Capítulo especial
(Mindy)
Choveu muito naquela manhã. Eu já estava nervosa o suficiente pela prova que teria que enfrentar logo pela manhã e infelizmente continuou chovendo durante o almoço. Eu corri para o estágio tentando desviar de todas as poças e ventanias, mas cheguei um completo desastre. Meu cabelo estava totalmente frizzado, o que me forçou a prendê-los, mostrando de forma mais clara para os outros minha cara de biscoito.
— Você veio correndo? — O professor Parker colocou a mão em meu ombro enquanto eu ofegava na entrada da sala dos professores.
— Achei que estivesse atrasada. — Coloquei a mão no peito esperando que as batidas do meu coração se normalizassem.
Eu me perguntava como o meu supervisor de estágio era mais velho do que eu apenas quatro anos. Não posso mentir que meu coração bateu mais forte quando o conheci, e ele foi muito gentil e sorridente desde o primeiro dia.
Estudava licenciatura em Língua Inglesa e tive uma grande sorte de ter sido selecionada para aquele estágio numa escola de Surrey, apesar de ter gaguejado horrores na entrevista.
— Mindy, você pode tirar 30 cópias dessa prova para mim? — Professor Parker me passou a prova da primeira turma do ensino médio. Era semana de prova na escola.
— Será que seus alunos vão se sair bem? — Perguntei fazendo-o rir. Eu acompanhava a maioria de suas aulas e ele era tão divertido que todos os alunos o amavam, até mesmo os meninos. Era engraçado encontrá-lo no corredor na hora do intervalo ensinando passos de danças para os meninos, e preciso confessar que ele faziam ótimas coreografias.
— Tenho certeza de que eles vão dar o seu melhor. — Ele sorriu. – Eu fiz uma prova fácil. — Sussurrou a última frase para que os outros professores na sala não escutassem.
Eu fui para a copiadora rindo. Gostava bastante do meu local de trabalho.
— Robert, você não quer ser o responsável pelo evento do próximo mês não? — A professora Taylor perguntou se aproximando dele. Ela era a professora de História.
— Eu já fiquei com o do mês passado. — Ele disse concentrado nuns papeis. — Estou fugindo dessas responsabilidades agora.
— É que os alunos parecem gostar quando você fica a frente. — Ela insistiu. Ele negou sorrindo. — Ahh, é! Você está resolvendo as coisas do seu casamento.
— Sinto que minha noiva vai fugir se eu não marcar logo a data. — Ela deu risada quando ele falou. — Falando nela. — Ele mostrou o celular já colocando no ouvido em seguida. — Oi, Mary. — Saiu da sala.
Eu fui para a sala de aula quando o sinal tocou. Os dias de prova eram mais tranquilos. Eu precisava apenas ficar lá observando os alunos.
— Fiz uma prova fácil. — Robert disse distribuindo as provas. — Não quero ninguém chorando. Quem tirar dez vai ganhar um prêmio.
— Que prêmio? — Um aluno perguntou do fundo da sala.
— A realização de tirar dez. — Ele disse e a turma toda riu. Eles riam de qualquer piada que ele fizesse, ele era o carisma em pessoa. — Agora silêncio! E nada de letra feia que eu sou péssimo em ficar decifrando os códigos de vocês.
— Professor, o senhor sabe que eu te amo, não é? — Beatrix, uma das alunas, disse fazendo um coração para ele.
— Sei, estou sabendo. — Robert espremeu os olhos e eu já estava rindo. — Você não estudou, não foi?
— Estudei sim! — Ela fez um bico. — Eu só queria dizer mesmo.
— Humm... Sou comprometido. Parem de tentar me seduzir. Não pesquem ou vou ficar magoado.
Demorou um tempo para a turma se acalmar e se concentrarem na prova. Finalmente o silêncio reinou. Robert ficou sentado na mesa organizando uns livros. Ele era formado em Literatura, e sempre estava passando livros para seus alunos.
— Como foi na prova? — Ele perguntou enquanto eu o ajudava a arrumar as coisas. Robert tinha se tornado um amigo, pelo menos eu sentia que sim, embora ele fosse meu chefe no estágio.
— Bem, eu acho. — Respondi. — Tinha uma questão que eu não consegui fazer.
— Vai dar tudo certo. — Ele olhou para a turma e depois voltou sua atenção para mim. — Eu tenho uma atividade para você. — Me aproximei quando ele me mostrou um papel. — Confere para mim se tem esses livros na biblioteca depois? Alguns alunos não podem comprar.
— Vou olhar. — Peguei o papel e me levantei.
Continuou chovendo na hora de ir para casa. Eu saí da escola e soltei um longo suspiro em ver o céu carregado de nuvens cinza. No caminho até o ponto de ônibus meu guarda-chuva brigou honrosamente contra o vento e perdeu, já que algumas hastes quebraram e começaram a enganchar no meu cabelo. E quando desci do ônibus apenas aceitei caminhar até em casa embaixo do dilúvio, desejando um banho quente e minha cama.
Só estava torcendo para não encontrar o James, meu vizinho do lado. Meu humor estava terrível e não lembrei de passar na padaria para comprar o bolinho que ele gostava. Sempre encontrava James no final do dia e ele sorria quando eu oferecia o bolinho, era um dos melhores momentos do meu dia. Fora que eu estava horrível, meu cabelo preso, com os cachinhos curtos ensopados, e certamente meu lip tint já tinha saído, eu não gostava nada da cor real dos meus lábios, era algo sem cor e sem graça que me deixava feia.
Entrei no saguão do prédio e tentei passar rapidamente para não encontrar ninguém.
— Senhorita Evans! — O porteiro correu até mim quebrando meu disfarce. — Chegou um pacote para você, e precisa tirá-lo logo daqui, não tenho espaço para guardar.
Eu me assustei quando vi a caixa. Suspirei imaginando que coisa meu pai havia enviado dessa vez. E poxa, subir até o terceiro andar com aquele negócio... Sorri para o porteiro querendo pedir ajuda, mas ele resmungou alguma coisa sobre sua coluna não ser a mesma de 20 anos atrás.
— Custava? — Falei reclamando enquanto puxava a caixa para as escadas. — Poxa, papai. Logo hoje?
Parei quando cheguei ao primeiro degrau. Sem querer pisei no pé de alguém quando dei um passo para trás, enquanto pensava numa logística para subir com aquela caixa.
— Desculpe. — Me virei e dei de cara com James. Ah não. — Me desculpe. — Repeti totalmente sem jeito.
— Tudo bem. — O garoto sorriu. — Precisa de ajuda? — Ele apontou para a caixa.
— Você pode? — Perguntei, mas ele já estava pegando a caixa e subiu o próximo degrau. — Obrigada.
Fui seguindo James logo embaixo. Na verdade eu me sentia mal quando ele era muito gentil, porque certamente os bolinhos da padaria não eram suficientes para pagar toda sua gentileza. Sem falar que eu adorava o café da casa dele,e ele sempre me oferecia.
Não pude deixar de reparar que ele também parecia bem molhado e que seus cachos que geralmente tinham reflexos dourados, mas molhados pareciam bem escuros, estavam escorrendo pela sua testa quase parecendo um cabelo liso com leves ondulações. As veias dos seus braços estavam salientes naquele dia, talvez pelo peso, talvez por terem sido lavadas pela chuva... Era muito bonito de ver. Ele era magro e atlético, sem exageros, perfeito. Achava James tão bonito que nem me sentia a altura de ser sua amiga.
— Obrigada. — Repeti quando ele colocou a caixa na porta do meu apartamento.
— Por nada, Mindy. — Ele sorriu de novo. — Você está ensopada. Esqueceu o guarda-chuva em casa hoje?
— Não, ele quebrou por causa do vento. E você?
— Eu esqueci o guarda-chuva. — Contou e acabei rindo quando ele sorriu.
James alternou um pouco o olhar entre mim e a caixa, o que fez meu coração acelerar. Ele estava pálido pela temperatura provavelmente, mas seus lábios cheios continuavam avermelhados, por ele sempre os mordia aparentemente.
— Essa caixa está bem pesada. — Comentou. — Quer que eu coloque-a em algum lugar? Pode se machucar...
— Na verdade nem sei o que tem aqui dentro. — Respondi nervosa, porque nenhuma resposta correta se formou em minha mente.
