40. o amor que corrompe.
Lois havia se internado voluntariamente, completamente tomada pela convicção de que sua realidade não era mais uma continuidade da vida, mas uma espécie de purgatório, uma penosa existência entre a vida e a morte.
No refeitório do hospital, Lois se acomodou em uma mesa isolada, a fumaça do cigarro subindo lentamente em espirais, como se tentasse escapar da realidade que a prendia.
A luz fluorescente refletia em seu rosto pálido, realçando as olheiras que a denunciavam como uma prisioneira de seus próprios pensamentos. O cheiro do café aguado misturado com o cheiro do cigarro era quase insuportável, mas ela não se importava. Era um momento de espera, uma pausa entre as tempestades que assombravam sua mente.
Ela olhou em volta, observando as pessoas que se movimentavam à sua volta, sem realmente vê-las. Cada rosto parecia apenas um reflexo da própria dor e confusão que ela sentia. Era como se estivesse em um filme, sem saber se era a protagonista ou uma mera espectadora de um enredo que havia perdido o controle.
Charlie se acomodou na cadeira à frente de Lois, seu olhar intenso se deparando com a expressão desafiadora dela. A tensão no ar era palpável, e o eco das palavras de Lois pairava entre eles como um fantasma. A pergunta cortante dela, carregada de dor e indignação, não o pegou de surpresa, mas a frieza da sua resposta deixou o ambiente ainda mais carregado.
—— Eu quero saber quantas vezes você e a sua assistente ninfomaníaca patológica se divertiram no meu quarto enquanto eu estava no coma!
A sala parecia ter congelado ao redor deles, o ruído distante de talheres e conversas se esvanecendo à medida que as palavras de Lois ecoavam.
—— Fazendo sexo? Estes são os tipos de truques que a nossa mente nos prega. Você realmente acredita que estou fazendo sexo aqui? Nesse hospital? —— A voz de Charlie era calma, quase clínica, como se ele estivesse descrevendo um caso médico ao invés de confrontar a confusão emocional que os envolvia.
Lois olhou fixamente para Charlie, um sorriso amargo brincando em seus lábios. A confiança que ela havia perdido em sua antiga percepção dele havia se transformado em uma crença quase inabalável.
—— Você realmente acha que eu sou burra, Charlie? —— disse ela, seu tom cortante. —— Eu conheço Mary. Sei do tipo de mulher que ela é, você realmente acha que ela não estaria disposta a se deitar com você no hospital?
Charlie explodiu, a frustração transbordando de uma forma que ele não conseguia mais conter.
—— Eu salvei a porra da sua vida! —— gritou, sua voz ressoando com uma mistura de raiva e desespero.
As palavras saíram como um grito que ecoou pelo refeitório quase vazio, chamando a atenção das poucas pessoas que ali estavam. Ele percebeu que todos os olhares se voltaram para ele, e a revelação de seu desespero fez com que uma onda de vergonha o envolvesse.
Mas assim que as palavras deixaram sua boca, a realidade do momento o atingiu. Ele rapidamente se recompôs, uma máscara de controle voltando a se formar em seu rosto.
A expressão de Lois endureceu, e seu olhar se tornou gélido, quase cortante. —— Eu ouvi tudo. E sei que Mary ainda está na faculdade. Ela mal tem 21 anos!
Charlie, que tentava manter a compostura, sentiu seu coração acelerar, um frio na barriga o dominando à medida que ela continuava.
—— Você sabe o que isso significa? —— Lois continuou, a voz subindo, a raiva e a certeza se entrelaçando. ——Você pode ser acusado por estupro e abuso de poder.
Charlie cruzou os braços, a expressão de desprezo esculpida em seu rosto, e então disparou, a voz ríspida como um estalo.
—— Eu sinto pena do seu marido. Todas as vezes que ele chegou em mim, com aquele olhar desesperado, pedindo que eu acidentalmente desligasse seus aparelhos... –— As palavras saíram com um veneno sutil, cada sílaba impregnada de uma raiva contida.
Ele se aproximou um passo, seus olhos fixos em Lois, que o encarava com uma mistura de incredulidade e indignação.
—— Eu não achei que ele estava falando sério. —— A risada amarga escapou de seus lábios, um som que parecia ecoar em toda a sala. —— Mas agora eu sei. Ele só queria se livrar da vadia do caralho que você é.
Charlie não perdeu tempo. Assim que as palavras cortantes deixaram sua boca, ele se virou e saiu do refeitório, deixando Lois sozinha com o peso de suas acusações pairando no ar. A porta se fechou com um estrondo, e o eco do impacto parecia ressoar na mente dela, como um lembrete da verdade crua que acabara de enfrentar.
Lois ficou sentada, o olhar fixo no ponto onde Charlie estivera momentos antes, a confusão e a raiva se misturando em um turbilhão dentro dela.
(...)
Mary estava sentada em um dos bancos da clínica de aborto, o ambiente era abafado e impregnado de um silêncio carregado. Ela observava as outras mulheres e garotas jovens ao seu redor, cada uma perdida em seus próprios pensamentos e medos. Algumas pareciam nervosas, outras resignadas, mas todas compartilhavam um laço invisível de experiências que apenas aquelas paredes podiam compreender.
Enquanto isso, a ansiedade apertava seu peito como um peso insuportável. Mary mexia sua perna inquietamente, o som do movimento leve quase se tornando um mantra que tentava afastar os pensamentos tumultuados em sua mente.
—— Marylin Bruce.
Assim que seu nome foi chamado, Mary respirou fundo, tentando reunir coragem.
Ela se levantou e caminhou em direção à sala, cada passo pesando como se carregasse o peso do mundo. Ao entrar, o ambiente era ainda mais frio e clínico do que ela havia imaginado. A cadeira plastificada estava vazia e esperava por ela, e Mary hesitou por um instante antes de se sentar, sentindo a textura rígida sob suas coxas.
A enfermeira, uma mulher de rosto gentil mas com um olhar que transmitia seriedade, a observou atentamente.
Com uma voz suave, ela perguntou.
—— Você tem certeza sobre proceder com o aborto?
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro