21 - Levando a sério
2981 Words
Se a cidade sempre foi calma e isso tudo que estava acontecendo era culpa da minha chegada, de certa forma era minha responsabilidade. Mesmo que eu não queira ser a tal herdeira de nada, aqueles que querem me matar não vão desistir por causa disso. Então... ou aceito e me fortaleço ou...
Não somente eu mas todos que amo vão morrer.
Ok...
Eu já estava pronta para ir a uma escola, passar por um longo período de treinamento, conhecer uma galera no treino e saltar essa narrativa alguns anos e voltar "tunada". Mas... você acha que a minha vida é fácil assim? O que até agora fez você pensar que isso iria acontecer e que qualquer coisa na minha merda de vida seria mais tranquila?
― Treino? ― Murmurou confuso. ― Eu já disse que sou eu que vou te treinar. E seu treino não será na cidade com seus amigos. E sim em campo, de forma real.
To ferrada...
Ainda bem que agora tinha um Lycantropo tunado para me ajudar.
Obrigada Deus por esse presente! Juro que vou cuidar com muito carinho dele.
― Toma. ― Dei as chaves da mansão a ele assim que chegamos na frente dela e o Térekin já entrou em parafuso de tanto reclamar.
― Primeiro leva pessoas civis para dentro da mansão. E agora vai dar as chaves a um infernal? O que você...! Isso foi um erro! Não pode ser a porta voz, vamos ter de esperar até que a alma da bruxa cresça para ser o parceiro. Afinal ele morreu então a alma está em um bebe.
Volto ao ignorar e dar atenção a Yvan.
― Sabe. Por que não exploro o lugar com você? ― Digo ao entrar na mansão subindo as largas escadas e me deparando com aquele típico corredor cheio de portas que é tão famoso em filme de terror que até tinha no desenho do Scooby.
― Vamos olhar uma por uma? ― Ele diz curioso abrindo a primeira que viu se deparando com um esplêndido banheiro com uma banheira muito confortável cheia de água quentinha. ― Estranho. ― Diz ao pôr a mão dentro da água testando sua temperatura. ― Como isso se mantém assim? ― Pergunta sério e posso perceber que os cortes em sua mão desapareceram.
― Deve ser mágica como o velho falou. Tudo aqui deve ser mágico. É uma casa mágica! ― Digo animada como uma criança. ― Mas ainda prefiro morar com meu pai. Ele me faz muito feliz. É uma pessoa muito legal e eu o deixei preocupado. Tenho que ir. ― Explico ao me despedir mudando de idéia em ver toda a mansão, faria isso outro dia. Tinha tempo.
Parti esperando levar uma bronca enorme assim que chegasse em casa, mas ele não estava.
Subi até o quarto a fim de trocar de roupa jogando aquelas na máquina pois estava usando as mesmas a dias, graças a toda correria perdi a mala que tinha levado. Bem... pelo menos não fiquei nua como os demais.
Vesti um pijama bem gostoso e peguei o celular já carregado ligando uma chamada de vídeo com Katy que estava explodindo e tentei explicar tudo. Mas como esperei ela achou que eu estava louca e precisava tomar remédios.
Lógico que ninguém acredita quando alguém conta algo assim; tem que provar. Sempre tem que provar.
Mas como se prova? Deixando ela em perigo?
Melhor achar que eu era louca.
*-* Chegou? /=/ Conversamos a noite. Tem congelados no freezer, mas posso mandar uma marmita da BR que você adora.*-*
Recebo mensagens do meu pai e uma dúvida me vem.
Na verdade. Várias.
Mas duas eram mais importantes: Como ele sabia que estava em casa? E por que estava tão calmo?
*-* Marmita por favor. Sabe como viciei em comida brasileira. /=/ Pode ser o especial do dia. Sempre conheço algo novo nesse restaurante.*-*
Respondo rápido, afinal a BR era um restaurante muito cobiçado e as coisas acabavam rápido por lá, mas fico pensativa.
Não podia negar que meu pai era estranho.
Será que ele... também era especial?
Afinal os olhos eram a janela da alma e os olhos mágicos do Daniel eram idênticos aos verdes de Yvan que o senhor Van Helsing explicou; e meu pai tinha os olhos mais fantásticos que eu vi na minha vida toda.
