30 - O Torço
2939 Words
Este cap teve as cenas cencuradas...
A Valery me irritava sim; mas de todos ali ela de fato era a melhor pessoa. Pois ela me irritava da mesma forma que uma criança irrita uma pessoa que não gosta de crianças. Entende? Ela era chata apenas isso; não me olhava como todos faziam, apesar de se tremer toda se eu me aproximasse sem querer. Ela tinha medo de mim e tinha razão em sentir isso.
Até porque a forma que nos conhecemos não foi das melhores...
— Sim. Eu penso sobre quem seriam meus pais como qualquer um que sabe que foi adotado, mas menos que um órfão que não tem quem chamar de pais. — Respondo tentando criar esse laço com ela e diminuir essa merda que tinha entre nós. — A forma que ele falou me deixou bem irritado; mas eu já sei que é como todos veem a minha raça...
— O ponto é: claramente ele conhece a sua família biológica e reconheceu algo em você. — Pontua seria me acompanhando. As roupas que ela escolhia até pareciam inspiradas nos games que eu gostava... fala sério. — Se ele é tão fodão assim não deve conhecer qualquer um, então no mínimo ela é famosa e importante.
— Ela é muito forte. — Imponho verificando o caminho antes de seguir. Apesar de conversarmos em baixo tom sem nos olhar e sim para o caminho ainda era bem perigoso. — Foi o que entendi. — Digo me aproximando usando as técnicas de infiltração que Cedruick me ensinou. — E eu tenho uma irmã mais velha... mas ele não falou nada de um pai. Estranho não? Talvez já esteja morto... ou ele seja fraco e ele não se interessou. — Respondo vendo aquela muralha e as grades tentando lembrar do que aprendi; não seria nada fácil entrar ali sem ser pego; ser grande tinha muitas desvantagens. — Mas a real é que não tenho o que pensar ou pesquisar. Não tem o que fazer; e ficar pensando nisso só vai me surtar.
— Faz todo sentido. Mas o Van Helsing falou que você é Green; acredito que seu pai seja humano, por isso que o Dorian nem o comentou. — O olhar dela realmente parecia pesaroso. Parecia bolar uma forma de me ajudar a ter respostas. — Olha... desculpa tocar no assunto.
— Tudo bem... — Respirei fundo e parei de andar tentando analisar melhor uma entrada. — Olha... desculpa ter te perseguido e seus amigos e causado a morte do seu amigo. O priminho estava muito violento eu devia ter detido ele e não o usado para atacar vocês... Não fui eu quem mandou, mas a culpa é toda minha. Afinal ele é só uma criança.
A forma que ela me olhou foi curiosa.
Claramente ela se espantou, pela forma que abriu a boca e arregalou os olhos. Mas não dava para ter certeza, se era algo emulado ou não, pois seu rosto era bizarramente belo e distraía o olhar; sua simetria perfeita era anormal, tinha algo errado.
— O que foi? Tem algo de errado na minha cara? — Pergunta com um tom petulante e eu me seguro para rir, já que era justamente o que estava analisando e pareceu que ela leu minha mente.
— Bem... já que você entrou no assunto... — Comentei como se não fosse nada de mais e ela me olhou toda curiosa. — O que você é afinal? — Pergunto direto ainda tentado buscar uma falha inexistente naquele lugar.
— Você... notou? O que você percebe? — Não foi nem de perto a resposta que eu esperava, ela parecia bem desconfortável com isso e não como eu imaginei; então parei e a olhei analisando melhor.
— Você é bonita demais. Parece uma boneca perfeita. Não acho defeitos... ninguém é assim. Você é um golem e a verdadeira não sai de casa?
— Minha... aparência te incomoda? — Ela parece estranhar essa resposta.
— Muito. — Respondo e ela sorri.
— Também me incomodo.
E foi aí que ela me contou resumidamente sua história de vida assim como eu tinha feito quando nos conhecemos. Como sua mãe era insana... e logicamente fiquei perplexo. Mas no fim de todo aquele relato horrível ela torna a me surpreender.
— Obrigada... por perceber... que tem algo ruim na minha aparência... algo maligno e errado. Que isso te incomode. Por que também me incomoda.
O que se responde nesta situação?
