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4 - Chantagem.

— Selena querida, tudo bem? — Beth a cumprimentou com um beijo na bochecha.

— Estou bem. — Respondeu sorrindo.

— Olá Livie! Entre. Venham, podem entrar. — Foi recebendo um a um.

Todos os alunos do terceiro ano, que eram poucos, foram se acomodando aos poucos na gigantesca mansão de Elizabeth.

— Com licença. — Rachel parecia desconfortável.

— Olha o tipo de gente que eu sou obrigada a receber em casa para discutir sobre a formatura. — Cochichou no ouvido de Selena e em seguida gritou. — Vê se não vai vomitar em mim mais uma vez, porca! — Disse apontando para Rachel.

— Você estava bêbada, não consegue sequer se lembrar. — Rebateu.

— Enfim, todos chegaram?

— Ainda falta o Tyler — Rodrick sinalizou.

O garoto entrou pela porta principal da sala, sendo guiado por Aurora.

— Cheguei pessoal, perdão pela demora! — Respirou fundo se recuperando da caminhada.

— Okay, agora com todos aqui vamos começar a primeira reunião da formatura, afinal só faltam três meses... — Elizabeth explicou. — Estamos mais do que atrasados.

— É claro, para aqueles que forem aprovados! — Livie rebateu debochando.

— Quero convocar ao meu lado as duas garotas que me acompanham no comitê da formatura. Livie e Selena! — Sorriu com uma prancheta nas mãos.

As duas foram até a direção da garota que estava em um pedestal mais alto da sala. Era como se o sofá ficasse em uma coifa e houvesse um degrau de mármore mais a frente.

— De início a proposta era uma viagem para Orlando, Disney. Mas como a maioria aqui é pobr... Digo, como a maioria aqui não tem condições, nós mudamos os planos. — Selena explicou toda a situação que já havia sido combinada no primeiro semestre anual.

— A partir de agora a proposta é outra. Alguém tem alguma sugestão? — Livie perguntou.

Nicholas levantou a mão.

— Diga, Nick! — Selena disse sorridente mostrando as gengivas.

A morena gostava de interagir com outros garotos na frente de Rodrick para provocar ciúmes em Rodrick.

— O que vocês acham de uma colação de grau no teatro da escola? — Sugeriu.

— É uma das coisas que nós já havíamos tido como ideia. Quem é a favor da colação de grau na escola, com beca e homenagem para os professores? — Livie perguntou.

Todos os alunos levantaram a mão concordando com a ideia.

— Tudo bem, além da colação de grau, eu pensei em fazer uma festa de formatura. — Selena deu a ideia.

— Uma festa de gala, vestidos, tapete vermelho, mega produção, fotógrafos e tudo mais! — Elizabeth complementou.

Jade levantou a mão, afim de sugerir algo.

— Acho a ideia boa, mas para uma festa precisamos de um buffer, ou uma locação.

— Eu não sei se vocês concordam com minha ideia, mas minha família tem um chalé em um camping imenso. Lá temos piscinas, cachoeiras, rios e salão de festas. — Lucas sugeriu levantando a mão também. — Podemos alugar o salão de festas de lá.

— Eu não gosto da ideia dos pernilongos e do mato, mas acho uma coisa bem paradisíaca, gostei. — Era a primeira vez que Beth concordava com alguma ideia que não fosse a própria ou de suas amigas.

— Então, todos estão de acordo? — Selena repetiu a pergunta.

Todos levantaram as mãos novamente enquanto balançavam as cabeças, todos sentados lado a lado no imenso sofá de couro preto.

Dito e feito, a partir desse momento a formatura havia sido esquematizada.

Ainda haviam coisas para serem decididas, mas por enquanto seria feito uma cantina nos arredores do colégio para arrecadar alguns valores que custariam a produção do evento.

— Quem se habilita a fazer os bolos para a venda na cantina? — Elizabeth perguntou.

— Eu posso contribuir com a ajuda, alguém?— Lucas respondeu.

— Eu posso ajudar!! — Livie levantou a mão.

— Livie? — Beth a encarou. — Tudo bem, mais alguém?

Nicholas levantou sua mão.

— Eu também posso ajudar, afinal meus pais tem uma lanchonete, posso me virar! — Sorriu sem graça, era tímido.

— Tudo bem, então nós começamos na sexta-feira. Nick, Lucas, estejam quinta às 15:00 em minha casa para o preparo dos bolos! Já conversei com a diretora, está tudo liberado para nós. — Livie anotava na prancheta enquanto dava as orientações.

— Eu me encarrego por comprar as latas de refrigerante. — Beth propôs. — Meu pai tem contato direto com a fábrica da Coca-Cola.

— Tudo bem, Rodrick e Tyler, Rachel e Jade cuidam das partes salgadas. Lanches naturais e salgados daqueles que não costumamos consumir! — Selena deu continuidade.

Após terminarem de conversar, Aurora serviu suco e lanches para todos, e não demorou muito para que todos fossem para suas casas.

