1x04 - Controle
NOTA: Gente linda só queria deixar claro novamente que Costa Malva NÃO é Portugal! Obviamente peguei influências do português europeu pq Costa Malva fica na Europa (gênia), mas as gírias são invenções minhas e eu não sei se a galera portuguesa usa as palavras que eu to usando aqui, ok? Os personagens não falam o português de Portugal, mas o português de Costa Malva mesmo, que só existe aqui no livro *pisca*
Ao contrário da nova movimentação acontecendo dentro da república da Janaína, na rua dos Alferes, número 42, outras residências na cidade de Coralina pareciam mergulhadas na normalidade do verão. Agosto geralmente era o mês mais quente do ano e também o mais úmido, o que fazia com que as praias e os clubes da região estivessem sempre lotados não apenas por turistas de todas as partes do mundo, mas pelos nativos que queriam aproveitar a última semana de férias.
A Aveninda Beira-Mar – que ficava, bem, à beira-mar da praia do Forte, que tinha esse nome porque, bem, lá havia um forte – podia ficar impossivelmente cheia durante essa época do ano. Sorveteiros e crianças correndo com seus sorvetes lotavam o píer, garotas bronzeadas desfilavam com seus biquínis coloridos e flertavam com os surfistas, famílias circulavam com seus protetores solares visíveis nos narizes vermelhos enquanto procuravam pelo melhor restaurante que servia os famosos siris malvinos, carros esportivos com a música da moda nas alturas faziam as pessoas dançarem e rirem quando passavam por perto.
Coralina não era nem de longe uma cidade grande em geografia, mas era gigantesca quando se tratava de curtir um dia de sol. Felizmente seus habitantes – que já estavam acostumados com o formigueiro que a cidade ficava, especialmente em agosto – tinham seus lugares secretos quando queriam fugir do tumulto.
Algumas pessoas, entretanto, estavam fugindo por outros motivos.
Deitada em sua espreguiçadeira com um chapéu de abas longas que a mãe trouxera da última viagem a Paris, Leandra Ramires lia sua antologia preferida de poemas renascentistas. Em italiano. Os cabelos ora ruivos, ora loiros (strawberry hair, como gostava de chamar) estavam úmidos, e ela exibia o novo maiô branco de corte moderno como se fosse uma supermodelo – o que, com aquelas pernas, não seria uma confusão nada absurda.
Sua concentração, porém, estava dividida. Um olho no livro, outro no rapaz deitado na boia rosa em formato de concha no meio da gigantesca piscina da propriedade. Ele estava sem camisa e a pele banhada pelo sol parecia macia e quente. Os óculos escuros tampavam os olhos e o cabelo castanho parecia um tanto desbotado pelo excesso de cloro das últimas semanas, mas quanto mais o sol tostava seu corpo, mais ele parecia uma escultura de Michelangelo com aqueles músculos saltando para fora.
A garota fechou o livro, respirando fundo enquanto admirava com olhos de águia o rapaz desfrutando da sua piscina. Os pais como sempre não estavam em casa, e a residência dos Ramires continuava sendo o melhor lugar para curtição. Lea sempre tirou proveito da solidão da casa para torná-la um objeto de desejo de todo mundo no colégio, que sempre queriam participar das suas festas inesquecíveis.
Naquele dia de agosto, entretanto, os planos da garota haviam saído dos trilhos. O motivo tinha nome e sobrenome.
Ela mordeu o lábio e cruzou as pernas em cima da espreguiçadeira, sentindo-se a protagonista de um filme antigo em preto e branco. Ela era o tipo de garota que se empolgava com as fantasias do seu cérebro astuto, que pareciam tornar sua confiança ainda mais inabalável.
Se Lea achava que eles estavam em um filme antigo, quem é que diria que não?
De repente a garota sentiu uma imensa vontade de acender um cigarro e fazer uma pinta falsa acima dos seus lábios como a de Marilyn Monroe.
Ela inflou os pulmões, um sorrisinho querendo sair.
― Você vai ficar aí o dia inteiro? – perguntou.
O rapaz demorou para virar a cabeça na direção dela, mas, quando o fez, a corrente sanguínea da menina acelerou. Ele tirou os óculos dos olhos e encarou a garota daquele jeito meio enigmático, que não revelava em nada seus pensamentos.
Matheus Pimenta era o gajo mais gato que já havia pisado naquela cidade – e olha que muita gente costumava pisar em Coralina. Mesmo Lea, que já estava acostumada a ter a língua dele enfiada na sua garganta, não estava imune à força daquela beleza arrasadora. Ela sempre soube que, se fosse ter um namorado, seria alguém como Matheus, com quem ela poderia viver o seu intenso e delicioso conto de fadas.
E ali estava ela, no seu caríssimo e moderno quintal onde o cara dos seus sonhos procurava por apoio. Pelo apoio dela.
― Eu posso ficar aqui o dia inteiro? – perguntou Matheus.
Lea expirou o ar, como se aquela fosse uma pergunta boba. Tirou o chapéu da cabeça, de modo que seus olhos verdes e as sardas do rosto brilharam em contato com a luz do sol. Ela teve problemas com as sardas quando era pequena até perceber que, por causa delas, se tornava única. O pai uma vez disse que apenas as verdadeiras princesas tinham sardas, que isso valia mais até do que os títulos de nobreza. Matheus também sempre dizia que as manchinhas só a faziam ficar mais bonita e não havia nada mais eficaz do que amaciar o ego daquela garota.
― É claro que você pode ficar o tempo que quiser, mas seria bom se ficasse perto de mim – ela fez beicinho, de brincadeira.
Matheus até teria rido disso, mas não estava no clima. Ele sempre foi um cara reservado, não era o tipo que externalizava seus sentimentos com facilidade. Mas no momento algo parecia pesado dentro dele e o fazia se fechar ainda mais, mesmo sem perceber. Lea sabia que tudo o que ele precisava era de apoio e nada mais, mas a garota não era do tipo que conseguia ficar calada por muito tempo.
O rapaz se jogou na piscina e se ergueu logo em seguida na borda, indo na direção da namorada. Ela até teria pedido para ele não se aproximar, molhado daquele jeito, mas a quem queria enganar? Era óbvio que estava sedenta para beijar aqueles lábios. Eles haviam dormido juntos na noite passada, mas, para descontentamento de Lea, dormir foi a única coisa que fizeram mesmo.
O garoto beijou a namorada como sempre fazia, mas se sentia dormente, era como se não sentisse nada. Tudo o que eu preciso é ir espairecer com um pouco de rúgbi, pensou. As aulas ainda não haviam começado, mas nunca era cedo demais para começar a treinar se ele quisesse continuar a ser o capitão o time no seu último ano da escola. Além do mais, quando ele estava com a mente no jogo, se desligava completamente de todas as outras coisas.
E pessoas.
Matheus estremeceu, sentindo um calafrio subir pela sua espinha. Ele largou Lea e se sentou na ponta da espreguiçadeira dela com os músculos tensos e o sangue quente viajando rápido. A mandíbula estava saltava e ele logo se levantou, inquieto demais. O rapaz odiava tudo o que andava acontecendo na sua vida, odiava cada uma das oito semanas que se seguiram desde que tudo mudou. E Matheus Pimenta, que nunca foi um cara de fortes emoções fora do campo de rúgbi, de repente se sentia com vontade de chutar todas as bolas do ginásio da escola com a maior força possível.
Felizmente o seu esporte preferido fazia um bom proveito da raiva.
― Eu sei que você quer ter a sua festa, então fica sossegada que eu vou pra outro lugar – respondeu, mais na defensiva do que havia pretendido. Sua cara estava fechada e Lea soube pelos seus olhos blindados que a porta estava se fechando.
Ela franziu a testa.
― Eu não falei nada disso, não estou a te expulsar.
― Mas eu não quero ser um incômodo.
― Você não é – ela riu, se aproximando dele, em uma última tentativa. Pousou as mãos no peito molhado de Matheus e subiu pelo seu pescoço. Ficou na ponta dos pés para dar um beijo no rosto dele, que ainda parecia incomodado, irredutível. Ela suspirou frustrada. – Você podia conversar comigo, é enervante ter que deduzir o tempo todo como estás a se sentir.