— Ei. — Acabo pondo a mão em seu rosto por mania e enxugando a lágrima que escorria com o indicador e polegar. Erguendo seu rosto com cuidado, afinal ela parecia ser uma pessoa bem delicada. — Não precisa chorar. Foi horrível sim, mas acabou... está no passado, ela não vai mais poder te tocar. Sua mãe é louca, mas você tem um pai legal não? Amigos que te ajudam mesmo virando frango assado; além de que você ganhou superpoderes para salvar o mundo não? E o lado bom é que a maioria das pessoas já vão te dar um crédito a mais por ser gatinha.
— Besta. — Sorri de leve. — Você realmente não é mal. Não é mesmo?
— Está me perguntando? — Digo e ela faz que não com a cabeça.
— Eu não sei por que, mas mesmo que todos digam que você é mal só por ser um Renfield eu... acredito que isso não seja verdade. Pelo que li, um Renfield é apenas fiel a seu mestre, e ao meu ver eles não são bons ou maus; até aquela família assustadora não são canibais, pois não comem ou machucam alguém de sua raça; o que eles fizeram foi o mesmo de cozinhar uma lagosta viva ou outras práticas bem bizarras de culinária. — Diz toda analítica e pensativa. Era nítido que ela ficou pensando naquele ocorrido. Não tinha como deixar de pensar, mas minha surpresa foi essa forma de analisar tudo. E não nego que também fiquei tentando entender aquele horror, mas aparentemente ela foi muito mais feliz em compreender do que eu que tecnicamente sou da raça. — E você não tem mestre. Isso é bem curioso. Uma exceção à regra.
— Exceção a regra é uma regra. — Brinco sentindo que não tinha o que complementar em um raciocínio tão perfeito.
Renfields tem um instinto X, não sendo bons ou maus, mas assim como humanos não se importam muito em fazer mal a raças que julgam inferiores.
— Ou você só não achou o tipo de pessoa que lhe atrai. — Diz pensativa me tirando do raciocínio. — Pelo que li, cada poder de um renfield vem de acordo com o que vai ser útil a pessoa que ele serve. Ele já nasce com seus poderes, assim como sua preferência de atrativo a mestre.
— E? — Me interessei nas teorias não vou negar. — Acha que eu não tenho um mestre por que?
— Deve ser uma pessoa muito... diferente e rara. Por que você é um renfield raro Yvan. Você tem os poderes de um Green. Os olhos de um Green e um Renfield. — Diz me olhando. — e se não da pra entender seu poder não da pra entender a que tipo de coisa você se fideliza.
Olhos de um Green? Ela se refere a habilidade que o amigo dela tinha e que andava me ensinando?
— Faz sentido. — Respondo voltando a olhar o caminho que podíamos ter.
Bem lembrado: pelo que o tal de Daniel me mostrou posso ver detalhes nas coisas que indicam algo sobrenatural na area; só tenho de prestar atençao... Foda que sempre tinham tres mil coisas que me distraiam disso, os odores eram bem mais fortes que usar a visão assim, minha audição tambem sempre me cativou mais... Mas ok. Humanos usam mais sua visão até porque tem os olhos frontais de caçadores. Que foi? Vai me dizer que nunca notou que todo predador tem olhos na frente da cabeça e os animais herbívoros tem olhos nas laterais?
Me concentrei e logo pude ver.
Não era fácil e parecia uma ilusão, sombras das árvores ou prédios, mas o sol não estava naquele ângulo. Podia ver que eram sombras humanas, várias delas guiando nosso caminho; literalmente apontando.
E se você acha que assim fica fácil, está bem enganado.
Parecia que aquelas almas queriam nos ajudar; queriam que aquele lugar fosse destruído. Eles deram uma leve falha nas câmeras e pude transformar uma de minhas mãos para rasgar a grade de contenção e passar pulando o muro e depois entrando por uma janela.
Valery tem dificuldade em fazer isso então a carrego comigo, e lá dentro podiamos ver por onde seguir usando o mapa que a dupla de professores fez, mas as sombras também me guiavam se arrastando pelo chão onde não havia iluminação suficiente ou motivos para ter tais formas perfeitamente humanoides.
Suas formas distorcidas me diziam bem que suas mortes foram tortuosas.
Eles pareciam mesmo nos ajudar, e eu só conseguia pensar no que Cedruick explicava sobre os mortos: — Não é só porque morreram que se desprenderam deste plano, alguns mortos tem vontade de viver e outros querem vingança.