Dia após dia e as ameaças em forma de bilhetes, SMS, e cartas nunca pararam de chegar até Beth. Até que em um dia, um pouco fora de si a garota resolveu colocar um ponto final na situação que tirava o seu sossego. Decidiu responder uma das mensagens.

"Estou assistindo você, querida!"

Dizia a última mensagem recebida, a garota dessa vez não hesitou em agir.

"Que tal um encontro para nos conhecermos melhor?" — Respondeu para o número desconhecido.

Um momento de coragem foi o necessário para o stalker começar a trocar mensagens em um diálogo com Elizabeth.

"Eu não posso revelar a minha identidade, pelo menos ainda..."

"E como você espera que eu confie em você?". — Perguntou.

"Esteja às 18:30 em frente ao parque central, ao lado da catedral".

Ao contrário de seus colegas, poderia ter estudado para as avaliações que sucederam aquele dia, mas a garota não conseguia ficar tranquila com aquela situação. Os minutos estavam passando devagar, pareciam horas e o horário marcado não chegava, suas mãos escorriam lágrimas de suor, suas pernas e braços se tremiam de ansiedade e a garota não havia se alimentado desde o princípio.

Se preparou para o último banho antes de encontro com a pessoa que até então não tinha sua identidade revelada, entrou na banheira escaldante com muita calma e ficou por cerca de quinze minutos.

Levantou, se enrolou em uma das toalhas felpudas daquele banheiro e saiu para seu quarto.

Folheou as roupas, uma a uma escolhendo um vestido preto. A garota preferiu optar dessa vez por um visual mais discreto já que queria manter discrição e não chamar atenção de pessoas na rua.

Poderia ter levado todas as evidências para a polícia, como cartas e mensagens, mas não sabia com quem estava lidando então preferiu manter em sigilo. Guardou todas as ameaças na segunda gaveta de sua escrivaninha ao lado de sua cama.

Finalmente o tão esperado horário chegou. Com passos minuciosos Beth desceu as escadas de casa e abriu a porta lentamente para evitar que Aurora ouvisse. Assim que chegou ao lado de fora acelerou os passos numa tentativa de chegar mais cedo a catedral.

Eram 18:28, Elizabeth já se encontrava no local combinado. Ainda em pé resolveu esperar. Pontualmente as 18:30 uma pessoa podia ser avistada de longe.

Aquele corpo, veio lentamente se aproximando. Tinha uma altura mediana para baixa. Estava com uma capa branca e uma máscara dourada cobrindo sua real identidade.

— M-Meu Deus, quem é aquele? — Elizabeth estava extremamente assustada.

A cada passo a pessoa ficava mais próxima, e a garota que estava mais afastada e quieta resolveu ir ao encontro de seu "seguidor".

Os passos pareciam aumentar a distância entre os dois ao invés de diminuir, mas simplesmente acabaram! Finalmente os dois ficaram frente a frente.

— Diga seu nome! — Gritou.

A pessoa não esboçou reação alguma, não saiu de seu lugar e muito menos atendeu ao pedido.

— Tire a máscara! — Gritou mais uma vez.

A praça estava totalmente vazia e com um cenário um tanto quanto cabuloso. Névoa e neblina tomavam conta do lugar. O clima não era agradável.

— Eu vou contar até três ou vou chamar a polícia! — A garota estava totalmente apavorada. — Um... Dois... Tr... — Foi interrompida.

A pessoa esticou as mãos antes da contagem ser concluída, na esperança de Elizabeth segurar sua mão.

— O que você quer com isso? Quer que eu segure sua mão? — perguntou.

Balbuciou a cabeça, querendo dizer que sim. A menina ergueu as mãos segurando a do anônimo.

Se passaram alguns segundos sem nenhuma fala das duas partes, até que tentou puxar a mão na esperança de ir embora. Não obteve êxito.

— Solte minha mão, eu vou ir embora! E vou acabar com você, pervertido. Eu tenho provas e evidências contra tudo. Agora que eu sei que você não se passa de um babaca desesperado por atenção, irei te denunciar e logo você vai apodrecer na cadeia!

A pessoa soltou uma das mãos em um gesto muito rápido e pegou algo no bolso, para a surpresa da menina, não era tão bobo assim. Foi tudo parte de um plano para acabar com a vida de Beth ali mesmo, sem muitos trabalhos.

Retirou do bolso uma faca e golpeou, mas a garota desviou, pegando apenas em sua mão.

— Desgraçado! — Gritou apertando sua mão com força.

Puxou o objeto da mão da garota causando um intenso sangramento. Tentou passar a faca em sua barriga, mas ela pulou para trás e em seguida correu como nunca havia corrido antes.

Sem dar trégua o stalker veio correndo competindo com a mesma velocidade atrás de Elizabeth. Puxou uma parte de seu vestido e com um movimento rápido passou a faca fazendo com que a roupa rasgasse e a vítima acelerasse a velocidade.

O ar se tornou rarefeito, a rua estava deserta e aquela neblina gélida em sua pele lhe causava mais tremores ainda.

O oxigênio parecia não corresponder com a forma que ela puxava o ar.

— Me deixa em paz! — Olhou para trás ofegante enquanto suplicava.

Por um descuido acabou tropeçando no próprio pé e tendo uma queda. Abriu os olhos na tentativa de prosseguir rapidamente e a pessoa veio para cima dela que estava no chão. Desviou de um golpe e o outro pegou de raspão em um de seus braços. Com a força de seus pés e pernas chutou para longe ganhando algum tempo para correr do seguidor que havia lhe atacado.

— Socorro! — Clamava desesperada por ajuda. — Alguém me ajuda! — Não haviam tantas casas, era um bairro mais comercial do que residencial e por ser considerado tranquilo não havia ronda policial.

Resolveu se entregar, não aguentava mais correr, a qualquer momento seu cérebro poderia decretar uma falta de oxigênio e entrar em colapso, então ela virou para trás e levantou as mãos se rendendo.

Para sua surpresa, a pessoa havia sumido em meio a neblina. Desta vez respirando e associando tudo em sua cabeça ela voltou a caminhar, com passos longos, porém lentos.

Com fracas batidas na porta chegou em sua casa.

— Elizabeth? O que aconteceu com você? — Abriu a porta e ao se deparar com a garota suja de sangue começou a chorar. — Entre!

Elizabeth segurava com a mão intacta o braço que sangrava e a mão perfurada era pressionada com a própria mão.

Sentou-se no sofá que ficava na sala de estar logo de frente para a porta.

— Eu fui atacada, Aurora! — Mostrou a mão e o braço.

— Por quem? Você conhece?— Perguntou muito preocupado enquanto limpava a ferida.

— Tem alguém me seguindo faz algum tempo, me ameaçando e me causando pânico. — Não conseguiu conter as lágrimas. — Marquei de encontrar com esse estranho hoje na intenção de que fosse algum amigo fazendo uma brincadeira idiota e aqui estamos.

— Você não conseguiu fotos, ouvir a voz ou ver o rosto? Nós precisamos ir até a delegacia, imediatamente! — Aurora se levantou.

— Não, a pessoa sequer deu uma palavra e estava mascarada! Eu não faço ideia de quem possa ser.

— E as mensagens que você recebeu? Estão todas no seu celular, certo? — Aurora estava em pânico.

— Sim estão, mas por enquanto não diga aos meus pais. Eu imploro, eles são muito ocupados e vão colocar a culpa de toda em mim! — Esbravejou.

— Não interessa querida, você está ferida e eu vou cuidar de você, é o que importa! Isso vai arder um pouco. — Espirrou um anti inflamatório nas regiões perfuradas superficialmente.

— Aaah! Isso dói! — Torceu os músculos da face.

— Vai ficar tudo bem, eu te prometo! — Abraçou a garota desamparada. — Vamos tomar um banho e ir direto para a delegacia!

As duas subiram para o quarto e fizeram o que combinaram, Elizabeth tomou seu banho recebendo ajuda de Aurora e saiu.

O primeiro lugar onde ela foi quando saiu do banho foi em sua escrivaninha, para achar os bilhetes.

— Estão todos aqui! Venha ver Aurora! — Abriu a gaveta. — Veja estão aqui! — Apontou, mas os bilhetes não estavam lá.

— Não, eles não estão aqui! — Aurora replicou.

— Deixe eu ver! — Colocou a cabeça em um lugar que pudesse enxergar.

— Viu? Não estão aqui! — Aurora estava confusa.

— Eu não acredito, alguém os tirou! Eu posso jurar que eles estavam aqui! — Colocou a mão na cabeça expressando preocupação.

— Veja suas mensagens de texto! — Gritou.

— Okay. — Desbloqueou seu iPhone com a digital e deslizando os dedos rapidamente entrou no aplicativo de mensagens. — Aurora! Elas não estão aqui!

— Você tem certeza que guardou? — Perguntou preocupada.

— Sim eu tenho, juro por tudo!

— Tudo bem, sumiram! Simplesmente sumiram! O que faremos? — Aurora passou as mãos por seus cabelos brancos.

— Eu não consigo acreditar! — Começou a chorar novamente. — Aurora, me deixe sozinha por favor! .

— Tudo bem, fique calma! Está tudo bem e nós vamos conseguir tomar as devidas providências. — As duas sentaram na cama abraçadas, enquanto Aurora passava os dedos por seus cabelos molhados.— Vou preparar algo para que você coma! Qualquer coisa me chame, serei rápida! — Aurora desceu as escadas indo para a cozinha.

A cada dia, a certeza de sua morte aumentava. Seus dias estavam contados, e ela podia sentir a morte cada vez mais próxima, chegando lentamente.

Como a última mensagem do dia, recebeu um SMS.

"Eu acho melhor começarmos a manter algumas coisas em segredo, principalmente essa mensagem. Você não está em posição de reclamar Elizabeth, e agora, já sabe do que sou capaz! :)"

Rapidamente ao perceber que Aurora voltava com leite e biscoitos ela deslizou a mensagem para o lado direito, encaminhando para sua lixeira.

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