remus ficassem bem, assim como os soldados que havia conseguido reunir (manter os ainda vivos bem, pelo menos). Aquele tinha que ser o fim daquele terror... Eles precisavam derrotar Voldemort naquele dia. Estavam tão perto... Mas primeiro ele tinha que proteger Severus.
--Eu vou levá-lo a um lugar seguro!--James grita por cima do barulho. As coisas pareciam estar fugindo do controle.
Severus range os dentes. Ele não queria ser tratado como uma princesinha indefesa, por mais que James estivesse somente querendo vê-lo seguro.
--Eu não vou me esconder enquanto você, Sirius e Remus (os idiotas), lutam! Eu quero fazer algo que preste!
E é nesse momento... Nesse momento que deveria ser tudo, menos decisivo, que Dumbledore entra em cena. Qualquer pessoa que se preze, diria que Voldemort temia Dumbledore. E, por mais que o tempo tenha continuado normal, ele pareceu desacelerar. O desencontrar de James com o mundo real, serviu para Severus se esquivar da estátua e correr para longe de seu toque.
Não ouviu o grito de seu namorado, muito menos um grito parecido com o de Sirius. Severus apenas correu, pois precisava achar alguma varinha caída e ter tempo para se esquivar de qualquer feitiço, maldição ou azaração que lançassem em sua direção. Severus apenas precisava lutar e se vingar pelo o que ouviu e não foi capaz de deter.
Verdade que Severus mal os conhecia... Mas, se tivesse um filho, gostaria de poder vê-lo crescer. Amaria vê-lo embarcar para Hogwarts e amaria, mais do que tudo, vê-lo formar uma família.
Não gostaria de viver sem saber o que acontece com o filho, por estar totalmente fora de si.
Com um encontrão num comensal qualquer e um soco no nariz dele, Severus conseguiu o que queria. Agora, com a varinha em mãos, ele apenas precisava lutar. O problema é, que antes que pudesse fazer qualquer coisa, um corpo forte se chocou contra o seu, o derrubando no chão. A essa altura, Dumbledore já havia encontrado Voldemort.
Era Sirius quem havia se chocado contra Severus.
--Você está maluco?!--O ex Grifinório gritou, atraindo os olhares de pessoas indesejadas.--Fica atrás de mim!
Ignorando o pedido de seu namorado, Severus se pôs de pé ao seu lado. Agora, ambos mantinham aqueles comensais longe de seus corpos ao rebater o que lançavam em sua direção. Com um Expelliarmus, Severus retirou a varinha de um à esquerda e Sirius, segundos depois, retirou de um a direita. Eles os jogaram para longe com apenas um aceno de varinha.
Começaram a vir mais, e Sirius e Severus pareciam encurralados. Era fato que Sirius já estaria morto caso Severus não tivesse se posto ao seu lado. Ele agradecia por tê-lo aí, mas isso não mudava o fato de que estava apavorado com a ideia de que seu namorado pudesse vir a se machucar.
Severus estava bem, não? Eles achavam não ter chegado a tempo, mas Severus não parecia apresentar sinais de que havia levado alguns Cruaciatos.
E com apenas um grito, todos parecem ser lançados contra as paredes e estátuas desmoronam no chão, causando um barulho descomunalmente alto. Um vento forte havia preenchido o recinto, com ele todo mundo havia, quase literalmente, levantado voo. Menos, claro, Dumbledore e Voldemort.
Severus abriu a boca em um O perfeito ao notar que no meio da sala ( um de cada lado da mesa que não havia levantado o voo quase mortal) ambos lutavam de maneira incansável. Luzes eram lançadas de cada lado, mas a mais mortal era a verde, lançada cada vez mais por Voldemort.
Severus sente braços ao seu redor e entende, de uma forma nada adorável, que deveria se manter parado. Um selinho é deixado em sua bochecha e seus olhos caçam os de Remus. Sentira tanta falta daqueles olhos calorosos...
--Vai ficar tudo bem...
Não parecia que tudo iria ficar bem. Dumbledore era poderoso e ninguém parecia tentado a interromper a batalha que ele e Voldemort travavam... Mas, se Dumbledore perdesse, eles teriam que voltar ao campo de batalha... E não teriam muita chance.
Severus olha para o outro lado, Sirius estava aí, sentado. Estava com a cabeça machucava, havia a batido na parede.... Várias pessoas deveriam ter batido a cabeça na parede. Severus engole em seco... Onde estaria James? Ele não queria olhar ao redor, temia ver seu corpo sem vida.
Remus se estica para colocar uma mão na cabeça de Sirius, que se encolhe com o toque. Remus tocara bem onde ele batera.
--Sirius... Respira fundo, vai ficar tudo bem.
De repente as luzes param e um silêncio alto faz presença enquanto Dumbledore e Voldemort se fitavam. Todos parecem prender as respirações e Severus engole em seco com pavor. O que aconteceria futuramente era um mistério... Severus não queria que fosse.
--Sempre o achei tolo, Tom
Não era hora para alfinetadas... Não naquele momento. Voldemort parecia prestes a lançar um Avada Kedrava em Dumbledore, e Severus não poderia deixar que isso acontecesse. O idoso já havia desviado de quantos? Conseguiria desviar de mais?
--E eu sempre o achei tolo, Albus.
E agora eles voltavam a se atacar. Pareciam cada vez mais tentados a pôr um fim naquela guerra. Severus só queria impedir que Dumbledore se matasse... Ele só queria pôr um fim naquilo antes que ele morresse. Era estranho imaginar Dumbledore morto, mas era mais estranho imaginar um mundo em que Voldemort tivesse o poder.
