18 - Limite
3710 Words
Demorou a noite toda, mas os gritos enfim pararam.
Quando emergimos do porão percebemos que a casa já não existia mais.
O que restou foram escombros e entulhos com órdas de corpos espalhados por todos os lados. Ficamos parados estáticos vendo aquela destruição assombrosa e Yvan saiu andando sem dizer nada e começou a levantar uma e outra pedra e logo o casal se juntou a ele, percebendo o que estava fazendo e o ajudando. Me aproximei curiosa e notei que ele havia seguido o cheiro da senhorinha e buscou seu corpo para a dar um funeral digno.
Foi muito fofo.
Mas quando vi seu corpo não pude deixar de virar o rosto e me esconder entre os braços de Edd. Ela estava toda cortada como se estilhaços tivessem explodido em cima dela, mas trazia em seu rosto um semblante de paz estando abraçada a um quadro.
― Ela morreu assim que abriu aquela maldita porta... ― A garota murmura imaginando como havia sido sua morte pelos espectros que estavam estocados naquele cômodo maldito.
Todos estávamos sem palavras e Edd simplesmente pegou o quadro de suas mãos ensangüentadas e tentou limpar com um tecido do chão, enquanto os três a enterravam e desta forma pude ver ser um grupo de pessoas, talvez o time que ela participou quando jovem antes de ser mordida ou sua família. Nunca saberei.
― Ela tentou proteger esse. ― Murmurou o guardando consigo.
Tenho este quadro na minha sala até hoje.
Não tinha o que fazer ali, e muito gentil casal nos deu carona até a cidade mais próxima, afinal não tínhamos como voltar para casa mesmo que voltássemos e encontrássemos o carro de fuga, ele estava todo destruído e sem gasolina além de ser uma viatura; seria arriscado demais tentar encontrar o nosso naquela cidade; não sabiamos se todos os malditos tinham sido mortos pelos fantasmas ou não.
Mas eles não tinham como nos levar de volta para casa, então nos despedimos ali mesmo sem muita conversa ou perguntas respondidas. Ninguém tinha assunto. Todos estavam em um profundo luto por aquela desconhecida tão amorosa que encheu nossos corações.
― Estamos fodidos! Ferrados de vez. ― All conversava com Edd em alto tom enquanto nós três apenas ficávamos olhando a cena.
Meu corpo doía muito pelo esforço que fiz em tentar os carregar, e mesmo tendo usado aquelas capas de chuva, as áreas que elas não conseguiram cobrir tinham se queimado e estavam bem doloridas. Mesmo sendo uma queimadura de primeiro grau graças a velocidade que passei pelas chamas ainda eram queimaduras e doíam.
― Obrigada. Por voltar por nós. ― Aleh diz ao deitar a cabeça no meu ombro, e eu só sinto as lágrimas escorrerem do meu rosto.
Foi tudo culpa minha. Eu atraí isso pra cima deles.
― E você? ― Edd indaga voltando a provocar Yvan.
E só então me dei conta de seu estado. Ele realmente estava ferido.
Pensei que Lycantropos eram imunes a tudo fora prata. Como ele se feriu tanto lutando contra aquele grupo? E como ele se transformou dentro de casa e de dia?
Perguntas que nem cogitei fazer até tal momento me invadiram.
― Eu "o que"? ― Impõe petulante com o tom embebido em um rosnado aterrador. ― Por que salvei seu rabo? Não quero dever a um caçador de merda. ― Diz olhando para mim por sobre ombros. ― Aquele povo era louco ia me ferrar se a amiga de vocês não tivesse tirado aquela maldita coleira.
― Vai bancar o bonzinho agora? Você matou o Marcos! ― Edd grita furioso indo na direção do maior.
Yvan era...
Grande.
Essa é uma ótima definição.
Ele não era simplesmente alto, era todo grande como se alguém tivesse o aumentado em um pant. Suas mãos, largura dos ombros, comprimento das pernas, e todo seu porte demonstrava ser mais corpulento que Edd e All que eram moldados na academia. Mas ao ver a cena pude notar que até a cabeça de Yvan era maior, coisa que acompanhava todo o seu corpo.
Realmente parecia que alguém tinha o "editado na cena" para ficar maior que todos a seu redor.
Mas lembrei de sua transformação, como mal coube naquele corredor parado à minha frente.
De fato ele era uma pessoa grande.
― O garoto matou; eu só estava "ajudando". No maximo sou cúmplice de assassinato. ― Da de ombros com um sorriso sínico; sabendo que estava falando merda e dizendo aquilo de propósito para irritar, já que tinha plena noção que os dois mesmo juntos não podiam o agredir e vencer um combate. E desta forma se "vingava" dos desaforos que passou durante a viagem. ― Mas caçadores estão sempre morrendo. Não viu como a velha agiu? Ou o casal? Acostume-se com a morte. ― Diz como se não se importasse. Como se não tivesse sido a primeira pessoa a querer a dar um funeral digno para a senhorinha.
Por que ele agia assim?
Fazer tanta força para ser...
― Mais respeito! Ela salvou esse seu rabo peludo! ― All grita puto, sem ter a mesma percepção que eu. ― E nós não somos caçadores ok. No máximo somos aprendizes.
― Ata. Sei.
― Chega. ― Digo ao me levantar. ― Brigar assim não vai levar a nada. Yvan salvou todos nós não podemos negar. Pra que brigar com ele?
― Por que ele ainda tá conosco? ― Aleh pergunta inconformada.
― Dã! Eu também quero voltar para aquela cidade. Minhas coisas estão lá. Afinal vocês me seqüestraram "só com a roupa do corpo". ― Diz revoltado pondo as mãos no bolso, claramente reclamando de nem ter tido a permissão de tomar um banho.
― Estamos ferrados. ― All murmura se sentando no chão e logo Térekin cutuca meu ombro e sai andando.
Sem ter muito o que fazer ou dizer apenas o sigo.
― Onde ela vai? ― Ouço aquele sotaque marcante perguntar, mas mantenho meu caminho sendo guiada pelo meu amigo imaginário.
― Ela é assim. Nos acostumamos. ― Aleh responde caminhando ao meu lado. ― Está tudo bem? Ele disse algo?
― Desta vez está mudo. ― Respondo o seguindo pelas ruas daquela cidade desconhecida, e logo me deparo com a mesma mansão.
Olho estática e ele sorri parado em frente ao portão enferrujado.
Olho em volta e ainda estávamos nesta cidade distante e desconhecida, mas aquela mansão ali era idêntica à que tinha ganhado na herança maluca.
― Não faz sentido. ― Murmuro testando a sorte ao transpor o portão e tentar abrir a porta.
Ela se abre revelando a mesma sala estranhamente aconchegante.
― Que bizarro. ― Edd diz entrando atrás de mim e logo noto que Yvan assim como da vez que nos escondemos nela, não passava da calçada.
― O que ouve? ― Digo ao sair e ir até ele, e ele dá um passo para trás.
― Isso. O que é isso? Não é uma casa. Só parece uma mansão. O que ela é? ― Diz trêmulo olhando a construção.
Foi a primeira vez que dei ouvidos a outra pessoa sem questionar antes ou ser teimosa.
Olhei para a mansão novamente e senti.
Senti algo estranho vindo dela. Ela ainda me parecia aconchegante mas... tinha algo a mais ali. Algo que eu deveria poder ver mas não via; e pelo geito ele e o outro dono dos olhos de jade conseguiam.
― Eu ainda não sei. Mas... ― Digo ao estender minha mão, igualzinho ao meu desenho favorito. ― Pode confiar em mim? ― Sorrio alterando um pouco a frase icônica da obra e ele me encara como um cãozinho acuado e medroso.
E assim entramos pela porta e pude ver Térekin a fechar assim como as cortinas.
No dia não entendi por que ele fez isso. Mas hoje sei que foi para nos proteger, das coisas que a mente humana não consegue compreender e quando se depara simplesmente enlouquece.
Nos sentamos no sofá e ficamos conversando sobre como faríamos para voltar para casa.
Eu era a única a ainda ter um celular, então pensei em ligar para o meu pai, mas antes que pudesse discar Térekin abriu as cortinas e pude ver que estávamos de volta à rua onde esta casa ficava.
― Não é possível! A casa se teleporta? ― Edd diz surpreso ao sair pela porta. ― Podíamos ter ido com ela, de vês ter essa puta viagem!
― Correção. Esta casa está em "vários lugares" ao "mesmo tempo". ― Ele explica didático como sempre, pontuando firmemente seu tom de voz.
Eu até tentei repassar a informação aos quatro, mas minha mente não estava nisso.
Os olhava pensativa.
Todos estavam visivelmente em pânico. Até mesmo Yvan parecia desconfortável, acuado e com medo. Tão pensativo quanto eu.
O que eles passaram foi terrível, e eu não tinha como os confortar.
E o pior, ainda estavam agradecidos por eu ter os salvo.
Eu era um imã para coisas como essa?
Todos que eu amava iriam sofrer?
