Capítulo 2
Ficamos quase um mês no hotel e não consegui falar mais com o Lucio, sempre que o via ele estava perto de muitas pessoas e eu não queria prejudicar o seu trabalho. E também choveu por duas semanas inteiras, então não tinha muito o que fazer no hotel a não ser ver filme com pipoca e muito chocolate, observar a recuperação de Ally e ouvir o choramingar delas por causa das espinhas; culparam o pobre chocolate. Quando a nossa casa estava reformada, nos despedimos do hotel e de Lucio, consegui vê-lo quando estávamos indo embora e eu acenei para ele, que me surpreendeu acenando de volta. Eu poderia ter pensado nesse gesto o caminho todo para casa, mas estava mais empolgada deduzindo como estaria o meu quarto, eu escolhi as cores preto e roxo e esperava que a designer fizesse jus ao seu preço. Mais uma vez saímos do carro correndo para ver quem entrava primeiro e mais uma vez fomos impedidas pelos nossos pais, eles queriam que víssemos todos os cômodos juntos, um por um. Três meninas revirando os olhos seguiram seus pais até a porta da casa, os nervos a flor da pele para ver como tinha ficado. Meu pai abriu a porta com a chave que a corretora tinha lhe dado, ela tinha chegado na hora certa dessa vez, e nos deparamos com a sala, totalmente mobiliado e nova. Tudo estava limpinho e pintado, o chão havia sido trocado, agora era todo de mármore branco, o sofá era verde escuro e as cortinas também. A cozinha também era toda branca e com alguns detalhes de madeira marrom claro, a cozinha era bem grande e tinha uma ilha no meio e uma geladeira de duas portas. Depois vimos a lavanderia e o quarto de nossos pais, que não foi tão interessante e tentamos apressá-los para ver logo nossos quartos.
O primeiro que olhamos foi o quarto da Tyessa, ela escolheu algo simples, uma cama com lençol estampados com pequenos girassol, o guarda roupa era marrom e as cortinas eram simples e amarelas também. Fiz uma careta, se ela queria algo assim, nem precisava mudar o antes, era só limpar. Passamos pro quarto de Allycia, ela estava pulando antes mesmo de abrir a porta, e como previsível do jeito que era, Ally escolheu um quarto estilo tema da Barbie, tudo era rosa, literalmente tudo, a cama tinha dossel como se ela vivesse nos tempos antigos. Tive que revirar os olhos também, estávamos todos com os olhos arregalados e passando mal de tanto rosa. Então fomos pro quarto mais importante; o meu, claro, e era importante para mim, mas digamos que todos estejam ansioso para vê-lo como estou. Meu nome estava escrito na porta, assim como o de Tyessa e Ally, eu abri a porta e abri um enorme sorriso, estava do jeitinho que eu tinha pedido para a designer, ela merecia um beijo. A cama era de casal, eu sou muito espaçosa então pedi uma cama grande, ela estava com grande edredom roxo, as paredes eram em tom escuro e a cortina era preta com quebra-luz, o guarda-roupas era branco para dar um contraste legal e o piso era branco também.
— Eu sei, o meu quarto é o mais lindo. — falei, sorrindo de lado e esperando eles concordarem.
— Me surpreendeu mesmo, eu esperava ver desenhos de caveiras e uns caixões. — Ally correu para trás do nosso pai quando ameacei pegar ela.
— O meu é o mais lindo, vocês são muito espalhafatosas. — disse Tyessa, mexendo no cabelo e dando de ombros, sem nos olhar, pois sabia que íamos revirar os olhos de tão simples que o dela era.
— Fala sério vocês duas, todas as adolescentes sonham em ter um quarto como o meu. — eu ri do comentário de Ally, ela era mesmo uma adolescente padrão.
— Vocês são realmente completamente diferentes. — nossa mãe disse, com a mão no queixo, enfatizando o que todos já estão cansados de saber.
— Bom, meninas, desfaçam as malas e descansem bastante pois amanhã iremos sair para fazer compras. Precisamos comprar o material escolar de vocês e abastecer a dispensa. — ordenou nosso pai. Com os ombros caídos, minhas irmãs saíram em direção ao seus quartos e meus pais me deram um beijo na cabeça, saindo atrás delas. Pior parte era desfazer as malas, e eu adiei essa tarefa o máximo que consegui.
No dia seguinte, saímos em direção ao carro de papai, era um Chevrolet Spin, bom para nossa família que era grande. Olhei as casas ao lado com decepção, pareciam casas abandonadas, estavam com a grama do quintal bem aparadas e a madeira bem pintada, porém não víamos uma alma viva por ali, na ruas só passavam carros, nada de crianças correndo ou aprendendo a andar de bicicleta com seus pais. Bateu uma nostalgia e saudade do interior, mas minhas irmãs e eu estávamos confiantes de que nos adaptaríamos a este lugar. Meu pai arrancou com o carro e olhei as árvores passando pela janela, eu sempre ia uma das janelas e Tyessa na outra, Ally não ligavam de ir no meio porque não tirava os olhos das suas mensagens no celular. Encontramos uma loja grande que tinha tudo que se podia imaginar de material escolar, estava meio cheia e ficamos reparando os adolescentes, imaginando que talvez pudéssemos estudar com algum deles ali. Tinha alguns meninos bonitos e reparamos que a maioria dos adolescentes não deviam pegar muito sol por aqui. Escolhemos nosso material do ano letivo e fomos pro mercado, enchendo o total de três carrinhos. Minhas irmãs e eu não tínhamos limites, meus pais que tinham que lutar para sustentar suas três filhas consumistas.
