Capítulo 14
Saí da entrevista me sentindo exausta. Parecia que eu animei os entrevistadores na primeira fase e eles voltaram com uma nova abordagem, mas apenas respeitei meu bom senso e respondi o que achei que deveria, ou seja, fui sincera. Dane-se.
Mas um achado do meu dia foi encontrar a Mila no banheiro da empresa pouco antes de eu ser chamada. Ela havia me convidado para o almoço.
— A gestora do setor de marketing é bem chata mesmo, ouvi dizer. — Mila disse enquanto esperávamos nosso prato no restaurante perto da empresa. — Mas eles estão precisando mesmo de alguém bem humorado.
— Estão mesmo. — Reclamei e ela deu risada, mas uma risada sofrida. — Você está bem?
Ela encolheu os ombros e deduzi que não. Mila me fez ter inveja por estar incrivelmente elegante em roupas confortáveis, sua calça preta folgada e sua camisa larga rosa fizeram total sentido com sua sandália de salto baixo. Enquanto eu estava sofrendo dentro de uma saia lápis e de saltos altos.
— Tem um tarado que não para de nos encarar. — Falei percebendo um rapaz na outra mesa que olhava fixamente para nós duas.
Mila virou seu rosto para ver, mas voltou para mim com uma careta.
— É meu chefe. — Ela sussurrou parecendo incomodada.
— Seu chefe está te querendo. — Falei e ela sorriu triste mais uma vez. – Sério. Ele está vindo para cá.
Ela suspirou, cansada. Trocamos um olhar e Mila pareceu pedir socorro, e como boa amiga entendi seu aviso.
— Oi. — Ele saudou olhando para ela. — Esse lugar está vago? — Pousou a mão no recosto de uma cadeira vazia em nossa mesa.
— Não. — Respondi antes de a Mila abrir a boca. — Nossa outra amiga logo vai chegar.
— Oh. — Ele murmurou e assentiu. — Entendo. Você está bem, Mila?
— Sim. — Ela assentiu e sorriu um pouco.
— Eu vou deixá-las. Perdoem-me o incômodo.
— Perdoado. — Falei concordando com a cabeça. — Tchau!
Mila suspirou de alívio quando ele se afastou.
— Queria poder conversar mais, porém tenho aula e acho que chegarei atrasada. — Falei depois de ter que comer rápido por lembrar que ainda teria que viajar de volta para Surrey.
— Vai chegar a tempo. — Mila afagou meu ombro. — Boa aula, Hana. Foi muito bom te ver.
Eu não quis comentar sobre as olheiras embaixo dos seus olhos, talvez ela acabasse se sentindo pior. Depois que sofri muito percebi que ver as pessoas tocando no assunto machucava muito. Esperei que ela me contasse, mas não o fez.
— Fica bem. — Falei depois de abraçá-la quando nos despedimos.
Eu corri até a sala de aula, quase colocando o almoço para fora, para descobrir que o professor havia desmarcado a aula. Apenas encontrei um banco no campus e tirei os saltos. Ethan enviou algumas mensagens avisando que seus pais haviam chegado em seu apartamento.
— Estou exausta. — Mary deitou no banco colocando sua cabeça em meu colo.
— Boa tarde, folgada. — Falei vendo-a fechar os olhos. — Não vai ter aula?
— Tenho uma reunião com meu orientador. — Ela murmurou. — Tenho algum tempo ainda. E você?
— Descobri que não vou ter aula. — Suspirei. — Podia ter ido para casa. Esses saltos estão me acabando e vim de Londres.
— Espera! — Mary levantou-se do meu colo e começou a vasculhar sua mochila, de onde tirou um par de chinelos. — Aqui.
— Você anda com isso? — Ri calçando os chinelos amarelos, que eram confortáveis, mas não combinavam nenhum pouco com minha roupa.
— Sim, porque lá no escritório não consigo passar o dia de salto alto. Mas hoje eu me revoltei e fui de tênis. — Esticou suas pernas me mostrando seus tênis brancos. — Mas os chinelos ficam na mochila. Pode ficar com eles hoje se quiser.
— Obrigada. — A abracei, mas estava quase a esmagando.
— Como foi na entrevista?
— Sei lá. — Suspirei mantendo minha cabeça em seu ombro. — Não tenho muitas expectativas.
— Vai dar tudo certo, tenho certeza.
O sol estava fraco, e o clima muito fresco. Mary apoiou sua cabeça na minha e ficamos apenas nos apoiando.
— Já escolheu a roupa para formatura do Ethan? — Ela disse. — Vou te mandar foto das minhas para você me ajudar a escolher.
— Escolhi. — Murmurei. — Os pais dele chegaram hoje.
— Você vai conhecê-los hoje?
— Amanhã. — Contei lembrando de Ethan já ter combinado tudo. — Ele quer fazer um jantar para me apresentar aos pais.
— Nossa, que formal. — Ela deu uma risadinha. — Acho Ethan muito fofo e preocupado. De longe nem parece que ele é assim.
— Ele é. — Sorri lembrando-me de sua fisionomia. — Mas sua mãe já não gosta de mim.
— Ela é coreana, certo? Robert me contou. Mas não se preocupe, Hana, porque não tem como não gostar de você.
— Já conheci muita gente que não gostou.
Me afastei e comecei a alongar meus braços. Mary me observou e riu quando pisquei para ela. Mary ria de quase tudo que eu fazia, qualquer careta minha lhe arrancava uma risada.
— Quando vai marcar a data do casamento? — Perguntei. — Ou você e Robert decidiram apenas continuar morando juntos sem a aliança?
— Bem, Robert quer muito casar e eu também quero, mas...
— Mas?
— Meu pai começou a sair com Norah, a mãe de Robert. — Mary contou pensativa.
— Sério? Então vocês agora são noivos e irmãos? — Brinquei e não aguentei segurar a risada. — Brincadeira. Mas qual problema?
— O problema é que minha mãe e Norah não se deram muito bem. — Mary alisou as têmporas.
— Mas seus pais são divorciados, e se não me engano sua mãe foi embora primeiro. E agora ela está com ciúme do seu pai?
— Não do meu pai, mas da situação. Porque agora Norah está mais próxima do que ela... Ai Hana, enfim, está sendo um desastre unir essas famílias. Fora que o pai de Robert, que mora na América, quer se envolver também, e Norah está odiando. Não sabemos quando esse casamento vai acontecer.
— O que Robert acha disso?
— Ele está tentando apaziguar a situação. Ele sabe bem como mediar as coisas, e acabo me sentindo uma inútil. Robert é perfeito.
— Ele não é perfeito, é que você gosta muito dele. — A cutuquei.
Mary sorriu e em vez de discutir, apenas concordou.
— Acho que preciso ir para minha reunião. — Ela levantou-se apressada. — Te vejo depois.
— Ok! Boa sorte. — Soltei um beijo enquanto ela corria pelo campus.
Peguei o ônibus de chinelo mesmo. Ainda era muito cedo para dizer que era final de um dia cansativo, e quando cheguei em casa nem meus pais haviam retornado do trabalho.
Pensei em apenas tomar um banho e dormir o resto da tarde. Mas algo tocou meu coração naquela casa vazia e silenciosa. Queria ver meus pais sorrindo, então tomei um banho e comecei a preparar o jantar. Normalmente eu chegava e mamãe já estava preparando alguma coisa, papai aparecia para comer e depois nós três nos recolhíamos em nosso canto, solitários e quietos. Não era assim no passado. Antigamente eu chegava e encontrava Jason tagarelando na cozinha com mamãe, e eu me juntava a eles aumentando a tagarelice, então jantávamos tagarelando, e tagarelávamos até a hora de ir dormir.
Pesquisei alguma receita e me concentrei naquilo. Na verdade, foi muito bom experimentar algo diferente em minha rotina. E sorri quando meu celular começou a tocar, com Ethan no visor.
— Oi linda, ainda está na universidade? — Ele disse assim que atendi e coloquei no viva voz para continuar cortando as verduras.
— Não tive aula. Estou em casa. E você? Já chegou do trabalho?
— Tirei o dia de folga para ficar com meus pais. — Ethan suspirou. — Mas já estou procurando uma forma de fugir e te encontrar.
— E então sua mãe vai me odiar ainda mais.
— Ela não te odeia e eu te amo.
— Ok. — Acabei rindo.
— Ela está ansiosa para te conhecer, de verdade.
— Estou preparando minha melhor roupa. — Brinquei e Ethan gargalhou. — Preciso usar colete a prova de balas?
— Não vou deixar nada de ruim acontecer.
— Eu confio em você.
Estava com medo de conhecer os pais de Ethan, mas decidida a não deixar nada e nem ninguém atrapalhar o que tínhamos, então tentei não sofrer tanto.
— Percebi que gosto só quando tem nós dois e Holly aqui em casa. — Ethan disse me fazendo olhar para o celular.
— Sua mãe já está vasculhando seu guarda-roupa?
— Ela está mexendo em tudo e tentando mudar tudo. — Ele suspirou. — Gosto do jeito que a gente deixou.
— Não se estresse com isso.
— Só se você prometer colocar tudo em ordem depois e passar um fim de semana inteiro comigo.
— Nossa, já vou pensando na desculpa que vou dar para os meus pais. — Brinquei e sorri em ouvir a risada do Ethan.
Pude ouvir o som da voz de outra pessoa e Ethan falando algo, devia ser sua mãe.
— Hana, acho que preciso ir. Mamãe quer destruir a casa. — Ele resmungou. — Te ligo depois. Te amo.
Ele desligou antes que eu pudesse responder de volta.
— Também te amo. — Cantarolei sozinha.
Quando mamãe chegou apressada em colocar as coisas em ordem, se deparou comigo na cozinha já terminando de limpar tudo.
— Fiz o jantar, mãe. — Contei vendo-a desnorteada com a cena.
— Obrigada, filha. — Ela se aproximou parecendo emocionada e me envolveu num abraço caloroso.
Tivemos um ótimo jantar, e com algum esforço consegui fazer papai gargalhar.
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