Ela sentia as pernas a tremer, o coração aos pulos, o suor gelado descer pela curvatura das costas, a garganta tapada e a boca seca, mas iria enfrentar corajosamente aquela situação, pois pelo futuro da sua filha estava disposta a lutar até ao limite das suas forças, mesmo que soubesse, interiormente, que vencer as pessoas mais ricas do mundo não seria tarefa fácil. E era o corpinho quente da sua amada bebê, nos seus braços rígidos, que a mantinham lúcida e inquebrável.
A frescura do automóvel da polícia, causada pelo ar condicionado, enganava-a, por instantes sentia-se confortável e abstraída do que a rodeava. Fechava os olhos, sustinha a respiração e tudo era simples, claro, direto. Mas quando a voz metálica aparecia pelo intercomunicador montado no painel dianteiro da viatura, seguida de estalidos, com informações transmitidas pela central da polícia, despertava do transe momentâneo e recordava-se que estava sob custódia policial, entalada entre dois agentes da lei, no banco de trás de um automóvel que corria pelas estradas da cidade com o sirene aberta a soar estridente.
Estava a ser tratada como uma criminosa e as sensações ruins – as pernas a tremer, o coração aos pulos, o suor gelado, a garganta tapada e a boca seca – regressavam com redobrada intensidade. E continuava a ser o corpinho quente da sua bebê a salvá-la da loucura.
Apesar de os seus protestos continuarem pela estação de comboios afora enquanto estava a ser levada pela polícia, afirmando categoricamente que era a mãe daquela criança, que devia haver alguma confusão, que ela não tinha feito nada de mal, que poderiam fazer os testes que quisessem pois estes haveriam de provar que ela era efetivamente a mãe e que aquela bebê era efetivamente a sua filha, fora completamente desarmada quando, acabados de sair do edifício da estação, um dos polícias aparecera diante dela, empurrando dois rapazinhos. Reconhecera-os, havia sido eles que a tinham seguido na Capsule Corporation. Nesse momento, soubera que estava perdida, que as hipóteses estavam todas contra ela, mesmo que um qualquer exame provasse que ela era a mãe biológica da bebê adormecida que carregava.
- É esta a garota que viste na zona privada da tua casa?
O rapazinho dos olhos azuis e cabelo lilás acenara afirmativamente com a cabeça.
- Hai. É essa mesmo.
O rapazinho dos olhos negros e cabelo espetado também negro acenara que sim e respondera:
- Hai.
O polícia atrás dos meninos sorrira e concluíra com um sorriso que seria de satisfação, mas que a ela lhe parecera malvado, a maneira de um carrasco sorrir antes de desferir o golpe fatal:
- Temos uma identificação positiva. A suspeita foi encontrada. Levem-na!
Entrara no automóvel e o mundo inteiro desabara sobre os seus ombros, numa cascata de entulho que a deixara perdida e temendo pelo futuro da sua bebê.
***
Quando a sirene barulhenta se calou, ela abriu os olhos – não se recordava exatamente de os ter fechado recentemente – e isso significou que tinham chegado à Capsule Corporation. Os dois polícias que a ladeavam saíram ao mesmo tempo do automóvel, deixando-a no banco de trás por um par de segundos, tempo suficiente para que ela entendesse que estava definitivamente condenada. Por sorte, a bebê dormia como um anjo, muitíssimo longe do reboliço e dos problemas. Escutou um grunhido do lado de fora que teria sido uma ordem para que ela saísse e ela obedeceu. Primeiro, não sentiu as pernas, mas descobriu que estava definitivamente em pé ao encarar o enorme edifício amarelo em forma de cúpula, gigantesco, onde se iria desenrolar o último ato daquela peça teatral de má qualidade, que ela não era nenhuma atriz excecional. Era sim, uma sobrevivente, desde que tropeçara nos fatos reais da vida, desde que encontrara aquele maldito homem que a tinha enfeitiçado com os seus olhos cor-de-mel e muito dinheiro.
Reparou no par de rapazinhos que seguiam aos pulos mais adiante e que tinham abandonado outro automóvel da polícia. Ao todo tinham estacionado junto ao grande relvado da Capsule Corporation um total de seis automóveis, um contingente impressionante que teria servido para capturar uma simples jovem mulher e uma bebê. Ou seria um caso de utilização excessiva de meios, ou estavam mesmo decididos a resolver o caso, pois tratava-se da família mais conhecida do mundo inteiro. O que indicava que ela não teria qualquer possibilidade de defesa e sentiu-se a afundar em areias movediças.
- Vamos – disseram-lhe com rispidez. – Temos muito a esclarecer com os Briefs, menina.
Reentrou no imponente átrio e subiram a escadaria até ao piso superior, para onde se dirigiram ao grande salão da casa. O local estava num silêncio quente, agora que a comoção do dia aberto tinha terminado e ela estranhou tanta calma, aquele ambiente quase asséptico. Tinha penetrado num templo exclusivo e iria pagar pela transgressão. A bebê, pela primeira vez, reagiu nos seus braços e ela assustou-se. A sua filha já conhecia aquela casa, sabia-lhe os cheiros e os segredos, sentia provavelmente que pertencia ali.
O salão da Capsule Corporation abriu-se diante dos seus olhos e tinha tanta luz, era tão bonito, amplo e perfeito que ela sentiu-se primeiro encandeada, depois maravilhada, a seguir anestesiada e, por fim, esmagada.
Todos olharam para as portas que se abriam, deslizando, revelando-a na pose ideal de suspeita, acusada, criminosa, condenada, o que fosse. A garota misteriosa, vestida de forma simples e sem maquiagem, com a bebê nos braços, escoltada por um par de polícias vigilantes.
Todos olhavam, de facto, para ela que era, sem qualquer dúvida, o centro das atenções. Uma mulher de cabelos azuis a fumar sentada num sofá, ao lado de uma outra mulher de cabelos negros apanhados num carrapito. Os dois rapazinhos estavam junto ao sofá, acompanhados por um tenente da polícia que escrevinhava num pequeno bloco de notas de capa azulada. Um homem de cabelo grisalho, vestido com uma bata branca de laboratório, também a fumar, com um pequeno gato preto sobre o ombro. Uma mulher loira, de pé ao lado do homem, direita como uma vara comprida, segurava um lenço encostado ao nariz. Ela conhecia-os, menos a mulher do carrapito e os dois rapazinhos. Bulma Briefs, o doutor Briefs e a senhora Briefs.
Assim que ela colocou um pé dentro do salão, a senhora Briefs lançou um grito, correu para ela com os braços esticados:
- Panty!!
Ela estranhou o nome, nunca o tinha escutado antes. Ela não se chamava assim, nem certamente a sua querida filha. Deu um passo atrás com medo, pela primeira vez com verdadeiro medo do que a aguardava.
E então aconteceu algo que a deixou ainda mais alarmada. A sua bebê reagiu com aquele grito. Abriu os olhitos estremunhada, despertava finalmente do seu plácido sono, mexeu-se no amplexo que a protegia e voltou a cabecinha na direção de onde vinha o som. A senhora Briefs agarrou na bebê, mas ela rodou o corpo de maneira a manter a sua filha nos seus braços, não deixando a mulher loira arrebatá-la com a ânsia que demonstrava ter nos gestos desesperados. A bebê imobilizou-se, voltou a cabecinha, olhou-a pestanejando com um toque sedutoramente pueril e os olhos da jovem mulher, da mãe verdadeira, ficaram húmidos de lágrimas. A senhora Briefs indignou-se.
- Oh!
- 'Kaasan, espera!
Bulma tinha-se levantado do sofá e apagava o cigarro num cinzeiro.
- Mas, Bulma-chan...
- Espera. Julgo que precisamos ouvir o que essa garota tem para nos contar. E não estamos a ser bons anfitriões...
Sorriu-lhe afável e ela recuou ainda mais, esbarrando com um dos polícias que estavam atrás dela. Os crocodilos sorriam sempre antes de morder. Bulma indicou-lhe o sofá com a mão.
- Vem sentar-te, por favor. Queremos conhecer a tua história e a história dessa pequenina. Queres alguma coisa para beber? Para comer?
Ela abanou a cabeça.
- Como te chamas?
Mordeu primeiro os lábios. Estava muito nervosa, o medo a arder por dentro como um fogo gelado. A bebê remexeu-se e ela mudou-a de posição, pois se já tinha despertado queria estar sentada no colo, de onde poderia ver o que estava a acontecer. Respondeu a Bulma num tom baixo:
- Hato...
