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˖࣪ ❛ NONA TEMPORADA
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DOIS MESES APÓS O ACIDENTE
— Bom dia. Primeiro dia de volta, querida. — Mark deu um beijo na bochecha de sua esposa sonolenta. — Excitada?
Helena gemeu um pouco ao ser acordada, virando-se na cama para beijar os lábios do marido. — Ah, eu acho. — ela soltou a voz sonolenta.
— Tem certeza que quer voltar tão rápido? Ainda vou ficar em casa por mais duas semanas, ainda não tenho autorização para voltar ao trabalho. — Mark questionou, enquanto a garotinha esfregava os olhos.
— Sim, eu... Arizona precisa de alguém que ela conheça para administrar o serviço de pediatria. — ela explicou enquanto se levantava da cama, vestindo uma camiseta velha.
— Não foi isso que eu perguntei, boneca. Você quer? — ele corrigiu, enquanto Helena ia até o guarda-roupa, tirando alguns jeans e um moletom.
— Eu... — ela parou, enquanto olhava para a parede. — Eu realmente não sei mais o que quero. — então, ela se voltou para Mark, com um pequeno e doce sorriso. — Mas estou pensando que talvez voltar ao normal ajude. E-eu simplesmente não consigo mais ficar deitada na cama o dia todo, só pensando nisso.
— Ok. — Mark concordou, embora seus olhos estivessem cheios de preocupação.
A garotinha se aproximou dele, dando um beijo em seus lábios. — Agora volte a dormir. Você acabou de receber alta, precisa descansar. Vou chegar mais cedo em casa para te levar na fisioterapia, ok?
— Eu te amo, Lee. — ele exalou. Desta vez, estava preenchido com algo mais, algo como 'obrigado por não estar morto'.
— Eu também te amo. Me ligue se precisar de alguma coisa.
★
No almoço, Helena sentou-se com Meredith e Jackson, comendo sua salada enquanto murmurava. — É tão estranho. Eu meio que esperava que todos ainda estivessem aqui quando eu voltasse.
— Eu sei. — Meredith riu. — Tem sido assim nos últimos dias, está muito quieto.
— É como se metade de nós tivesse ido embora. — Jackson concordou. — Primeiro Cristina, depois April...
— Você realmente está deixando o estagiário feliz? — Alex perguntou, sentando ao lado do grupo e conversando com a loira.
— Ah, isso é hoje? — Helena se animou em sua cadeira. — Quero dizer, é apenas o terceiro dia dos estagiários, certo?
— Sim, bem, o nosso estava no nosso primeiro turno. — a loira encolheu os ombros, antes de se virar para o residente ortopédico. — Ciúmes?
— Ele está muito ocupado apenas cuidando dos estagiários. — Jackson brincou, um pequeno sorriso se formando nos lábios de Helena. — Acho que algumas coisas nunca mudam, né?
— Você vai se despedir do seu fã-clube antes de ir embora? — Meredith perguntou, Alex respondendo de volta.
— Eu estive me despedindo o dia todo. — ele deu um soco no outro homem. — Elas vão ficar tristes em me ver partir, talvez você precise se apresentar, Avery. Conforte-as um pouco.
— Sem segundos desleixados para mim, obrigado. — Jackson atirou de volta.
— Você é um cirurgião. Poderia muito bem aproveitar as vantagens.
— Oh, veja, isso é simplesmente errado. — Helena reclamou, dando mais uma mordida na comida. — Parece muito com abuso de poder.
— Qual é, Lena. Ele não transou com ninguém desde Lexie. — Alex encolheu os ombros, fazendo o ar ficar mais denso enquanto Helena se reajustava na cadeira. — Desculpe, Mer.
Abaixo da mesa, Helena bateu suavemente o joelho na loira, em demonstração de apoio.
Por mais que Helena Campos quisesse que tudo fosse igual, certamente não foi.
★
Helena estava recebendo olhares o dia todo. Olhares de pena, de curiosidade, de preocupação. Olhares de todos. E tudo o que ela pôde dizer foi que certamente não foi agradável. Ela se acostumou com alguns olhares, teve uma namorada aos dezesseis anos e estava filmando, afinal.
Mas esses olhares eram demais. Eles eram como passar por sua tristeza e dor enquanto eram observados por todos.
Além de Arizona e Mark, ela era a única que ainda não tinha voltado a trabalhar. Ela teve que tirar uma folga, primeiro por causa da fome e da privação de sono, depois porque Mark estava em coma e, finalmente, porque ela não estava em estado emocional para voltar. Não depois de perder o bebê, a amiga e quase perder o marido.
Então ela ficou em casa.
Ela foi ao enterro de Henry, a coisa mais difícil que já teve que fazer. Para ver o pequeno caixão em que seu corpo estava e as lágrimas que caíram dos olhos do marido quando ela conversou com ele depois.
Mark não pôde comparecer ao enterro, ainda estava muito fraco. Ela não poderia convidar seus amigos para irem com ela, não depois de tudo que eles passaram também. Então Helena foi sozinha e, quando desabou, não havia ninguém para segurá-la.
Quando a menina mostrou a Mark uma foto de seu filho, a pedido dele, ela pensou que seu coração iria explodir com o aperto. Helena não via Mark chorar com frequência, não daquele jeito, e ficou arrasada ao ver o homem que ela amava naquele estado. Agora, os minúsculos caixões que atormentavam seus sonhos não eram apenas de seus pacientes.
Então, sua família lhe fez uma visita. A mãe e o irmão ficaram alguns dias, Ana cozinhou para eles quando Helena mal conseguia sair da cama e Mark ainda estava internado no hospital. Ela a abraçou e confortou como quando ela era criança, e Daniel dormiu em sua cama como quando eles eram pequenos. Foram juntos visitar Mark, pois Helena apreciava a companhia. A família também conheceu Alice e a bebê ficou encantada com a avó e o tio. Ela até deu os primeiros passos, perto do seu primeiro aniversário.
Meredith e Cristina também já tinham ido visitá-la diversas vezes, primeiro a loira, depois de receber alta, depois a morena, depois de sair do estado em que o acidente a deixou. Mesmo assim, elas perceberam que não era a mesma coisa. Não foi a mesma coisa para nenhum deles, todos perderam muito. E quando Cristina partiu para Minnesota, elas ficaram com festas dançantes do FaceTime.
Um dia antes de Mark voltar para casa, porém, Helena prometeu a si mesma que se recomporia. O amor de sua vida passou pela mesma perda que ela, e ele teve o peso adicional de ter sido terrivelmente ferido. Então ela precisava ser forte por ele, precisava cuidar do marido.
Agora, ela passou o dia tentando evitar os olhares que todos lhe lançavam, tentando evitar os sussurros que a seguiam.
E ela estava fazendo isso. Ela estava praticamente cuidando do serviço de pediatria sozinha, estava voltando ao trabalho e indo bem. Quase a ajudou a ignorar a dor em seu coração, aquela que se tornou sempre presente.
Até que ouviu uma enfermeira que havia saído de férias perguntar como estava seu bebê, presumindo que a médica já tivesse tido seu filho. Com isso, ela teve que pedir licença e correu para o armário de suprimentos mais próximo, com lágrimas nos olhos.
Fechando a porta atrás de si e encostando-se nela, lágrimas quentes caíram dos olhos de Helena, sua mão indo para a barriga.
Porém, percebendo uma forma sentada perto dela, Helena rapidamente enxugou os olhos, murmurando. — Ah, me desculpe, eu não sabia... Callie? — ela perguntou, reconhecendo a mulher.
E, enquanto um soluço saía dos lábios da amiga, Helena sentou-se ao lado dela, as duas de mãos dadas e choraram no almoxarifado.
★
— Você está indo? — Helena perguntou, sentada na sala dos atendentes, quando Alex entrou.
— Sim. Já adiei Hopkins uma vez, eles não vão esperar para sempre. — ele encolheu os ombros, aproximando-se da máquina de café.
— Acho que é justo que eles não percam dois companheiros para o Seattle Grace... — a garota da camisa murmurou, olhando novamente para o artigo que estava lendo.
Os dois caíram em um silêncio desconfortável por um momento, o som da máquina de café funcionando era o único na sala.
— Uh, você não veio me ver... — a garotinha sussurrou, levantando os olhos da mensagem. Sua voz era baixa, quase tímida. — Depois do acidente, quando fui internada, você não veio me ver, nem uma vez.
