Prólogo
O reino da fantasia se alegrava e comemorava em festa. O vilarejo dançava e cantava cantigas de festejo ao redor do cesto bem tecido e enfeitado com flores selvagens brancas, acomodado sobre um pedestal no centro da praça. As fadas voavam com suas asas coloridas mimando a pequena criança. Uma filha da lua.
A menina pequenina de pele clara e cabelos cor de fogo estava confortavelmente envolvida em seu macio manto branco peludo, dentro de seu cesto feito da prata luminosa da lua. Ela sorria alegremente para o desfile de rostos que a vinham saudar.
A fricção nas cordas dos instrumentos, o batuque ritmado e os sopros melódicos enchiam a noite com um som vívido. O último nascimento de uma criança filha da lua tinha ocorrido há séculos. O reino celebrava as grandes e fartas colheitas que se seguiriam durante toda a vida daquele ser que acabava de chegar ao mundo e acendera a celebração calorosa.
Flutuando sobre a superfície clara do lago das estrelas que caem, o seu berço fora encontrado há dois dias. A criança trazia consigo a magia da abundância e o conhecimento milenar das estrelas. Uma criatura digna de grande respeito no mundo natural. Quando crescesse ensinaria seus conhecimentos ao povo. O dia de seu nascimento seria sempre marcado por festejos e sorrisos no vilarejo.
Os filhos da lua eram cada vez mais raros. O intervalo entre um nascimento e outro se prolongava cada vez mais. O povo natural honraria aquele ser exótico com todo o seu coração. A criança com o espírito da raposa branca nascera. Uma lenda acabava de se tornar realidade diante de seus olhos.
18 anos depois...
O dia hoje amanheceu quente e agradável, com um céu gloriosamente limpo e azul acima de nossas cabeças. O vento fresco trazia consigo a gargalhada dançante das crianças em seu interior. O povo já estava em festa há uma semana. Hoje é o dia em que completo meus dezoito anos. A vila está toda enfeitada de flores e cores, como é feito em todos os anos. Os instrumentos tocam e as pessoas cantam. A música pulsa. Eles estão felizes, dançando e se divertindo, contando histórias sobre mim aos pequenos.
Eu vivo na floresta, a natureza é o meu verdadeiro lar, mas procuro fazer visitas regulares ao vilarejo. Por onde eu passo, as pessoas me tratam com carinho e adoração. Os pequenos alisam o meu longo manto branco peludo com os olhos cheios de curiosidade.
Todos os anos uma grande festa é feita em minha homenagem, mas este ano a celebração é maior. Hoje é o dia especial em que seguirei os passos da tradição, assim como fizeram todos os meus ancestrais. Diferentemente dos demais anos, hoje é o dia em que se realizará o ritual da escolha. Hoje um natural será grandiosamente honrado por mim, Selva, a filha da lua, a grande raposa branca. Eu escolherei um natural para se unir a mim e dividir comigo uma vida.
Eu já estou pronta, os meus cabelos flamejantes foram trançados pelas fadas em intrincadas formas rebuscadas e entremeadas de flores e pérolas. Os meus lábios carnudos brilham em tom vermelho com o presente enviado pelas náiades. Sobre o meu corpo, um vestido leve e rosado, feito todo de velhas asas de borboletas, se acomoda com perfeição.
O grande sábio celebrará o ritual na praça da vila. Todos aguardam ansiosamente para descobrir quem será o grande escolhido.
Eu me encaminho rumo ao meu futuro com passadas firmes. A população aglomerada, que rodeia e enche o local da cerimônia, abre espaço para que eu possa passar com aplausos e largos sorrisos de admiração estampados no rosto. No centro da praça, à minha direita, vejo os homens jovens que estão em idade para serem selecionados ocupando um lugar de destaque. Em fila, com postura elegante e de cabeças erguidas, eles se curvam em mesura quando desfilo diante deles com graça.
Eu já fiz a minha escolha. Nossos olhos são do mesmo tom vivo de verde, mas os dele possuem profundos pontos dourados de ouro, como se o próprio sol beijasse suas íris. Ele é mais jovem do que eu, só tem dezesseis. Ele se formaria daqui a uma semana e daria início à sua jornada, mas agora, o seu destino será estar ao meu lado.
Olho para cima e vejo as sutis mudanças na coloração do manto azul celeste. O dia foi longo e o pôr-do-sol se aproxima. É hora de encerrar a celebração. Paro junto ao velho sábio de cabelos brancos e ele me saúda com um beijo na testa.
— Filha da lua.
— Grande sábio. — faço uma reverência.
— É uma honra para nós, recebê-la em nosso meio. Agradecemos a fartura com que sua existência nos agracia e a sabedoria que partilha com o povo a cada ano.
— Tem sido para mim um prazer. — respondo com um sorriso.
O homem sábio se volta à plateia que observa fixamente e começa o seu discurso.
— Meus filhos. É chegado o momento que todos nós tanto aguardávamos. Selva, a preciosa filha da lua, escolherá para si, no primeiro anoitecer de seus dezoito anos, um companheiro com quem possa dividir o seu caminho. Um dos nossos jovens, hoje, receberá a imensa honra de se tornar seu companheiro.
O povo aplaude e assovia em euforia. O sábio me conduz pela mão até um trono de cobre e rubis, feito em homenagem ao tom quente de minhas madeixas. Ao meu lado, se sentará o meu companheiro e nós seremos carregados num cortejo pela vila.
— Está pronta? — ele se volta para mim.
— Estou. — respondo ao me sentar, fitando aqueles jovens que possuem o seu destino em minhas mãos. A vida de um deles mudará totalmente em alguns segundos.
O sábio ergue uma mão e pede silêncio ao povo, que prontamente obedece. A luz se despede enquanto o céu escurece. O sol está se pondo, o dia se tornando noite.
— Selva, filha da lua. Revele-nos o nome do escolhido que será honrado pelo povo natural nesta maravilhosa celebração.
Todos os olhos estão em mim. A multidão escrutina o meu rosto ansiando pelo som de minha voz.
— Eu, a filha da lua, escolho hoje, o jovem nobre que se unirá a mim. — as palavras rolam em minha língua e dançam quando saem da minha boca. — Gael Ávila.
O público explode em aplausos e vivas ao mesmo tempo em que o mundo do caçador vira de cabeça para baixo. Ele não olha para mim, mas para sua protegida alguns metros à sua esquerda. O semblante dela é de choque. Aquela pirralha loura, mimada e insolente que ele defende tanto! Ele é meu agora, melhor para ela que aceite isso. De agora em diante, o seu protetor pertencerá somente a mim.
O caçador é trazido até onde estou. Ele se curva e se posta sobre um dos joelhos diante de mim. O escolhido aguarda antes de se sentar ao meu lado e começar o seu destino.
— Meu filho — o sábio se dirige a ele. —, a maior de todas as honras hoje lhe sorri. Não mais um caçador, mas o eleito por uma criatura sagrada. O futuro lhe agracia com a dádiva do luar. Agora, declare as palavras que completam o ritual e assuma o lugar que, de agora em diante, é seu por direito. Olhe nos olhos da lua e diga-lhe que neste momento, seus destinos se entrelaçam em um só.
Ninguém ousava pronunciar um som que interrompesse a celebração. Gael ergueu os olhos para mim pela primeira vez aquele dia e sua voz saiu com convicção.
— Eu não posso.
A multidão arfou. O tempo parou. O ar congelou por dentro. A raposa que existe em mim arreganhou os dentes. Os murmúrios indignados e acalorados irrompem de repente. O jovem se levanta e olha para o sábio.
— Silêncio! — o líder ordena, meio desorientado. — Meu rapaz... sabe o que está fazendo? Está recusando a grande honra que lhe foi oferecida?
— Uma honra grande demais, senhor. — ele faz uma reverência. — Maior do que eu poderia carregar. Eu sou um caçador. Quero lutar para trazer a paz ao nosso povo. Quero finalmente conseguir a interrupção da passagem entre os mundos. Não sou digno da filha da lua. Eu não posso oferecer a ela o que ela procura. Eu sinto muito.
O jovem de olhos verdes encerra o que tem a dizer com uma última reverência ao sábio e outra a mim. De cabeça baixa, o caçador espera a ordem para se retirar. Eu me levanto e vou até ele.
Eu costumava vê-lo treinar. Ele é muito bom. Com certeza se sairá bem no planeta Terra, mas... como ele poderia preferir se misturar com os humanos a se unir a mim?! Nenhum filho da lua jamais fora rejeitado antes. Paro diante dele e ele me olha nos olhos.
— Então faça o que nasceu para fazer, caçador. — minha voz é fria como o sentimento que me invade. A vingança é um prato que se come frio.
Ele se retira e eu o observo caminhar para longe. Caçador, caçador. Um dia, vou segurar o seu coração nas mãos, isso é uma promessa. E ele vai sangrar! Você vai chorar lágrimas de sangue e vai pagar caro a humilhação pela qual me fez passar. Pode esperar por isso.
Uiiiiiiiiiiiiii lá vem mais tretaaaaa kkkkkkkkkkkk
Bom dia pessoas lindas!
O prólogo trouxe um pouquinho do passado para vocês. Conheceram a danada branca! Antes que me perguntem, sim, a raposa do final do livro 1 era um rapaz. Qual a ligação dela com a Selva? Isso ainda é segredo. =)
Segunda-feira a história começa de onde paramos, no presente. Vai ter uma surpresa que eu espero muito que vocês gostem.
Se gostou do capítulo, não esqueça de votar na estrelinha. Um monte de bjos e bom final de semana.
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