Eu mal conheço estes três que remanesceram... um deles morreu por que não dei conta; assim como as amigas de Aleh. O que pode rolar com Katy? E o meu pai?
Eles não merecem isso!
Como falar isso sem parecer babaca?
Não tem como.
Bem, tente apenas ter a mente aberta ok?
Mas é que uma semana antes do julgamento da minha mãe, eu estava realmente invejando as pessoas suicidas.
Elas conseguiam acabar com tudo; enquanto eu continuava vivendo em meio ao desespero, passando por dores físicas descomunais e torturas mentais diárias. Pensava que eu era tão inútil e ridícula que nem mesmo tirar minha própria vida era capaz. Realmente não conseguia fazer nada por mim mesma.
Eu me sentia quebrado mais e mais todos os dias. Eu nem sequer posso dizer que sei quem sou.
Ainda sou a boneca que minha mãe criou?
Do que eu gosto?
O que eu faria agora que estava livre dela, e não tivesse essa nova imposição?
E agora em meio a tudo isso esses pensamentos me passaram.
Se eu morresse... as pessoas que eu amo e que me amam ficariam bem; deixaria de ser um imã de desgraça para eles.
Eu não estou romantizando o suicídio, longe disso; o ponto é que eu não conseguia me matar por mim, para me livrar de tudo aquilo que sofria como via as pessoas fazendo. Eu não acho que seja uma solução para nada, afinal a vida acaba, mas continuar sofrendo sem ter um fim também não parecia ser uma vida que valesse a pena; e por conta disso foi que muitas vezes pensei em tirar minha vida, mas Katy e meu irmão sempre estiveram ao meu lado me dando coragem para seguir em frente e agüentar.
Mas... fazer isso por eles parecia tão fácil.
Enquanto todos debatiam nervosos sem conseguir ter lógica em seu pânico por causa de tudo que passaram eu caminhei até a gaveta onde havia escondido a arma que meu pai me deu de presente e...
Tentei pôr fim a este pesadelo.
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Deixa que eu narro esta parte; afinal ela não estava em condições e nem tinha como saber o que aconteceu.
A coisa ficou complicada.
Eu ainda estava olhando aquele lugar estranho que não tinha cheiro de nada quando ouvi o disparo.
Ela atirou em si mesma?
Ninguém entendeu aquilo, foi tão do nada.
Logicamente a levamos correndo para o hospital mais próximo e foi realmente um milagre ela não ter morrido imediatamente. Isso só podia ser magia! E todos ali começaram a acreditar que ela podia ser como eu: algo não humano, e ficaram teorizando que "criatura" ela seria. Isso me irritou muito...
Fiquei quieto apenas ouvindo o que todos falavam.
Aparentemente meu sangue foi o que a salvou durante o trajeto, mas o efeito foi momentâneo e por sorte eles tinham equipamentos especiais e umas paradas mágicas que não pensaram duas vezes em gastar com ela.
Mas nada explica o disparo não ter a matado imediatamente.
O sangue que trouxeram para repor o dela...
Aquilo não parecia algo bom. Nem mesmo parecia ser sangue; pelo menos não de gente.
Mesmo no plástico podia sentir o odor forte que ele emanava, era dominador; algo maligno e mesmo com as minhas oposições ninguém ali me levava a sério, era como se eu fosse invisível a não ser por aqueles que punham as mãos nas armas me ameaçando.
Inferno.
De fato eu estava no ninho das cobras.
E por que? Por uma garota aleatória que nem o nome eu sabia!
Estava cercado dos desgraçados dos caçadores que não me viam além de um mero instrumento, um servo, um nada. O pertence de outra pessoa, obediente e leal.
― O que ouve? ― Um homem de terno se aproxima, ele tinha cheiro de livros e sangue encobertos por uma colônia cara; com uma leve pitada de algo aterrador que ainda não sei descrever. Cheirava a dor.
― Ela tentou tirar a própria vida. Este Renfield a levou para um hospital e a trouxemos direto para cá, deve pertencer a ela. Os parceiros dela afirmam a história. ― Outro se junta a ele. Este era mais velho e bem parecido com o primeiro, também usava um terno e tinha cheiro de sangue como todo caçador, mas com um misto de pólvoras mostrando ser um usuário de armas de fogo. O cheiro de cigarro até sumia em tanto fedor.
Todo caçador fedia.
Isso era verdade. Era assim que podia os reconhecer. Pessoas normais não tinham cheiro de sangue.
Olhei para o trio que estava junto dela.
Eles não fediam a sangue como os demais, não tinha um odor impregnado da arma que carregavam, pelo menos não ainda. O tempero usado por aquela mulher estava forte em seus corpos, e não acho que sairia um dia.
O trio agora tinha um odor temperado, fácil de os reconhecer e bem marcante. Mas não iria os contar isso.
― Me digam. O que ouve? ― O mais novo pergunta e eles tornam a explicar a mesma história pela quinta vez.
Aquilo estava ridículo.
― Esta é a cidade dos caçadores? ― O cara de cabelos castanhos pergunta abraçando a namorada que tinha a raiz do cabelo toda amostra demonstrando há quanto tempo não retocava ou se cuidava. ― Podemos ficar? Treinar? ― Diz convicto e o mais velho o encara.
― Nada contra, garoto. Mas tenho que avisar que treinamento de caçador é bem puxado. ― O mais novo responde.
― Eu imagino! É bom que seja. Não aguento mais ser um humano frágil e fraco. ― O loiro se levanta animado e me lembro do que disse a ele.
Isso deve ter ficado martelando em sua mente durante tudo o que ele passou...
Acho que peguei muito pesado.
― Pois bem. São parceiros dela, certo? Podem iniciar os treinamentos enquanto ela se recupera. ― Diz ao seguir pelo corredor os guiando a outro lugar, mas eu permaneço onde estava.
Algo me dizia que essa garota era a única que poderia me dar as respostas que buscava.
E eu também não tinha mais para onde ir...
Eu não tinha muito o que fazer enquanto todos tentavam investigar o motivo de ela ter feito o que fez.
Quando ouvi o disparo corri para a pegar e vi o celular caído do lado do corpo. Recolhi e carregamos ela até um hospital às pressas e o aparelho ainda estava comigo por que simplesmente esqueci dele.
Me surpreendi por não haver uma senha e logo vi que ela escreveu um texto a algumas pessoas; não quis ler por ser algo particular, mas podia ter alguma pista de seus motivos. Todos juravam ser algum feitiço de bruxa.
Dois dos contatos que ela enviou a mensagem de texto responderam desesperados e um deles mandou um: "Eu vou até ai agora!"
BFF – era o nome marcado neste contato e tinha a foto de uma linda garota com um efeito de gatinho por cima.
*-* Sinto ter que dizer que estas serão minhas ultimas palavras. E me dói pois sei que irei parecer louca se tentar explicar tudo. Mas apenas posso pedir que acredite em mim, e que essa é a única forma de te proteger.*-*
*-* Azul não brinca com coisa séria menina!/=/ Eu te mato de verdade!/=/ Azul me responde agora!/=/ Azul se não me responder imediatamente eu vou ir ate ai./=/ Chega estou indo ai agora mesmo.*-*
No outro contato estava escrito PAIZÃO, mas este aparentemente visualizou e não respondeu. Estranhamente não havia uma foto em seu contato, nem mesmo a ausência de uma onde fica apenas o ícone padrão. Esse homem realmente quis por uma imagem toda preta em seu contato.
E o último contato estava escrito IRMÃO, tendo o logo de algum jogo que eu desconhecia. Talvez nem fosse de um jogo, apenas julguei ser um pelo design.
*-* Sinto ter que dizer que estas serão minhas últimas palavras. E me dói pois sei que irei parecer louca se tentar explicar tudo. Mas apenas posso pedir que acredite em mim, e que essa é a única forma de te proteger.*-*
*-* Achei que tinha me bloqueado e não queria mais me ver ou me ter na sua vida./=/ Que brincadeira é essa? Isso não tem graça, quer aparecer garota?/=/ Me responde. Isso não tem graça garota./=/ Me deixou preocupado cassete. Me responde pelo amor de deus. Isso não tem a menor graça!/=/Valery eu não sei onde você foi morar. Não posso ir ai. A Katy sabe onde você está? /=/ Estamos indo ai!*-*
Enquanto lia uma mensagem chegou, esperava ser do paizão que ela marcou cheia de corações, mas não. Era da Bff.
*-* Sua loca! To aqui na casa do teu pai. Ele está desesperado atrás de você. Disse que desapareceu e não está te achando há três dias./=/ Onde você esta mulher?*-*
Era cruel os deixar no escuro assim então respondi.
*-*Desculpa, não sou ela, mas estou com o celular dela. Ela esta em um hospital; ela tentou se matar na minha frente e trouxe ela. Onde te encontro?*-*
*-* Na casa do pai dela. /=/ Sabe onde é?/=/ Na praça da cidade. Espero lá.*-*
*-* Certo.*-*
Respondo e me levanto, pedindo uma carona até a cidade.
