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3| nós

        É UM pouco difícil saber o que é mais nocivo: a sensação de saudade que surge porque teve a curiosidade de viver algo com uma pessoa que escolheu sair da sua vida sem se importar com aquilo que sentirias ou a saudade que vem de alguém que esteve lá até ao fim da sua vida. 

Eu acho que Deus, o destino ou qualquer outra coisa na qual as pessoas acreditam tomar conta das linhas da nossa vida, simplesmente colocou-me nas duas situações para que eu descobrisse sozinha. 

Infelizmente até hoje eu não sei.

Eu troquei a curiosidade, que carreguei nalguns anos da minha infância até o início da minha adolescência por culpa, a culpa de uma separação de um casal que nem estava sob o meu controle, e, mais tarde, troquei a culpa por raiva.

Raiva porque eu sabia que aquele mesmo homem permanecia vivo, desviando-se de todas as formas e ignorando qualquer brecha de estar a minha frente, permitir que num único momento da minha vida eu pudesse ouvir o seu pedido de desculpas, conseguir deixar sair a palavra "pai" sem sentir um peso esquisito. 

Naquela época eu não tive muito tempo de chorar por algo que não tive, tampouco ontem por algo que perdi, outra vez sem que pudesse lutar para que estivesse ao meu lado por uma única noite.

Emílio é como uma nuvenzinha — ao menos ontem ele foi —, e por mais pequenina que seja, serviu para embalar o meu corpo durante a minha queda-livre. Enquanto eu me desfazia em pedaços, ele usou as suas mãozinhas para juntar cada pedacinho como um puzzle e também chorou comigo, obviamente não pelos mesmos motivos que os meus, nem por algo que ele saberia explicar. E desejo que seja por algo que o meu sorriso tenha feito desvanecer logo em seguida.

Eu não tenho a certeza se Catarina não ouviu aos meus soluços, mas no mínimo ela não tocou no assunto e dormiu nas restantes horas da tarde até ao início da noite. Nesse período matei a minha fome enquanto Emílio sonecava no meu colo e, minutos depois, deixei-o por cima da cama para começar a preparar o nosso jantar impressionante — não tanto assim —, seguindo o meu manual de como conquistar uma turista aparentemente simpática.

Antes que me desviasse e procurasse alguma receita simples do país de origem de Catarina, segui para aquilo que dava para fazer com os meus ingredientes em casa; correndo para esquina, uma pequena barraca, para comprar um último ingrediente essencial: o coco. 

Fiz um franguinho com toques adaptados da receita de frango a zambeziana. Apesar de não ter a verdadeira essência que claramente os nativos da Zambézia colocam, Catarina deu-me umas cinco estrelas e não posso achar que era mentira.
Ela não pensou duas vezes antes de repetir e repetir.

Uma metade minha ficou em paz, afastando os pensamentos de que estava com o próprio diabo na minha casa a conquistar-me para, no fim de tudo, tirar-me tudo. Noutro momento eu só conseguia sorrir, atenta em como o sorriso de Emílio crescia no seu rosto, roubando a sua timidez, fazendo que se soltasse mais a correr pela pequena sala numa brincadeira que só ele e Catarina eram capazes de perceber.

Ele até ganhou um apelido que estava perdido há anos: Lio, tal como alguma vez Laura o chamou quando ele estava nos seus braços, ainda pequenino, frágil, com a pele bem mais clara e um pedacinho do cordão umbilical.

A cada segundo que Catarina pronunciava o apelido, uma memória desabrochava de um galho aparentemente sem vida. E, da maneira mais agridoce, o seu rosto se desfazia, a pele acastanhada escura dava espaço para uma um pouco mais clara, muito mais que a minha, e o cabelo de fios crespos em ziguezagues mudava para um cheio de pequenos caracóis.

O sotaque era a única coisa que me lembrava que não estava a minha Laura naquela sala, compartilhando a sua energia com o nosso filho ao ponto de fazer que ele dormisse tarde.

Passei a noite conversando com ela, ouvindo as suas estórias sobre as brincadeiras de infância e notando que temos similaridades nalgumas coisas como, por exemplo, usar o barro para fazer bonequinhos ou outros utensílios de cozinha para brincar de ser uma grande cozinheira.

Nessa onda também falei um pouco de que era bem comum as meninas usarem ervas daninhas para fazer bonecas, basicamente a raiz era o cabelo e as roupinhas eram feitas com trapos ou com roupa velha. Era divertido.

Outras, acho que na época da minha mãe, usavam caroços de manga para isso. Arranjavam manobras para deixar os fios esbranquiçados para fazer de cabelos, enchiam de trançar, missangas e outras coisinhas.

É um pouco difícil actualmente ver uma menina fazendo esses malabarismos para ter a sua bonequinha, o que era caricato mudou para algo acima de uma boneca plástica de cabelos-loiros que saíam só de pentear.

Eu não sei se isso é bom ou péssimo, principalmente se for a pensar que muitas têm nas suas mãos bonecas digitais. Acho que pensar nisso transforma-me numa velha e não numa jovem de vinte e oito anos. 

Quase trocamos a madrugada por uma conversa, mas o cansaço de Catarina era visível com os seus bocejos que, magicamente, tornaram-se meus também. 

Ela dormiu, mas eu não. 

O medo de estar em perigo voltou. 

E se eu estivesse a ser ingénua em acreditar que uma mulher com quem falei por uma semana era realmente uma pessoa querida por ter um sorriso bonito, ser gentil e ter ganhado o carinho do meu filho? As notícias que passam pela TV ou ganham destaque em publicações de redes sociais seguem a essa receita: seja gentil e depois destrua.

No mínimo, não foi assim com Catarina.

O letreiro deu-nos boas-vindas quando chegamos a Marracuene, e não num chapa lotado, mas confortáveis no banco do táxi-roubo — escolha da minha mãe que disse que pelo dinheiro que ganharíamos, o gasto desse momento nem seria lembrado — e para me manter acordada, mudei de uma guia turística para professora de um dos dialectos do Sul. 

        — E o que isso significa? — Catarina pergunta risonha, os pés protegidos por um chinelo que afunda na areia enquanto o som das ondas ao longe começam a atrair a minha vontade de correr e abraçar as águas de Macaneta.

        — Bom-dia. — sorrio a descer com Lio no colo após pagar o taxista e, graças aos céus, ele me entregar a minhas coisas.  — A minha mãe vai ensinar mais coisas e eu garanto que é uma aluna com potencial de sair daqui sabendo imensas frases já.

        — Como tu és falsa.

       — É sério. — digo com sinceridade, arranjando malabarismos de não deixar Lio cair tampouco a minha bagagem. — Eu sou professora, sei do que falo. — Catarina arqueia a sobrancelha daquele seu jeitinho que começo a achar que surge sempre que desconfia de que recebe nas suas mãos uma mentira. — Se não acredita em mim, a minha mãe vai fazer que acredite. Só temos que caminhar um bocadinho, como vê a rua tem imenso areal e aquele carrinho poderia parar e dar um trabalhão. 

        — Tendo consciência que assim que chegarmos lá eu não vou estar sob os seus cuidados, gostaria que fosse um bocadinho mais longe.

       — Mentirosa. — rio um bocadinho atenta na maneira que ela segura a mala, os raios solares tocam partes da sua perna que o tecido do seu vestido florido não cobre. 

        — É sério, uma metade minha pensa que será triste voltar para cá, num desses anos, e não ter a mesma recepção.

        — Olha, eu não sei se posso dizer que pode voltar como a minha amiga ou algo assim, porque se supõe que seja cliente da minha mãe, não? — ela solta um riso baixo que acompanha o meu. — Mas eu acho que não me arrependeria se assim fosse. Além disso, seria a oportunidade de preparar um dos seus pratos de Huambo, é daí que disse ser, não?

        — Fiquei encantada com a sua memória. — o tom que ela usa deixa tudo um pouco arrastado, estranhamente óptimo de ouvir. — E, sim, eu sou de lá e também não me importaria de perder algumas moedas no bar da sua mãe. Todavia, não passei muito tempo em Huambo, mudei-me permanentemente para Luanda, mas tem um prato óptimo. É peixe seco, tá ver peixe seco? — balanço a cabeça positivamente. — Grelha, come com o funge, mas o funge de milho, e salada. No caso picas o tomate e a cebola, temperas normalmente como se estivesse para comer com carne... O funge é feito com fubá, que é a farinha de milho. Sério, é muito bom, melhor que o seu frango, devo dizer.

        — O seu funge é chamado xima cá. — simplesmente digo, encantada com algo mínimo. — E, ó, não me importaria de tomar um anti-alérgico só para ter a oportunidade de provar algo seu.

        — Que honra. — faz uma vénia, a balançar um dos pés para diminuir a quantidade de areia nos seus chinelos. — E que triste que tenha alergia a não sei o quê que faz parte da minha receita.

        — Peixe. —  Catarina faz uma careta — Na verdade, mariscos. E, fingindo que acredito que a minha companhia é tão boa assim, aviso que, para a sua infelicidade, a habitação da minha mãe é pertinho. Mas, para te encher de felicidade, vai conhecer mais uma pessoa... incrível ou sei lá.

       — E o que esse sei lá com esse risinho bobo significam? 

       — Que eu não sei definir muito bem a filha da sócia da minha mãe, mas garanto que vai conhecer um pouco sobre os cabo-verdianos, porque os pais dessa moça são de lá. Ela nasceu e cresceu lá, mas se mudou para aqui e tem um pouco daquilo dos dois lados. Ela é só um ano mais velha que eu, o que deve significar mais experiência, a mesma que tu, como uma velhota de trinta anos, deve ter e esconde. — brinco, atenta para notar se há um traço de desconforto ou não, e, pelo sorriso, creio que esteja tudo bem. — Ahn, ela gosta de fotos, trabalhos manuais e de praia, então acho que por isso não está tão deslocada trabalhando com a minha mãe.

Fazendo aquilo que eu não faço.

Catarina somente balança a cabeça sem dizer nada com uma careta que nem eu mesma sei aquilo que significa. Algumas paredes formam muros, diferindo do verde das plantas que escondem pequenos insectos, talvez alguns répteis.

