21 - Escolhas
Sentada à mesa que ficava perto da janela, ao lado da cama desfeita, com o cabelo molhado do banho, olhando o café da manhã, Alma respirou fundo. Observou a paisagem através do vidro e falou:
— Você tem o direito de ir. Não é sua obrigação ficar comigo.
— Por que está dizendo isso? — sentei-me de frente para ela e a pessoa que representava toda a minha vida olhou para mim.
— Foi errado da minha parte esconder o que estava acontecendo de você. Então...
— Nós já falamos sobre isso ontem. Não peça desculpas.
— Gael, eu... — ela analisou o suco dentro do copo. —, quero que você saiba. Eu... sei que eu deveria ter te contado antes, mas... tive meus motivos... e eu quero que você saiba. Você tem o direito de saber.
Por mim as coisas já estavam explicadas e resolvidas, mas Alma ainda não tinha dado o assunto por concluído. Como vou viver sem você, menina linda, sem esses olhos negros que me absorvem? Eu daria tudo para que invertêssemos nossos papéis.
— Tudo bem, eu vou ouvir, então. — falei.
Alma colocou uma mecha de cabelo pesado de água atrás da orelha e seus olhos me tocaram, um pouco constrangidos.
— Eu não queria que você se sentisse obrigado a estar comigo quando eu adoecesse. Foi por isso que eu não queria apresentar você aos meus pais. Não queria prender você a uma situação assim, então... — ela torceu os dedos, um pouco nervosa. — Talvez você achasse que seria melhor se afastar depois que soubesse a verdade sobre mim e eu não queria que um namoro assumido, um compromisso firmado, te impedisse de fazer o que achava que era melhor pra você. Não queria as pessoas falando mal de você se resolvesse partir. E não queria que ficasse por uma obrigação moral.
— É por isso que você me escondeu?! — eu fiquei em choque.
— É. Nunca teve nada errado com você. Gael, você nunca foi inadequado pra mim, como chegou a pensar algumas vezes. Eu só não queria tirar de você o que você nunca teve na vida: escolhas.
Escolhas. Uma palavra tão simples, mas que nunca fez parte da vida de um caçador.
— E você achava que eu escolheria... ir embora?
— Eu não achava isso, eu tinha medo disso.
— Alma... está ouvindo a si mesma? Eu nunca faria isso!
— Mas deveria. — ela falou com firmeza. — Eu estava pensando só em mim mesma. Eu adorava a minha vida e tive medo de perder o que eu tinha. Existia a possibilidade de você escolher não ficar...
— Isso é um absurdo. — protestei.
— ... por mais remota que fosse. — ela continuou. — Então eu escolhi não falar nada para que nada fosse mudado. Eu ia fingir que não tinha nada acontecendo até não poder mais. — Alma deu um sorriso culpado. — Você começou a desconfiar muito mais cedo do que eu esperava.
— Então você realmente acha que eu sou assim? Que eu vou virar as costas, te largar sozinha e me mandar?
— Não, eu tenho certeza que você não vai fazer isso. Eu entendi como estava sendo ridícula quando vi o seu estado ontem. Quando você voltou pra mim mesmo que eu o estivesse matando de dor.
— Eu não tenho escolha. O meu tudo está aqui.
— Eu sei. E foi só depois de parar de ter medo de perder você que eu me toquei de como vou destruí-lo. E honestamente... não sei se vai doer menos ver você assistindo.
— Alma...
— Você tem o direito de fazer o que é melhor para o seu coração, Gael. Eu não quero destruir você e ainda não tinha me dado conta de que estou fazendo exatamente isso.
— Carissimi...
— Você precisa saber que é livre para ir. Você tem esse direito e eu não vou culpá-lo por nada.
Alma ficou me analisando depois disso. Eu tinha duas opções, ambas, aterradoramente devastadoras. Se eu fosse embora, não assistiria aquela criatura definhar, mas perderia ela de qualquer forma, Alma sairia da minha vida ainda mais cedo. Se eu ficasse, passaria mais tempo com ela, mas teria que ver o seu declínio, a sua dor e o seu sofrimento. Como posso assistir ela morrer? Nenhuma das duas opções poderia proteger o meu coração.
— Está me pedindo para partir? — perguntei. — Eu já te disse isso antes. Peça-me... e eu vou.
O coração dela estava em pedaços, dava para ver através dos olhos. Uma luta interna entre o que ela queria desesperadamente para si e o que achava que era o certo para mim. Ela queria que eu ficasse, mas achava que eu deveria ir.
— Mas se não estiver me pedindo... — continuei. — e se a escolha for minha... eu quero ficar.
— Desculpe ter mentido pra você. — uma mistura de culpa e alívio saiu evidente na voz dela.
— Podemos dar esse assunto por encerrado e passar ao próximo?
— Se mais para a frente você mudar de ideia... se você, Gael... não me deve nada.
— E sou livre para ir. — acrescentei. — Agora podemos?
— Sim, senhor. — ela riu.
Eu ja fiz a minha escolha, e foi há muito tempo atrás. Eu escolhi a guardiã no dia em que a vi dançar. Amor e morte. Eu deveria matá-la, mas acabei jogando o seu jogo de amor.
Amor e morte. Na época isso foi uma escolha, hoje não é mais.
Bom dia amados!
Esclarecido o motivo do namoro escondido e de porque ela não contou nada pra ele.
Agora vamos descobrir o que aconteceu naquela árvore. —> próximo capítulo!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro