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Capítulo 15

Calcei meus scarpins vermelhos sabendo que estaria indo para uma batalha difícil e precisava de uma arma a altura.

Ethan foi me buscar em casa e sorri quando nos encontramos na varanda. Ele estava muito bonito com o cabelo partido ao lado e com um blazer azul escuro. Os pais dele haviam feito uma reserva num restaurante caro só para me conhecer, o que inevitavelmente me causou um frio na barriga. Passei as mãos pelo meu vestido marfim.

— Estou bonita? — Perguntei.

— Perfeita. — Ele sorriu fazendo seus olhos sumirem ainda mais. — Vamos acabar logo com isso.

— Vamos. — Assenti tentando passar confiança.

Sorri um pouco e tentei não pensar muito até estar de frente para a senhora Kang. A mulher baixinha de cabelos negros e curtos me observou diretamente com seus olhos esguios, que eram muito parecidos com o do meu namorado. Os pais de Ethan pareciam muito jovens, e minha mãe ficaria com inveja da pele da senhora Kang. Mesmo com saltos ela era muito menor que eu. O senhor Kang não parecia tão atento a mim quanto sua esposa, ele estava mais concentrado em seu celular.

Eles tinham escolhido um restaurante caro, mas tudo que observei foi quanto o ambiente parecia escuro e sufocante para mim.

— Pai, pode parar de trabalhar um pouco? — Ethan pediu depois de alguns segundos de silêncio. — Pensei que tivesse tirado os dias de folga para minha formatura.

— Só um minuto. — O homem levantou-se, fazendo seu filho suspirar. — Eu já volto, preciso mesmo atender essa ligação. Com licença, Hana.

Assenti com a cabeça, mas Ethan pareceu realmente chateado com aquilo.

— Ele é gerente de uma empresa. — A senhora Kang disse e concordei. — É por isso que estamos aqui na Europa. Meu marido recebeu a oportunidade de vir para cá quando Ih No ainda era pequeno. Primeiro em Surrey, onde Ih No cresceu, depois Birmingham, onde moramos agora.

— Entendi. — Murmurei com as mãos ainda pousadas em meu colo.

— Me fale de você, Hana. — Pediu. — O que faz, sua família, seus sonhos...

Troquei um olhar com Ethan, ele sorriu.

— Eu atualmente estudo publicidade, moro com meus pais, e não tenho certeza dos meus sonhos. — Encolhi os ombros, mas ela apenas acenou com a cabeça. — Mas acredito que poucas pessoas tenham essa certeza, não é?

— Melhor não ter sonhos do que não poder realizá-los. — Ela respondeu.

— Acho que é quase na mesma medida, já que estar perdido é quase tão desolador quanto incapacitado.

— Você tem um ponto de vista.

Percebi rapidamente que a mãe do Ethan não gostava de sorrir, pelo menos não para mim. Ela era muito fria e aquilo me intimidava.

— Ih No disse que seu irmão faleceu. — Ela disse. — Sinto muito.

— Obrigada.

— A Hana está tímida hoje. — Ethan disse algo rindo, o que mudou o humor da mesa. — Geralmente ela bem animada. Acho que a senhora está a intimidando.

— Acho que não tivemos uma conversa boa da última vez. — Admiti vendo o semblante da mulher se manter sério.

— Pelo telefone... — Ela recordou e suspirou. — Não achei que chegaríamos a nos conhecer, mas aqui estamos.

— Mãe! — A voz rouca de Ethan se elevou e eu abaixei meu olhar. — Eu pedi para você ser legal, por que está sendo assim? Eu falei que ela é importante para mim, por que não me leva a sério?

— Porque eu não estou feliz, Ih No. — Ela cruzou os braços e vi os lábios de Ethan tremerem antes dele olhar para mim, envergonhado. — Não sonhei com nada disso para você.

— Não estamos mais na Coréia, e pare de ter sonhos por mim então.

A volta do Sr. Kang não alterou o clima da mesa. Eu entendi que a mãe dele não gostava de mim e não estava disposta a gostar, mas sua discussão não era comigo, era com seu filho.

— O que está havendo? Já estão brigando? — O pai dele perguntou.

— Eu pedi que me dessem uma trégua pelo menos essa semana. — Ethan murmurou sem encará-los. — Eu pedi me felicitassem na minha formatura, que cumprimentassem minha namorada, que não me ofendessem... Pedi muito?

A mãe piscou lentamente observando o discurso do Ethan como se fosse drama, e aquilo me magoou profundamente. Foi então que entendi por que ele estava preocupado que eu conhecesse sua família.

Minha cabeça já estava formulando a resposta, mas antes que eu pudesse abrir a boca, Ethan segurou minha mão e levantou-se.

— Não vamos jantar aqui se for para ser assim. — Ele disse, parecia muito irritado.

— Não seja infantil, Ih No. — Ela disse com o cenho franzido. — Sente-se, pare de fazer barulho.

Ethan suspirou e levantei quando ele me encarou suplicando.

— Eu adoro os jantares em família. — Sr. Kang disse, e se eu não estivesse em uma posição tão delicada, teria achado engraçado.

Apenas segui Ethan e não falei nada enquanto andávamos pela calçada.

— Não vejo a hora deles irem embora. — Ele disse finalmente quando chegamos ao seu carro. — Eles reclamam de tudo que faço.

— Eu gostaria de saber o que te dizer, mas...

— Não precisa me dizer nada. Não sabe o quanto estou envergonhado. — Abaixou a cabeça.

— Hei, está tudo bem. — Abracei seu pescoço.

— Não está não.

— Amanhã é sua formatura. — Murmurei tocando o cabelo em sua nuca. — Podemos sobrepor momentos tristes com momentos felizes.

E bem na hora Mary encheu meu celular de mensagens, perguntando como estava o jantar. Mas então me convidei para jantarmos com nossos melhores amigos.

Robert entendeu rapidamente a situação e abraçou Ethan quando chegamos à casa do casal. Eu e Mary rimos de como Ethan tentou expelir o abraço do amigo, mas tudo não passava de brincadeira dos dois.

— Não me trate assim. — Robert sacudiu os ombros dele. — Vou te alimentar. O que quer comer?

— Vai cozinhar só para mim? — Ethan perguntou entrando com ele.

— Hoje vamos pedir. — Robert levantou o celular. — Mas eu pago.

— Espera que vou pegar minha lista de coisas que quero comer e não posso pagar. — Falei fazendo Ethan e Mary gargalharem, mas Robert torceu o nariz.

— Tá! — Ele estalou os dedos. — Hoje é por minha conta.

— Gosto muito do seu noivo. — Falei para minha amiga, que apenas sorriu e logo ficou corada.

Mas acabamos pedindo pizza e sorvete. Mary e Robert tinham um belo apartamento, mas apesar da sala de jantar ser aconchegante, preferimos sentar no chão da sala e ouvir músicas aleatórias da playlist de Robert.

— Eles sempre fazem isso, odeiam tudo que eu faço, principalmente mamãe. — Ethan falou quando Robert perguntou sobre seus pais. — Ela sempre quis voltar para a Coreia, ela não quis que eu cursasse jornalismo, ela não quis que eu voltasse para Surrey depois que eles se mudaram... Eu estou cansado disso.

— Por que você voltou? — Mary murmurou parecendo muito curiosa.

— Ele tinha passado no exame da universidade de Surrey para Jornalismo. — Robert contou limpando a bochecha dela, que estava suja. — Os pais dele se mudaram quando tínhamos acabado de terminar o ensino médio. Fora que ele nos amava e não queria ficar longe.

Ethan sorriu torto e enfiou um pedaço enorme de pizza na boca. Na verdade eu sentia muito por ele, porque apesar de fragmentada minha família ainda assim era calorosa.

— Ansioso para a colação de grau? — Mary perguntou.

— Ele não fica ansioso por nada. — Respondi fazendo Ethan rir. — Está feliz pela colação ser de noite e ele não ter que acordar cedo.

— Vou, pego o diploma e volto para dormir. — Ele disse sorrindo para o teto.

— Eu fiquei com a tarefa de te contar, então... — Robert disse devagar observando Ethan. — A gente não vai deixar isso passar em branco. Eu e meninos preparamos algo, é bom não faltar.

Ergui as sobrancelhas. Ethan não queria comemorar, disse que não queria cansar seus pais. Desejei que os meninos tivessem me incluído nos planos.

— Como assim? — Ethan franziu o cenho. — Não quero que gastem com isso. — Estalou os lábios.

— Bom, Will e Theo fizeram a parte que gasta. — Robert riu. — Eles fizeram questão.

— Não acredito. Aqueles pestinhas.

— Theo e Will são impagáveis. — Murmurei feliz.

— Então depois da colação vem com a gente. — Robert sorriu. — Vai ser só a gente, com muita comida, bebida e música.

— Ok, seus chatos. — Ethan concordou e ri, porque ele pareceu feliz também.

A noite poderia ter sido mais fácil, e eu liguei o rádio e fui cantando no carro todo caminho até minha casa. Ethan riu e cantou comigo. Talvez precisássemos falar mais sobre o que tinha acontecido naquela noite, mas não parecia mais plausível ou necessário.

— Espero que fique bem e que não briguem. — Falei quando chegamos a varanda da minha casa.

— Dane-se. — Ethan encolheu os ombros e depois esticou seus braços. — Estou cansado demais para aturar a birra dos meus pais.

Sorri um pouco, mas não conseguia esquecer a expressão dura da senhora Kang.

— Vocês sempre foram assim? — Perguntei.

— Mamãe tentou ficar muito controladora com o tempo, talvez porque eu seja seu único filho. — Ele suspirou. — Ela não me chama de Ethan nunca, e se não fosse por ela até esqueceria meu nome coreano.

— Talvez ela seja apenas uma mulher infeliz.

— Talvez. — Ele concordou. — Mas eu não tenho culpa de nada.

— Não tem. — Segurei suas mãos. — Mas não briguem.

— Eu vou tentar.

Ele avançou e beijou-me rapidamente. No inicio Ethan olhava em volta para ver se meu pai não estava espionando em alguma das janelas, mas depois parou de se preocupar com isso.

— Obrigado, Hana. — Ele disse quando se afastou. — Até amanhã.

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