Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

4| sem ritmo

         O LÍQUIDO que preenche metade do meu copo não tem álcool, diferente dos copos das outras duas mulheres, e, apesar de não comentar sobre isso porque ninguém questionou a minha escolha, a vozinha mental lembra que esse é o meu mecanismo de não ter o álcool como válvula de escape para ultrapassar o meu luto.

E, infelizmente, por alguns meses usei essa manobra para esquecer dos meus problemas e para me desfazer da responsabilidade das minhas acções. 

Eu não queria parecer tão egoísta com Laura e, com isso, destruía-me. 

Fátima ajudou-me imenso a sair da minha embriaguez repetitiva, tornou-se uma mãe temporária de Emílio enquanto eu me sufocava com a minha própria covardia. A minha mãe também ajudou a puxar a corda que eu segurava para tentar sair do buraco que sozinha criei com as minhas mãos, os meus irmãos e, por fim, eu mesma sem soltar aquela oportunidade de voltar a superfície.

Laura Emília chegou na minha vida no Inverno de Agosto de 2019 e, devagarinho, a nossa paixãozinha coloriu cada mês com cores que até aquele momento eu desconhecia.

Laura já estava grávida, disso ela já sabia e não tinha como esconder com a barriguinha que ficava gigante a cada mês, mas era fruto de um daqueles encontros casuais, temporários demais para ligar para alguém e dizer: "eu estou grávida", por isso achou estúpida a ideia de contar isso àquela pessoa.

Emílio não estava no plano dela nem no meu, mas os dias serviram para que ele fosse a nossa prioridade e, caramba, cada etapa e todos aqueles detalhes deixaram-me tão feliz, tanto, mas tanto, que eu cheguei a conclusão de que ele não era uma bagagem. Ele era nosso.

Diante de todas as cambalhotas que a minha vida deu, eu sempre fui grata pelas mãos da minha mãe estarem estendidas, mesmo que diante de algo completamente diferente daquilo que ela tinha imaginado para mim. 

A sua filha a namorar outra mulher? 

Isso devia ter passado pela sua cabeça como a luz de uma vela que ela apagou com os dedos, com a certeza de que era uma ideia estúpida, sem sentido, muito diferente da nossa caixa, ou melhor, algo tão raro que não tinha como cair na sua casa. E caiu, muito antes de Laura chegar na minha vida. Eu escondi, porque tinha imenso medo de perder o amor dos que eu amava. 

Porém, num momento não fez sentido e Florinda afugentou todos os meus medos de anos, daquele jeito que a família de Laura se negou a fazer até que ela não estivesse mais viva para ouvir os pedidos de segunda chance para fazer as coisas de um jeito diferente.

Laura morreu seis meses depois do nascimento do nosso filho, tudo começou com uma dorzinha de cabeça, depois uma estranha falta de apetite porque na mesma a comida não tinha gosto, intensificou para uma febre. Mas, quando vi, ela era mais um alguém a fazer parte da lista dos que estavam numa corda bamba, numa salinha qualquer a torcer para que o vírus viajante não se sentisse tão solitário ao ponto de lhes roubar a vida.

Noutro minuto, Laura não estava mais lá.

A sua família nunca deixou que eu a visse no hospital tampouco quis saber de Emílio quando ela se foi, mas no mínimo, apesar de não fazer diferença alguma, permitiram que eu estivesse lá, entre as catorze pessoas, para me despedir dela para... sempre

Eu nadei nessas memórias e muitas outras, deitada na cama a observar o nosso filho enquanto Catarina mergulhava os seus pés na praia, conhecia novas pessoas, tinha a companhia de uma nova guia turística, conversava com a minha mãe, escutava as suas ladainhas e virava a musa temporária de Ana. 

Eu fiz isso até que o sol sumisse, o bar da minha mãe começasse a encher e ficasse evidente que Catarina não é a única cliente nesse lugar. Fiz isso até que a minha mãe sacudisse o meu corpo e lembrasse, outra vez, que o tempo é curtinho demais para viver trancafiada numa caixa cheia de buraquinhos nascidos dos embates contra as rochas do mar.

Tentar...

         — Kisa ki pase? — suspiro pesadamente ao ouvir o tom rouco de Ana, e sorte minha não estar a beber o meu refresco, porque o gás estaria a verter pelas minhas narinas. 

Eu não sabia que ela estava tão perto, porque o cheiro de mar parecia só uma característica do espaço e não exactamente algo dela. 

Não faço a mínima ideia do que significa aquilo que perguntou e, nos olhos curiosos, tento achar uma resposta, mas eles mantêm-se soturnos demais para o meu gosto.

A minha mente joga a ideia daquela pergunta significar um "o que se passa" e, por mais que não esteja tão segura disso, balanço a cabeça de um lado para o outro a abrir um sorriso que se desfaz quando olho para frente, acho Catarina como se fosse um gatinho atenta numa luz que, basicamente, sou eu. 

O luar é a nossa fonte de luz nesse canto do lodge em que estamos, longe da musiquinha do bar, do cheiro das comidas e conversas dos visitantes à beira da piscina. Ana está com um lençol a cobrir as suas pernas, eu tomei praticamente um banho de repelente e Catarina está de pernas cruzadas, segurando um copo gigante de cerveja, o prato ao seu lado quase vazio e o telemóvel esquecido pertinho da garrafa que não deve ter mais nada. 