Ele me observou um pouco e sorriu, o que me deixou envergonhada. Nossa, pensei no quanto estava arrependida de ter vestido aquele suéter verde enorme, que me fazia parecer um brócolis gordo. Eu queria estar bonita, eu queria ser bonita.
— Vou colocar aí para você. — Ele insistiu.
— Não precisa. — Sorri sem jeito. — A casa está uma bagunça, sabe? Nossa, que vergonha.
Ele riu enquanto ri de desespero.
— Tá bom, então. Mas se precisar de ajuda, pode falar.
— Certo. — Assenti esperando que ele fosse embora.
James deu alguns passos para o lado chegando em sua porta. Ele acenou antes de entrar.
Arrastei a caixa para dentro.
— Um microondas, pai... — Murmurei depois de conseguir abrir a caixa. E no mesmo instante digitei uma mensagem para papai agradecendo. Ele estava sempre me enviando coisas para facilitar minha vida.
Depois de tomar um banho, fitei meus cabelos pensando em como queria estar mais apresentável quando encontrava James.
Enquanto estendia a toalha na área de serviço alguém bateu na porta.
— O dia pede um café quentinho. — James disse quando abri a porta.
Ele me ofereceu uma das canecas que estava segurando e sorri sem jeito antes de aceitar. Antes era o suéter verde enorme, e agora um grande moletom branco que me fazia parecer um marshmallow. Eu era um desastre.
— Obrigada. — Murmurei. — Não passei na padaria hoje...
— Não tem problema. — Ele bebeu um pouco do seu café.
Às vezes fazíamos isso, tomávamos café no corredor, porque não tínhamos coragem de chamar o outro para entrar.
— Como foi sua prova? — Ele perguntou de repente. Eu até tinha esquecido que tinha feito prova e James riu da minha cara confusa. — Você estava correndo ontem na escada e disse que precisava estudar.
— Ahhh. — Ri sem graça. — Mais ou menos. Talvez faça prova final desta disciplina.
— Entendo. Espero que dê tudo certo.
Fomos forçados a encostar na parede quando alguns vizinhos despontaram na escada. Pensei em chamá-lo para entrar e conversar mais, porém estava com muita vergonha. Muitas vezes ficava pensando em desculpas para passar mais tempo com ele, mas não tinha boas ideias.
— Parece triste. — James virou seu rosto para mim ainda encostado na parede, ao meu lado.
— Ando me sentindo exausta e desanimada. — Admiti soprando o vapor que saia da caneca em seguida.
— Eu gosto de correr de manhã, me faz começar o dia disposto. — Falou e assenti já com preguiça por ele. — Eu gosto de correr com alguém, mas tenho feito isso sozinho ultimamente. Quando morava nos dormitórios da universidade sempre tinha muita gente correndo no campus.
— Que legal. Eu tenho vergonha de correr.
— Por quê? — Ele ergueu as sobrancelhas como se o que eu disse fosse um completo absurdo.
Eu não quis dizer que era porque meus seios ficavam saltando e que todas as minhas gorduras vibravam, além de ficar vermelha e esbaforida.
— Eu não consigo correr muito. — Murmurei não gostando muito daquele assunto.
— Eu gosto de caminhar também. — Disse mudando o tom de voz para empolgado. — Caminhar pela manhã é ótimo, é um dos exercícios mais indicados, e dá para conversar.
— É, eu gosto de caminhar. — Concordei agradecida por ele não ser um idiota que tentaria me convencer forçadamente a fazer exercícios que eu não queria com a desculpa que me ajudaria a emagrecer.
— Você... — Ele limpou a garganta. — Quer caminhar comigo de manhã?
— Eu? — Ergui as sobrancelhas sentindo meu coração acelerar.
— É... — Sorriu tímido. — Não gosto de fazer isso sozinho e gosto muito de conversar com você. — Sua voz foi esmorecendo e seu olhar vagou pelo corredor parando na caneca em sua mão. — Tudo bem se não quiser! — Virou-se para mim de repente. — Não tem problema.
— Eu quero. — Aceitei comovida pelo seu motivo, e acabou sendo uma resposta por impulso. — Mas vai ter que ter paciência comigo...
— Não se preocupe. — Ele sorriu. — Vai ser bom para a gente.
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