13. O diabo não se esconde mais.
Maldito é o homem que confia no diabo, maldito é o próprio diabo por perturbar os fiéis da terra. Mary caminhou de volta ao seu quarto com passos leves, mas seu coração era um tambor no peito, batendo acelerado após o encontro pecaminoso com o padre Charlie. O silêncio do convento era profundo, mas a tempestade dentro dela não cessava. Ao cruzar a porta, atordoada e ofegante, Mary se ajoelhou no chão frio, sentindo o peso de algo maior que ela.
Com mãos trêmulas, puxou a velha caixa de debaixo da cama, a mesma que guardava seus segredos mais obscuros, e a abriu com raiva. As velas, cuidadosamente roubadas, foram jogadas sobre a cama, rolando como testemunhas de sua alma perturbada. Ela olhou para elas, mas não era a luz que buscava — era algo mais sombrio. Mary não acreditava que o diabo a possuía, mas havia momentos, como este, em que sentia o controle escapando de suas mãos. Como se, em seus gestos e desejos, algo nele a comandasse, sussurrando promessas doces de libertação, mesmo que fosse pela perdição.
Ela observou as chamas que ainda não tinham sido acesas, sentindo o calor de uma presença invisível. A escuridão não vinha de fora, ela estava dentro dela — silenciosa, implacável, esperando.
Mary acendeu uma das velas e, em silêncio, observou a cera derretendo lentamente, escorrendo pelas bordas como lágrimas silenciosas. O calor a atraía, uma presença constante, quase reconfortante. Lentamente, ela passou os dedos pelo fogo, sentindo a leve queimadura acariciar sua pele. A dor era quase prazerosa, como se cada pequena queimação a trouxesse de volta ao controle, um lembrete de que ainda podia sentir algo além do caos em sua mente.
Com um movimento deliberado, tirou todas as roupas, ficando apenas com o sutiã branco de sua lingerie, um contraste de pureza com a escuridão crescente dentro dela. Suas pernas se abriram, e ela olhou fixamente para o fogo, sentindo o poder dele sobre sua pele. Rapidamente, levou a vela até o meio de suas pernas, pressionando-a contra a coxa interna. O calor começou a queimar, uma dor intensa que subiu por seu corpo, fazendo-a arfar.
A sensação era ao mesmo tempo de tortura e liberação, como se, através da dor, ela pudesse expiar algo que nem sabia nomear. A chama tremulava no silêncio do quarto, e Mary permaneceu ali, sentindo cada segundo, cada gota de cera, se transformando em uma comunhão sombria entre corpo, fogo e alma.
Mary começou a recitar em voz baixa, quase como um mantra, as palavras que ecoavam em sua mente. —— 'Assim, façam morrer tudo o que pertence à natureza terrena de vocês: imoralidade sexual, impureza, paixão, desejos maus e a ganância, que é idolatria' —— As palavras saíam de seus lábios como se fossem uma invocação, um feitiço destinado a expulsar a escuridão que a dominava.
Enquanto sentia a cera quente escorregar pela sua coxa, a dor se tornava um eco de sua luta interna. A queimação era intensa, mas não a fez chorar; nunca aprendeu a chorar. Em vez disso, ela absorveu a dor, a transformou em uma espécie de purificação, como se cada gota de cera que caía representasse um pedaço de sua antiga vida, uma nova forma de expiar seus pecados.
A chama da vela, dançando com a brisa, parecia entender sua agonia. Mary se via presa entre dois mundos: um, onde a luz da fé prometia redenção; o outro, onde a escuridão a atraía com promessas de liberdade. As palavras que murmurava tornavam-se um lembrete de suas próprias fraquezas, mas também de seu desejo de renascimento, mesmo que pelo caminho da dor.
—— Deixe tudo isso para trás —— ela sussurrou para si mesma, enquanto a queimadura de cera a ancorava à realidade, desafiando a escuridão que a cercava. Ela sabia que, apesar de tudo, ainda havia um fio de esperança. A liberdade, embora dolorosa, poderia vir através da purificação.
(...)
Charlie permaneceu no quarto, os pensamentos tumultuados se aglomerando em sua mente como nuvens escuras. Ele olhou fixamente para a cadeira onde Mary havia se sentado, a imagem dela ainda gravada em sua mente, misturando-se ao horror do que havia acontecido. O peso da realidade o atingiu como uma onda, e ele suspirou pesadamente, perguntando-se como havia sido capaz de se enganar por tanto tempo.
Com um gesto automático, sua mão foi até debaixo da cama, onde escondia o chicote. O objeto de couro estava frio ao toque, um lembrete constante de suas convicções e de sua necessidade de punição. Ele hesitou por um momento, a dúvida se espalhando por seu peito. Mas logo, o desejo de expiar suas fraquezas se sobrepôs ao medo.
Ele puxou o chicote com firmeza, sentindo a textura familiar contra suas palmas. Levantou-o lentamente, a respiração se tornando irregular enquanto a realidade do que estava prestes a fazer se instalava. Com um movimento rápido, ele fez o chicote descer contra suas costas, o estalo do couro contra a pele ecoando no silêncio do quarto. A dor cortante fez seu corpo tremer, mas, de alguma forma, era um alívio. A dor era um análogo para o que ele sentia por dentro, uma forma de expulsar a culpa e a confusão que o atormentavam.
Cortou sua pele novamente, o calor do sangue se misturando com a ardência da dor, e sentiu um breve momento de clareza. Mas a paz foi breve, logo sufocada por pensamentos sobre Mary e a escuridão que parecia cercá-la. Ele não conseguia entender como havia se deixado levar por ela, como seu corpo e mente haviam cedido à tentação.
—— Maldito seja o que me trouxe até aqui —— murmurou para si mesmo, a raiva se transformando em um sussurro de desespero. O chicote voltou a descer, e ele se entregou ao seu ritual, como se cada golpe fosse uma tentativa de resgatar uma parte de sua alma perdida, uma tentativa de expurgar o que havia se tornado em nome de uma devoção que, àquela altura, se sentia cada vez mais distante.
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