Com isso, Alex deixou a cabeça cair ligeiramente para frente, exalando antes de se virar para encarar a garota. — Eu não... Eu não sabia como.
— Como? — Helena franziu as sobrancelhas, balançando a cabeça. — Eu-eu estava neste hospital...
— Não, quero dizer... Olha, eu me sinto um lixo. — ele soltou, largando sua caneca de café. — Eu deveria estar no avião, não você. Robbins me expulsou para que você pudesse vir. E-e eu não sabia como... Como ver você depois disso. Achei que você ficaria chateada.
Com isso, a expressão de Helena suavizou-se, enquanto ela inclinava a cabeça. — Você deveria ter vindo... Eu não estou brava com você, eu só... Bem, na verdade, estou brava por você não ter aparecido. — a garota olhou para a mesa, remexendo-se levemente. — Todo mundo fez isso, sabe? April e Jackson estavam lá, até mesmo Callie e Owen, cujas esposas também estavam no acidente. E-e depois que Meredith e-e Cristina tiveram alta, elas foram me ver no quarto de Mark, antes ele acordou e me visitou em casa. Nós cuidamos um do outro... Todo mundo estava lá. E-e você é um dos meus melhores amigos, mas não era.
— Eu simplesmente não sabia como encarar você, Lena. Eu pensei que você fosse me culpar. Quer dizer, o que eu deveria dizer? 'Sinto muito que você estivesse no avião que caiu, em vez de mim'? — ele encolheu os ombros, esfregando o queixo.
— Qualquer coisa, Alex. — Helena murmurou, sua voz suave e ofegante. Ela balançou a cabeça, com lágrimas nos olhos. — Eu tive Henry sozinha. Tive que ir ao enterro dele sozinha, porque todos ainda estavam lidando com sua própria dor, e meu marido estava em coma. Eu acordaria. Você poderia ter dito qualquer coisa, Alex. Eu só precisava de alguém para estar lá.
Com isso, Alex simplesmente sentou-se ao lado da amiga, colocando um braço em volta dos ombros dela. Ele ficou sem palavras quando Helena apoiou a cabeça em seu ombro.
— Desculpe. — Alex se desculpou, sem palavras. — Eu deveria estar lá.
Eles ficaram em silêncio por um momento, desta vez confortavelmente, antes de Helena falar com uma visão. — Você está indo.
— Eu estou. — ele assentiu. — Eu simplesmente não posso continuar sendo o cara que deveria estar no avião que caiu.
— Você está indo embora. Todo mundo está indo embora e todo mundo está morrendo. — a garotinha sussurrou.
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9ª temporada, episódio 3
— Derek Shepherd: múltiplas fraturas com lesão do nervo mediano. — o advogado deles começou, Derek, Meredith, Helena e Mark sentados na sala de conferências, junto com Owen, representando Cristina, e Callie, representando Arizona. Do outro lado da longa mesa, o advogado da companhia aérea escutava. — Arizona Robbins: fratura exposta do fêmur com resultante amputação acima do joelho. Mark Sloan: lesões resultando em tamponamento cardíaco. Cirurgia cardíaca aberta seguida de coma curto. Lexie Gray: falecida. Henry Sloan: natimorto.
O advogado continuou falando, Helena olhando para seu colo, onde segurava com força a mão de Mark, pois prestava pouca ou nenhuma atenção ao que estava sendo dito.
— Como vai a investigação? — Derek perguntou, chamando a atenção de Helena.
— Eles descobriram o que causou o acidente? — Meredith tentou.
— A investigação pode levar anos. É por isso que queremos ajudá-lo a deixar essa tragédia para trás. — o advogado da empresa explicou.
— Acho que você quer dizer que seus clientes gostariam de deixar isso para trás. — o advogado do hospital respondeu.
— Portanto, estou autorizado, neste momento, a propor um acordo único. — o homem sugeriu, passando um papel com o valor escrito para Derek. — A Bayview Aeronautics leva a sério sua perda. Agora, o acordo deve ser unânime e liberou a Bayview Aeronautics de toda e qualquer outra reivindicação, conhecida ou desconhecida. Mas, o mais importante, permitirá que você deixe esse período doloroso para trás e sigam em frente com suas vidas.
Quando o papel chegou a Helena, a menina ainda agarrada ao marido, seus olhos se arregalaram com a quantia proposta. Ela respirou fundo, fechando o jornal, antes de limpar a garganta, com a voz embargada. — Meu filho morreu. Isso não é algo que você... Deixa para trás.
★
— Como foi a fisioterapia hoje? — Helena perguntou naquela noite, com a cabeça apoiada no peito do marido, na cama.
— Foi... Fisioterapia. — ele encolheu os ombros, com uma risada seca. — O médico confirmou que poderei voltar ao trabalho na próxima semana, conforme previsto.
— Bom. — a baixinha sorriu. — Você acha que deveríamos fazer isso? Aceitar o acordo, quero dizer?
— Eu não sei... — ele suspirou. — Quero dizer, é muito dinheiro.
— P-poderia ser ótimo para Alice, ela não teria que fazer empréstimos estudantis... — a garotinha encolheu os ombros. — M-mas nós não... Isso significa que eles não vão investigar o que aconteceu. Isso significa que pode acontecer novamente.
— Você acha que não deveríamos fazer isso? — Marcos questionou.
— Não sei. — concluiu Helena, após um momento de silêncio. — Devíamos ir dormir.
— Ok, querida. — Mark concordou, reposicionando-se no travesseiro.
— Luzes acesas? — a baixinha confirmou, o homem assentindo.
— M-me desculpe, eu só...
— Eu sei. — ela deu um beijo em seus lábios, antes de deixar a cabeça cair, enquanto os dois se embalavam até dormir.
★
Na manhã seguinte, Helena sentou-se à mesa da sala do atendente, examinando um prontuário.
— Ei, Alex. — Meredith gritou, entrando na sala. — Por que um estagiário acabou de me elogiar pelas sancas da minha casa vazia? Você ainda está dormindo por aí?
Alex deveria ter ido para Hopkins. Porém, no último momento, ele mudou de ideia e decidiu ficar. Mesmo que ele se recusasse a admitir, eles sabiam que era porque Callie precisava dele, com tudo o que estava acontecendo.
— As garotas gostam mais daqui do que da sala de plantão. — Alex encolheu os ombros, colocando um pouco de leite em sua caneca.
Com isso, Helena torceu o nariz, trocando um olhar com Bailey.
— Ok, isso é nojento! — a loira reclamou. — Agora preciso arrumar o lugar. Devolva minha chave.
— Ei, vocês! — April saiu, entrando no quarto com uma mala. — Você acredita que estamos na sala de atendimento?
— Ah, Keps. — Helena lançou um sorriso para a amiga, levantando os olhos do prontuário. — Como foi o vôo?
— April?! — Meredith soltou. — O que você está fazendo aqui?
— Hunt a contratou de volta. — a morena baixinha explicou, tendo mantido contato com a mulher.
— Ele, uh, veio e me pegou na fazenda em Moline. — a ruiva explicou, sorrindo. — Eu estava dando o café da manhã aos porcos, quando me virei e lá estava o Dr. Hunt, me oferecendo meu emprego de volta. Ele não contou a vocês?
— Alguém mais viu o Dr. Hunt no curral? — Meredith questionou, brincando.
— Quando ele apareceu para você, ele estava brilhando? — Alex se juntou a nós.
— April? — os olhos de Jackson se arregalaram quando ele entrou na sala.
— Hunt a contratou de volta. — Meredith contou a ele.
— Ou foi Jesus. Pode ter sido Jesus. — Helena brincou com um sorriso divertido nos lábios.
— Eu pensei que você estava indo para Tulane? — a ruiva inclinou a cabeça.
— Sim, uh, eu mudei de ideia. — Jackson encolheu os ombros, a tensão entre os dois era palpável.
Sim, Helena teria que repreender Jackson novamente por ter dormido com April, ela pensou.
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— Recebi sua mensagem, o que temos? — Helena perguntou a Callie, entrando no pronto-socorro.
— Garoto de 16 anos, tirou-a do som, acidente de barco. — a residente da ortopedia informou a ela, com Alex ao seu lado, trabalhando com sua mentora durante o dia.