As aulas começaram na semana seguinte, meu pai ficou de deixar nós três no colégio todo dia, mas voltaríamos sozinhas, pois ele já tinha arrumado emprego e nossa mãe já começava a trabalhar hoje também. Nós três estávamos eufóricas para conhecer a nova escola e ingressar finalmente no ensino médio, agora era hora de ser mais responsável e pensar no futuro.
— Eu só queria ser reconhecida pelos meus talentos ou pela menina que é trigêmeas. — disse Ally, assim que nosso pai nos deixou na frente do colégio e foi trabalhar. Na antiga escola, as pessoas nos viam como irmãs normais, não acreditavam que éramos trigêmeas, e por isso éramos só mais alguma garota desinteressante. Nunca fomos popular, ou nerd, ou jogadoras de algum esporte que fosse bem reconhecido. Achávamos que o pessoal daqui iam ficar curiosos por sermos alunas novas na cidade e iam ser interessar por nossa história.
— Boa sorte, meninas, temos que ir primeiro na secretaria e pegar nossos horários. — disse Tyessa, nós três entramos juntos com a massa de alunos que chegavam no horário certo. Por enquanto, não recebíamos olhares, mesmo Ally estando da cabeça aos pés de rosa. Eu estava com minha habitual calça jeans, um Air Force no pé e um sobretudo. Na cabeça minha touca que tampava meus cabelos curtos. Tyessa estava de short jeans, mas não curto e uma camisa branca, ela optou por comprar uma bolsa de lado, ao invés da boa e velha mochila, igual Ally e eu.
— Um momento, irmãs, vou sentar aqui para arrumar a sandália. — disse Ally, já estávamos dentro da escola em uma área grande e parecia um pátio só que do lado de dentro, próximo a dois corredores.
Ally se sentou em um banquinho e eu fiquei observando o lugar, reparei umas meninas sorrindo e apontando para o lado de fora, onde tínhamos acabado de entrar, de repente outros alunos começaram a fazer quase uma roda e esperando alguém entrar, pelo que percebi. Minhas irmãs e eu, um porco longe da porta, observávamos a entrada, onde todos olhavam, até que um corpo alto entrou pela porta, seguido de dois ao seu lado, porém um centímetro mais atrás. Três garotos com semblante tediosos andavam em direção a um corredor.
Consegui reparar neles, com casacos sobretudo parecido com o meu, as calças pescando por serem altos e as roupas pareciam ser de grife. O da frente tinha o cabelos grandes que quase tapava seus olhos, o do lado esquerdo tinha cabelo espetado e o do lado direito tinha cabelos grande também e bagunçado, parecia ser proposital. O bizarro é que todo mundo olhava para eles como se fossem algum famoso de uma banda e eles andavam como tal, eles passaram por todos sem falar com ninguém em direção a um corredor, ignorando todos mesmo.
— Meu Deus, eles devem ser famosos aqui na cidade. Devem ser atores! — Ally disse, ficando na ponta do pé para tentar ver os meninos que sumiram no fim do corredor.
— Claro, e estariam estudando em um colégio público. — ironizou Tyessa, revirando os olhos.
— Eles não falaram com ninguém, que falta de educação, viram? — eu falei, retoricamente, era impossível não ter visto, já que todos os alunos pararam pra olhar o trio de metidos.
— Vamos logo antes que a gente se atrase. — pegando a gente pela mão, Tyessa foi em direção a uma porta escrito “Direção” que era logo perto da entrada, a primeira porta do corredor de frente para a porta onde entramos. Depois de nos apresentar e dizer que fomos transferidas, uma menina nos deu um papel contendo as aulas semanal. Tínhamos ficado em salas diferentes, infelizmente, agora que não íamos ser notados de mesmo.
— Aqui estuda algum famosa? — Ally perguntou para a menina, que não aparentava ter mais do que 20 anos. A menina nos olhou com uma sobrancelha erguida e nos entregou um jornal.
— Não, mas vocês já devem ter visto os Triboys. — ela demonstrava desinteresse em continuar a conversar e voltou a digitar em seu computador, nos três fomos para o corredor e disputamos para ler o pequeno jornal juntas.
— “Os Triboys é composto por três garotos lindos e altos. O líder deles é Mark, entrou no Colégio Church desde o ensino fundamental, assim como o loiro, seu nome é John e entrou logo depois, seguido do Selton, o gringo vindo da África. Os três são amigos inseparáveis desde o maternal e são herdeiros de famílias ricas, o Triboys é o trio de garotos mais cobiçado do Colégio Church”. — Tyessa parou de ler e olhou pra gente. Eu comecei a rir e Ally a se abanar, eu achei tudo isso um absurdo, principalmente o nome que se definiram.
— Eu pegaria o John facilmente.
— Pega seu papel e vá para a sua aula, Ally, é nisso que você deve se concentrar. — repreendeu Tyessa, ela estava certa, Ally teria que se concentrar muito para poder ter boas notas. Tyessa colocou o jornal em minhas mãos e se virou. — Nos vemos no intervalo.
— Até lá. — segui pelo corredor oposto em que o trio de meninos tinham ido e achei a minha sala no final dele. Minha aula agora era de Português, eu tinha começado com o pé direito então.
A professora já estava na sala e me deu as boas vindas, me sentei nos fundos, pois a sala já estava cheia e não tinha lugares no meio, onde eu gostava de sentar na antiga escola. A aula de português foi mais uma apresentação, mas a professora nos fez ler alguns textos em voz alta, eu amei a professora, mas pode ter sido só porque eu gostava da matéria. Depois eu tive aula de ciências, e entre uma aula e a outra, eu tive uma ideia genial. No jornal também dizia que o trio de garotos estava fazendo o terceiro ano, a pessoa que escreveu o jornal se lamentou pelo colégio inteiro, pois não iam mais ter presença ilustres do trio, palavras dela. Então pensei que o Colégio precisaria de outro trio famoso para substituí-los, e nada melhor para aumentar nossa popularidade do que minhas irmãs e eu entrarmos nessa posição.
Pelo que lemos e do que vi, havia uma hierarquia onde os meninos estavam acima de qualquer pessoa daqui. No artigo dizia que eles eram amados até pelos professores e isso ia aumentar a chance da gente passar de ano também, pelo menos os meninos nunca tinham sidos reprovados de série. Roí as unhas de nervoso até chegar o intervalo e praticamente corri para encontrar minhas irmãs, peguei minha comida e me sentei ao lado delas, em uma mesa para quatro.
— Eu tive uma ideia genial! — fui logo falando.
— Deixa eu contar a minha primeiro, vocês não vão acreditar no que eu pensei! — disse Tyessa, com o corpo pra frente, ela parecia ansiosa também.
— Antes que vocês falem, me ouçam. E se a gente entrasse no lugar dos Triboys quando eles saírem do Colégio no ano que vem? — falou Ally e nos deixou de boca aberta, não só por termos pensado igual.
— Era isso que eu ia falar. — coloquei as mãos na boca, abismada.
— E eu pensei no mesmo, cruzes, essas coisas me assustam as vezes. — Tyessa abanou o ar como se estivesse enxotando alguém.
— Então é isso, vamos ter um ano pra aprender a agir como eles, e ano que vem quando eles saírem, a gente entra. — eu deitei as costas no encosto da cadeira, era uma ideia genial mesmo.
— De toda forma, vamos ter que começar a tentar logo, para as pessoas nos conhecerem. Temos que andar sem olhar pra ninguém também. — disse Tyessa, erguendo o queixo e tentando imitar o jeito dos meninos.
— E se a gente tentasse andar com eles? — Ally estalou o dedo, colocando sua ideia a votação.
— Andar com quem? — levamos um susto quando uma menina de óculos e sardas se sentou ao nosso lado, na mesa. Ficamos encarando a garota, achando que já estávamos evoluindo no plano. — Ah, meu nome é Savana, sou uma das representantes do grêmio estudantil, designada hoje a mostrar a escola para vocês. Então suponhamos que eu já tenha mostrado tudo, certo? Agora me falem, com quem vocês querem andar?
— Os Triboys. — nossa irmã linguaruda falou antes que pudéssemos por a mão em sua boca. A menina na mesa largou os talheres e comecei a rir alto, tanto que algumas pessoas começaram a olhar.
— Não se sintam ofendidas, desculpa, todo mundo acha o mesmo quando chega aqui. — ela disse, depois que se recompôs.
— Todo mundo pensa o quê? — Ty perguntou, com cara de poucos amigos depois dessa menina com cara de intelectual rir da nossa cara.
— Pensa que pode andar com o Triboys. Ninguém é digno o suficiente para andar com eles, são amigos desde a infância e nunca ninguém conseguiu fazer parte do trio de amizade deles. Eles não interagem com ninguém da escola, acho que só falam com os professores porque não tem outro jeito.
— E por que eles não falam com as pessoas? — eu cheguei o corpo pra frente, para ouvi-la melhor, já que ela começou a comer e falar ao mesmo tempo.
— Sei lá, acho que porque eles são herdeiros, devem achar que não chegamos aos pés deles. — minhas irmãs e eu nos entreolhamos, pensando a mesma coisa, que seria meio difícil de executar nossa missão. Quando a menina saiu da mesa, Tyessa se virou para sussurrar para nós duas.
— Não vamos desistir, vamos ser conhecidas no ensino médio, não vamos mais ser como uma sombra dessa vez, ou não me chamo Tyessa.
— Estou nessa. — ergui a mão com a palma virada para baixo e minhas irmãos colocaram suas mãos uma em cima da outra, mais um plano das trigêmeas Aleu será posto em prática.
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