Capítulo 11
— Você consegue. — Falei para mim mesma na frente do espelho do banheiro. — Fighting! — Fechei os punhos e sorri.
Ajeitei o cabelo, colocando-o atrás da orelha. Eu não queria estar nervosa, mas inevitavelmente me sentia assustada com o desconhecido. Quem estaria do outro lado? Que perguntas me fariam?
Voltei para a sala de espera e peguei algumas garotas me encarando, eram outras concorrentes pela vaga de estágio. Talvez meu batom vermelho tenha sido demais para elas, mas sorri de volta o que as fizeram sorrir desajeitadas.
— Boa sorte. — Murmurei quando passei por elas até alcançar o acento do outro lado.
Sentei tentando listar em minha mente motivos para não me preocupar com aquilo.
— Hana Collins. — Uma mulher apareceu e me chamou. — Sua vez.
Tutorial. Quando for fazer uma entrevista de emprego ou estágio seja você. Não invente de mentir sobre coisas que você não sabe fazer, tenha certeza que isso vai te atrapalhar depois. Também não precisa ficar desesperado, as pessoas que estão te entrevistando são apenas pessoas e nasceram da mesma forma que você. E caso não seja muito boa a entrevista, fica para experiência, a próxima vai ser melhor.
Eu entrei na salinha, onde haviam quatro pessoas. Dois homens e duas mulheres, todos vestidos com roupas sociais escuras e expressões frias. Meu traje social era um conjunto de saia e blazer tom marfim, com uma camisa vinho por baixo, os saltos fechados era no tom de vermelho escuro e o som que emitiram quando andei pela sala chamou a atenção deles.
— Sente-se. — O homem de barba espessa disse sem olhar para mim. Ele estava lendo o que parecia ser meu currículo. Eu sentei. Estava, sinceramente, me sentindo uma diva naquela roupa social. — Então, senhorita Collins, vejo aqui que você é a mais velha dos entrevistados.
— Mentira. Tem um senhor com idade para ser meu pai lá fora. — Comentei, mas meu bom humor não pareceu agradável para eles.
— Mas pelo tempo de início do seu curso você já deveria estar formada. — Uma das mulheres sorriu me observando. — Estamos procurando um estagiário competente e esforçado.
— Eu precisei dar uma pausa no curso. — Respondi. — Por motivo de problemas familiares. — Expliquei antes que alguma pergunta desagradável se sucedesse.
— Vimos no seu currículo que você não tem experiência em outras empresas. — O outro homem disse. — Outros concorrentes possuem currículos mais ricos profissionalmente. Me dê um motivo para contratá-la.
Meu olhar vagou pela mesa e torci meus dedos já me sentindo indignada.
— Eu acho uma sacanagem ficarem cobrando experiência de estagiários. — Soltei o ar pela boca me sentindo ofendida. – Vocês conhecem mesmo o significado da palavra estágio? E afinal de contas, como alguém vai adquirir experiência se as empresas só querem contratar estagiários com histórico? Algumas pessoas estão dispostas a aprender e dar o melhor de si, pessoas que mesmo que não tenham estagiado antes tem muita capacidade de contribuir de forma grandiosa para a empresa. Mas se vocês querem contratar alguém para ser apenas uma mão de obra barata ao invés de dar a chance para alguém que quer aprender e ajudar, escolheram o currículo errado. Porque se me contratarem eu não vou ser hipócrita e dizer que sei o que precisa ser feito, mas vou estudar, vou pedir ajuda e ser o melhor que eu puder. Vou torcer então para encontrar uma empresa de boa índole.
Dica. Não façam como eu numa entrevista. Eu, Hana, não sou um bom exemplo.
Não sabia se me sentia arrependida ou satisfeita. Andei pela calçada com a cabeça totalmente perdida sobre minhas atitudes. Talvez precisasse parar de falar demais.
— Hei, gatinha.
Ethan chamou dirigindo devagarzinho atrás de mim.
— Como foi na entrevista? — Ele perguntou depois que entrei no carro.
— Acho que fui muito Hana. — Fiz uma careta e ele afagou meu cabelo rindo.
— Tudo bem. — Ethan colocou o cinto de segurança em mim. –—Se não for dessa vez, terão outras oportunidades. Já comprei a cafeteira.
— Então vamos! Será que o James está em casa?
— Liguei para ele avisando que vou passar lá. — Ethan colocou o carro em movimento. — Ah, e você está linda.
Sorri agradecida e respirei fundo tentando deixar aquele momento desagradável para trás.