Ao pegar uma bata de trauma, Helena viu uma estagiária tentando pegar uma, passando-a para ela com um sorriso rápido.
Indo para a área das ambulâncias, ela notou a garota a seguindo, franzindo as sobrancelhas. — Você também está com a Dra. Torres? Ela já não tem estagiário?
— Sou sua estagiária por hoje, Dra. Campos. — ela disse a ela, colocando as luvas junto com Helena.
— Oh, desculpe. — ela balançou a cabeça. — Qual o seu nome?
— Jo Wilson. — ela se apresentou.
— Legal. — Alex soltou, ficando entre Helena e Callie. — Eu gosto de garotas com nomes de meninos.
— Alex! — a baixinha repreendeu, enquanto o estagiário de Callie, um garoto negro e alto que Helena não conhecia, sorria.
— O que? — ele questionou. — Sim, está quente.
— Pare de dormir com suas colegas de trabalho. Ou, bem, pelo menos pare de dormir com as estagiárias. — Helena soltou, franzindo as sobrancelhas.
— Sim, isso as arruina. — Callie concordou.
— Eu dormi com você. — ele atirou de volta.
— E agora não durmo mais com homens. — Callie disse a ele, fazendo Helena rir.
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— Ela mexeu os dedos dos pés! — Jo soltou um suspiro de entusiasmo enquanto levavam a adolescente para a sala de cirurgia. — Com um pé quase decepado, então o nervo tibial provavelmente ainda está intacto, certo? Então, Dra. Torres, você acha que pode realmente salvar o pé?
— Bem, quando chegarmos lá e fizermos alguns testes nervosos, poderemos avaliar melhor os danos. — Callie contou a ela.
— Falei com os pais dela. O vôo deles chega hoje à noite. — Shane Ross, o outro estagiário, falou.
— Ótimo. Você quer entrar? — Callie perguntou.
— Isso aí! — eles soltaram quando entraram no elevador.
— Wilson, vou precisar que você monitore meu pré e pós-operatório. — Helena pediu, dentro do elevador também.
— Uh, mas eu esperava, já que fui eu quem viu os dedos dos pés se moverem... Eu esperava que eu... — a estagiária tentou.
— Sinto muito, mas preciso que você...
— Você precisa que eu monitore seu pré e pós-operações. Entendi. — ela aceitou, seu rosto caindo, enquanto ela suspirava.
Quando as portas do elevador se fecharam, Callie virou-se para a amiga. — Você poderia ter deixado ela entrar ou ficar lá atrás e observar...
— Por que ela faria isso? — Alex zombou, na parte de trás do elevador.
— Porque ela tem alegria! — Callie encolheu os ombros. — Eu gosto de alegria. Excitação, felicidade, pessoas olhando para mim como se eu soubesse das coisas. Ela praticamente gritou quando mencionei testes de nervos.
— Callie, eu simplesmente não... Eu precisava que ela cuidasse do pré e pós-operatório. — Helena esfregou a testa, fazendo Callie franzir as sobrancelhas para a amiga.
Helena se sentiu mal por não ter deixado a garota entrar, mas ela realmente não podia deixar de receber uma ajuda extra. Não quando ela dirigia todo o departamento de cirurgia pediátrica, sem ajuda.
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— Acho que devemos resolver... — Mark disse à esposa, que alimentou Alice com seu jantar entre mordidas.
— Você faz? — Helena questionou, franzindo as sobrancelhas.
— É muito dinheiro. — ele encolheu os ombros. — Devíamos tirar um tempo de trabalho, viajar, talvez passar algum tempo em Portugal com Alice e sua família... Além disso, não fazer um acordo significa, o quê? Anos de litígio e milhares de dólares procurando respostas?
— E-eu não sei... — Helena exalou, sorrindo como seu bebê enquanto a alimentava.
— Você não acha que deveríamos? — Mark tentou.
— E-eu não sei, Mark! Eu não sei. — a baixinha contou a ele. — Não sei se consigo.
Os dois ficaram em silêncio por um tempo, a sala se encheu de um pouco de tensão, antes de Mark falar. — Você vai precisar chegar cedo amanhã, de novo?
— Eu penso que sim. — Helena assentiu. — Sinto muito, é só que esse novo pediatra não faz nada, basicamente estou mandando administrar todo o departamento além da minha bolsa e...
— Ei, eu sei, querida. — Mark sorriu suavemente para ela. — Você está tentando manter o departamento de Robbins funcionando para quando ela voltar. Eu sei.
— Obrigada. — ela disse a ele, dando um beijo rápido em seus lábios. — Obrigada pela compreensão.
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Helena passou por um posto de enfermagem na manhã seguinte, quando Jo se aproximou dela, oferecendo. — Eu comprei um café para você.
— Ah, uau. Obrigada. — a menininha sorriu, tomando um gole da bebida enquanto se concentrava novamente em sua papelada.
— Tem um sorriso bonito. — a estagiária disse a ela, fazendo a colega sorrir, um pouco sem jeito.
— Obrigada. — ela soltou.
— E, uh... Simplesmente lindos, uh, olhos. — com isso, Helena congelou, levantando os olhos do prontuário. — Sabe, se você tomar uma bebida mais tarde ou, eu conheço esse lugar mexicano...
— Ok, ok, ok, por favor, não. — Helena riu sem jeito, virando-se para a estagiária, com o rosto ficando vermelho. — Você está flertando comigo. E-e se eu achasse que fosse genuíno, seria muito gentil, mas eu diria a você que sou casada e feliz. Mas, bem, acho que você não gosta de mulheres, porque você parece com medo de que eu diga sim, então acho que você já ouviu falar que sim. Então, por que você está flertando comigo? — ela deixou escapar, claramente desconfortável.
— Eu estava me perguntando se seria possível participar da próxima cirurgia. — a garota tentou.
— Olha, Wilson, eu agradeço o café, mas realmente não posso. — ela balançou a cabeça, suspirando enquanto fechava o prontuário. — Ok, bem, primeiro, eu não troco cirurgias sexuais. Nem por qualquer coisa, na verdade, eu faço cirurgias quando sinto que deveria fazê-las. Segundo, não é que eu não queira que você se envolva, realmente não é. Mas eu realmente preciso que você fique por dentro das minhas operações pré e pós, ok? Então tudo que posso fazer é pedir que você assista da galeria no seu tempo livre e certifique-se de cuidar do que eu pedi para você.
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— Você poderia ter deixado ela vir aqui um pouco... — Callie disse a Helena, enquanto elas saíam da cirurgia. — Quero dizer, você adorava trazer estagiários para a sala de cirurgia, o que aconteceu?
— O que aconteceu é que estou me afogando agora, Callie. — Helena riu tristemente, olhando para a amiga. — O que aconteceu é que eu tenho quarenta pacientes em meu serviço e estou administrando todo o setor de pediatria porque os novos pediatras que atendem não têm noção. O que aconteceu é que estou tentando manter o serviço de sua esposa funcionando para quando ela voltar, então eu entro todas as manhãs às cinco da manhã e saio depois do expediente. — ela continuou, com lágrimas nos olhos. — O que aconteceu é que perdi meu filho há menos de um mês e quase perdi meu marido, então agora não durmo mais, mesmo no pouco tempo livre que tenho. Sinto tanta falta de Henry que mal consigo respirar. E nem consigo dizer ao Mark o quanto estou sobrecarregada porque, caramba, ele acabou de sair do coma, não posso preocupá-lo agora. Estou me afogando, Callie, tentando manter tudo sob controle. Então, por favor, não me diga que eu poderia ter deixado Wilson entrar, porque não pude. No momento, preciso de toda a ajuda possível para me manter à tona.
★
— Eu não posso fazer isso, Mark. — Helena disse a Mark, no corredor do lado de fora da sala de conferências. — Eu não posso aceitar o dinheiro. Se fizermos um acordo, então eles podem nunca consertar o erro que cometeram. I-isso pode acontecer de novo, com outra pessoa. E eu não posso... — ela se interrompeu, mordendo o lábio inferior enquanto para evitar soltar um soluço. — Não posso deixar ninguém passar por isso, se eu puder evitar.
— Você tem certeza, Lee? — Mark questionou, inclinando a cabeça. — Essa quantia de dinheiro não é apenas algo de que você se afasta...
