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˖࣪ ❛ SÉTIMA TEMPORADA
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[Menções de tiro]
HELENA E CRISTINA caminharam até o posto de enfermagem no saguão do hospital, ambas folheando revistas de casamento. Desde que Cristina e Owen decidiram se casar, após o tiroteio, as duas se ajudaram nos preparativos do casamento. Ou, sinceramente, Helena estava ajudando Cristina, que fingia se importar.
A verdade é que a baixinha não tinha conseguido fazer muito mais no trabalho, já que ainda não havia sido liberada para a cirurgia. Então ela folheou revistas de casamento e escolheu flores e paletas de cores, na esperança de voltar ao que amava em breve.
— Derek foi preso. De novo. — Meredith disse a seu povo, saindo do elevador por seu marido.
— Ameaça imprudente.
— Meredith, por favor... — o homem perguntou.
— Ele já perdeu a licença? — Cristina perguntou, levantando os olhos de sua revista enquanto seu braço estava entrelaçado com o de Helena.
— Não, porque eles não o acusam, porque os policiais o idolatram. — a loira revirou os olhos.
— Porque eu salvei algumas de suas vidas. — Derek deu de ombros, tirando o colete.
— O que estamos escolhendo? — a loira perguntou às noivas.
— Cor do vestido. — Helena cantarolou, erguendo os olhos da revista.
— Não estou vestindo branco. É sexista e... Vagamente racista. — Cristina reclamou enquanto eles continuavam andando. — Sem branco, sem véu, sem arroz.
— Bem, o que sua mãe vai dizer? — Meredith perguntou.
— Nenhuma mãe. — Helena explicou, rindo. — Não estou usando véu, mas quero usar o branco. O problema é qual branco. Você sabia quantos são? Tem branco diamante, pérola, marfim, champanhe...
— É por isso que fiz um casamento post-it. — Meredith riu do olhar perdido de sua amiga, virando-se para Derek. — Sabe, eu não fui liberada para a cirurgia e tenho certeza que a culpa é sua.
— Meredith, eu sou o chefe, posso anular o conselheiro. — o homem disse a ela, indiferente.
— Eu amo o azul. — a loira apontou para um vestido na revista de Cristina, a baixinha cantarolando em concordância.
— Chefe Shepherd, você voltou! — April soltou, juntando-se a eles. — Encontrei um cordoma gigante com base em um crânio, o maior que já vi. Entrei no pronto-socorro com dificuldade para respirar.
— Você foi liberada para a cirurgia? — Helena perguntou a sua recente amiga.
— Eu fui.
— Cadela. — Meredith riu, tendo se aproximado de April durante as filmagens.
Ao entrarem no saguão, uma multidão começou a aplaudir, e Derek se aproximou das cadeiras.
— Não recebemos uma salva de palmas. — Helena brincou enquanto ela e suas amigas ficavam ao lado de Mark.
— Obrigado. Muito obrigado. — Derek disse a eles. — É, uh, é ótimo estar de volta. Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao Dr. Webber por intensificar minha ausência. Sou grato a todos vocês, por todo o apoio durante minha recuperação. Obrigado... É muito bom estar de volta como Chefe... Estou grato pelo, uh... — ele parou, olhando para o CT em suas mãos. — Sinto muito, isso é mentira. — diante disso, Helena franziu as sobrancelhas, erguendo os olhos da revista. — É o que as pessoas dizem e... Uh, a verdade é... Eu odeio ser chefe. Eu odeio isso. Chefe Webber... Chefe Webber é nosso chefe. E me desculpe bater neste gigante... Eu tenho para dar uma olhada neste cordoma. Me desculpe, mas eu desisto. — Derek terminou, a multidão começando a sussurrar entre si.
— Hum... Isso foi... Inesperado. — Helena olhou para o noivo, que olhou para suas costas antes de soltar uma risada.
— Ele simplesmente desistiu. — ele apontou, a garota baixinha deixando escapar uma risadinha.
——
Helena sentou-se em círculo com outros residentes e seu conselheiro de trauma, Dr. Perkins. Ela olhou para o chão, enquanto distraidamente prendia um prendedor de cabelo contra o pulso, a pele abaixo dele vermelha e marcada.
— Alguém tem algo a dizer? — perguntou o Dr. Perkins. — Eu sei que muitos de vocês só estão aqui porque foi ordenado. Então, vamos conversar. — a sala estava silenciosa, a tensão perceptível. — Nada mesmo?