Os meus pés mergulham na areia um pouco quente e a dança das ondas do mar ao longe é tão agressiva como a melodia de um batuque que acompanha as pessoas envolvidas numa coreografia tradicional.

Não demoramos imenso a chegar no abrigo da minha mãe de muro com nuances de castanho e, no interior, uma misturinha de cores típicas de Verão: tons de verde das folhas, azul da piscina, o amarelo que se destaca nas pinturas que permanecem na parede em pequenos quadros e outros que se resumem a frases coloridas. 

Entre os detalhes novos, encontro, sentada numa das cadeiras do bar com um calção jeans e uma blusa que lhe cola o corpo magro, Ana.

Moça que em todas as línguas que fala: português, crioulo ou o que for, e nas sua acções ou mesmo no sorriso que desenha no seu rosto, repete o quanto gosta da minha mãe como se fosse sua.

Mas não compartilha comigo um vínculo de irmandade.

Eu nem sei se ela realmente gosta um pouco de mim. Normalmente é assim, ela lá e eu cá, com a minha mãe entre nós.

Não é amargo, também não nos vemos muitas vezes.

Ela acena, um gesto educado, a descer da sua cadeira e devolvo ao aceno notando que Catarina coloca a sua mala no chão de detalhes geométricos.
 
        — Olha quem chegou. — não preciso olhar para trás para saber quem é e, sem ser surpreendente, acho a minha mãe sorridente com um chapéu de sol, óculos escuros no decotezinho do seu vestido solto, as bochechas rosadas certamente pelo sol. — Catarina, que bom é conhecê-la. 

       — Agora vejo de onde a sua filha herdou tanta beleza. — ela usa aquele tom galanteador e sorrio um pouco, o braço dormente e a ter certeza que Ana se aproxima graças ao som do seu riso que se alastra pelo espaço. — O prazer em conhecer a mulher que escutei sobre o quão amável é, honestamente, é gigante.

         — Eu não preciso ouvir mais, já gostei de ti e, porque os meus gostos não são muito diferentes dos da minha filha, sei que ela também.

E Florinda dá aquele sorriso travesso, Catarina olha para mim daquele jeito que diz tudo o que eu nem quero identificar e escuto o "opa" de uma Ana risonha, que deve ter em suas mãos todos os detalhes sobre mim.

Ai minha nossa senhora!

        — MÃE? — repito a encostar a porta do quarto em que Emílio está, para que o som ao redor não seja motivo para ele acordar porque, verdadeiramente, a minha meta é descansar ao menos um pouco.

         — E o que foi, minha princesa? — ela pergunta daquele seu jeito, aventurando as rugas ao franzir a testa, como se o motivo não estivesse escancarado e gigante entre nós duas. 

Nada digo, porque eu sei que ela sabe o que tem de errado... comigo.

         — Minda, eu não vou tocar no detalhe de que tu ainda és jovem, porque mesmo eu, acima dos meus sessenta anos, sei que mereço um pouco de diversão. A Laura foi-se e seguir em frente não é ser egoísta com tudo aquilo que compartilhavam, tampouco esquecer aquilo que ela significa, quem dirá que isso vai diminuir a cicatriz que ela deixou aqui... — ela toca o meu próprio peito com a mão e olho para o lado a sentir como as lágrimas se juntam prontas para cair como pingos de chuva de uma nuvem cinzenta e cheia. — Amar alguém não é sinónimo de estar presa a essa pessoa, mas de compartilhar emoções boas e más, ter e ser um refúgio... nesse momento, infelizmente a saudade que sente, a dor e tudo mais são coisas suas. E precisa descarregar um pouco porque, por mais que o tempo passe e a acumule, se castigue, nada disso vai devolver a Laura para as nossas vidas... para a sua vida.

O tecto está vazio, sem algum conforto e, o silêncio da minha mãe é temporária, porque logo em seguida ela diz:

        — E mais, o Emílio é o bebé que a Laura trouxe de um relacionamento que eu nem tenho os detalhes e eu recebi como o meu neto, da mesmíssima forma que me alegrei com os outros que se unem a mim pelo sangue. É o menininho que você recebeu como o seu filho... e acha que o meu neto merece uma mãe murcha? — pergunta e nega com um som que faz com boca, balançando o dedo no alto e as lágrimas caem quando por uns segundos me permito sorrir um pouco, amargamente. — A mãe do meu neto é uma mulher forte, guerreira e viva. A mulher que vai o lembrar, sem dor alguma, de todos os momentos que viveu com a outra mãe dele que aqui não está mais. Então, erga essa cabeça, meu anjo, arrume-se e tente trocar toda essa tempestade por alegria, ok? — ela finaliza no dialecto que antes tentei ensinar a Catarina, tocando a minha bochecha e concordo com a cabeça.

Um trecho de René Char, guardado na colectânea do livro que carrego, inunda-me: "no auge da tempestade há sempre um pássaro para nos tranquilizar"

E se Laura aqui estivesse terminaria o trecho docemente dizendo: "é a ave desconhecida que canta antes de voar."

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