Conversar não era exatamente o forte de Matheus Pimenta. Muito menos naquele momento. Havia um bolo na garganta do rapaz que não descia nunca, por mais que ele quisesse. Era como se, mesmo se o desejo dele fosse falar, ele fosse biologicamente incapaz de tal coisa – como naqueles sonhos em que tudo o que se precisa é correr do perigo, mas as pernas não saem do lugar.
Matheus sempre acabava desabafando na academia do time da escola, era muito mais fácil para ele usar a adrenalina do que as palavras. E por mais que isso deixasse Lea louca da vida – porque ela estava sempre tentando entender o que se passava dentro da cabeça dele – também a deixava instigada.
O próprio namorado era uma das poucas coisas que escapavam o seu controle. E ironicamente ela gostava disso.
Mas não o tempo todo.
Lea largou o garoto e cruzou os braços, com o queixo erguido para não demonstrar nenhum abalo ou mágoa. Vinha tentando conversar com ele há oito semanas, tentando entender como é que ele estava lidando com toda a situação e estender a mão, mas Matheus às vezes dificultava as coisas de modo que elas ficavam impossíveis.
E se havia uma coisa que tirava Leandra Ramires completamente do sério era o namorado ficando na defensiva com ela.
Justo com ela!
― Bom, você pode ficar aqui o quanto quiser. Nossos amigos devem vir no fim da tarde pra uma social.
― Isso inclui o Christoffer?
Ela o fitou com cara de paisagem, de jeito nenhum demonstraria fraqueza agora ou o quanto ele a magoava mesmo sem saber. Ele não tem culpa, ela dizia a si mesma. As pessoas são como as pessoas são.
― É claro que sim – respondeu.
É preciso deixar claro desde cedo que Matheus Pimenta podia ser muitas coisas, mas não era nenhum idiota. Ele soube na mesma hora exatamente o que o amigo faria e o que aconteceria se permanecesse na casa de Lea para a tal festinha.
Se Chris achava que podia fazê-lo de otário, estava muito enganado.
― Não conte comigo então, nem com o Vicente – disse ele, novamente mais frio do que Lea merecia. Ele odiava quando entrava nesse modo automático e já estava prestes a pedir desculpa, mas a garota, vermelha como um pimentão prestes a explodir, foi mais rápida.
― Ótimo – disse, pegando seu chapéu e o livro de poesias que estava lendo. – Eu e meu irmão vamos organizar tudo, você pode pegar suas coisas e ir embora na hora que quiser.
Então Leandra empinou o nariz e se virou de costas, contando até dez para não começar a gritar bem na cara do namorado e deixando-o para trás com seu coração de garota canceriana na mão, mas sem dar o braço a torcer. Se ela gostava de brigar com Matheus por qualquer motivo que fosse? De jeito nenhum. Mas havia coisas com as quais ela mesma também não sabia lidar. E, além do mais, havia uma festa para planejar antes que os amigos começassem a aparecer.
Ela se concentrou, então, nas coisas que estavam sob o seu controle.
Hey, Folks! Se vcs não leram a nota lá no início do capítulo, por favor, leiam! Achei melhor reforçar isso outra vez porque muita gente tava confundindo o português de Costa Malva com o de Portugal e não é a mesma coisa. Nem teria como ser, né, já que são países independentes com seus dialetos específicos. Mas entendo a confusão de vcs pq eu uso o pt-pt como base pras construções verbais.
Mas vamos falar sobre a margarida que finalmente apareceu: senhor Matheus Pimenta, mais conhecido como Paola Bracho hahahaha o que acharam dessa primeira impressão do Mat e da menina Lea? Parece que há problemas no paraíso! E o que será que o Matheus sacou que o Chris vai fazer?
A música do capítulo é Santa no soy - RBD simplesmente pq de santo nenhum dos dois nesse casal tem nada hahahaha Vejo vocês semana que vem!
Beijos e queijos, câmbio desligo.
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