— Comi um taco muito bom, de um daqueles caminhões na beira da estrada. — Cristina falou, Meredith e Helena olhando para ela com as sobrancelhas franzidas.
— Quando? — a loira perguntou.
— Ontem, antes de Lena receber alta. Vocês duas estavam dormindo no quarto de hospital dela. — ela explicou, Helena cantarolando enquanto estalava a gravata de ar.
— Qual caminhão? O da sétima? — Jackson perguntou.
— Eu quero ir, eu gosto de tacos. — Alex deu de ombros.
— Eu também. — April concordou.
— Eu leio um livro. — Lexie falou, a sala ficando em silêncio. — Sobre a história de assassinatos em massa nos Estados Unidos. Sabe, esse é o nome real do que aconteceu conosco, foi um assassinato em massa. Você não pode chamá-lo de ataque terrorista porque os assassinatos não eram de natureza política. E não fomos vítimas de um assassino em série porque o Sr. Clark teria que matar várias pessoas por mais de trinta dias para se qualificar como um assassino em série. — sua perna saltava para cima e para baixo enquanto ela falava, Helena ouvindo, hipnotizada, enquanto puxava o elástico do cabelo com mais força contra sua pele. — Você poderia chamar isso de assassinato em série, que é definido como mortes em dois ou mais locais, sem interrupção ou pausa no meio, porque o Sr. Clark atirou naquele cara em seu carro antes que ele chegasse aqui. Não tenho certeza se isso conta como um segundo local verdadeiro, pois era tão perto do hospital. O que significa que somos um assassinato em massa, porque aconteceu em um lugar, por uma pessoa, e mais de quatro pessoas foram mortas.
Quando Lexie terminou de falar, a sala ficou em silêncio mais uma vez, Helena olhando de volta para seu colo. Ao fazer isso, no entanto, ela notou uma pequena quantidade de sangue saindo do lado de seu pulso. Respirando fundo enquanto franzia as sobrancelhas, ela tirou um lenço de papel do bolso, aplicando pressão na ferida que ela não sabia que havia causado a si mesma.
——
Helena estava sentada nos túneis, comendo uma salada enquanto folheava outra revista de casamento com Cristina, espremida entre ela e Jackson.
— Eu gosto de casamentos. — o homem disse a elas. — Eu faço uma dança de galinha malvada.
— Oh, não haverá dança da galinha. — Cristina corrigiu. — E se você começar uma linha de congo, eu vou te expulsar fisicamente.
— Você pode dançar galinha no meu casamento, JacksOn. — Helena riu, dando tapinhas nas costas do menino em seu rosto desanimado.
— Acabei de ir ao refeitório e uma enfermeira me chamou de Reed e disse 'Achei que você tivesse morrido'. — April disse a eles, quando se juntou a eles nos túneis.
— Sim, você não vai almoçar no refeitório. Eles apenas apontam e ficam olhando. — Lexie disse a eles, Helena dando tapinhas no lugar ao lado dela para April se sentar.
— É por isso que você pintou seu cabelo? — Jackson perguntou, a mulher ficando loira.
— Eles olham porque deveríamos ter morrido. — Cristina disse a eles, Helena ficando tensa enquanto engolia em seco.
— Você embala seu almoço, guarde-o em seu armário. — Helena falou enquanto terminava de comer, agarrando o elástico do cabelo e prendendo-o contra a pele, sem perceber.
Quando Alex se juntou a eles, mostrou-lhes sua permissão para operar, com um sorriso nos lábios.
— Você está brincando comigo? Você foi liberado? — Meredith perguntou.
— Depende de vocês, Lena e Yang. — ele riu, sentando-se ao lado deles.
— Não é engraçado. — Helena respondeu secamente.
— Perkins não é bobo. Ele pode ver a loucura logo abaixo da superfície de Meredith Grey. — Cristina brincou.
— Mais uma vez, Cristina. Não é engraçado, porque você também não vai ser inocentada. Nós três vamos servir raspadinhas no multiplex. — a loira disse a eles.
— Realmente? — Cristina franziu o nariz. — Eu escolheria a dermatologia ao invés do multiplex.
— Eu me tornaria uma médica de família ou algo assim. Talvez um pediatra... — Helena deu de ombros. — Pelo menos eu não teria que desistir da medicina.
— Eu escolheria Ginecologia sobre Dermatologia ou Pediatria. — Jackson disse a eles, colocando uma uva na boca.
— Claro que sim. Pervertido. — a mulher de cabelos cacheados brincou.
