06. Entre a cruz e o desejo.
Se o diabo é real, ele não poupou esforços para atormentar as madrugadas de Mary, transformando cada noite em um ciclo interminável de angústia e desespero. Ela se levantou de repente, os olhos ainda pesados de sono, apenas para perceber que a escuridão ainda dominava o mundo lá fora. O silêncio da noite era opressivo, quebrado apenas pelo som acelerado de seu coração, pulsando em seus ouvidos.
Suada após um pesadelo constante que a deixara em um estado de pânico, Mary passou a mão pelo próprio corpo nu, sentindo a pele úmida, como se tivesse sido mergulhada em água fria. Seus cabelos, também molhados, colavam-se à pele, e ela sentiu um arrepio correr pela espinha. A sensação era desconfortável e perturbadora, uma lembrança do que havia sonhado — uma trama de escuridão que nunca a abandonava completamente.
Ela respirou fundo, tentando se acalmar, e levantou-se, ainda sem roupas, enquanto a frieza do quarto a envolvia. A pressão do pesadelo parecia querer arrastá-la de volta, mas, decidida a escapar daquela sensação sufocante, Mary apanhou uma camisola qualquer do cabide. O tecido leve deslizou sobre sua pele, proporcionando um alívio momentâneo, mas não suficiente para afastar os ecos de sua mente.
Com passos cautelosos, ela saiu do quarto, a porta rangendo suavemente ao abrir. O corredor estava envolto em sombras, mas a luz da lua filtrava-se por pequenas janelas, iluminando seu caminho. Mary sentia que precisava de ar fresco, uma brisa que pudesse levar embora os demônios que a assombravam.
Ela desceu as escadas, cada degrau fazendo um leve barulho sob seus pés descalços, ecoando na solidão do convento. Ela se dirigiu à enorme cozinha tradicional, suas mãos tremiam levemente enquanto ela abria o armário à procura de um copo, os olhos varrendo o ambiente em busca de alguma presença invisível.
O ar estava pesado, e Mary conseguia sentir a presença do diabo à espreita, como se estivesse logo atrás dela, observando cada movimento, aguardando a chance de se manifestar. Era uma sensação sufocante, como um véu de escuridão que envolvia seu corpo, fazendo com que a respiração se tornasse difícil. De repente, ela ouviu algo como um sussurro, uma voz suave e venenosa em seu ouvido, um murmúrio inaudível que a fez fechar os olhos e balbuciar com desespero.
—— Vá embora... vá embora...
Mary, ainda nervosa com a presença perturbadora que sentia à espreita, tremia enquanto enchia o copo com água. Suas mãos instáveis, porém, traíram seu nervosismo, e quando se virou para Charlie, uma sensação de susto a fez apertar o copo com força demais. A água escorreu de suas mãos, derramando-se rapidamente sobre sua camisola branca, encharcando o tecido leve e transformando-o em uma tela translúcida.
Ela ofegou levemente ao perceber o que havia acontecido.
Sua camisola agora colava-se ao corpo, revelando com clareza as curvas de seus seios, o tecido fino acentuando os contornos de sua pele sob a luz fraca. O ar entre eles pareceu congelar por um instante. Mary, em um reflexo automático de pudor, tentou cobrir-se com os braços, abraçando seu corpo na tentativa de esconder a visão exposta. Mas era tarde demais; Charlie, parado a poucos passos de distância, fixava o olhar diretamente nela, incapaz de desviar, ele nem ao menos queria desviar.
Charlie permaneceu imóvel, os olhos absortos pela cena à sua frente, os seios de Mary bem marcados em sua camisola fina, seus peitos marcados e as areolas mais escuras chamando atenção.
Tentando recuperar o controle da situação, Mary murmurou uma desculpa apressada e deu um passo para trás, mas antes que pudesse cobrir-se completamente, Charlie avançou. Sua mão, firme e inesperada, agarrou delicadamente o braço de Mary, afastando-o de seu corpo.
—— Tome cuidado —— disse ele, a voz baixa e carregada de um misto de preocupação e algo mais, algo que ele não ousava nomear.
Charlie, por fim, soltou o braço de Mary, mas não sem antes deixar uma última advertência pairando no ar. —— Não deixe que o mal se aproveite de sua fraqueza. —— Mas enquanto ele falava, era impossível não sentir que, naquele momento, ele também lutava contra seus próprios demônios. O seu próprio desejo.
(...)
Charlie voltou ao seu quarto como se estivesse fugindo de algo. O silêncio do convento ao seu redor era sufocante, mas nada comparado ao caos que fervilhava dentro de sua mente. Cada passo que ele dava no corredor parecia ecoar, não apenas nos ouvidos, mas também em sua consciência. A imagem de Mary, molhada, com a camisola colada ao corpo, estava cravada em sua mente de uma maneira que ele não conseguia apagar.
Quando a porta do quarto se fechou atrás dele, Charlie arrancou a túnica apressadamente, como se quisesse se livrar de tudo que pesava sobre ele – não só o tecido, mas também a culpa, a tentação, a batalha interna. Despiu-se completamente, sentindo o frio do ambiente contrastar com o calor de seu corpo. Ele caminhava pelo quarto pequeno, os pés descalços tocando o chão frio, tentando organizar os pensamentos, tentando não pensar nela. Mas era inútil.
Por fim, ele se sentou na beirada da cama, os ombros caídos em derrota, a mente travada em uma luta que ele já sabia ter perdido. O desejo que tentava reprimir, aquela força primitiva que crescia dentro dele, não seria domado com simples orações ou atos de contrição. O suor começava a se formar em sua testa enquanto ele fechava os olhos, tentando afastar a imagem de Mary, mas a imagem retornava, mais forte e mais nítida do que antes.
Sem perceber, suas mãos desceram por seu corpo, movidas pelo desejo que ele se recusava a admitir. Charlie se tocou, se masturbou desesperadamente como se seu corpo fosse explodir. Ele sabia que aquilo era errado, sabia que estava cedendo ao pecado da carne que sempre pregava contra, mas naquele momento, o desejo venceu sua fé.
No auge de seu prazer solitário, Charlie não ousava admitir em quem ou no que estava pensando, mas o calor crescente em seu corpo não deixava dúvidas. O momento de entrega foi breve, e logo o arrependimento veio com uma força esmagadora. O prazer deu lugar à vergonha, e Charlie caiu para trás na cama, o peito arfando enquanto o peso de seu pecado caía sobre ele como uma pedra.
Ele olhou para o teto, ainda nu, e murmurou uma prece rápida e sem convicção, tentando encontrar alívio no perdão divino. Mas, naquele instante, o arrependimento parecia muito mais forte do que qualquer sentimento de redenção. O diabo, pensou ele, havia se infiltrado em seu coração, e a batalha, que antes ele achava que poderia vencer, agora parecia perdida.
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