- Bem, Hato-san. Vamos sentar-nos.
Uma vez no sofá, a bebê soltou um gritinho de alegria, começando a parlar. A senhora Briefs ficara amuada e não se sentou com ela e com Bulma, escolhendo regressar para o seu posto de observação ao lado do marido. A mulher do carrapito saíra do sofá e postava-se junto aos dois rapazes que, tal como os demais, incluindo os polícias, esperavam pelo seu relato.
Hato quis engolir a saliva que tinha na boca, mas a garganta estava trancada. O terror era demasiado e a incerteza do que lhe poderia acontecer, o que lhe fariam aquelas pessoas ricas – e ela tinha razões muito fortes para desconfiar das pessoas ricas, pois fora miseravelmente enganada por um homem rico – estavam a massacrá-la insuportavelmente.
Não tinha escapatória e encheu-se de coragem, insuflou os pulmões de ar, a alma de calor e resolveu contar a verdade, pois nunca ninguém fora condenado por contar a verdade.
- Eu sou a mãe dela – começou, estreitando o abraço que mantinha a alegre bebê no seu colo. – Sou a mãe dela... Eu sei que não sou uma boa mãe, nem uma mãe perfeita, porque abandonei a minha filha à porta da vossa casa, mas eu estava desesperada. Já não conseguia sustentá-la, dar-lhe o que uma bebê precisa para crescer saudável, feliz e forte... Perdoem-me por vos ter deixado este encargo, este problema... Sei que criar uma criança não é fácil, mas vocês eram muito conhecidos e... tinham dinheiro suficiente para serem uma excelente família para a minha pequenina. A decisão de deixá-la foi mais difícil do que a decisão de vos escolher. Peço que me perdoem por todo o transtorno que causei. Gomen nasai! – exclamou baixando a cabeça. Fios de lágrimas desceram-lhe pelo rosto agora corado.
Bulma ficou tensa. A primeira intuição de que aquela garota era a mãe da Panty estava correta. Faltava confirmar a identidade do pai. Levou a mão ao bolso da jaqueta, sentiu o papel áspero e enrugado da fotografia rasgada.
Hato levantou a cabeça de repente, limpando as faces molhadas. Prosseguiu com a voz mais segura:
- Nos dias que se seguiram ao abandono, o meu coração ia morrendo por cada hora que passava longe da minha filha. Descobri que abandoná-la, mesmo com todas as dificuldades que sentia em cuidar dela e de mim, fora o pior erro que cometi em toda a minha vida. Nunca me arrependi de ter engravidado, nunca me arrependi de ter tomado a decisão de a fazer nascer. Ela... é o que eu tenho de mais importante. Lembrei-me do dia aberto da Capsule Corporation, sabia que estava quase a acontecer... Preparei um plano para esse dia em que iriam receber uma multidão de estranhos. Eu seria mais uma, não me dariam tanta importância... Bastava conseguir descobrir onde estava a minha menina e levá-la comigo, sem dar muito nas vistas. Ela não me estranharia, sou a mãe dela, não iria gritar, ninguém se aperceberia que eu a estaria a levar. Foi o que eu fiz... E, mais uma vez, as minhas decisões causaram-vos transtorno. Gomen nasai, gomen nasai! – implorou chorando outra vez.
Bulma acalmou-a.
- Hato-san, nós compreendemos a tua situação. Não precisas pedir mais desculpas pelo que fizeste, pois... eu também sou mãe. Imagino o que deves ter passado, o desespero e todo o sofrimento que esta situação te causou. Num ponto, no entanto, tens razão, a tua filha foi muito bem tratada por nós. A minha mãe, a senhora Briefs, foi incansável em prestar-lhe todos os cuidados e enchê-la de carinhos.
- Arigato gozaimasu – murmurou Hato sorrindo entre lágrimas. – Nunca vos poderei agradecer o suficiente por tudo aquilo que fizeram pela minha bebê. Mas eu posso pagar, estou disposta a pagar! Digam-me o que querem que eu faça, eu posso trabalhar para vocês e eu trabalharei.
- Não será necessário, Hato-san – contrapôs Bulma. – Depois veremos isso... Mas não terminaste ainda a tua história. Existe uma parte importante que queria muito que explicasses. Tem a ver com o pai da bebê...
