"Eu não me importo"
Severus soube que era um sonho a parti do momento que fechou os olhos e sentiu uma mão leve em seu rosto. Então ele os abriu como se quisesse confirmar, e no momento que viu um Sirius sem nenhuma mordida, inteiro, sem olheiras, mais velho e parecendo bem, ele teve certeza de que aquilo não poderia ser real de forma alguma. E as ideias vagas de que aquilo poderia ser verdadeiro, vão embora tão rápido quanto chegaram.
--Ei, você está bem?
Sirius tinha um sorrisinho fofo na face, e mexia os dedos em sua bochecha de forma carinhosa, alisando a pele pálida com uma paciência irritante. Ele fitava cada traço do rosto de Severus, analisando como se o quisesse completamente marcado em sua memória. Era como que se ele soubesse que a qualquer momento Severus não estaria mais aí.
--Não vai me responder?
Severus balança a cabeça, como se saísse de um estado de torpor. Ele estava pensativo, também analisando aquela face marcante em sua frente. Sirius era muito lindo, mas agora com todas aquelas mordidas... Severus havia tirado isso dele. Ele sabia o quanto Sirius gostava de seu corpo, de se exibir... Como tivera a audácia de tirar isso dele?
--Você está bem?--Severus devolve a pergunta, saboreando a face confusa de Sirius.
--É claro que eu estou bem, você está aqui comigo. Mas me responda, você está bem?
Sirius aproxima seu rosto do de Severus, o sorriso doce que mantinha na face poderia facilmente derreter o Sonserino. Severus estava se sentindo terrivelmente culpado. Ele não merecia a forma como Sirius o olhava, ele não merecia o amor que seus olhos transmitiam... Ele não merecia nada.
--Eu estou bem.--A mentira cortou sua garganta.--Mas me diga, por que estamos sussurrando?
Sirius solta um risinho baixo e de repente desfere um chute em quem estava deitado ao seu lado da cama. Severus arregala os olhos com o gemido de dor que a vítima desfere, mas em seguida não evita que um riso se solte de seus lábios.
--Eu não queria acordar os manés, mas mudei de ideia.
Um James irritado levanta a cabeça, fitando Sirius com ódio antes de seu rosto se iluminar por ver Severus acordado. James estava feliz, nada preocupado, muito menos pálido, como Severus havia o visto na enfermaria e não notado. Argh! Era possível ele se sentir pior do que já se sentia? Era como que se ele fosse a pior pessoa do mundo... Como que se ele tivesse cometido os piores erros possíveis.
--Boa madrugada, meu amor. Está se sentindo bem?
A forma como eles perguntavam se ele estava bem, era como se algo ruim tivesse acontecido, mas o quê? Severus arqueia uma sobrancelha, analisando as fases de ambos, confuso e curioso.
--Por que perguntar se eu estou bem? Aconteceu alguma coisa?
Sirius suspira, voltando a tocar na face de Severus de forma carinhosa, girando os dedos por sua bochecha pálida.
--Você não estava muito bem hoje... Nós só queremos saber se você está melhor.
Um grunhido vem do lado esquerdo de Severus, e ele quase se assusta quando o rosto de Remus aparece em seu campo de visão. Ele não havia notado que o montinho de coberta ao seu lado era uma pessoa, parecia mais um emaranhado qualquer de coberta.
--Olá, meu amor. Você está se sentindo melhor?
Remus massageia a sua face, e Severus quase deixou que uma lágrima escapasse. Remus era a criatura mais carinhosa do universo, não poderia ser idiota ao ponto de dizer adeus para uma criatura doce como aquela. Não poderia dizer adeus para nenhuma daquelas criaturas doces. James, Sirius e Remus estavam sacrificando um monte por ele, e, de fato, eles não eram mais como no passado. Haviam mudado demais, foram de pior para melhor em questão de dias. Severus não poderia voltar atrás quando tudo parecia estar tão certo. Era idiota, sem sentido...
E daí que Remus era um lobisomem! Ele era doce, gentil, corajoso, leal, romântico... Severus havia o conhecido bem em tão pouco tempo, e aprendera o suficiente para saber que Remus era tudo que ele poderia pedir e muito mais. Pouco importava a sua condição, Severus poderia muito bem arcar com isso sem achar nojen... Foda-se a palavra! Ele amava aquela criatura inteligente.
Sirius era boboca, mas sabia reconhecer seus erros como ninguém. Era leal, sexy, fofo apesar da idiotice. Severus reconhecia que ele daria o próprio mundo para tê-lo... Severus não poderia negá-lo.
James... James era o significado de "onde eu me meti?". Ele era fofo, bonito, Severus reconhecia que para consertar todos os erros que cometera consigo, ele mudaria o mundo. Ele não era mais aquela antiga criatura que poderia muito bem o machucar... James agora era... James agora era uma versão muito mais melhorada.
--Sim, eu estou me sentindo muito melhor. Eu amo vocês... Já disse isso?--O Sonserino solta, pouco se importando com as lágrimas que ameaçavam cair.
Severus prestava atenção nas faces dos três, como que se assim pudesse mantê-las felizes em sua memória. Ele não poderia consertar o erro que cometeu, mas pelo menos tinha como tornar as coisas mais fáceis.
--A gente também o ama.--Remus profere, por fim. E, em um piscar, Severus estava acordado com a face de James acima da sua. Ele quase poderia achar que fosse mais um sonho, talvez o mesmo, mas James estava abatido, assim como antes, além de que não aparentava ter mais do que 17/18 anos. Nos sonhos eles sempre eram mais velhos. Óbvio que aquilo era real.
--Severus, desculpa acordá-lo, mas madame Promfey pediu.
Severus geralmente odiava ser acordado por alguém, mas naquele momento quase que pôde agradecê-lo. Ele queria falar para Remus que ele pouco se importava com a sua condição o mais rápido possível, e queria também dizer que nunca acabaria com o namoro recém começado. Mas os seus planos mudam quando uma cabeleira ruiva se joga contra ele e o aperta em um abraço que quase poderia quebrar todos os seus ossos.
--Ah, e Lily e Régulos vieram visitá-lo.--James termina de dizer, aproveitando a distração para voltar para onde Sirius e Remus se encontravam. Ele queria ficar aí com Severus, mesmo que o Sonserino pudesse não querer, mas algo lhe puxava para onde Sirius estava acamado e machucado. E ele também não queria se meter nas conversas que Severus teria com Lily e Régulos.
--Lily, você está me sufocando!
Lily se afasta com a face culpada, seus olhos indo de pedacinho a pedacinho de Severus. Ela queria se certificar de que ele estava inteirinho fisicamente. Ela não sabia ao certo o que havia acontecido para Severus acabar na enfermaria. Para dizer a verdade, ela havia acordado naquela manhã e descobrira pela boca dos outros que Severus e os marotos estavam acamados.
--Severus!
Severus quase teve um infarto com o aparecimento de Régulos, que se jogou igual a Lily em cima de si. Ele queria entender o porquê de todos parecerem tentados a o sufocar.
--Reg, você está me sufocando!
Régulos o solta no mesmo momento, a face se voltando culpada para o rosto de Severus.
--O que aconteceu ontem? Nós acordamos e descobrimos que você, James, Sirius e Remus estavam na enfermaria. Eu fiquei desesperada...
Régulos interrompe Lily sem se importar com o olhar irritado que a ruiva lançou em sua direção:
--Eu saí correndo da Sonserina às seis, mas Promfey não me deixou entrar tão cedo...
--Espera, que horas são?--Dessa vez Severus que interrompe Régulos, mas o garoto pouco se importou.
--Devem ser umas sete e pouco.--Lily que o responde, se pondo sentada na beirada da cama do amigo.--Me conte, o que aconteceu ontem?
Severus sabia que não poderia falar a verdade, pois seria uma completa traição à Remus, Sirius e James. Ele só não fazia muita ideia de qual mentira deveria inventar para Lily e Régulos não suspeitassem que fosse uma mentira fajuta sua. Felizmente, ele é salvo por Promfey.
--Com licença senhorita Evans e senhor Black, mas eu preciso ver se senhor Snape pode sair da Enfermaria para ir à aula.
Severus não fica muito feliz com a menção à aula, o que o deixa confuso por um certo tempo. Ele amava estudar, era um fato, mas ele não se imaginava estudando depois de um susto daqueles. Esse é o problema de escola e emprego, não importa a sua saúde mental, você tem que estar lá.
Lily e Régulos não dizem nada ao se afastarem da cama, o que dar tempo para Severus começar a pensar em qual mentira deveria contar. Aquilo seria complicado, pois ele não fazia a mínima ideia de como se criava uma mentira convincente. Lily notaria caso Severus cometesse um erro enquanto contasse... Argh! Ele não teria tempo para criar algo que fizesse sentido!
Promfey o analisa, faz perguntas e chega à conclusão de que Severus estava bem o suficiente para pegar seu material, comer o Café da Manhã e ir para a aula. Porém Severus não queria isso, tampouco queria responder à pergunta de Lily. Então quando Promfey se afasta dele e vai até a sua sala, ele não deixa que Lily e Régulos se aproximem antes de correr para onde os marotos se encontravam. Ele, claramente, havia feito isso em um surto de desespero. Ele queria responder à pergunta de Remus. Ele não apenas queria, como precisava, logo, de preferência.
Os três se assustaram com a sua presença repentina, mas Severus não se importou nenhum pouco ao pular na cama de Remus e o puxar para um abraço apertado. Lily e Régulos, que se aproximaram confusos com a fuga do amigo, fitam a cena com uma mistura de fofura e confusão. O que havia acontecido para Severus se levantar e correr de forma tão afoita?
--Remus.--Severus se afasta do abraço e segura seus ombros para forçá-lo a olhar em seus olhos.--Sobre a pergunta que você me fez ontem, eu não me importo, não me importo mesmo, pois eu te amo demais, e o que me incomodaria seria perdê-lo quando eu mal ganhei. Eu preciso de você ao meu lado, assim como eu preciso de Sirius e James. Pois agora, mais do que nunca, vocês são extremamente importantes para mim, e eu não poderia imaginar um mundo sem os seus poemas, poesias, mensagens, também não poderia imaginar um mundo sem James e Sirius e a estranha ideia de que agora eles me salvam ao invés de ferrar com a minha vida. Eu quero estar com vocês em todos os momentos de nossas vidas, eu quero vocês na saúde, na doença, na felicidade, na porra da tristeza. Eu simplesmente quero vocês ao meu lado!
Severus trinca os olhos, abismado por ter dito tudo aquilo basicamente que sentado no colo de Remus. Ele não havia nem pensado direito antes de correr em direção aos três, mas agora estava com as mãos nos ombros de Remus e com cinco pessoas olhando para a sua imagem envergonhada. Como se mexer? Severus estava travado.
--Do que Severus está falando? O que aconteceu ontem?--Régulos que quebra o silêncio que se instalara, o que faz a coragem de Severus retornar de uma forma estranha. Felizmente, não havia mais ninguém olhando para ele, e sim para Régulos, então Severus não chegou a se importar por ter aberto os olhos.
Remus que decide responder Régulos, e isso faz com que todos, com exceção de Lily, agradeçam. Remus era o único aí que poderia responder aquilo, na opinião de Sirius e James.
--Régulos, é algo muito pessoal, foi uma noite muito complicado... Um dia quem sabe a gente conte, mas por agora não parece certo, entende?
Severus agradece com todas as suas forças por não ter inventado uma desculpa e contado antes. E, ao contrário do que Severus pensou que aconteceria, Régulos e Lily não parecem ficar ofendidos, eles apenas concordam com as cabeças e sorriem de forma carinhosa. Lily aproveita para se colocar sentada na beira da cama de Remus e Régulos se coloca sentado na beira da cama de Sirius. James já estava sentado em uma cadeira no meio de ambas as camas.
--Certo, contem quando chegar o momento.--Lily se pronuncia.--Mas eu digo que estou bastante curiosa. Vou ficar criando teorias, quem sabe um dia chego em ideia real.
Remus não evita que um riso se solte de sua boca, sendo acompanhado por James, Sirius e Severus. Aqueles risos poderiam ser considerados nervosos por ser Lily de quem estavam falando, mas eles preferiam dizer que eram risos felizes, apesar da ruiva ser inteligente o suficiente para tirar uma conclusão correta.
Bem, só o tempo poderia dizer.
Os marotos estavam felizes pela confissão de Severus, que sorria de uma forma doce. Eles queriam saber o que havia feito com que o Sonserino corresse afoito em direção à Remus, também queriam saber o porquê de ontem ele se encontrar distante e hoje tão perto. Mas isso só o tempo diria, nenhum deles perguntaria, pois temiam fazer Severus mudar de ideia sobre a coisa linda que dissera.
Eles estavam felizes, completamente felizes. Por que mudar algo que se tornava tão bom?
--Evans,--A ruiva se assusta com a voz de James, que fitava ela e Régulos de forma maliciosa. Ela olha para ele, a sobrancelha arqueada e exigindo alguma explicação para aquele olhar sem sentido aparente.--Você e Régulos estão tão juntinhos a dias, estariam vocês em alguma relação desconhecida? Namorando, talvez.
A ruiva não consegue evitar quando as suas bochechas atingem a mesma coloração de seus cabelos. Por que Potter tinha que perguntar logo aquilo? Ele deveria estar querendo puxar assunto por causa do silêncio se que instalara, mas a pergunta fora totalmente desnecessária.
--Não!--É Régulos que se pronuncia, e a ruiva não pôde evitar quando um desconforto subiu por seu corpo por causa da resposta.--Nós só somos amigos.
Por que ela tinha que ficar triste por uma resposta verdadeira? Ela e Régulos não passavam de amigos, estavam se conhecendo ainda, confusos pelo beijo em frente à enfermaria. Por que parecia que o coração dela queria algo a mais naquele momento? Quem sabe uma resposta positiva fosse a alegrar, mesmo que depois houvesse briga pela mentira descarada.
--Nossa, mas vocês parecem tão... Juntos?--James diz e a ruiva somente pôde revirar os olhos. Era tão bom não sentir mais nada por James Potter. Ela se sentia... Livre? Talvez. Se lembrava de como havia sido idiota no dia que contara para Severus que gostava dele... Como pôde ser tão tola? Só de lembrar sentia ânsia de vômito.
--Nós somos apenas amigos...--Lily começa a responder, mas é prontamente interrompida por Severus:
--Amigos que um dia serão namorados, se casarão e terão alguns, não, muitos, filhos.
A ruiva não pôde evitar que corasse novamente e é quase engraçado quando Régulos cora também. Aquela já era a resposta que os quatro precisavam. Ela queria isso, e Régulos também queria. Era estranho, mas...
--Por que vocês estão adiando o inevitável?--É Sirius que pergunta, e Lily e Régulos não conseguiram evitar a confusão. Precisavam de tempo, tempo para entender aquilo. Mas será que ainda precisam entender mesmo? Já não estava entendido o suficiente?
--Nós ainda precisamos de tempo para nos conhecermos o suficiente, nos conhecemos a muito pouco tempo e...
Régulos é interrompido por Remus, que bufa falsamente para chamar a atenção de todos:
--O tempo é relativo, algumas pessoas levam dias para se apaixonar, outras levam semanas, meses, anos... Se vocês se gostam, por que não tentar algo? Dar para ver que estão apaixonados e querem se permitir sentir muito mais...
Lily e Régulos se fitam, olho no olho. E se Remus estivesse certo? E se eles dessem o próximo passo? Lily queria, o problema é que Régulos não estava pronto.
--Eu não posso...--Lily, que estava começando a sorrir, sente os vestígios se desmancharem.--Eu tenho a Marca Negra, sou a porra de um Comensal da Morte, se eu namorasse Lily, ela correria sério perigo.
Lily não podia culpar Régulos, mas ela queria dizer que eles podiam ficar juntos, que ela lutaria se tentassem fazer algo com ela, que ela só queria estar ao seu lado... Mas nada sai de sua boca, pois ela não sabia como falar. Será que ela saberia lutar pela sua vida e pela de Régulos caso algo de ruim acontecesse? Caso descobrissem?
--Eu estou pesquisando o feitiço, Reg.--Severus se pronúncia.--Eu darei um jeito de tirar essa coisa de seu braço sem riscos.
--E eu farei com que a ordem o proteja.--Sirius emenda.--Vocês ficarão juntos, e serão completamente felizes.
E, apesar de idiota, eles coraram novamente.
Eles dariam um jeito, os seis seriam completamente felizes, teriam lares calorosos, filhos, camas quentinhas. Veriam as crianças embarcarem para Hogwarts em um mundo novo, sem guerra, sem preocupação, sem dor.
Eles apenas precisavam acreditar e tudo se realizaria. Eles acreditavam, eles sempre acreditariam, pois a esperança é a última que morre.
E Severus acreditava mais do que todos eles.
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