— Eu sei disso, querido. Eu sei. — ela suspirou. — Mas eu não posso... Nós não podemos fazer isso.
Seguiu-se um minuto de silêncio, onde os olhos de Mark percorreram o rosto de sua esposa.
— Ok. — ele concordou. — Então não concordamos.
Mark deu um beijo na testa de Lena, antes de pegar a mão de sua esposa, ao entrarem na sala, onde todos já estavam sentados.
— Então, todos nós concordamos que... — Meredith começou.
— Não, não. Espere. — Helena murmurou, sentando-se ao lado do resto dos médicos. — Se concordarmos em chegar a um acordo, eles fazem a investigação, mas não há nada que possamos fazer com os resultados.
— A Bayview Aeronautics aceitará os resultados e agirá de acordo. — o advogado da empresa tentou.
— Porque as grandes empresas são sempre muito boas no autopoliciamento. — Mark soltou, em defesa de sua esposa, enquanto segurava a mão dela. Mesmo que a crise tivesse colocado alguma tensão no relacionamento deles, eles eram uma frente unida.
— Erros acontecem, Lena, Mark. — Callie argumentou. — Cometemos erros que também podem custar vidas.
— Nós fazemos, sim. — Helena concordou, balançando a cabeça. — Mas então temos M&M, analisamos os arquivos, garantimos que isso nunca aconteça novamente. Garantimos que outros nunca terão que passar por isso, pela mesma dor. — ela encolheu os ombros, com lágrimas nos olhos. — Nós simplesmente não podemos...
Quando a voz de Helena falhou, a garota escondendo o rosto com a mão, Mark finalizou por ela, com um aperto reconfortante em sua mão. — Não podemos ficar parados vendo isso acontecer com Lexie e Henry de outras pessoas.
— Se eu interromper por um momento... — o advogado do hospital tentou.
— Fique quieto. — Meredith pediu.
— Sua decisão tem que ser unânime. — ele terminou.
— Ela disse para ficar quieto. — Owen argumentou, sua voz áspera.
— Eles estão certos. — Derek tentou, enquanto Helena tirava a mão do rosto, demorando um segundo para se recompor. — Temos que consertar isso.
— Torres? — Mark gritou. — O que você está pensando?
— Meu conselho neste momento... — o advogado recomeçou.
— Cale-se! — tanto o ruivo quanto a loira estalaram.
— Você não é um de nós. — Callie virou-se para a mulher, com a voz embargada. — Você não tem ideia do que estivemos... — ela levou a mão à boca quando um soluço a interrompeu, fungando. — Os Sloan estão certos, não deveríamos aceitar o dinheiro. Não podemos aceitá-lo. — ela concluiu, entregando a papelada do acordo. E todos os médicos a seguiram.
Eles não desistiriam. Não importa o quão difícil parecesse continuar lutando.
★
— Você bipou, Dra. Campos? — Jo perguntou, aproximando-se de sua atendente no posto de enfermagem.
— Eu fiz sim. — ela lançou-lhe um sorriso rápido. — Você vai passar comigo amanhã. Dez da manhã.
— Ah, isso é ótimo. Obrigado! — o rosto da estagiária se iluminou. — Você não precisava de mim para manter o controle de suas operações pré e pós-ou algo assim?
Com isso, a atendente encolheu os ombros, concentrando-se novamente em seu prontuário com um sorriso. — A enfermeira Polly me deve alguns favores. Agora, estude e esteja pronta para amanhã. Não se atrase.
★
— Oi. — Helena sorriu ao entrar no apartamento de Callie e Arizona, a loira em sua cadeira de rodas. — Desculpe, eu sei que é um pouco tarde e fiquei preso no hospital, então...
— Está bem. — Arizona brincou, sua voz um pouco monótona, a mesma dos últimos dois meses.
— Então, eu trouxe os filmes de hoje, Albert da radiologia deixou que eles os levassem para casa novamente. — ela sorriu, com os lábios apertados, sentando-se no sofá. — Uh, eu fiz o transplante intestinal do Stuart hoje, o garoto que chegou apenas três dias antes... — Helena se conteve, mordendo o interior da bochecha. — De qualquer forma, correu tudo bem, e a comida favorita dele é pizza havaiana. Você sabe, para que possamos conseguir para ele quando ele finalmente conseguir lidar com sólidos...
— Ok. — a loira assentiu, fracamente.
Houve um momento de silêncio, Helena se mexendo na cadeira, antes de tirar um raio X da bolsa. — Ah, e aqui está a evolução da coluna da pequena Annie.
— Bom. — Arizona assentiu mais uma vez, enquanto Helena mordia o interior da bochecha.
— U-uh, você tem certeza de que não quer que eu traga nenhum gráfico para que você possa dar uma olhada neles, só para mantê-la informada? — a morena murmurou, tentando ajudar.
— Não, eu não quero olhar para eles, Helena. — a loira respondeu asperamente, fazendo a garotinha estremecer levemente. — Não quero olhar os gráficos e não quero ouvir histórias intermináveis sobre as crianças. Eu disse que queria que você me mantivesse informada, não que repassasse todos os detalhes de cada dia comigo, pelo amor de Deus! Não quero ficar me lembrando que talvez nunca mais consiga operar, ok?
Com isso, Helena piscou rapidamente, mordendo o interior da bochecha. — Ok, desculpe. Eu pensei que poderia ajudar, pensei que você queria que eu fizesse isso, sinto muito, eu entendo.
— Ah, você entende? — a mulher mais velha zombou, sua expressão fria. — Você entende o que é ter um membro arrancado do corpo, não poder nem ir ao banheiro sozinha? Você entende o que é não saber se algum dia poderá fazer uma cirurgia novamente o- ou levar sua filha ao parque, ou buscá-la no berço? Você entende isso?! — Arizona falou com raiva na voz, quase gritando com Helena.
— Você não pode falar comigo desse jeito, Arizona! — Helena disse a ela com firmeza. — Eu sei que você está sofrendo, eu sei que isso é difícil para você, mas você não me desrespeita assim. Tenho trabalhado muito por você, para manter seu departamento funcionando. Voltei ao trabalho mais cedo do que queria, mais cedo do que eu estava pronta, porque eu sabia que você precisava de mim. Eu venho todos os dias, mesmo quando estou exausta, passei um tempo longe da minha família, porque você precisava de mim. Mesmo que para você seja indiferente, porque eu sei que você precisa de alguém. — ela explicou, seu tom áspero e repreensivo, mas não um grito. — E posso não entender o que é perder uma perna, mas sei o que é perder um filho e quase perder meu marido. Sei o que é perder meu bebê. — uma lágrima rolou por sua bochecha enquanto Helena falava. — Tudo por causa de um vôo em que você me colocou. Eu não te culpo, eu nunca poderia, mas você não pode dizer isso, não quando você me trouxe no vôo desnecessariamente, um vôo que eu não deveria ter feito. Mesmo assim, sacrifico meu bem-estar para manter o departamento de pediatria igual para quando você voltar. E, com toda a honestidade, eu cortaria minha própria perna a qualquer momento, se isso significasse que meu Henry estaria seguro. Então você não pode falar assim comigo, Arizona.
Quando Helena terminou, algumas lágrimas quentes caindo em seus olhos, os lábios de Arizona tremeram, uma lágrima escorrendo por sua bochecha.
Percebendo o que ela havia dito, os olhos de Helena se arregalaram enquanto ela respirava fundo. — Arizona, eu não quis dizer isso, eu...
A loira balançou a cabeça, mais calor nos olhos do que Helena viu nos últimos meses. — Não, você está certa. E-eu não fui justa com você.
— Olha, eu não queria culpar você, eu-eu não. E me desculpe, não quero dizer que seus problemas são menos... — a morena tentou.
— Não, não se desculpe. E-eu... Eu honestamente precisava disso. — Arizona soltou uma risada triste. — Eu tenho... Tenho sido péssima. Tenho estado muito presa em meus próprios problemas para perceber o quanto você está fazendo por mim. Obrigada.
Helena se reajustou por um momento, engolindo em seco e deixando o silêncio se estabelecer entre elas. Então, ela falou, sua voz ofegante e suave. — Você tem sido meio idiota.
E, com isso, Arizona sorriu. O primeiro sorriso brilhante e característico que Helena via de sua mentora em meses
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