- Ah, sim – disse Hato limpando as lágrimas, endurecendo a voz. – O pai dela... sim.
Bulma mostrou a fotografia rasgada. Hato endireitou as costas e desenhou uma expressão implacável no rosto, em todo o corpo, numa dureza ainda maior do que aquela que demonstrara na voz. Bulma disse:
- Esta foto estava no cesto da bebê juntamente com um bilhete manuscrito.
- O bilhete escrevi-o, antes de deixar o cesto na porta da Capsule Corporation. A foto... Bem, a foto...
Um arrepio deixou Bulma apreensiva.
- A foto é do miserável do pai dessa cria humana!
A declaração irrefutável tinha o tom imperioso do príncipe dos saiyajin que chegava ao salão trazendo com ele um infeliz vestido apenas de sunga e uma camisa transparente desabotoada, chinelos enfeitados com brilhantes e mais pálido que um fantasma, agarrado com ambas as mãos ao próprio torso inchado.
- Vegeta! – Bulma levantou-se.
Hato também se levantou e ao reconhecer o infeliz murmurou surpreendida, mais pelo aspeto deplorável do que por vê-lo ali, a acrescentar o retumbante argumento final que encerraria aquele drama, e de uma vez por todas:
- Miruku-san...
- O que é isto, Vegeta? O que faz ele aqui?
O príncipe cruzou os braços, levantando o queixo.
- Esse miserável vai confessar a verdade. Se mentir, já sabe que lhe acabo com a vida.
O tenente da polícia arqueou as sobrancelhas, atónito com aquela ameaça.
Bulma olhou para Miruku que soltava gemidos curtos. Estava ferido, devia ter algumas costelas partidas. Vegeta tinha feito das suas... Limpou o suor que lhe encharcava a testa com as costas da mão e gaguejou com os lábios trémulos:
- Eu... Eu estava... Festa... Eu...
O saiyajin inclinou-se ligeiramente e disse-lhe:
- É melhor começares a falar convenientemente, ou parto-te um braço.
O tenente da polícia descartou-se definitivamente do bloco de notas e adotou uma posição defensiva. Não estava a gostar do rumo que aquilo estava a tomar e Bulma percebeu-lhe o nervosismo.
Miruku fechou os olhos, abanou a cabeça como se quisesse sair de um pesadelo ruim e desabafou gemendo, chorando e tremendo:
- Eu sou o pai da bebê! E essa garota que está com ela ao colo é a mãe e chama-se Hato. Conhecemo-nos... há algum tempo. Foi divertido... Mas depois ela engravidou e eu não poderia assumir a criança. A minha namorada é filha do neurocirurgião mais importante de West City, menina de boas famílias. Seria um escândalo se eu tivesse um filho com outra mulher, seria repudiado, difamado pela cidade inteira! E os meus negócios dependem do meu bom nome... Oh, compreendam! Por favor!
Bulma rangeu os dentes, apertando os punhos.
- Maldito!
Vegeta permanecia de braços cruzados, pernas afastadas, cara fechada, sem demonstrar qualquer pingo de emoção, misericórdia ou compaixão. A pose de um guerreiro, mesmo num cenário tão corriqueiro quanto aquele, resolvendo um assunto tão mundano como aquele. Miruku soluçava ao lado de Vegeta e a diferença de postura entre os dois marcava a diferença abissal que existia entre eles, enaltecia a vilania do homem e ostentava a nobreza do saiyajin.
- E o exame de DNA?! – perguntou Bulma irritada.
Gohan entrou no salão nesse momento agitando uma folha de papel na mão.
- Foi falsificado! – anunciou. – Fui buscar uma cópia do exame à clínica, Bulma-san e estive a analisar melhor os resultados. Mesmo que apresente uma compatibilidade do DNA de Vegeta-san com a pequenina Panty, o DNA de Miruku-san não é verdadeiro. – Sacou de um livro grosso que trazia na mochila que carregava a tiracolo, desfolhou-o, abriu-o na página que queria e prosseguiu – O DNA de Miruku-san é idêntico ao de uma árvore, de acordo com o que leio no meu compêndio de ciências naturais. Mais precisamente com o DNA de um... pinheiro! A falsificação é muito amadora.
A dor foi demasiado forte e Miruku deixou-se cair de joelhos. Fazia pena, mas ninguém naquele salão sentia qualquer pena por aquele homem sem carácter. Bulma estava capaz de o desfazer e, por alguns segundos, ao encarar o gelado Vegeta, percebeu que se ela tentasse fazer alguma coisa contra Miruku, ele a impediria. Porque ela não merecia sujar as mãos num verme daqueles.
- Então, parece que tudo se esclareceu! – exclamou o doutor Briefs.
- Oh! A minha querida Panty! – acrescentou a senhora Briefs emocionada.
Trunks deu uma cotovelada em Goten.
- Ei, Goten-kun...
- Hai, Trunks-kun?
- Percebeste alguma coisa?
- Não.
- Eu também não... Mas acho que... a Panty, afinal...
Os dois amigos olharam-se expectantes.
Um apito intermitente cortou a tensão gerada no salão da Capsule Corporation. O doutor Briefs pediu desculpas aos presentes e retirou do bolso da bata branca um pequeno dispositivo que desapareceu no interior da palma da mão.
- Hum... O ovo vai chocar – comentou lendo as informações do minúsculo ecrã.
Bulma perguntou indignada com semelhante tipo de distração:
- 'Tousan! Que ovo é que vai chocar?!
- O ovo da minha cegonha.
Nisto, Goten soltou um grito que surpreendeu todos. Saltou no ar entusiasmado, batendo palmas, como se acabasse de ganhar um brinquedo há muito desejado. Chichi olhou escandalizada para o filho.
- Goten-kun! Comporta-te!
- Mas é o ovo, 'kaasan! O ovo vai chocar!
Trunks também fez uma festa semelhante, Bulma e Chichi entreolharam-se. Os dois rapazes saíram do salão a correr, passando como um furacão duplo pelos dois polícias que continuavam a guardar a porta escancarada. O doutor Briefs saiu atrás deles.
- Onde vais, 'tousan?! – perguntou Bulma perplexa.
- Ora... Vou conhecer o membro mais recente do meu zoológico. E vou acompanhar o meu neto e o amiguinho dele nesse momento especial. Já venho!
Bulma não conseguiu contrariar o seu excêntrico pai.
***
Com a ajuda de uma grua munida de um cesto, o doutor Briefs, Trunks e Goten alcançaram o ninho da cegonha e assistiram ao momento exato em que o ovo chocou no cimo do poste altaneiro. O rapazinho mais novo quedou-se em suspenso e assim que viu a pequena avezita surgir através da casca, não se desiludiu por não ser uma pequena menina, já de vestido e lacinho no cabelito, como usava a Panty. Ficou muito feliz por assistir ao nascimento da pequena criatura e pediu ao avô do amigo para adotar o animalzinho, ao que o doutor Briefs concordou.
- Como é que se vai chamar, Goten-kun?
- Vai chamar-se Pudim.
- Isso não é um nome adequado para a tua irmã, Son Goten! – censurou Trunks. – Isso é nome de uma coisa que se come!
- Ora, Trunks-kun! – protestou Goten amuado. – A irmã é minha e eu chamo-a como eu quiser.
O doutor Briefs soltou uma gargalhada.
***
Só depois de assinar um acordo em que se comprometia a providenciar uma pensão mensal vitalícia de cem mil zeni para sustentar a filha e ajudar Hato, verificado, atestado e autenticado pelo advogado da Capsule Corporation, é que Vegeta levou Miruku, à beira do desmaio, para um hospital. Carregou-o por um braço, assim como o tinha trazido, sem qualquer cuidado e totalmente insensível aos lamentos e gritos, que substituíram os contidos gemidos iniciais.
Bulma dispensou o tenente e os demais polícias, agradeceu-lhes a disponibilidade e pediu desculpas por qualquer inconveniente, mas o mistério da bebê no cesto e o caso do rapto tinham sido resolvidos e a contento para todas as partes, incluindo a senhora Briefs que fazia gracinhas para a garotinha que se ria no colo da mãe.
Chichi despediu-se pouco depois, pois a viagem até às montanhas Paozu ainda era demorada, Gohan e Goten saíram com ela, este último levava consigo um pedaço do ovo da cegonha que chocara, como se carregasse um tesouro inestimável.