Isso me fez pensar: as pessoas mortas ali... Estavam todas do nosso lado. Se ao menos eu pudesse fazer como ele e usar esse poder contido...
— É aqui. — Ela diz checando o mapa pondo a mão em uma parede, deveríamos estar no quarto andar negativo ( quando é abaixo do térreo, pra quem não sabe). — Isso está sendo bem fácil não? — Ela diz sorrindo.
Lógico que ela achava isso.
Não estava vendo os espectros nas sombras nos guiando de forma distorcida, com seus corpos em pedaços se arrastando ao nosso redor; nem mesmo podia sentir o odor fétido de carne podre, sangue e vísceras que esse lugar tinha. Não tinha como ela ouvir os gritos e súplicas por piedade, nem o choro que ecoava naquelas paredes.
Parecia que o próprio prédio clamava por clemência.
De alguma forma aquela construção implorava para ser derrubada.
— Você está todo arrepiado. Está tudo bem? — Ela pergunta ao olhar para mim. Mas não tinha como explicar o que eu via e sentia ali sem a assustar; era bom que pelo menos um de nós estivesse alerta e o outro mais tranquilo.
Fiz que não e olhei em volta.
— Assim que quebrar essa parede a coisa vai feder... Não tem como um alarme não soar com isso. — Ela pontua o óbvio e nem respondo.
Ela já sabia que eu não podia me transformar de novo; e por causa disso me limitava a transformações pontuais como em poucos lugares do corpo, tinha de carregar; mas nem tinha ideia de como.
E assim ela põe o explosivo plástico na parede como planejado e ensinado pelo pai dela, já que eu estava sem forças para quebrar a parede e nos afastamos.
Apartir daí considero que tudo foi mera sorte.
A explosão não chegou a dar um choque sísmico mesmo estando debaixo da terra, mas fez muito mais barulho do que eu esperava por ser em um corredor fino, ecoou de forma a me dar até uma microfonia no ouvido.
— Yvan? Você está bem? — Ela exclama preocupada por ter me curvado pela dor no ouvido. O lado ruim de ter certas habilidades... ninguém nunca comenta o lado ruim... — Vem temos de vazar. — Grita indo até o buraco procurando pelo objeto que estava enterrado em pedra atrás da parede a metros no chão.
Uma linda e antiga caixinha de música com seus adornos desbotados pelo tempo e sujeira. Que por algum caralho não virou fragmentos com a explosão.
Correr nem era mais opção pois assim que levantei o rosto e pude olhar em volta já estavamos sendo cercados pelos soldados bem treinados e muito armados.
Vamos morrer...
Foi o que eu pensei, mas como disse ela sempre me surpreende.
— "A primeira oração é para minha querida mãe, a segunda oração para meu grande pai e a terceira oração para meus irmãos do além''. — Quando ela falou essa merda de ritual todos os meus pelos se arrepiaram. — "Se tiverem ao meu alcance da minha voz aproximem! Ouçam o meu chamado..." Peço a ajuda de vocês. Por toda dor que passaram, todo medo que sentiram... imploro ajuda neste momento para destruir esse local horrível e todos que compadecem com tais atos hediondos. Permito a vocês sua vingança.
Ai fodeu.
Valery não tem mesmo noção das coisas.
Muito menos do poder que ela tem dentro de si.
Explicando o pouco que sei: era um ritual até que bem facil, só que a difernetça era que uma pessoa comum não pode dar essa permissão a tantas almas, quanto mais você limita o que a alma pode fazer melhor é pra você, se não ela pode de trenar por completo; mas ela como parceira de Térekin pode.
Pode ceder seus poderes a essas almas fracas que estavam presas ali. Pode dar a elas um poder imensurável que ela mesma ainda não tinha domínio ou mera noção.
E tal como ela, foi neste dia e por conta deste ato que descobrimos.
Apenas vi Térekin analisando friamente as escolhas da garota e como ela agia; ele estava ali parado vendo as sombras se erguerem do chão tomando formas. Formas horrendas de como provavelmente estavam antes de morrer.
Seus corpos... desfigurados por torturas inumanas; queimados ,cortados, sangrando... até mesmo em pedaços se contorcendo no chão em meio a plásticos. Gritando e urrando em agonia.
