Eu acordei com um barulho. Levantei da cama assustada. Era um assalto? Andei devagar no escuro até ver a luz do quarto do Jason acesa. Meu pai estava mexendo numas coisas. Suspirei profundamente quando o vi brincando com uns cavalinhos.

— Pai. — Entrei chamando sua atenção. — Não está com sono? — Me sentei no chão ao seu lado.

— Eu precisava consertar isso. — Ele disse concentrado e então percebi que ele não estava brincando e sim colando as peças quebradas. — Jason tinha me pedido mil vezes e eu nunca tive tempo.

— Não vai adiantar muito agora. — Lamentei já sentindo as lágrimas se reunirem em meus olhos.

— Mas ele tinha pedido. — Papai continuou concentrado e eu me segurei para não soluçar.

Olhei em volta sentindo um peso no meu coração. Tinha muito dele ali.

— O que acha de doarmos tudo? — Falei e ele me olhou parecendo ofendido. — Ele iria gostar de passar tudo isso para quem realmente precisa.

— Mas Hana... E vamos ficar com o que?

— Com todas as lembranças que ele deixou. — Sorri mesmo que a lágrima tenha escorrido pela minha bochecha.

Eu senti meu coração acelerar loucamente no caminho de volta para meu quarto. Me sentei na cama no escuro e cobri meu rosto com as duas mãos tentando abafar o choro. Alguns dias doía tanto que eu pensava em acabar com tudo.

— Hana? — Ethan abriu a porta assustado. Ele estava com o cabelo bagunçado e os olhos espremidos. Certamente estava dormindo, já era madrugada. — Aconteceu alguma coisa?

— Eu não consigo parar de chorar. — Solucei coçando os olhos.

Ele me puxou para dentro e me abraçou. Ethan ainda estava quente, mas eu me encontrava gelada.

— Você veio andando? — Ele disse me afagando meu cabelo. — De madrugada?

— Peguei um táxi.

— E seus pais?

— Não disseram nada. — Minha voz estava abafada, porque eu estava falando contra sua camisa. — Eu não consigo mais sozinha. Acho que vou aceitar a proposta de ir ao psicólogo.

Ethan segurou meu rosto com as duas mãos e era engraçadinho vê-lo me encarando com os olhos menores ainda de sono.

— Você ainda está chorando. — Ele enxugou minhas lágrimas.

Fui me acalmando depois de alguns minutos. Vesti suas roupas e fiquei confortável enrolada com seus cobertores.

— Quando isso vai passar? — Perguntei deitada em seu peito. — Você já cansou de mim?

— Vai passar. — Ele respondeu. — Amo você.

Consegui relaxar no calor do seu corpo. Era assustador ter uma pessoa como refúgio. Eu tinha medo de perdê-lo também. Se acontecesse eu não aguentaria.

É difícil estar bem. Embora a maioria das pessoas imagine que você é a pessoa mais forte do mundo por sempre estar sorrindo e fazendo piadas, não fazem ideia do caos existente.

— Amo você. — Ethan repetiu, mas já parecia estar meio dormindo.

— Obrigada. — Sussurrei.