— Eu acho que eu iria com psicologia. — Lexie soltou, todos olhando para ela com preocupação. Helena e Mark tiveram que interná-la no andar psiquiátrico, depois que ela teve um colapso no pronto-socorro. — Isso foi uma piada. — ela revirou os olhos, todos soltando uma risada aliviada.
— De qualquer forma, não sei qual é o problema de Perkins comigo. — Meredith suspirou.
— Talvez ele tenha visto seu arquivo? — Helena sugeriu.
— Talvez ele conhecesse sua mãe. — Alex deu de ombros.
— Talvez ele tenha ouvido como você disse ao atirador para atirar em você. — Jackson apontou, a morena baixinha dando-lhe um olhar furioso.
— Não é engraçado. — Meredith acusou.
— Não é uma brincadeira.
Só então, Bailey se aproximou deles nos túneis, a loira soltou. — Dra. Bailey!
— Bem vinda de volta. — Helena sorriu para ela, junto com April.
— Você está bem? — Alex perguntou.
— Estou feliz em ver todos vocês. — ela disse a eles, antes de iniciar um discurso. — Karev, há um paciente no 2304 que precisa de uma endoscopia. Grey, Yang e Campos, com certeza seu contracheque cobre mais do que enfiar a cara no porão. Vá para a clínica. — ela instruiu, as três garotas se levantando enquanto caminhavam pelo corredor.
De repente, Cristian falou, seu tom um pouco preocupado. — Bebê Einstein, você está sangrando.
— Oh. — Helena soltou, olhando para o antebraço pingando sangue, do local que ela estava coçando. — E-eu devo ter me cortado em algum lugar, não se preocupe. — ela sorriu sem entusiasmo, pegando um curativo para estancar o sangramento.
——
Enquanto Helena caminhava pelo corredor, ela podia sentir seu coração bater mais rápido e suas mãos começarem a suar. Ela estava no trabalho há alguns dias e, até aquele momento, evitava a área de pedestres como uma praga.
Hoje, porém, ela tinha um paciente, o que significava que isso não era mais possível. Mesmo que ela não pudesse operar, ela ainda poderia assistir à cirurgia da galeria e fazer pré-operatórios e pós-operatórios.
A consulta foi boa. Ela acompanhou Arizona e conseguiu manter a calma, como se estivesse em qualquer outro lugar. Porém, assim que saíram do quarto e tiveram que caminhar até o posto de enfermagem, Helena começou a ficar cada vez mais ansiosa.
Enquanto ela conversava com a atendente loira, ela tentou manter a calma, até que elas chegaram ao corredor do lado de fora da sala de jogos, o corredor em que ela havia sido baleada.
— Lena? Você está bem? — ela perguntou, franzindo as sobrancelhas. No entanto, uma vez que ela percebeu onde elas estavam, seu rosto caiu em compreensão. — Oh.
Na cabeça de Helena, ela estava deitada no chão, em uma poça de seu próprio sangue. Em sua cabeça, Gary Clark disse a ela que era sua culpa que Alice havia morrido, uma arma apontada para sua cabeça. Em sua cabeça, Helena viu o corpo da garotinha, seu ursinho de pelúcia rasgado.
— Sim, estou bem. — ela respondeu, simplesmente, um arrepio percorreu sua espinha enquanto se forçava a andar com as pernas bambas, sem perceber que estava mais uma vez cutucando a ferida que se formara em seu pulso.
——
— Eu não posso acreditar que não estou lá embaixo. — Meredith sussurrou para Helena enquanto assistiam à cirurgia de Derek.
Foi em um cordoma enorme, Mark e Callie tendo que ajudar, pois tiveram que separar a mandíbula do menino para isso.
— Eu sei... — Helena concordou, suspirando enquanto assistia a cirurgia de seu assento, entre Meredith e Cristina. — Quero dizer, sou perfeitamente capaz de voltar à sala de cirurgia. Eu disse a Perkins que estou lidando com isso, ele simplesmente não parece querer ouvir... Oh, legal. — eles separaram o paladar do menino.
— Não acredito que não estou lá embaixo! — Meredith repetiu, claramente frustrada, enquanto lançava um olhar preocupado para Cristina.
A mulher estava sentada na galeria com seu pessoal. No entanto, ela não olhou para a cirurgia, seus olhos não se ergueram de sua revista de casamento.