Era de embrulhar o estômago, ver aquilo... imaginar que agora apenas estava vendo o sofrimento perpétuo que aquelas pessoas sentiam, não mais em seus corpos, mas em suas almas eternas. A crueldade sofrida foi tamanha que gravou em suas almas como "replicantes".
E devo dizer que entendo bem esta dor.
Aqueles soldados demoníacos fizeram isso? Por que uma pessoa faria algo assim com outra? Qual motivo para torturar uma pessoa? Isso é algo que não há justificativa.
Corremos dali encobertos pelos fantasmas que destroçaram os soldados aterrorizados de forma lenta e agonizante, em forma de sua doce vingança pelo que sofreram; homens que atiravam inutilmente contra aqueles que já haviam morrido.
Ela estava agarrada a caixinha lacrimejando como se estivesse arrependida de seu ato. Pude ver que carregava com sigo um dos terços de Cedruick, o "mil e oitenta".
— Por aqui. — As vozes das almas se misturavam como um coro bizarramente macabro nos guiando por onde correr. Eles nos protegiam durante todo o caminho, mas estavam mais focados em sua vingança.
Podia ouvir os gritos desesperados ecoarem reverberando nas paredes enquanto saímos pelo mesmo buraco que entramos.
Sai correndo como podia, mas logo notei que ela não estava ao meu lado. Olhei pra trás e percebi que estava parada olhando o prédio com lágrimas nos olhos.
O lugar realmente parecia estar rindo; e de alguma forma eu podia ver a construção agradecer por morrer...
— Anda. Vamos embora. Já pegamos o que precisávamos. — Gritei com ela.
— Por que... eles não eram criaturas... eram humanos fazendo isso com outros humanos. — Me pergunta perplexa. — Por que as pessoas... parecem tão piores?
Eu não soube o que responder.
Apenas agarrei seu braço e a enfiei no carro dirigindo pra longe dali.
Na estrada algumas pessoas metralharam o carro, mas acho que não nos deram esse veículo atoa; pois ele parecia uma viatura blindada. Trinquei o cu, mas consegui dirigir feito piloto de fuga o que no caso era uma verdade.
— Que porraaaa! — Ela grita ao sair do carro furiosa e frustrada.
Fiquei parado vendo essa reação adversa dela.
Sua fúria parecia legítima. Era uma frustração de alguém que se sentia impotente perante as crueldades do mundo.
Caminhei pelo corredor central da casa que a todo momento trocava seu destino e portas adjacentes, peguei a caixa de música e abri olhando as figuras esculpidas ali. Na época essa imagem não significava nada pra mim, tanto que não fará a menor diferença descrever agora, mas dentro de um ano... Não. Eu não vou embromar.
Se tratavam de entalhes de contenção especiais pois sem isso a criatura que mesmo destroçada e dividida e que ainda estava viva, poderia se montar. Mas não era somente isso, a Bruxa primordial era muito mais.
Abri o compartimento de engrenagens e ali pude encontrar o olho da bruxa, que ainda estava úmido e parecia estar funcionando como se ela estivesse me vendo.
Gelei pensando: por que diabos estávamos juntando esse quebra cabeça? Qual era o plano de Dorian?
Aquele único globo ocular me olhava como se tentasse me contar algo ou me convencer de algo, e me senti terrivelmente tentado a ouvi-la.
O lance do fragmentado deixei por conta destas analogias sociais sendo um cap bem mais leve, pois não quis descrever as torturas horríveis que fazem nestes locais, pode ser q em uma próxima versão eu ponha, vai depender muito das pontuações por que eu mesma consigo escrever mas tenho a ideia de que seria pesado de mais. (pra ter uma ideia a gif é referencia as ideias do que rola nestes locais... Se n entendeu a gif parabens vc é uma pessoa pura)
SIM. Pra quem conhece a obra SHAMAN KING o ritu que ela usou desta vez veio da Anna, pretendo fazer cada ritual ter uma referência pois acho mais divertido, mas quando for transformar em físico eu ponho coisas inventadas por mim. Ate lá qm pegar as referencias se diverte mais. O mil e oitenta tbm é o terço da Anna.
Acho que vou deixar as missões para o Yvan narrar ficou mais legal na versão deles nas 2 vezes q fiz. ai o titulo tbm ja marca bem pq sera o nome dos signos.
Vc qr q eu revele o signo de cada personagem?
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