Os dois garotinhos, Trunks e Goten, não foram castigados por terem saído de casa atrás da polícia para brincar aos detetives, pois, no final, tudo tinha terminado em bem – a bebê tinha sido encontrada e o mistério da sua origem desvendado. Os dois garotinhos até tinham ajudado a polícia na solução do caso. Não ganharam nenhum prémio, mas também não sofreram as consequências das suas irresponsáveis traquinices.
Para além de ter conseguido o acordo com Miruku, Hato também concordara em visitar a Capsule Corporation de vez em quando, pois a senhora Briefs confessou emocionada que já não conseguiria viver longe da sua querida bebê que amava como sua neta, apesar de não haver qualquer possibilidade de esta ser sua neta, corrigiu ante a carantonha de Bulma, que ainda se incomodava com essa possibilidade, agora desmascarada como irrefutavelmente descabida. A senhora Briefs acabou ainda por dizer que toda a roupinha que comprara era da bebê e que Hato deveria considerar tal como um presente especial dos Briefs.
Mas havia ainda um pormenor que era preciso esclarecer, a derradeira peça que fecharia o quebra-cabeças e encerraria o assunto.
- Hato-san – disse Bulma curiosa –, como se chama a bebê? Nós demos-lhe o nome de Panty, mas ela terá certamente outro nome.
- Hai. O nome dela é Suzume.
A cientista sorriu.
- É muito bonito!
***
Bulma correu pelo relvado afora e parou ofegante diante da nave redonda que repousava ali, brilhante e pronta para viajar pelo espaço interestelar.
- Vegeta! – chamou.
O príncipe parou junto à rampa. Ficou de costas para ela e continuava zangado, pois não se voltou. Bulma parou a alguma distância. Sabia que não devia penetrar no espaço dele quando ele estava com os humores azedos. E agora, no fim de tudo, ela dava-lhe toda a razão.
- Vegeta...
E agora ela devia-lhe um pedido de desculpas, todo o seu arrependimento. Arriscou um princípio:
- Eu julgo que não devia ter agido como agi...
- Não quero ouvir, Bulma.
Ele cortava a direito, sem qualquer hipótese de argumentação ou refutação. E ela não conseguia ficar zangada ou indignar-se. Olhou para a nave. Ele iria deixá-la. Seria por uma ninharia, mas estranhamente não conseguia censurá-lo. Ela fora quem o expulsara primeiro de casa. Olhava para a nave. Nem sabia que esta ainda existia, o local onde se tinham encontrado e amado, no início, às escondidas. Tinha o peito apertado, dor no lugar do coração.
- Vais despedir-te de mim assim, de costas?
Houve um silêncio grande, elétrico.
Vegeta encaminhou-se para a rampa, contornou-a. Abriu um pequeno painel, calcou num botão específico e encapsulou a nave. Quando a nuvem branca assentou, recolheu a pequena cápsula na mão, guardou-a no bolso das calças e sempre de costas voltadas para ela respondeu-lhe:
- Não sejas ridícula, mulher.
Bulma olhou para o espaço vazio no relvado, onde estivera a nave. Então... ele não iria embora? Então, significava que ficava? Que a perdoava?
Continuando de costas, o orgulhoso príncipe dos saiyajin concluiu:
- Mereces uma boa lição... Esta noite, no teu quarto. Entro pela sacada.
O sorriso de Bulma foi radioso, como um sol a furar as nuvens negras depois de uma tempestade terrível, mas passageira. Uma daquelas tempestades de primavera.
***
Ele coçou o cabelo devagar, absorvendo tudo o que tinha acabado de acontecer.
- Ei, Kaio-sama?
- Hai, Goku – disse o deus sonolento, enquanto se estirava numa espreguiçadeira no Outro Mundo.
- Afinal, a bebê... não era filha do Vegeta, pois não?
O deus sorriu complacente, sem abrir os olhos.
- Não, Goku. A garotinha é filha do Miruku e da Hato.
- Ah...
- Pensava que tinhas percebido.
Goku abriu um sorriso largo.
- Claro que sim, Kaio-sama! A garotinha não tinha aspeto de saiyajin.
- E como conseguiste descobrir isso?
Goku limitou-se a rir divertido.
- Não descobri. Eu sempre acreditei no Vegeta! Ele não mente... Os saiyajin não sabem mentir.
- Tens razão, Goku – concordou o deus com um bocejo. – Tens razão.
Hato significa pomba em japonês
Suzume é pardal em japonês.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro