Capítulo 18
Assim que chegou a segunda-feira me vi vagando pela universidade, sem Ethan e Mary. Minha amiga enviou algumas mensagens pedindo que eu fosse com ela escolher o vestido de noiva no próximo final de semana.
Assisti as aulas, e resolvi passar na biblioteca antes de ir almoçar.
— Bu! — Sorri quando fui interceptada por Theo no campus.
— Acho que nunca te vi na universidade antes. — Brinquei vendo o garoto enterrar as mãos num casaco marrom. — Nem quando eu trabalhava na biblioteca.
— Eu não pegava livros. — Respondeu divertido. — E meu departamento fica bem longe do seu.
— Ou você mata muita aula. — Cutuquei seu ombro.
— Eu pratico muito, sabe? Pode não parecer, mas sou muito esforçado. Meu pescoço está machucado de tanto que o violino me escraviza. — Ele puxou a camisa branca que estava por baixo do casaco para me mostrar o hematoma em seu pescoço.
— Olha, é mesmo. — Me aproximei espremendo os olhos. — E eu achando que isso era obra dos seus relacionamentos cheios de luxuria.
Theo gargalhou e negou com a cabeça.
— Não tenho saído com ninguém ultimamente. — Encolheu os ombros. — Você quer almoçar comigo?
— Preciso pegar alguns livros, porque eu estudo, sabe?
— Eu vou com você. — Theo sorriu e abriu caminho para que eu passasse.
Entramos juntos na biblioteca e Theo me acompanhou na minha busca pelos livros. Ele foi tomando os livros da minha mão enquanto eu procurava os outros.
— Você vai ler tudo isso? — Ele sussurrou enquanto eu tentava encontrar o último.
— Preciso, não quero reprovar em nada esse semestre. — Respondi concentrada.
— Você vai conseguir. — Theo sussurrou mais uma vez e sorriu quando olhei para seu rosto. — Você é a melhor.
Theo continuou carregando meus livros mesmo quando saímos da biblioteca. Eu quis perguntar se estava tudo bem, parecia desanimado.
— O que quer comer? Posso te levar em qualquer lugar. — Ele disse.
— Você está bem? Não tem nenhuma garota legal para almoçar com você? — O analisei desconfiada.
— Tem uma, está bem na minha frente. — Sorriu de lado. — Vamos. Estacionei aqui perto.
— Mas essa é namorada do seu amigo. — O segui e tive que me apressar, já que ele começou a andar rápido.
— É, eu sei. — Ele parou de andar e se virou me encarando de repente. — Já aceitei ser apenas seu amigo. Não precisa se preocupar com isso... — Suspirou. — Mas entendo se não quiser passar tempo comigo.
— O que você tem? — Murmurei estranhando sua reação. Talvez nunca tivesse visto Theo tão chateado, chateado de verdade. — Eu estava brincando.
— Mas eu já entendi.
— Do que está falando, Theo?
Estava tão concentrada na expressão irritada do garoto a minha frente que não percebi uma menina se aproximando, ela passou por mim e bateu de frente com Theodore, que a encarou ainda rígido.
— Foi você que pediu ao professor que mudasse o horário dos ensaios da orquestra? — Ela perguntou, mas tinha um tom de bronca nas suas palavras.
— Sim. — Theo respondeu. — Por quê?
— Então desfaça isso.
— Por que eu deveria?
— Porque ficou horrível! A noite é inviável para mim! — Ela continuou reclamando. Não pude ver seu rosto direito, já que ela usava um boné. — Você não pode tomar decisões sozinho pelo grupo.
— Não tomei a decisão sozinho, Miranda. — Theo rosnou de volta. — As pessoas sugeriram no grupo online, eu apenas representei a turma.
— Eu não ouvi nada sobre isso.
— Devia ler as mensagens do grupo, então.
— À noite eu não posso. Precisa falar com o professor. — Ela respirou fundo.
— O grupo já decidiu. — Theo virou o rosto.
— Mas não foi unânime, Theodore. Devia se certificar de falar com todo mundo antes de comunicar ao professor.
Andei um pouco para vê-la melhor, e seu rosto estava vermelho como se fosse explodir de raiva a qualquer momento. A garota tinha cabelos escuros lisos, e era muito magra e pálida como se nunca tivesse tomado sol, diferente de Theo que era bronzeado o ano inteiro. Parecia uma briga entre a Morticia e o Jacob de Crepúsculo. Mas a garota tinha uma caracteristica chamativa, uma boca grande, com lábios cheios... Fiquei pensando que se ela passasse um batom vermelho, nem Angelina Jolie iria querer enfrentar.
— A culpa não é minha, pianista. — Theo suspirou. — Pensei que todos estivessem de acordo.
— Mas eu não falei nada.
— Você nunca fala nada! — Ele debochou, mas pareceu deixá-la ainda mais irritada.
— Será que os dois não podem ir conversar com o professor? — Interrompi trazendo a atenção deles para mim. Parecia que Theo tinha me esquecido completamente, mesmo que ainda estivesse segurando meus livros. — Oi, eu sou a Hana.
A garota acenou sem jeito para mim, como se sua fúria tivesse se tornado vergonhosa. Ela alternou o olhar entre mim, Theo e os livros, logo eu quis desmentir qualquer confusão.
— Somos amigos. — Contei e ela assentiu com a cabeça.
— Eu vou indo. — Ela disse e trocou um olhar estranho com Theo, que parecia arrependido de repente.
Theo suspirou quando ela saiu correndo.
— Você entrou na orquestra da universidade? — Perguntei.
— Sim... E já estou arrependido. — Abaixou a cabeça.
— Você está bem esquentadinho hoje, Theo. — Toquei seu ombro. — Quer me dizer o que está acontecendo?
— Desculpe. — Murmurou olhando para a direção em que a menina foi. — Desculpe, Hana. Eu... Só não estou num bom momento... Há algum tempo.
— Deveria ir se acertar com ela. — Peguei meus livros de sua mão.
— A gente nunca se acerta. — Theo sorriu um pouco, mas parecia cansado. — Não se preocupe com isso. Ela me odeia.
— Por que ela te odeia?
— Não sei bem.
— Ela está na sua lista de ex? — Brinquei e Theo ergueu as sobrancelhas.
— Não.
— Ah tá! Ela não faz seu tipo, não é? — Analisei o garoto parecer perdido com a conversa, o que era estranho se tratando de Theo, o maior galinha que eu conhecia.
— Não banque a cupido comigo. — Ele disse depois de suspirar, e acabei fazendo uma careta por ser cortada daquele jeito. — Esse cargo também é meu, e eu sou imune a ele.
— Não acredito, porque também sou e fui acertada. — Ajeitei os livros em meus braços, e vendo meu desconforto, Theo os pegou novamente.
— Sorte a sua. — Suspirou de novo sem me encarar. — Vamos, estou com fome. — Começou a andar.
— Espera! Não vai atrás da sua colega? Ela parecia bem preocupada... Deve ser muito ruim para ela ir ao ensaio a noite. Você é um garoto bonzinho, Theo, eu conheço você.
Ele riu como se minha fala fosse um absurdo.
— Eu vou resolver isso. — Ele disse quando chegamos ao seu carro vermelho.
Theo me levou para almoçar e observei em silêncio enquanto ele conversava com o professor numa ligação. Ele não disse que a Miranda não podia, ele disse que ele mesmo não podia... Estava assumindo a responsabilidade, e eu sabia que ele sabia fazer isso, do jeitinho dele.
— Não vai ligar para ela e contar que resolveu? — Perguntei ansiosa, porque depois da ligação ele apenas comeu sem dizer nada.
— Ela vai descobrir.
— Mas você devia contar a ela! Parecia tão nervosa...
— Você parece muito preocupada com a Miranda. — Ele riu.
— Fiquei sim! Me identifiquei com ela.
— O que? — Theo tossiu engasgado com a comida.
— Ela tem gênio forte. — Expliquei. — Levanta o braço para parar de tossir.
Theo riu depois de beber água, o que pareceu resolver o quase engasgo encenado.
— Vocês não se parecem. — Ele disse negando até com a cabeça.
— Por que afirma tão convicto?
— Porque você não me odeia.
Mais tarde quando Ethan foi me visitar em casa, eu o alertei.
— Acho que Theo não está bem. — Contei segurando suas mãos, enquanto ele estava encostado em seu carro. Ethan sempre estava bonito, e ele não precisava se esforçar tanto para isso. Depois do emprego ele passou a usar roupas mais formais, casacos longos... Eu adorava.
— O que ele aprontou dessa vez? — Ethan brincou concentrado em mover nossas mãos.
— Ele está sozinho. Por que não o convida para dormir no seu apartamento hoje? Ele parece ter muito para conversar...
— Ele não quer passar tempo comigo.
— Por que? — Franzi as sobrancelhas.
— Porque roubei a garota dele. — Ethan sussurrou. — Eu te disse... Ele ficou chateado, só não diz em voz alta porque não quer parecer imaturo.
— Você está errado. Ethan... Por favor.
Ethan me observou suspirar, fazer bico, cruzar os braços...
— Ok! — Ele assentiu rindo. — Eu vou ligar para ele. Mas toda vez que a gente se vê, ele me bate.
— Cuide dele. — Abracei sua cintura. — Se não cuidarmos de quem amamos enquanto podemos... Em algum momento, vai ser tarde demais.
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