Me levantei e olhei no espelho. Meu olhos estavam da cor normal novamente, e um alívio me tomou. Não podia perder a única coisa que sabia que era minha, que era eu e que não foi mudada pela minha mãe.
Os olhos são a janela da alma. Aquela alteração momentânea quer dizer que minha alma estava mudando ou estava contaminada? Por que eles ficaram assim... vermelhos? Por que vermelho? Se cada cor tem um significado então... por que meu pai tem quatro?
[― Cheguei pirralha do caralho! ― O ouço gritar com tom de zombaria.]
Veio rápido ou fui eu que me distrai?
Dane-se. Desci meio trêmula esperando a bronca e ele pôs a marmita na mesa da sala.
― Vem. Senta aqui. ― Diz calmo com um tom que não parecia ser de bronca. ― O especial de hoje era lingüiça, couve e ovo estrelado com arroz e feijão.
― Obrigada. ― Disse me sentando ao seu lado no sofá macio da sala estranhando ele vir até em casa de vez enviar como havia dito que faria. Certeza que era pra me dar uma bronca. ― Me desculpa eu...
― Calma. Não estou bravo. ― Ele me interrompe antes que me desesperasse a falar. ― Me explica. Por que tenteou se matar? O que está havendo de tão terrível? ― Seu tom foi acalentado e preocupado e então eu falei:
Contei toda a história e ele ficou ouvindo em silêncio; atento e serio.
Contei sobre Térekin a herança e Yvan. Meus amigos e as perdas. Todo o horror que passei, até as bonecas que quase o mataram.
Contei tudo.
E então esperei sua reação.
― É isso? Justo você? Minha filha tem que ser a porta voz? ― Diz pensativo logo olhando para o outro sofá e voltando sua atenção para mim.
― Pai? Você... é um caçador? ― Pergunto seria e ele me olha com mais atenção. ― Você tem esse porte e essas armas em casa...
― Não. Sou apenas um policial tentando viver uma vida normal e não chamar atenção. Mas... eu sei da verdade do mundo, só não me meto nestas coisas por que... "Se você finge não ver o mal, o mal acha que não te vê". ― Diz ao dar de ombros como se fosse uma verdade; algo que acreditava e seguia. Um ensinamento que logo aprendi a usar a meu favor. ― Dá pra ter uma bela vida tranquila se não se meter em problemas e não chamar a atenção deles. Eu protejo quem posso da forma que posso, o mundo é deles não podemos fazer nada. Foi o que eu aprendi infelizmente quando tinha sua idade. ― Afirma meio desacreditado e desanimado. ― Desculpa te decepcionar. Mas eu realmente sou apenas eu. Um policial comum e normal. Mas... seu tio. Ele sim é especial. ― Diz se levantando e pegando um quadro.
Nem tinha me dado conta de sua existência deste quadro até então. Deveria ser o único da casa toda e ficava bem do lado da televisão e por causa disso sempre acabava atrás de alguma coisa como agora estava atrás de latinhas de cerveja.
Mas eu senti um tom estranho, claramente ele estava mentindo.
Mas por que?
Ok ele não era um caçador. Isso eu senti ser verdade, mas o que ele era então?
― A história do seu tio é curta e muito triste. ― Diz se sentando me mostrando as pessoas da foto.
Era uma destas típicas molduras de família, dos pais com seu filho. Mas só havia um.
Um garotinho de cabelos claros, sorridente que mesmo nos braços dos pais que olhavam felizes para a câmera ele dava atenção a algo que não estava em quadro. PArecia olhar fixamente para alguem e tentar alcançar essa pessoa, e se olhasse fixamente quase podia ver o reflexo de alguém que não estava ali.
― Eu nunca contei essa história a ninguém por que... Bem. Ninguém acredita quando contamos que vemos pessoas que ninguém mais vê. Não é? ― Sorri ao olhar para o nada e voltar a piscar para mim. ― Pois bem:
*** Sua avó e seu avô eram boas pessoas, mas foram burros e confiavam nas pessoas erradas. E com isso a vida deles ficou muito ruim.
Perderam os empregos e a casa, e isso fez o casal brigar mais e mais. Até que um vizinho dedurou e seu avô foi preso. Sua avó se culpou pelo ocorrido, mas nada podia fazer, ele tinha sido fichado por burrice e a busca por emprego despencou; para tentar pagar as contas e melhorar a situação ela deixou o emprego que estava e se submeteu a atos... ilícitos e perverteu seu corpo pois dava mais dinheiro.
Vendo isso seu tio pensou o que podia fazer para fazer a vida de seus pais melhor. Como os salvar. Foi então que uma... bruxa apareceu em sua vida propondo uma "solução".
Ela disse ao garoto de nove anos que a vida de seus pais era ruim por culpa dele. Porque ele nasceu na época errada e estragou tudo, e se ele não existisse seus pais estariam bem.
Tem noção de como ele se sentiu?
Então foi fácil para ele aceitar a proposta da bruxa: trocar a sua vida pela alegria de sua família.
E assim seu tio foi apagado da existência. Puf! Com isso seus avós nunca tiveram problemas com dinheiro, pois não houve uma gravidez na adolescência, ele não nasceu doente pois nunca existiu e o casal pode se planejar bem melhor. Casaram e "me" tiveram nesta nova linha do tempo, e este na foto sou eu... preenchendo o lugar dele, e por isso que apenas eu posso vê-lo e ouvi-lo.***
Ele fala e eu me arrepio toda.
Olho para os olhos dele, quatro cores. Será que... Isso representa a cor dos olhos do irmão? Mas deveria ser duas cores não? Isso explica a heterocromia, mas não a bicromia.
― Ele diz que não se arrepende, pois pode acompanhar tudo. E ver seus pais felizes. Não é? ― Diz ao olhar para o nada, e isso me arrepia muito.
Me lembro de quando cheguei em pânico e ele pediu para alguém ir ver lá fora... e outras vezes que olhou para o nada, ou parecia saber de algo era impossivel ele ter visto.
Era isso. O meu tio ficava me seguindo e contando pra ele? Cuidando de mim como um anjo da guarda invisível?
― Você parece mesmo louco. ― Sorrio o abraçando, pode parecer algo sinistro mas achei fofo. ― Não sei se contou tudo isso para eu me sentir menos maluca ou... Se a nossa família é especial.
― Não é. Este é o ponto. ― Impõe sério novamente. ― As bruxas podem interferir na vida de "qualquer um" e fazem isso com tanta freqüência que você vê em toda família alguma história pra contar. Ou vai ver histórias em locais ou o que for, se procurar e quiser ver. Estão em toda parte, como disse o mundo é deles. Essa só é a história desta família aqui. ― Sorri tranquilo, e fico o olhando um pouco mais. "Ele vale por dois". Agora que entendi a piada interna.
― Como ele é? O tio. ― Pergunto curiosa e enquanto ele me descreve o meu tio olhando para o nada faço o mesmo com Térekin.
― Bem. Ele é idêntico a mim quando tinha essa idade: tem seus eternos nove anos já que está fora da existência e o tempo não pode o afetar; tem os cabelos mais escuros e parece preto, seus olhos são castanhos com tom de verde e... tem o rosto coradinho e rosado. Verdade, os dentes da frente são meio espaçados. ― Completa como se o irmão estivesse ajudando a ser narrado. ― Ele está sempre com a mesma roupa: um tênis branco de sola grande bem antigo, uma calça de moletom toda surrada e quente, uma camiseta de um desenho animado velha e desbotada com o desenho meio apagado, uma jaqueta de moletom que combina com a calça cinza.
― Ele parece fofo. ― Sorrio sem me importar se a história era real ou não.
Era muito bom não precisar provar que não sou louca.
― Ele é sim. ― Se senta direito. ― Fico feliz que esteja bem. Mas... Nunca mais faça isso, tudo bem? Não tem que se preocupar comigo, eu sei me cuidar. E cuidarei dos seus amigos enquanto você salva o mundo tudo bem? É o mínimo que o pai de protagonista pode fazer. ― Brinca mas eu não resisto.
Da um quentinho no peito.
Por que não o conheci a minha vida toda? Que homem maravilhoso!
― Aim! ― Pulei e abracei ele. Foi tão fofo! ― Como você faz para ser tão perfeito? ― Pergunto, mas ele apenas afaga meus cabelos e ri.
― Vamos comer que vai esfriar. ― Diz se virando e logo para de andar parando e encarando o Térekin. ― Oi?
Espera...
Ele viu o Térekin?
Sério?
― Oi. ― Responde revoltado. ― Não era para estar me vendo mas... sua filha não me obedece em nada que alerto. Você pode por gentileza por juízo na cabeça dessa garota!
Tomei o maior susto quando ele respondeu e os dois começaram a conversar.
Eu sempre evito o descrever, mas estava tão entretida ouvindo a descrição do meu tio que fui na onda.
Então era real. Qualquer um que sabe sua descrição pode o ver?
Era estranho os ver juntos pois eu sempre imaginava Térekin imenso de uma forma anormal e desumana, mas como na minha cabeça nada era maior que o meu pai, então perto dele ele encolhia.
Seu tamanho realmente era inconstante.
Tudo que eu não frisava nele seria assim?
― Precisamos que você mantenha a ilusão de que Alex ainda está por ai. ― Ele diz sério caminhando até mim. ― Pedi que fizessem uma coisa. Você ficará com a aparência dele por quatro horas apenas, e se encontrará com uma pessoa muito importante. Ele precisa ver que Alex está bem e para isso você tem de treinar para fingir ser ele. Tem dois dias para isso e já pedi que seus treinadores venham te ajudar a fingir e te ajudem a treinar como fizeram com ele. Está claro?
― O que? De repente quer que eu tome uma poção de HP e fique com a cara de outra pessoa? ― Indago incrédula.
Com ele as coisas sempre eram do nada e sem preparo?
Quem fez esse roteiro de merda?
Ta forçado ai pessoal!
― Eu não tenho a menor idéia do que esta falando. Eu não disse nada sobre uma poção mágica, isso é coisa de bruxa garota. Você irá usar os meus meios como sempre. ― Diz caminhando como se me ordenasse a o seguir.
Mas pra variar eu não vou.
Fico conversando com meu pai sobre este meu tio enquanto vamos comer na cozinha e ignoro ele, e ele só surta de raiva de mim.
― Valery. Eu acho que deveria dar atenção a essas coisas. ― Diz se servindo. ― Quem é essa pessoa tão importante? ― Pergunta a Térekin que parece não querer falar com meu pai.
― Unf. ― Ele respira fundo como se a idéia de contar a meu pai o desagradasse, mas como ele tentava me convencer e "era muito mais provável que eu atendesse um pedido dele"o praga fala. ― Existem apenas dois pontos no mundo todo que impedem que a humanidade seja completamente destruída. Um é o Porta-Voz que dá poder e diz como a humanidade deve lutar e se defender. Ele dá esperança. Mas... existe outro. Aquele que impede os donos do mundo de esmagar todos os humanos de uma vez ou simplesmente subjugá -los. ― Explica sério andando de um lado a outro. ― Ele faz questão de conhecer o porta voz. Toda vez. ― Afirma serio me olhando como se eu fosse indigna e isso me ferve o sangue de um jeito que você não imagina. ― Mas... Valery ainda não está pronta. Ele pode ver uma falha e as coisas saírem do controle. Alex o intimidou muito bem e isso é nossa vantagem; precisamos deste tempo ate deixar Valery pronta para conhecer esse ser.
Minha vontade foi de xingar muito. Mas meu pai começou a falar antes que eu pudesse responder, e como já deve imaginar ele me convenceu sim.
― Bem. É só conversar e treinar com especialistas. Por que não? ― Disse me olhando.
Realmente não tinha por que negar.
Mesmo que a pessoa fosse perigosa e taus; eu fui treinada a vida toda para interpretar papéis e fingir ser este cara seria nada difícil.
E ai? O tio é real ou foi algo que o pai dela inventou?
Não descrevi o Térekin e só o garoto por 2 motivos: um pra dar mais foco no garoto e dois para você não acabar vendo ele do seu lado kkkk
N sei se já falei aqui. Mas o Pai da Val é uma homenagem ao meu próprio pai. Queria tanto que ele tivesse lido e visto como esse personagem é amado... mas eu só me inspirei nele. Ele realmente foi o melhor pai que eu posso imaginar, já que vivo criando pais para minhas obras, e nem de longe são tão amados quanto este que eu só copiei o jeitinho e as coisas que o meu fazia. Eu sinto tive o melhor de todos de verdade na minha vida. LÓGICO que ele não era 2 por 4 como eu descrevo a aparência do pai da Val, mas as novinhas viviam dando em cima dele e eu achava engraçado. Vou deixar uma fotinha dele aqui neste cap.
Bjs S2
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