32. amém.
Mary atendeu o telefone, seu coração acelerando ao ouvir a voz de Lois do outro lado. O suspiro pesado da detetive era um sinal claro de que algo sério estava prestes a ser revelado.
—— Mary, eu descobri quem é o assassino —— Lois disse, a urgência na sua voz fazendo a mente de Mary girar em busca de respostas. A confusão tomou conta dela. —— Você precisa se esconder. Ele está vindo para aí.
O pânico se instalou em Mary enquanto ela olhava em direção à porta no final do corredor. Sem pensar duas vezes, ela decidiu entrar, um espaço que ela nunca tinha explorado completamente. Assim que entrou, os olhos de Mary se ajustaram à luz suave que iluminava o ambiente.
O corredor era extenso, cercado por várias portas, cada uma guardando mistérios que ela não tinha coragem de descobrir agora.
Mary avançou cautelosamente, seu coração batendo forte em seu peito. O estúdio tinha um ar de abandono, com móveis cobertos por lençóis brancos, como se o tempo tivesse parado ali. A tensão no ar era palpável, e cada sombra parecia se mover, fazendo com que ela se sentisse observada.
O silêncio se instalou por um breve momento, mas logo o som de passos ecoou pelo corredor, e Mary sentiu seu corpo se encolher de medo. O coração dela disparou, e a única coisa que ela podia fazer era esperar e observar, sem saber o que aconteceria a seguir.
Mary entrou em uma das salas do corredor e imediatamente foi envolvida por uma atmosfera sombria. As paredes estavam cobertas com imagens de jornais amarelados, reportagens sobre os assassinatos, e livros antigos com páginas rasgadas e coladas, como se alguém tivesse dedicado a vida inteira àquele espaço. As esculturas, grotescas e perturbadoras, representavam as formas das vítimas do assassino, cada uma uma lembrança cruel do terror que assolava a comunidade.
Enquanto Mary olhava em volta, a realidade começou a se encaixar em sua mente.
Ela sentiu um frio na espinha ao perceber a conexão entre as imagens e o que tinha vivido. O coração disparou quando um pensamento aterrador tomou conta dela; Charlie. Ele sempre estivera tão próximo, sempre envolvido nas sombras, e agora as peças se encaixavam de maneira assustadora.
Nesse momento, o telefone tocou novamente. Mary hesitou, mas atendeu, ouvindo a voz de Lois, carregada de urgência. —— Mary, é ele... o Charlie.
Aquelas palavras ecoaram em sua mente, e a verdade a atingiu como um golpe. Sem pensar duas vezes, ela desligou o telefone, o pânico crescendo dentro dela. Com um nó na garganta, Mary virou-se para a porta e viu Charlie entrando, um machucado visível no ombro. Ele parecia cansado, mas havia algo em seu olhar que a fez tremer. Era uma mistura de raiva, determinação e algo mais sombrio.
Charlie olhou para Mary, confuso e preocupado. —— O que você está fazendo aqui? —– ele perguntou, tentando entender o que ela havia descoberto. Havia um nervosismo em sua voz, uma fissura na fachada de controle que ele costumava manter.
Mary soltou uma risada baixa e incrédula, as palavras escapando de sua boca como se não conseguisse contê-las. —— Então era isso que você estava escondendo? Toda essa loucura acontecendo bem debaixo do meu nariz? —— Ela balançou a cabeça, uma mistura de descrença e raiva em seu olhar.
—— Mary, você não entende... —— Charlie começou, mas Mary o interrompeu, o desprezo evidente em sua voz.
—— Não entendo? Como posso não entender? As pessoas estão morrendo, Charlie! E você esteve envolvido nisso! —– Sua risada se transformou em uma espécie de choro nervoso, uma mistura de emoção e desespero.
Charlie a observou, seus olhos se apertando em uma mistura de desespero e determinação. —— Você não entende, Mary! Eu só estou fazendo o que Deus quer de mim. Ele me escolheu para isso! —— A fervorosa convicção em sua voz ecoou nas paredes do estúdio, como se ele estivesse tentando invocar uma verdade superior para justificar suas ações.