E então Severus arrancou os braços de Remus do seu redor e se pôs de pé. Imaginava que atacar Voldemort pelas costas não seria de todo difícil...
O problema é que parecia uma péssima ideia.
Ouviu o grito de James ao longe, mas continuou se aproximando... Voldemort ainda não havia notado sua presença, mas Dumbledore havia. Ele lançou um feitiço em sua direção, tentando jogá-lo para longe, mas isso se mostrou falho. Dumbledore só havia chamado a atenção de Voldemort para si, com isso sendo atingido por um feitiço. Por sorte, não fora a maldita maldição da morte.
--Ora, ora, veio se juntar a mim, Severus?
Severus só pôde engolir em seco. A varinha que usara para lutar ao lado de Sirius não estava com ele, o que significava que estava desamparado em frente a Voldemort.
Antes que pudesse dizer qualquer coisa tola, seu campo de visão fora tomado por duas pessoas idiotas. Claro que James e Remus, que não estavam tontos por não terem batido a cabeça, pelo visto, tomariam partido da situação.
Os dois estavam com as varinhas apontadas para Voldemort, que parecia se divertir.
--O que pensam que estão fazendo?
Nenhum dos dois respondeu, as varinhas ainda apontadas para o peito e rosto de Voldemort. O Lorde das Trevas pouco parecia se importar. Para ele era algum tipo de brincadeira.
Severus olhou para trás, alguém havia cutucado seu pé. Com uma expressão inteiramente confusa, ele viu alguém lhe estender a varinha... Mais precisamente, alguém de manto preto e máscara tenebrosa, um Comensal.
Severus arqueou as sobrancelhas, sem ideia do que deveria fazer. Ele não deveria aceitar sem saber se aquela pessoa realmente desejava ajudá-lo. Com cuidado, Severus colocou toda a sua confiança em cima daquele gesto.
Ele se abaixou, pegou a varinha, afastou James e Remus com um empurrão e apontou para Voldermot, gritando o feitiço que desejava. Não deu tempo, no meio da fala Voldemort apontou a varinha para Severus e gritou tão alto que a mansão tremeu. A luz verde voou em câmera lenta até o peito de Severus, que só pôde se encolher e esperar o impacto. E, desafiando as leis da gravidade, o Expelliarmus do Comensal misterioso, que derrubara Severus no chão e pegara sua varinha em meio à pressa, fizera a luz verde se chocar contra o peito de Voldemort.
Os segundos seguintes foram torturantes, pois de repente o corpo de Voldemort já não estava mais em frente a eles e gritos preenchiam a mansão antiga. Comensais corriam de um lado para o outro e soldados da Ordem da Fênix tentavam pegá-los. Estava um verdadeiro caos.
Severus não pensou muito a respeito antes de olhar para a figura alta ao seu lado e levar as mãos afoitas até sua máscara, a arrancando de seu rosto. O menor arregalou os olhos e James e Remus não conseguiram ficar atrás. Era Lúcius Malfoy.
--O que deu em você?!--Severus gritou, ansioso por uma resposta que fizesse sentido. Por que diabos Lúcius se voltaria contra Voldemort?
--Eu não teria feito isso se não houvesse tido a mínima possibilidade de você morrer!--O aristocrata Malfoy não parecia nenhum pouco feliz com o fechamento de tudo aquilo.--Onde o corpo dele foi parar? Eu estou tão perdido!
Lúcius parecia à beira de uma crise existencial.
--Não faço ideia...--A voz de Remus cortou o silêncio.--Mas algo me diz que ele não morreu, realmente.
Aquilo não poderia ter assustado mais Lúcius Malfoy. Ele, de fato, estava perdido.
--Voldemort não se foi, apenas perdeu suas forças.--O que Severus mais temia, saiu da boca de Dumbledore.--Algo me diz que ele procurará meios de retornar em breve, mas, por enquanto, vagará pelo mundo e procurará animais, talvez cobras, para viver dentro. De qualquer forma, por agora, a Guerra está ganha.
Dumbledore não parecia convicto de suas palavras, mas era certo.
A Guerra acabara.
Não corriam mais riscos. Estavam... livres? Eles agora estavam livres, e isso era impressionante... Provavelmente demoraria muito para Voldemort vir a tentar recuperar suas forças, o que significava que eles estavam livres para ter sua casinha e sua família.
Isso era... Bem, isso era perfeito.
Severus olhou para Lúcius, sentado longe de todos. Ele ainda teria que pagar por tudo que fez, mas não iria para Azkaban. Dumbledore havia considerado um gesto de pura coragem, embora Lúcius deixasse claro que só o fizera porque odiaria ver Severus morto. Tiveram uma conversa um tanto reveladora depois do susto, embora só tivesse feito Severus acreditar plenamente, que sim, Lúcius tinha pelo o que lutar. Poderia dizer mil vezes que o fizera para salvar Severus, mas a verdade era que Lúcius, no fundo, queria salvar a própria pele e a família da ruína. Um Malfoy não poderia acabar com o nome manchado, não por uma Guerra.
Agora ele, Narcissa e o pequeno Draco poderiam ser vistos como heróis.
Severus tornou a fitar James, Sirius e Remus, ambos sentados ao seu lado. É, eles também seriam vistos como heróis.
Tudo estava bem, por enquanto.
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