42. o verdadeiro grotesco.
Lois observava Megan, que estava parada na escada do ginásio, a expressão tensa enquanto aguardava sua descida. O ar estava carregado de uma expectativa silenciosa. Megan havia insistido para que Lois deixasse o hospital psiquiátrico, alegando que sua experiência e intuição seriam cruciais para resolver os misteriosos assassinatos que abalavam a comunidade.
Enquanto Lois descia os degraus, seu olhar se fixava na penumbra do ginásio. As sombras dançavam nas paredes, e o eco de passos e sussurros reverberava, criando uma atmosfera de suspense. Ela sentia a pressão do momento, a urgência do que estava por vir.
Megan hesitou por um momento, as palavras pesando entre elas como um fardo. —— As vítimas... são pessoas que você conhece, Lois. E eu também.
Lois riu de forma amarga, balançando a cabeça.
—— Isso não é real. Tudo isso é um sonho. Não pode estar acontecendo de verdade. —— Sua voz carregava um tom de desespero, uma resistência à realidade que começava a se formar diante dela
Megan fechou os olhos por um momento, como se tentasse reunir coragem antes de enfrentar Lois. —— Não, Lois. Não é um sonho. Você atirou no meu namorado. Isso aconteceu de verdade. Ele está morto. —— A voz dela era firme, mas Lois podia ver a dor em seu olhar.
—— Por que você mentiu para mim? —— Lois sentiu um frio na barriga, a realidade esmagando sua mente.
A cena era surreal, como um pesadelo que Lois não conseguia desvendar.
O ginásio, agora estava preenchido por um ar pesado e opressivo. Policiais e peritos criminais se moviam rapidamente, cercando o local, mas tudo parecia distante e nebuloso para Lois. Ela caminhou hesitante, seus pés pesados enquanto seu olhar se fixava em Charlie.
Ele estava lá, pendurado em uma cruz, sua figura inconfundível vestida com roupas brancas que lembravam as de uma representação clássica de Jesus. A luz do ginásio parecia refletir de maneira estranha nas vestes, criando um brilho que tornava a cena ainda mais surreal.
Lois se deixou cair sobre o banco, os olhos fixos na figura de Charlie pendurada na cruz, sua mente um turbilhão de memórias e emoções. A imagem dele, agora distorcida pela morte, a fez pensar em tudo o que havia acontecido.
—— A imagem de Jesus... —— ela murmurou, sua voz quase um sussurro. —— Ele salvou minha vida.
Megan se sentou atrás dela, um silêncio pesado entre as duas. A cena era de um horror indescritível.
Lois sentia o peso do horror ao seu redor, como se as paredes do ginásio estivessem se fechando a cada respiração. A visão de Charlie pendurado na cruz era um fardo que esmagava seu estômago, e a dor a tornava quase paralisada.
—— Mary sabe disso? Ela era a mulher dele —— ela perguntou, a voz trêmula, quase um lamento.
Megan, ainda sentada atrás dela, olhou para a cena macabra à sua frente e, com um tom grave, respondeu.
—— Mary sumiu.
As palavras caíram sobre Lois como um balde de água fria, o impacto gelando sua espinha. Saindo do ginásio, os corredores ecoavam com os passos apressados de Lois, cada passo carregando a urgência de uma caçada. Ela puxou o celular do bolso, as mãos tremendo levemente enquanto pressionava as teclas, a tela iluminando seu rosto sombrio.
Lois segurava o celular com força, a voz de Mary soando como um eco distante, ao mesmo tempo familiar e perturbador.
—— Você é boa... sua vadia sorrateira —— Lois disse, a amargura transparecendo em suas palavras. O sorriso irônico de Mary atravessava a linha, provocando um frio na espinha de Lois.
—— Bingo. Você descobriu —— Mary respondeu, e havia uma leveza em sua voz que desmentia o peso da situação. Era uma confissão, um jogo que Lois nunca soubera que estava jogando. A tensão crescia, quase palpável.
—— Por que? —— Lois questionou, a curiosidade misturada com uma raiva fervente. O tom de Mary era imperturbável, como se ela estivesse em controle de uma situação que, claramente, havia se tornado caótica.
—— Porque... ninguém nunca iria desconfiar da pobre garota em um relacionamento conturbado com o médico —— Mary explicou, cada palavra perfurando Lois como uma lâmina afiada. A manipulação era brilhante, quase bela em sua malevolência, e Lois se viu lutando contra a indignação.
—— Você é uma psicopata —— Lois disparou, mas a resposta de Mary não hesitou, cheia de uma calma fria.
—— Não... eu estou mais que lúcida —— Mary declarou, e a frieza em sua voz trouxe um calafrio. Era como se ela tivesse encontrado uma clareza aterradora em sua própria escuridão.
Lois sentiu um nó na garganta.
A tensão se acumulava entre elas, como um fio prestes a se romper. Era um jogo de gato e rato, e Lois percebeu que estava prestes a entrar em um labirinto da mente de Mary, onde as regras eram obscuras e as consequências, inimagináveis.
—— Você não precisa se preocupar com isso, Lois —— Mary respondeu, sua voz agora carregada de um tom quase maternal. —— Apenas cuide-se. E não se esqueça... eu sempre estarei um passo à frente.
A ligação se cortou abruptamente.
(...)
Mary se encontrava no meio do deserto, um vasto mar de areia que se estendia até onde a vista alcançava. O sol estava alto, queimando a pele e desafiando qualquer um a permanecer ao ar livre. Ela estava sozinha dentro do carro de Charlie, a poeira se acumulando na lataria como um testemunho silencioso das suas escolhas. As malas estavam jogadas no banco de trás, repletas de uma vida que agora parecia tão distante, tão irreconhecível.
Ela jogou o cigarro pela janela, observando-o se extinguir ao tocar a terra quente, assim como a vida de tantas pessoas que havia se apagado de forma tão abrupta. Com um movimento decidido, guardou o celular, o pequeno dispositivo que antes conectava seus mundos, agora se tornara uma âncora pesada que a lembrava de quem ela havia sido.
Mary riu, mas não era um riso de felicidade. Era o grotesco que a acompanhava agora, a personificação do que ela havia se tornado.
Mary passou levemente a mão na própria barriga, um gesto automático, quase maternal, mas carregado de uma complexidade emocional que a fazia sentir-se dividida. O ligeiro volume sob seus dedos era uma lembrança tangível do que ela carregava, um símbolo do que poderia ser e do que havia decidido deixar para trás. Havia uma vida crescendo ali, inocente e vulnerável, que contrastava intensamente com as sombras de morte e destruição que a cercavam.
Aquele pequeno ser dentro dela representava uma nova chance, uma nova narrativa que poderia ser escrita, mas também era um lembrete constante de suas escolhas sombrias.
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