E, com o ânimo que regressa assim que ela dá mais um gole da sua bebida e espanta a nuvem carregada sob a sua cabeça, ela diz:

        — Tal como aqui, Angola tem diversos grupos étnicos como, por exemplo, os bakongos, wambos, e uma coisa tradicional que todos seguem é a cena de o homem, para levar a mulher para casa dele, ter de fazer uma carta com tudo que a família quer. Nota, se ela estiver grávida, ele deve pagar multa. Uns são mais exagerados do que os outros, pedem terreno, carros de-de areia, bebida, fatos para os pais, panos para as tias e por aí... 

         — Isso também o fazem aqui, não? — a vontade de ter um sim fica evidente no tom um poucochinho arrastado de Ana que esfrega os olhos com força, um pouco menos sóbria que antes, muito mais próxima como nunca esteve. Concordo com ela e ganho o sorriso torto de uma bêbada engraçada. — É o casamento tradicional com o nome que me esqueci. — o seu sotaque não é o mesmo de antes, está a perder gradualmente, e essa esquisitice é ainda assim agradável.

        — Lobolo, mas não é algo que todos os fazem e, por alguns motivos específicos, até às famílias que fazem, acabam por não seguir a tradição. 

        — Uhn, mas também tem outra coisa que caracteriza o nosso povo, o Semba, um género musical popular dos anos 50, em que se usa a viola acústica, a dikanza, a caixa e o chocalho, e tem um significado tradicional, sabe? É uma das nossas identificações como angolano e os artistas esbanjam sempre que têm alguma oportunidade para mostrar aquilo que somos. Inclusive, se a memória não me trai, o Semba deu origem ao samba brasileiro, ao kuduro e kizomba. 

       — E como se dança isso?

Catarina larga o seu copo no chão e levanta o mais rápido que consegue. Gradualmente os meus pensamentos começam a se tornar microscópios e menos barulhentos, deixando espaço somente para a minha curiosidade que deseja ser preenchida com o que ela tem a mostrar.

         — Duas pessoas dançam, mas não se precisa sempre de outra. Porém — ela dá alguns passos e para a minha frente, o sorriso pequenino da foto e os olhos brilhantes. —, pode ser o meu par?

Engulo a vontade de dizer que não sei dançar e concordo a deixar a minha bebida de lado, tocar os seus dedos.

Catarina guia-me para o centro e segura a minha mão, leva um pouco para o alto como se fôssemos fazer uma dança de salão e, com cuidado, sinto a sua mão descansar na minha omoplata, o cheirinho de cerveja, o calor que intensifica com o meu nervosismo.

        — É assim, dá uma passada. Um, dois... — ela vai para um lado e depois para o outro, mas me perco antes mesmo disso se tornar complexo. — É tipo, vais para esquerda uma vez e depois para direita, ver? — concordo, atenta. — Um, dois... depois dás um toque para trás, um para frente... É simples, só me siga, cria um ritmo qualquer.

E fecho os olhos, falhando naquilo que faço, mas sem me importar de seguir fora do ritmo que nem eu mesma sei qual é verdadeiramente. 

        — Eu não te conheço há muito tempo e talvez não tenha imenso tempo de conhecer, sermos verdadeiramente amigas ou mais que... bem, fazer que confie em mim, mas, se quiser desabafar, estarei aqui. Eu irei embora em quinze dias, sem a certeza se realmente estarei cá outra vez, acho que isso me torna um baú bom, afinal estarei perdido... e, sabe, perder-me num canto que não é meu foi a manobra que arranjei de me desfazer de coisas minhas, mas, no fundo, eu sei que vou ter que entrar em conflito com cada um ou viver como uma fugitiva para sempre... e fugir é tão amargo, sabe?

        — E-eu acho que sim. — murmuro ainda de olhos fechados, sem a certeza se me escuta ou se mesmo Ana ouviu a minha resposta num tom tremido. — Obrigada! — imagino-a a sorrir e, por algo que não é só inércia, um sorriso pequenino e verdadeiro se forma no meu rosto.

A dança de ritmo desconhecido continua sob o olhar do luar, mas se desfaz para dar espaço a uma nova companheira de dança perfeita e agradável, por mais que um passo e outro seja torto graças ao álcool que se alastra pelo corpo alto.

Não me levanto para as seguir, mas acompanho com os meus olhos as duas até uma rodinha formada por pessoas desconhecidas que, embaladas por uma música agitada e nova para os meus ouvidos, é o suficiente para que se animem e compartilhem passos de dança nada profissionais, uma felicidade que vai se desfazer pela manhã.

E, por mais que eu não esteja lá a conviver como uma jovem com traços adolescentes a florir fora da idade, um fiozinho de esperança surge, murmurando que nalgum momento a minha tempestade vai perder o ritmo, não vai ter uma melodia para seguir, vai ficar mórbida, desnorteada e sumir.

Assim, todas as memórias que guardo de Laura vão saltitar livremente sem que eu precise de despejar tudo num baú que, mais tarde, vai se desfazer no fundo do mar.

9 999 palavras no total :)
se chegou aqui, só tenho a agradecer, torcer para que tenha sido um pouco ok essa viagem e dar um tchauzinho na forma de um "até depois"
Obrigada e até depois!

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro