41. até que a morte vós separe.
Mary estava sentada na cadeira do hospital, observando o movimento constante dos profissionais de saúde ao redor. Com um cigarro entre os dedos, ela inala profundamente, sentindo a nicotina acalmar um pouco a agitação que a acompanhava. A sala tinha um cheiro de desinfetante, misturado com a leve fragância de flores que alguém havia trazido. Era um contraste desconfortável, mas familiar.
Quando Lois finalmente se sentou, Mary soltou uma risada leve, tentando quebrar a tensão no ar. —— Olha, você já esteve melhor —— comentou, a voz brincalhona contrastando com a gravidade do ambiente hospitalar.
Lois olhou para ela, um misto de cansaço e irritação em seus olhos. —— Sim, bem, não é como se eu estivesse aqui por prazer, não é?
Mary respirou fundo, seu coração acelerando ao se preparar para a revelação que vinha lutando para fazer.
—— Lois... eu estou grávida —— ela finalmente admitiu, a tensão se dissipando levemente enquanto as palavras deixavam seus lábios.
Lois a olhou com uma expressão de compreensão, mas logo se transformou em uma risada sarcástica.
—— Você não precisa me dizer de quem é. É do Charlie, não é? —— Ela riu, um riso frio e cortante. —— Patética. Você realmente acha que isso é uma boa ideia?
Mary sentiu o calor subir pelo rosto, mas Lois não parou.
—— E você vai ter uma família ainda mais patética. Filhos de médicos que provavelmente serão mimados, ou quem sabe até se tornem sociopatas como os pais —— Lois disse, a ironia evidente em suas palavras.
—— Não precisa ser assim —— Mary protestou, a defesa instintiva surgindo.
—— Você realmente acredita que esse tipo de vida é certo? Você vai ficar presa nessa relação doentia, e esses filhos vão crescer achando que isso é normal. Vai ser uma tragédia.
Mary apagou o cigarro na mesa, o cheiro de fumaça misturando-se ao ar pesado do hospital. A sensação de claustrofobia e impotência aumentava a cada segundo que passava ao lado de Lois. Com um último olhar, ela se levantou, o peso de suas palavras ecoando em sua mente.
—— Fica aqui, Lois. Fica nesse inferno pessoal seu para sempre —— Mary disparou, a voz carregada de uma mistura de raiva e tristeza. —— E, por favor, nunca melhore. O mundo precisa saber que você está sofrendo.
Lois a observou, a expressão de incredulidade estampada no rosto. —— Mary...
Sem esperar pela resposta, Mary se virou e saiu do refeitório, o peso das últimas palavras ainda pairando no ar entre elas. Cada passo que ela dava a afastava mais de Lois e de toda a confusão que havia se tornado sua vida.
(...)
A noite estava fria, e o vento soprava suavemente pelas janelas do pequeno apartamento, fazendo com que o ambiente se tornasse aconchegante. Mary entrou na sala com duas taças de vinho, o som do cristal ecoando suavemente enquanto se aproximava da mesa onde Charlie estava sentado, com a expressão pensativa, olhando para o prato diante dele.
Ela se sentou ao lado dele, a luz suave das velas lançando sombras dançantes nas paredes. O jantar estava disposto com cuidado: pratos simples, mas bem preparados, uma tentativa de resgatar algo normal entre eles.
Charlie sorriu com um toque de provocação nos olhos, observando Mary enquanto se inclinava para mais perto. —— Então... está tentando me conquistar com um jantar bonito, Mary? —— perguntou ele, em um tom meio divertido, meio provocador.
Mary riu, segurando a taça de vinho. —— E como você adivinhou? —— Ela sorriu, divertida, jogando-se no jogo dele.
Ele não hesitou; aproximou-se ainda mais, capturando os lábios dela em um beijo firme, a mão envolvendo sua nuca com intensidade. Quando os lábios se separaram, ele sussurrou contra sua pele, com um sorriso malicioso.
—— Mary... você já me conquistou faz tempo.
Charlie a puxou para perto, fazendo com que Mary se acomodasse em seu colo, as taças de vinho ainda em mãos. Ela se ajeitou, rindo baixinho, enquanto ele a mantinha firme, uma das mãos deslizando pela cintura dela, segurando-a como se não quisesse que ela fosse a lugar algum.
Eles tomavam pequenos goles de vinho, trocando olhares que diziam mais do que as palavras poderiam expressar. Charlie se inclinou para perto, o rosto próximo ao dela, enquanto seus dedos traçavam lentamente o contorno do copo na mão dela.
Mary sorriu e envolveu o braço ao redor do pescoço de Charlie, puxando-o um pouco mais para perto. Com um olhar sutilmente desafiador, ela sussurrou, quase como um pedido. —— E se tivermos um filho?
Charlie soltou uma risada curta, balançando a cabeça em negação. Mary encarou Charlie, tentando decifrar a seriedade em seu rosto enquanto ele falava. —— Um filho? Não.
—— Por quê? —— Ela perguntou, a voz baixa, quase hesitante.
Charlie segurou o rosto dela, o olhar intenso. —— Porque... eu não quero dividir você. Com ninguém.
Mary sorriu de leve, embora a resposta de Charlie fosse ao mesmo tempo previsível e desconcertante. —— Mas seria o nosso bebê —— ela insistiu suavemente, como se aquilo pudesse fazer alguma diferença.
Charlie balançou a cabeça, firme.
—— Mas você teria que ficar com ele, cuidar dele... e eu perderia tempo com você —— ele respondeu, seu tom carregado de uma sinceridade fria. Ele deslizou os dedos pelo rosto dela, os olhos fixos, intensos.
Ela suspirou, lutando para conciliar aquela realidade com o desejo silencioso que sentia crescer. No fundo, parte dela sabia que Charlie jamais mudaria.
Charlie tirou a taça de vinho das mãos de Mary, colocando-a sobre a mesa sem desviar o olhar dela. Suas mãos firmes seguraram o rosto dela com uma gentileza incomum, como se quisesse transmitir uma verdade profunda.
—— Você é o suficiente para mim, Mary —— ele disse, a voz baixa, quase um sussurro. —— Só você me faz feliz.
Mary sentiu um aperto no peito ao ouvir aquelas palavras, enquanto os olhos de Charlie brilhavam com uma intensidade que ela conhecia bem. Ele a fazia se sentir desejada, indispensável. E, por um breve momento, ela deixou-se acreditar que, talvez, aquilo pudesse realmente bastar para os dois.
Mary olhou para Charlie, os olhos dela mais sinceros do que ele já tinha visto. —— Charlie, você é tudo pra mim.
Ele franziu a testa, ligeiramente confuso com a intensidade nas palavras dela. Antes que pudesse responder, Mary continuou, a voz suave, quase reverente.
—— Para mim, você é minha religião —— Ela sorriu levemente, um sorriso que misturava devoção e um toque de vulnerabilidade. —— Não preciso de mais nada.
Charlie a encarou em silêncio, absorvendo o peso das palavras dela, sentindo-se, pela primeira vez em muito tempo, tocado de um jeito que não sabia descrever.
Mary retornou à sala de jantar com a garrafa de vinho, suas mãos tremendo levemente de excitação e nervosismo. Ela encheu a taça de Charlie, os olhos brilhando enquanto se aproximava dele.
—— Aqui —— ela disse, entregando a taça com um sorriso, antes de se inclinar para beijá-lo. O beijo foi profundo e cheio de significado, um momento que parecia suspenso no tempo.
Quando finalmente se afastou, ela olhou nos olhos dele, a sinceridade em seu olhar.
—— Eu te amo, Charlie. Até que a morte nos separe.
As palavras flutuaram no ar entre eles, pesadas e verdadeiras. Charlie segurou a taça com força, o coração acelerado. Ele nunca tinha ouvido uma declaração tão intensa. Charlie levou um gole do vinho, seu olhar ainda fixo em Mary, quando a tosse começou a tomar conta dele.
A princípio, era apenas um pequeno engasgo, mas rapidamente se transformou em uma tosse intensa, a taça quase escorregando de suas mãos enquanto ele lutava para recuperar o fôlego.
Mary ficou paralisada, seu coração disparou ao ver Charlie se contorcer, a expressão de surpresa e dor em seu rosto. Ele tentou chamar seu nome, mas as palavras se perdiam em meio à tosse.
Charlie perdeu a consciência, o corpo caindo pesadamente ao lado da mesa. O tempo parecia desacelerar enquanto Mary se ajoelhava ao lado dele, as lágrimas escorrendo pelo rosto. O amor da sua vida estava ali, em um estado tão frágil, e tudo o que ela podia fazer era olhar impotente, sabendo que sua escolha os havia levado a esse ponto.
Ela o matou.
Um misto de culpa e pânico a dominava, e enquanto a realidade da situação se instalava, ela percebeu que, com aquele ato, havia não apenas arruinado a vida dele, mas também a sua. O amor que sentia por ele agora se transformava em um tormento, e a sala ao redor dela se enchia de uma escuridão insuportável.
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