Nenhuma delas estava bem. Helena sabia, Cristina sabia e Meredith sabia, mesmo que não quisessem admitir. Desde que Helena teve alta, elas passaram praticamente todos os dias juntas. Quando não estavam com os namorados, ficavam uma com a outra, cada uma com muito medo de deixar as outras duas sozinhas.
De repente, Meredith estalou, levantando-se de seu assento e agarrando o cotovelo de Cristina. — Levante-se.
— Não! — ela argumentou.
— Levante-se! — Meredith insistiu, praticamente arrastando-a de seu assento. — Você também, Lena, vamos.
Fora da sala, Cristina zombou. — O que há de errado com você?
— Tudo está errado! — a loira explicou, Helena engoliu em seco. — Derek está decapitando um adolescente e April Kepner está ajudando. Lena evitou peds como a praga e você está sentada lendo sobre os malditos lírios do vale!
— Bem, você prefere peônias? — Cristina brincou.
— Eu gosto mais dos lírios, honestamente... — Helena se intrometeu.
— Não somos melhores. A Cristina, uma psiquiatra, em várias oportunidades, considerou-nos inaptos para o nosso trabalho! — Meredith explicou.
— Eu tenho uma reunião com ele, mais tarde. Talvez ele mude de ideia. — a garota baixinha deu de ombros, tentando ser esperançosa.
— Sim, ele vai superar isso. Apenas dê a ele alguns dias. — a mulher de cabelos cacheados sugeriu, erguendo os olhos da revista.
— Você não está melhor!
— Em alguns dias, estarei melhor também. — ela tentou.
— Em alguns dias, você estará casada. — Meredith apontou, Helena começando a coçar a ferida enquanto observava.
— Você está tentando me convencer do contrário? — Cristina perguntou, incrédula.
— Olhe para mim e me diga que você tem certeza. — a loira afirmou.
— Não, você não pode fazer isso. — ela estalou enquanto andava em frustração. — Tudo o que você tem a fazer é me ajudar a quebrar o laço entre os lírios do vale e as peônias. É isso.
— Eu posso fazer isso. Derek pode ser o amor da minha vida, mas vocês duas são minhas almas gêmeas. Eu posso fazer isso. — Meredith acusou. — Por que não pode esperar seis meses?
— Lena vai se casar também! Por que meu casamento é o problema? — Cristina balançou a cabeça.
— Porque ela ficou noiva antes do tiroteio. E você terminou com ele, porque ele não podia te escolher! Por que tem que ser agora? — a loira explicou.
— Você sabe oque eu penso? — Cristina perguntou calmamente, enquanto Helena mudava de posição. — Eu acho que você tem que contar ao Derek sobre o aborto.
— Ninguém precisa fazer nada, só precisamos continuar fazendo terapia... — Helena suspirou.
— Estamos falando de você! — Meredith brincou.
— Se estamos falando sobre não sermos melhores, então você precisa contar a ele.
— Ele não está pronto, ele não está bem.
— Você não está bem, Mer! — Helena deixou escapar, os olhos de sua amiga finalmente voltando-se para ela desde o início da discussão.
— Nem você! — a loira soltou.
— Na verdade, estou indo para a terapia e resolvendo isso... — a garota baixinha explicou. — Estou bem.
— Sim? — Meredith perguntou, agarrando o antebraço de sua amiga. — Então o que é isso?
Olhando para o ponto em seu pulso, Helena notou que a ferida que estava crescendo havia começado a sangrar novamente.
— I-isso é... — a garota baixinha começou, sua voz ficando menos segura.
— Você também não está bem, Lena. Nenhuma de nós está bem. — a loira admitiu, as meninas ficaram em silêncio por um momento, as lágrimas crescendo nos olhos de Helena.
Então, o som de um bipe ecoou pelo corredor, quebrando o silêncio enquanto Helena olhava para ela. — É Perkins, eu deveria ir. Mas, Mer? Você não contar a Derek também não está bem.
——
— Como você está se sentindo, querida? — Mark perguntou a Helena, entrando em seu quarto no dia seguinte ao tiroteio.
— A ferida dói menos. Posso sentar-me confortavelmente. — ela sorriu suavemente, olhando para cima de seu artigo.
— Não é isso que eu quero dizer, querida. Como você está? — ele perguntou, sentando-se ao lado da cama dela.
— Estou bem. — ela assentiu. — Olha, você passou cada minuto entre aqui e o quarto de Derek. Você provavelmente deveria ir para casa esta noite, dormir na nossa cama. Mer e Cristina vão ficar, você não precisa também.
— Eu... Eu não quero te deixar sozinha. Ainda não. — Mark admitiu, agarrando a mão dela com força. — Eu não posso deixar você.
— Eu estou bem, baby. Você não precisa se preocupar, sério. — Helena o tranquilizou, sentindo-se culpada pelo fato de Mark não ter voltado para casa desde o tiroteio.
— Lee... Eu não posso deixar você. Não quando... — ele começou, sua voz quebrada. — Teddy me disse que você levou um tiro. Ela me disse que você levou um tiro e eu corri para cá, esperei no quarto do paciente e vi meu mundo desmoronar ao meu redor. Você estava ferida e não havia nada que eu pudesse fazer para ajudá-la, nada que eu pudesse fazer para protegê-la. Portanto, não posso deixá-la, ainda não. Porque mesmo quando vou verificar Derek, sinto o mesmo medo tomando conta de mim, esse medo de perder você. Então, preciso ficar esta noite, ok, boneca?
Lágrimas encheram os olhos de Mark quando Helena o puxou para um abraço lateral, com cuidado para evitar ferimentos. — Claro, querido. Não vou a lugar nenhum.
E, enquanto se abraçavam, ambos perceberam que nada mais seria o mesmo.
——
Helena estava sentada na frente de Perkins, na sala de conferências, o homem batucando com a caneta enquanto a encarava. A garota baixou os olhos para o colo, sentindo os olhos dele nela.
Depois de alguns momentos, ela falou. — V-você não pode fazer isso, por favor?
— Fazer o quê, Dra. Campos? — o homem perguntou, inclinando a cabeça para ela.
— Olhar para mim assim. Olhar para mim como se estivesse tentando ler através de mim... — ela explicou, baixando a voz para um sussurro. — Isso está me deixando ansiosa.
— Tudo bem. — o homem aceitou, baixando os olhos para suas anotações enquanto Helena se permitia olhar para cima. — Sabe, a maioria dos seus colegas não consegue se expressar tão bem quanto você. É bom que você compartilhe o que está sentindo.
Com isso, a garota baixinha deu de ombros, um pequeno sorriso se formando em seus lábios. — Irônico, já que o inglês não é minha primeira língua... Acho que tenho mais experiência com terapia.
— Isso mesmo, não é sua primeira vez, é? — Perkins concordou, olhando para o arquivo dela. — Eu vi em seu arquivo que você começou a terapia aos dez anos, voltou aos quatorze e novamente aos dezenove. Eu estou supondo que é para sua ansiedade social e PTSD?
— Sim... — ela suspirou, olhando de volta para suas pernas enquanto se sentia exposta.
— Mas, veja bem, o problema é que não acho que você está sendo honesta, mesmo que se expresse bem. Não acho que você esteja sendo honesta sobre tudo o que está sentindo desde aquele dia. — o psicólogo apontou, Helena balançando a cabeça em desacordo.
— Estou sendo honesta.
— Mas você não está. Se você fosse, eu não acho que você teria um curativo sobre seu antebraço ou uma ferida toda vez que eu te visse. Algo está te corroendo. — ele disse a ela, Helena olhando para o braço dela com vergonha. — Então o que é isso, Dra. Campos? — Helena pigarreou enquanto se mexia desconfortavelmente na cadeira enquanto o homem prosseguia. — É o medo? É a tristeza? É a culpa?
Com isso, a garota baixinha respirou fundo, franzindo as sobrancelhas de dor.
— Culpa, então... — Perkins avaliou, balançando a cabeça. — Você sabe, a culpa do sobrevivente é bastante comum em pacientes com PTSD, mas na realidade não é culpa deles. Com a identidade do sobrevivente...
— Não é... Isso. — Helena disparou. — Não é... Algum tipo de culpa enganosa...
— Bem, como você pode ser culpada pelo tiroteio, Dra. Campos? — ele perguntou, a mulher permanecendo em silêncio por um segundo antes de olhar para ele.
— Mas eu sou! — ela soltou quase um grito enquanto as lágrimas brotavam de seus olhos. — Parte disso é. Alice Turner é. Fui eu quem a chamou para o transplante naquele dia, fui eu quem trouxe aqui para o hospital. Quando Ga... Sr. Cla... — ela fechou os olhos, falando respirando fundo. — Quando ele veio para a sala de jogos, ele estava procurando por mim. E-ele queria me matar. Nenhuma das crianças, eu . E-e eu saí para o corredor c-com ele, e-eu não queria qualquer um deles se machucar. — Helena deixou cair uma lágrima, as imagens daquele dia em sua cabeça.