― Por que ajudaríamos um bicho? ― O caçador me olha torto e um asco já me sobe. Bosta de hora pra ficar sem lentes de contato.
― Ei. Fique perto de sua mestra. O que está aprontando? ― O agente da MIB mirim vem até mim. O cara tinha menos de trinta e mais de vinte mas mantinha uma panca. ― Os familiares e amigos dela não sabem de nada. Deixe eles "fora disso" e se aquiete em seu lugar criatura.
Criatura?
O vontade de mostrar a criatura e fazer ele ter toda razão ao arrancar a cabeça dele em uma patada só.
Mas me contive. Não sou um monstro.
*-* Desculpe, não me deixam sair. Estou respondendo as perguntas por ter a trazido, mas ela está fora de risco. Vou notificando como puder. Alguma idéia do que pode ter causado isso?*-*
Pergunto a fim de não deixar a pessoa no vácuo e distrair a mente da raiva que esse lugar me fazia passar.
Todos tentavam descobrir o motivo como se só pudesse ser algo sobrenatural, mas não parecia ter sido isso.
*-* O que você é dela?/=/ A Valery é uma pessoa muito boa, mas sofreu o diabo e está tentando se recuperar dos traumas. Algo deve ter feito ela chegar a seu limite. O que foi? Você viu algo que possa ser o motivo disso?*-*
Vários. O ponto é: qual deles foi o gatilho?
A família maníaca? Minha perseguição insana? O estado de seus amigos?
*-* Traumas? Então ela já tem a mente fragilizada por algum ocorrido?/=/ Deve ter sido isso. Ela acabou de ver uma coisa inexplicável e terrível, estava se culpando não sei por que.*-*
Explico juntando os pedaços na mente; mas julgo que ninguém iria me dar ouvidos e preferiam imaginar que foi a maldição de uma bruxa.
*-* Eu sei que não deveria pedir isso a uma pessoa que nem conheço. Mas por favor cuide dela.*-*
*-* Pode ficar tranquila.*-*
Não podia negar isso a uma pessoa aflita.
Além disso, estava devendo a essa garota e não gostava de dever a um caçador. Primeiro ela evitou que todos me matassem e depois me libertou.
Voltei ao quarto que ela estava.
Não deixavam ninguém entrar ali, mas como achavam que eu era um pertence dela minha entrada era permitida. Quase obrigatória.
A faixa prendia o maxilar quebrado, e aquele sangue horrível parecia regenerar de forma mágica.
Mas não fez sentido. Ela apontou corretamente para sua cabeça, como não atingiu sua têmpora? Algo desviou esta bala...
Os amigos dela diziam que ela falava com o nada. Com... um amigo imaginário.
Será?
Sei como essa parte final foi pesada, mas foi necessária para transmitir que Valery é uma pessoa com a mente fragilizada e muito fragmentada por inúmeros problemas que sofreu desde muito nova. Ela "não" é a protagonista forte e decidida que costumo fazer, é uma garota complicada que admira outras pessoas e se inspira nelas. Eu acredito que pessoas que tiveram vidas difíceis possam melhorar e superar seus problemas e por isso fiz a Valery ser uma delas; pretendo fazer ela ir superando as expectativas e não fazer ela já ser alguém dinâmico que já superou seu passado. Essa é uma trajetória lenta e evolutiva, não faz bem forçar uma melhora rápida. Este é o ponto principal.
Eu levo o suicídio muito a serio.
Perdi um amigo de longa data que cresceu junto comigo no fim de 2019 desta forma. E eu mesma já tive crises no passado onde cogitei essa "estratégia" e ainda tenho pensamentos complicados de lidar.
Não foi algo fácil de lidar, suicídio é algo serio e não deve ser romantizado ou posto como uma resposta para problemas, mas infelizmente é como um suicida vê, caso contrario ele não faria.
Precisamos entender que um suicida vê "isso" como única saída para o que o aflige, e as coisas tem de estar insuportáveis para isso; e podemos sim ajudar se não julgarmos como frescura quem esta sofrendo de depressão.
No meu caso eu não estava vendo sentido na minha vida, era jovem e não tinha nenhum amigo no colégio, vivia sozinha e excluída alem de ser zombada constantemente por ser diferente em gostos e não ter uma aparecia padrãozinha. Eu sei que olhando para traz isso parece pequeno, mas ninguém esta vestindo a pele do outro, pra mim na época isso era tudo e eu era incapaz de imaginar um futuro melhor e este é o problema; não consegui ver que as coisas podem melhorar. Valery narra que se vê cada vez pior e não tem esperanças, mas logo isso começa a mudar assim como mudou para mim e desejo que mude a todos.
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