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09. Devoção proibida.


                         A luz suave da manhã filtrava-se através das janelas do santuário, iluminando os rostos concentrados de Mary e das outras irmãs enquanto elas organizavam o espaço para a missa. O aroma fresco das flores que Mary arrumava se misturava ao cheiro sutil da cera das velas, criando uma atmosfera de devoção e serenidade.

Enquanto arrumava um elegante arranjo de flores do jardim — lírios brancos e rosas — uma das irmãs, Irmã Catherine, entrou no santuário com um semblante preocupado. —— As velas do armazém acabaram —— disse ela, a voz cheia de frustração. —— E nós compramos um lote novo ontem! Quem será que está roubando as velas?

As outras irmãs pararam por um momento, olhando umas para as outras, o clima de apreensão pairando no ar. Irmã Agnes, uma mulher de olhos azuis penetrantes e postura firme, cruzou os braços e franziu a testa. —— Isso é inaceitável. Alguém deve saber quem está fazendo isso.

Mary, em seu canto, deu de ombros, desviando o olhar enquanto continuava a ajustar as flores, sua mente já longe. —— Talvez tenhamos apenas perdido a conta —— respondeu ela, tentando soar desinteressada, mas a sensação de culpa a invadiu por um instante. O pensamento de que as velas pudessem estar sumindo por causa dela a incomodava, mas ela rapidamente afastou a ideia.

—— Roubando velas? Isso é ridículo —— disse Irmã Agnes, balançando a cabeça. —— Se continuar assim, teremos que começar a fazer um inventário. O que estamos fazendo para a missa, afinal? Estamos aqui para servir a Deus, não para perder as coisas.

As irmãs continuaram a debater, mas Mary apenas escutava, perdida em seus próprios pensamentos.

Assim que terminou de arrumar tudo, Mary se retirou do santuário e voltou para o seu quarto, a exaustão tomando conta de seu corpo. Assim que se jogou na cama, a sensação do colchão macio contra sua pele a fez suspirar aliviada. Porém, logo sentiu um impacto leve em seu pé. Ao olhar para baixo, percebeu que a caixa que havia escondido abaixo da cama havia se deslocado, batendo contra seu calcanhar.

Irritada, ela deu uma batida na caixa, empurrando-a para o fundo do espaço estreito, desejando que aquilo não estivesse ali, lembrando-a de seus segredos. Mas, ao fazer isso, ouviu um som característico — o tilintar de uma vela rolando pelo chão. O coração dela acelerou por um momento, e a tensão tomou conta do ambiente.

Com um revirar de olhos, Mary se levantou e foi atrás da vela que estava agora parada, brilhando sutilmente sob a luz fraca que entrava pela janela. Era uma vela comum, mas a lembrança de como a havia obtido a fez sentir um misto de culpa e excitação. Ela a pegou, observando a cera ainda quente, lembrando-se do ato furtivo que a levara a tê-la.

—— Ótimo —— murmurou para si mesma, segurando a vela entre os dedos. Mary não se sentia mal por ter roubado; na verdade, o ato parecia dar-lhe uma sensação de liberdade, uma forma de escapar das correntes invisíveis que a prendiam.

Decidindo que não era hora de se deixar consumir por arrependimentos, ela colocou a vela de volta na caixa, ocultando-a mais uma vez sob a cama. Com um último olhar em direção ao seu esconderijo, Mary se jogou de volta na cama, a cabeça cheia de pensamentos conflitantes.

(...)

Conforme a tarde se desenrolava, uma luz dourada invadia o convento, projetando sombras longas e suaves pelos corredores. Mary vagou sem destino, sua mente inquieta, quando seus olhos se fixaram em uma porta entreaberta que levava a uma sala particular. O silêncio do espaço era acolhedor, mas, ao mesmo tempo, havia uma energia palpável que a atraía.

Curiosa, Mary se aproximou e espiou para dentro. Charlie estava lá, concentrado em sua atividade. Ele pedalava vigorosamente em uma bicicleta de exercícios, o suor escorrendo por sua testa, enquanto suas feições expressavam determinação e foco. Ele falava para a câmera, suas palavras fluindo com um entusiasmo contagiante que parecia emanar do próprio coração. Megan havia mencionado que, antes de ser padre, Charlie era personal trainer e gravava vídeos motivacionais para os fiéis, e ali estava a prova de sua antiga vida.

A visão dele, tão dedicado e tão longe da figura austera que frequentemente via na igreja, a intrigou. O jeito como seus músculos se moviam, a paixão em sua voz — tudo isso a deixou hipnotizada. Ela sentiu uma mistura de admiração e confusão, como se visse um lado de Charlie que poucos conheciam.

Mary ficou parada ali, envolta na penumbra, absorvendo cada palavra e cada movimento dele. A atmosfera parecia carregar uma tensão quase elétrica, como se um fio invisível os ligasse. Mas, antes que Charlie pudesse notar sua presença, um impulso súbito a fez recuar. Um frio na barriga a levou a se afastar, como se o espaço entre eles fosse sagrado, um território que ela não tinha permissão para cruzar.

Afastando-se da porta, Mary sentiu um misto de frustração e alívio. A cada passo que dava, Mary se lembrava de sua promessa de controlar a escuridão dentro dela. Sabia que, se permanecesse perto de Charlie, aquela parte sombria poderia se revelar, poderia ganhar vida e dominá-la de uma maneira que ela não estava disposta a enfrentar. A ideia de que ele poderia ser um alvo da sua própria luta interna a assustava.

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