38. o último diagnóstico.
Mary saiu do hospital após seu último turno, sentindo o peso do dia se dissipar com cada passo. O céu, pintado com tons de laranja e rosa, refletia a calma do entardecer, contrastando com a agitação que ainda pulsava dentro dela. Ao olhar para o estacionamento vazio, seus olhos se fixaram em Lois, encostada no carro, um cigarro queimando lentamente entre os dedos.
Lois parecia relaxada, mas havia uma tensão subjacente em sua postura. O fumo se elevava, formando uma nuvem que dançava ao vento da tarde.
Respirando fundo, Mary caminhou até o carro e entrou. O cheiro do cigarro misturava-se com o do desinfetante do hospital que ainda estava em suas roupas. Lois a observou com um olhar enigmático, como se estivesse esperando por algo, uma conversa que ainda não tinha começado.
Ela encarou Lois, que a olhava com uma intensidade que desafiava qualquer negação.
—— O que você quer? —— Mary perguntou, sua voz firme, mas trêmula, como se quisesse manter a calma em meio ao turbilhão.
Lois exalou uma fumaça, seus olhos fixos em Mary.
—— Quando te pagaram para dar meus relatórios psiquiátricos? Isso é um jogo para você, não é? Manipular os outros enquanto eu estava em coma. Você deve estar rindo por dentro, não?
Mary franziu a testa, a confusão misturando-se com a indignação. —— Que porra você está falando? Isso não faz sentido!
—— Um assassinato, Mary. Uma família inteira morta exatamente como no meu coma... e você é a única mente diabólica o suficiente para isso —— Lois disparou, seu tom acusatório cortante como uma lâmina.
Mary sentiu seu coração acelerar. —— Você não pode estar falando sério. Eu cuidei de você!
—— Cuidar de mim? Ou você estava se aproveitando da minha vulnerabilidade? Não pense que eu esqueci o que você é seu namorado psicopata fizeram —— Lois retrucou.
Lois olhou para Mary com os olhos ardendo, como se a cada palavra, uma nova ferida estivesse sendo aberta. O cigarro que ela segurava parecia estar queimando mais intensamente, refletindo a hostilidade no ar.
—— Você era uma freira, em meu coma... você era a porra de uma freira ninfomaníaca —— Lois disparou, a voz carregada de desprezo.
Mary respirou fundo. —— Eu sei...
Ela retirou um livro velho da bolsa e o lançou no colo de Lois, a capa desgastada batendo com um estalo.
—— É a porra de um livro. Você me imaginou, porque eu lia pra você, e provavelmente Charlie era o padre... certo? —— O sarcasmo de Mary era como uma faca cortante, desafiando Lois a se render à lógica.
Lois balançou a cabeça, exausta, mas a incredulidade em seus olhos ainda estava lá, uma chama que não se apagava. —— Isso é... isso é insano.
—— Isso tudo porque, provavelmente, estávamos fazendo sexo... na sua frente —— Mary continuou, a raiva transbordando em sua voz.
—— É como se eu estivesse presa em um pesadelo, e você está aí, exatamente como a outra Mary —— Lois respondeu, a raiva se misturando com a dor que transparecia em sua expressão.
Mary se inclinou para frente, seus olhos firmes nos de Lois. —— Você precisa entender que o que aconteceu durante o coma não foi culpa minha. E nem do Charlie.
Lois olhou para o livro em seu colo, seus dedos passando pela capa desgastada se lembrando daquele maldito casal. —— Por que isso é tudo tão complicado? Por que você e Charlie não podem simplesmente... ser normais?
—— Eu não sei. O que é normal, Lois? —— Mary questionou, a sua voz quebrando um pouco a barreira entre elas. —— Cometi erros. E o que Charlie e eu fizemos... bem, não é algo que eu possa apagar.
Lois ligou o carro com um ronco surdo do motor, o som cortando o silêncio tenso entre elas. Com os olhos fixos na estrada, ela começou a dirigir, ignorando a presença de Mary ao seu lado. O movimento era brusco, como se cada curva e aceleração fossem uma forma de dissipar a raiva e a confusão que a consumiam.
Mary, ciente da tensão palpável no ar, não conseguiu conter a curiosidade. —— Para onde você está indo? —— ela perguntou.
—— Cala a boca, Mary —— Lois respondeu, sua voz fria e direta.
Mary seguiu Lois pelo corredor estreito e mal iluminado do motel assim que elas pararam, o cheiro de mofo e o eco de seus passos a envolviam em um ambiente desconfortável. Ao abrir a porta do quarto, foi recebida pela visão de Megan, uma mulher de roupas formais, cabelo longo e liso, que parecia tão fora de lugar naquele cenário quanto um diamante em um lixão.
Lois não perdeu tempo. —— Ok, Megan, o que você quer? —— Sua voz era tensa, um misto de desafio e cansaço, como se estivesse pronta para uma batalha.
Megan, com um olhar grave, puxou de sua bolsa um frasco contendo uma gosma preta e exibiu-o como um troféu macabro. O conteúdo brilhava sob a luz fluorescente do quarto, refletindo uma aura sinistra que imediatamente fez Mary se sentir mal.
Lois se virou para Mary, os olhos ardendo com indignação. —— Está vendo? Alguém está recriando todos os crimes do meu coma... como se tivesse voltado.
Mary sentiu um frio na espinha.
Lois, com os olhos brilhando de determinação e desespero, agarrou o canivete e se aproximou de Megan com uma intensidade que fez o ambiente parecer ainda mais pesado. —— Me corta —— ela exigiu, a voz firme, mas uma tensão subjacente denunciava seu estado emocional.
Megan hesitou, seu olhar cheio de preocupação. —— Lois... não.
—— Lois, você está louca! Completamente fora de si! —— Mary interveio, tentando alcançar o canivete, mas foi impedida pela determinação em seus olhos.
—— Eu preciso saber que isso não é um coma, que eu estou viva —— Lois declarou, a voz se quebrando ao final, revelando a vulnerabilidade escondida atrás de sua bravura.
Com um movimento rápido, Megan decidiu agir. Ela pegou o canivete da mão trêmula de Lois e fez um pequeno corte no braço dela. O sangue começou a escorrer, uma linha vermelha contrastando com a pele pálida. Lois olhou para o próprio sangue, a realidade daquele momento a atingindo com força. Respirou fundo, um misto de dor e alívio passando por seu corpo.
Lois entrou no banheiro e fechou a porta atrás de si, o som do fecho ecoando na mente de Mary como um golpe.
Mary se levantou da cama, a tensão ainda pulsando em seu corpo como uma corrente elétrica. —— Preciso de um cigarro —— murmurou, mais para si do que para Megan. Com isso em mente, ela saiu do quarto, buscando um pouco de ar fresco e, quem sabe, um pouco de clareza.
Ao se afastar do quarto de hotel, Mary sentiu a brisa quente do deserto acariciar seu rosto. O céu começava a escurecer, tingido de laranjas e púrpuras, mas não havia beleza naquele momento. Ela se apoiou contra uma parede fria, longe o suficiente para não ouvir a conversa frenética que acontecia atrás da porta. Com um gesto automático, tirou o maço de cigarros da bolsa, seus dedos tremendo levemente enquanto buscava de nicotina.
Antes de acender, um olhar para seu celular a interrompeu. O visor brilhava, e ela viu que havia várias chamadas perdidas de Charlie. Um nó se formou em seu estômago, a preocupação e a raiva misturando-se de forma desconfortável. O que ele queria agora?
Mary parou em seco ao ouvir a gritaria, seu coração disparando enquanto se aproximava do quarto. A cena que encontrou era uma explosão de caos. O ar estava pesado com a tensão e a adrenalina, e a visão de Lois com uma arma na mão fez seu sangue gelar.
O homem, com um olhar desafiador, estava na frente de Lois, enquanto Megan estava caída no chão, a expressão de dor e desespero em seu rosto. A cena era surreal e aterrorizante, como um pesadelo que se desenrolava diante de seus olhos. Mary mal conseguia processar o que estava acontecendo.
—— Ele está doente, Lois! Não atire nele! —— Megan gritava, tentando apaziguar a situação, mas o desespero na voz dela só aumentava a tensão no ambiente.
—— Ela não teria coragem —— o homem provocou, com um sorriso arrogante, como se estivesse jogando um jogo macabro, subestimando a determinação de Lois.
—— Quer apostar? —— A resposta de Lois foi fria, seus olhos ardendo com uma mistura de raiva e dor.
Mary sentiu que o mundo ao seu redor se movia em câmera lenta enquanto o homem agarrou a arma de Lois e a colocou contra sua própria boca, zombando de sua situação, como se estivesse desafiando o destino. Mas Lois não hesitou. Sem pensar, o gatilho foi puxado, e o som do tiro ecoou pelo quarto como um trovão.
O homem caiu, o corpo sem vida colidindo com o chão de forma brutal.
Megan estava tremendo, seu corpo coberto de sangue e a expressão de pânico em seu rosto. O cheiro metálico misturado com o fedor da morte enchia o ar, e Mary precisava agir rápido. Ela soltou a fumaça do cigarro, o fumo se dissipando lentamente enquanto formulava um plano desesperado.
—— Deixe a arma aí, vamos fazer parecer que foi suicídio —— Mary disse, sua voz firme, mas com um toque de urgência que transparecia a gravidade da situação.
Ela olhou para Lois, que ainda parecia estar em estado de choque, incapaz de processar a brutalidade do que havia feito.
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