Mary balançou a cabeça, a sensação de náusea crescendo dentro dela. —— O que você está fazendo é um crime!
—— Não é um crime se eu estiver cumprindo a vontade dele! —— Charlie gritou, a voz tremendo de emoção. —— Eu estou libertando as almas perdidas. Isso é o que o mundo precisa! E você está aqui para me apoiar!
O ar se tornou denso com a tensão que pairava entre eles, e Mary sentiu seu coração acelerar. Ela encarou Charlie, seus olhos repletos de desespero e raiva. —— Eu não vou apoiar nada disso, Charlie. É loucura!
Charlie, no entanto, não pareceu ouvir suas palavras. Um brilho frenético tomou conta de seus olhos.
—— Eu mataria e morreria por você, Mary! Eu faria qualquer coisa para que você fosse minha de verdade! —— A declaração saiu de seus lábios como um mantra distorcido, mas a sinceridade em sua voz era inegável.
Mary retrocedeu, o pavor subindo em seu peito, e ela viu o momento em que a compreensão passou pelo olhar de Charlie, como uma sombra, e ele se preparou para o que estava prestes a fazer.
—— Desculpe pelo que vou fazer —— ele murmurou, sua expressão mudando de fervorosa para algo mais sombrio. Com um movimento rápido, ele puxou uma faca afiada, o metal brilhando sob a luz fraca do estúdio.
—— Charlie... por favor.
Mary gritou, mas já era tarde demais. Ele caiu sobre ela, a lâmina em direção ao seu corpo. A adrenalina inundou suas veias enquanto ela se jogava para o lado, a faca cortando o ar ao seu redor, quase tocando sua pele.
A cena se desenrolou em um turbilhão de dor e desespero. Charlie, consumido por sua própria loucura e obsessão, cravou a faca no peito de Mary repetidamente, cada golpe ecoando com a intensidade de sua frustração e desespero.
Ela tentou gritar, tentou se afastar, mas a escuridão já havia tomado conta de seu corpo e de sua alma.
Cada punhalada era um golpe contra o que um dia foi amor, e o chão sob eles se tingiu de vermelho, uma cena de tragédia e sofrimento. O olhar de Mary, uma mistura de confusão e amor, finalmente se apagou, seus olhos perdendo o brilho da vida. Ela estava morta.
Foi só então que Lois apareceu na porta, armada e determinada. A cena diante dela era um pesadelo, mas não havia tempo para hesitar. Com um grito de determinação, ela disparou. O som do tiro ecoou pelo estúdio, e Charlie caiu, a faca ainda em suas mãos, agora sem vida, ao lado de Mary.
As mãos dos dois se entrelaçaram involuntariamente, como se mesmo na morte quisessem permanecer juntos, unidos em seu destino trágico.
Lois, respirando pesadamente, observou a cena diante dela, o horror refletido em seu rosto. —— Como Romeu e Julieta —— murmurou, a ironia de sua observação não perdida em meio ao luto.
A tragédia de dois amantes perdidos em sua própria escuridão, consumidos pelo desejo, pela dor e pela impossibilidade de se libertarem de seus demônios.
Lois se aproximou lentamente, o coração pesado com a perda de vidas que poderiam ter sido salvas. A realidade do que aconteceu ali a assombraria para sempre.
—— Lois.
No mesmo instante, Lois ouviu alguém chamar seu nome, e ao se virar para os corpos, ficou paralisada ao ver Mary se levantando, com uma expressão que misturava dor e determinação. Antes que pudesse processar o que estava acontecendo, Mary cravou a faca diretamente em seu peito.
A dor foi instantânea e aguda, um choque que reverberou em todo o corpo de Lois. Seus olhos se arregalaram enquanto a realidade se tornava cada vez mais distante. O calor do sangue escorrendo, misturando-se com suas lágrimas, parecia um pesadelo que não poderia ser real. Lois caiu, seu corpo colidindo com o chão, e antes de sua mente ser tomada pela escuridão.
E, no final, tudo o que restava era a escuridão.
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