Suas costas contra a parede. A arma apontada para a cabeça dela enquanto ele falava. Seus olhos fechando. Temer. O som daquela voz doce e inocente. O tiro.
— Eu saí para o corredor e p-pedi para ela ficar para trás. M-mas ela não ficou. Alice veio atrás de mim. E-ela chamou m-meu nome, e-eu sou a razão pela qual ela saiu do quarto onde ela estaria segura. — Helena gritou, respirando fundo e se acalmando.
O ursinho de pelúcia rasgou, sangrando. O recheio flutuando no ar. O sangue sob seu pequeno corpo. Seus olhos azuis frios e sem vida. Os soluços que ela embalaram seu corpo enquanto ela olhava para todo o vermelho.
— Eu sou a razão pela qual ela estava naquele corredor, ela veio me procurar. Eu sou a razão pela qual ela levou um tiro, ele mesmo me disse antes de atirar em mim. Foi em mim. Então não fique aí sentado e me diga que não é minha culpa, porque é. Porque você não entende. — havia uma mistura recém-descoberta de raiva e desgosto em sua voz. — Eu sou a razão pela qual ela morreu. Então talvez eu não fale sobre isso, porque eu não consigo nem pensar no meu papel nisso. Porque eu não sei como lidar com o fato de que eu sou responsável pela morte de uma menina tão doce e inocente. — ela respirou fundo quando terminou, enxugando as lágrimas. — Então, sim, não estou sendo 100% honesta, porque sei que não poderia lidar com isso agora.
Helena tirou um lenço da caixa, enxugando-o levemente sob os olhos para enxugar as lágrimas. Ao som de uma caneta rabiscando, ela olhou para cima, vendo o homem escrever em uma folha de papel. Ao terminar, ele o deslizou sobre a mesa, a garota sorridente olhando para o papel amarelo interrogativamente.
— Estou liberado para a cirurgia? — ela perguntou, um pequeno sorriso nos lábios.
— Você está. — o homem assentiu, a garota se levantou enquanto pegava o documento. — Embora eu recomende que você continue com a terapia por um tempo.
— Obrigada, Dr. Perkins. — ela sorriu enquanto se virava para sair da sala.
— Dra. Campos? — ele perguntou, fazendo-a se virar.
— Sim?
— Há apenas uma pessoa responsável pela morte de Alice Turner, e é o homem que atirou nela deliberadamente. É o homem que apontou a arma para ela. Não se esqueça disso. — ele avisou, com um sorriso caloroso nos lábios enquanto a garota lhe dava um aceno com um sorriso triste, saindo pela porta.
★
Cristina estava na cama de Meredith, olhando para o poste de casamento emoldurado da mulher enquanto Helena olhava para ela do chão, com as sobrancelhas franzidas.
— Você vai descer aqui em breve? — a baixinha perguntou, o colar que tinha que colocar em Cristina em suas mãos.
Cristina lentamente virou a cabeça para a morena, zombando. — Não.
— Tudo bem então. — Helena suspirou, levantando o vestido azul escuro para subir na cama. — Então eu estou indo até você, vire-se.
Enquanto a mais velha cedeu, a mais baixa colocou a joia em seu pescoço, com um sorriso. — Estou orgulhosa de você, sabe? Meredith está casada, você vai se casar hoje, eu me casarei em algumas semanas. Estou orgulhosa de nós, de quão longe chegamos das garotas que estavam fora do ano de estágio.
— Também estou orgulhosa de nós. — Cristina admitiu com um sorriso, virando-se enquanto o colar estava no lugar.
Meredith abriu a porta do quarto, parando para olhar para as mulheres na cama quando ela entrou. As duas mulheres mais velhas pareceram ter um pouco de olhar fixo por um segundo, Cristina falando com um beicinho.
— Eu nunca dei a mínima para você sobre o seu post it.
Com isso, os lábios da loira se curvaram em um pequeno sorriso, enquanto ela se aproximava da cama para subir nela também. Helena se moveu um pouco, assim como Cristina, a noiva imprensada entre as outras duas mulheres.
— Você está linda. — Meredith apontou enquanto reajustava o vestido de noiva vermelho de Cristina.
— Eu sei. — ela suspirou, olhando para a porta. — Como está Owen? Ele está bem?
— Owen está perfeito. — Meredith cedeu, fazendo Cristina sorrir. — Ele está perfeito.
— Vamos te casar. — Helena riu, cutucando a amiga levemente.
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