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34 - Confinamento



— Nós vamos morrer aqui! — Selva começou a se lamentar. — Ainda sou muito jovem para isso. Eu quero viver!

Ramon começou a emitir berros desesperados do outro lado.

— O que está acontecendo? Ramon fala com a gente! — Natan perguntou contra a porta de pedra fechada.

— A porta me trancou aqui sozinho! A passagem para o corredor está fechada e tem um monte de insetos entrando pelas paredes! Eu não quero morrer assim, virando comida de insetos!

— Deve ter alguma alavanca, um buraco, uma pedra saliente, qualquer coisa! — Natan gritou. — Procure nas paredes!

Nós começamos a fazer o mesmo, procurando nas pedras que nos prendiam. Uma engrenagem girou e nós ficamos em silêncio ouvindo o mecanismo funcionar.

— Alguém acionou alguma coisa? — Elisa perguntou.

— Não. — foi uníssono.       

— Encontrei alguma coisa, mas as portas não estão subindo! — o garoto lá fora gritou.

Nessa hora o teto começou lentamente a baixar sobre nós e o chão tremeu.

— Ai, merda! Vamos ser esmagados aqui! Ramon não é essa, tenta outra! — gritei.

Não tem mais nenhuma!

— Continua procurando! — Selva berrou.

— Merda, merda, merda! — Natan apoiou as palmas no teto.

Estava descendo muito rápido. O espaço encolhendo vertiginosamente.

Não encontro nada. Não encontro!

É claro que tentar segurar o teto e empurrar o chão era uma tolice, mas ao menos dava ao cérebro algo para se ocupar. Meus joelhos já começavam a flexionar.

— Anda logo com isso seu mequetrefe! — Elisa berrou. — Se eu morrer aqui juro que vou matar você!

Meus joelhos tocaram o chão. Os cotovelos cedendo e o peso do teto entortando o pescoço para baixo.

— Ramon! — todos gritamos ao mesmo tempo em sincronia.

Mais um estalo e eu fechei os olhos. O peso cessou. Abri uma fresta dos olhos. As lanternas acesas estavam jogadas em um canto, a tocha tinha se apagado na confusão. Não tinha mais som de rocha deslizando contra rocha. Voltei a respirar. Será que iríamos morrer assim? Confinados num espaçozinho minúsculo ao invés de esmagados?

A rocha começou a se mover de novo, raspando uma contra a outra, o meu coração tremeu, só que agora o movimento era para cima. O teto e o chão foram lentamente voltando aos seus lugares de direito e as portas de pedra subiram, abrindo totalmente as duas passagens. Natan encontrou o bastão no chão e o reacendeu na tocha de Ramon que adentrou a nossa sala fugindo dos insetos. Ele se contorcia e se remexia para se livrar dos intrusos, numa dança cômica e desengonçada. Os bichos rastejantes da outra sala seguiam na única direção livre: a nossa.

— A porta do outro corredor está fechada, não podemos voltar. Temos que seguir adiante. — o garoto declarou aos pulos.

— Então vamos logo. — Selva empurrou Natan com a luz para fora daquela sala. — Não gosto nada desse lugar.

Peguei as lanternas perdidas e passei uma à Elisa. Cruzamos a nova porta e seguimos pelo corredor com pressa.

— Tentem não tocar em nada de forma desnecessária. — Natan falou à frente do grupo. — Esse lugar deve estar cheio de armadilhas.

— Ai! — Ramon falou de cara feia, esfregando o lugar dolorido na cabeça.

— O que foi?! Só estava tirando um bichinho! — Elisa olhava para ele se livrando de um inseto.

A loura limpou a gosma de sua mão na camisa do aprendiz com um riso enorme de satisfação pelo tapa que lhe dera. Essa Elisa é mesmo uma peça!

Andamos por algum tempo. O espaço ali era mais amplo que o corredor anterior e muito mais escuro também. A única iluminação agora provinha das labaredas de fogo que carregávamos que deixavam o ar já quente e abafado do espaço, ainda mais quente e abafado, e dos fachos de luz das lanternas. Nada de luz do sol. O medo e a ansiedade conferiam uma noção errada do passar do tempo. O fato de tudo ao nosso redor ser sempre igual também não ajudava muito. Poderíamos estar rodando dentro de um círculo infinito e eu nem notaria.

— É impressão minha ou está ficando mais apertado? — Elisa perguntou.

As paredes pareciam ter começado a se fechar sobre nós, não porque estavam se movendo, mas porque o caminho tinha começado a ficar mais estreito. De repente, muito, muito mais estreito! Rapidamente não só estávamos seguindo em fila indiana, mas como o progresso era feito de lado. Percebi que não gostava de espaços confinados, mais do que eu poderia imaginar. Quando as paredes se colaram tanto à minha coluna quanto ao meu peito, um desespero insano assumiu o controle da minha mente. Era como não ter ar suficiente para respirar. Elisa vinha logo atrás de mim, em último na fila.

— Vai Gael. Você consegue!

— Não dá. Eu não consigo respirar.

— Consegue sim. Abra os olhos e veja como está ofegando. Isso significa que está respirando e muito. Está consumindo muito mais ar do que o restante de nós.

Abri os olhos e me concentrei nas palavras dela. Foco! Preciso de foco! Ela tinha razão, o pavor estava me controlando, eu não estava morrendo sufocado. Engoli e tentei acalmar o melhor que pude a minha pulsação desesperada. A respiração desacelerou um pouco. Não era o bastante, mas já era melhor que nada.

— É muito apertado, eu não vou caber. — falei.

Era tão apertado que o peso do meu corpo não precisava ser sustentado pelos meus pés. Eu nem conseguia entender como consegui ir parar tão fundo naquele beco.

— Não está tão apertado assim. Olha o Natan lá na frente. Se ele passou você passa também. Não deixe a sua mente te dominar.

Certa mais uma vez. Ela tinha razão. Se Natan cabe eu também caibo. Respirei fundo. Eu amo essa garota! Controlei a minha loucura e continuei me arrastando em direção ao fim.

Olá amores!

Esse é o primeiro capítulo de hoje.

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