Eu nunca tinha ido à casa do James, o qual morava num prédio para universitários, então os apartamentos eram bem pequenos. Mas James organizou tudo tão bem que nem parecia a casa de um homem. Ethan tinha um apartamento pouco maior que aquele e precisava de uma diarista para deixar tudo em ordem.
Quem abriu a porta foi o Theodore, que logo mostrou seu sorriso travesso e bagunçou os cabelos negros do Ethan.
— Ethan, que bom que você chegou. — Theo disse rindo depois de receber um tapa (esperado) do amigo. — Que gata. — Ele passou o braço pelos meus ombros. — Onde estava?
— Numa entrevista de estágio. — Entrei abraçada com ele. Ethan não falava mais nada sobre nossa relação, porque ele sabia que eu considerava o Theo como meu irmão.
— E como foi? Espera! — Ele me olhou de frente. — Seu cabelo está curto.
— Ah, percebeu agora? — Dei risada enquanto ele bagunçava meus cabelos.
— Ethan, vou roubar a Hana para mim. — Theo disse me abraçando de novo. — Ela é muito linda.
Dei tapinhas em suas costas rindo da situação. Theo podia ser minha alma gêmea, mas era mais como minha versão em outro gênero.
— Tira o olho. — Ethan disse entrando mais.
Quando fomos a pequena cozinha encontrei James e William. James parecia ainda surpreso abrindo a caixa da cafeteira que Ethan comprou.
— Não precisava! — James disse com as bochechas fofas já rosadas. — Muito obrigado, Ethan. Nossa, ainda comprou as cápsulas de café! — Descobriu enquanto explorava a sacola.
— Não se preocupe com isso. — Meu namorado bagunçou os cachos dourados de James, que riu como uma criança envergonhada. — Você é a pessoa que mais gosta de café que eu conheço.
— Ahhh, meus filhotes. — Falei recebendo um abraço do Will e logo James veio me cumprimentar.
Theo, Will e James eram os mais novos do grupo e quase sempre estavam juntos, até William conhecer a Helen. Theo e James viviam se desentendendo ao mesmo tempo que buscando conforto um no outro. James era tímido e paciente, enquanto Theo era petulante e impulsivo.
— Que bom que você veio. — Will disse enquanto eu abraçava o James.
— O que foi? Precisa de dicas para dormir com sua namorada fofinha? — Perguntei fazendo o Theodore gargalhar. William negou com a cabeça rindo. — Onde está a Helen?
— Ela viajou para a casa dos pais. — Ele encolheu os ombros. — Volta quando as férias acabarem.
— Ohhh não. — Fiz um bico. — Mas qual o problema?
— Estamos pensando em formas de levar o Natan para sair. — James disse parecendo confuso. — Ele parece muito abatido pelo término com a Rachel.
— Nossa, mas já faz tantos meses que eles terminaram. — Murmurei pensativa, mas não julguei, talvez o luto do Natan estivesse sendo muito doloroso e sobre aquilo eu entendia.
— Mas ele está evitando sair com a gente, vive só trabalhando. — Theo suspirou se encostando em meu ombro. — Daqui a pouco ele vai deixar a barba crescer e ser confundido com os mendigos na rua, e vai ter que esclarecer que é apenas o engenheiro mais barbudo de Surrey.
— Ele vai adorar saber o que você anda falando dele. — Ethan disse concentrado em pegar alguma coisa na geladeira. — Mas semana passada o chamei para beber e fui rejeitado.
Quando o alarme do microondas disparou eu me toquei que a cozinha estava dominada pelo cheiro de pipoca.
— Precisamos de ajuda. — James disse pegando a pipoca no microondas.
Acabamos dando risada com todas as ideias minhas e do Theo. James estava tentando ser racional, Will só comia a pipoca e discordava das nossas sugestões. Ethan era perverso, mas acabamos rindo. Depois de um tempo forçamos o James cozinhar um jantar para gente.
— Alguém atende para mim? — James disse quando a campainha tocou. Ele estava mexendo em alguma coisa no fogão.
Eu perdi no pedra, papel e tesoura e fui resmungando. Não sei por que assustei a menina quando abri a porta. A garota baixinha de cabelos curtos e anelados ergueu as sobrancelhas de forma considerável quando apareci.
— Você veio falar com o James? — Perguntei tentando acordá-la. — Ele está cozinhando.
— Sou a vizinha do lado. — Ela sorriu parecendo sem graça. — Você é a namorada dele?
— Não. — Respondi rindo e entendendo então o motivo do susto. Que fofa, pensei. — Sou namorada do amigo dele. Você quer que eu o chame?
Mas como se tivesse lido meus pensamentos, o dono da casa apareceu.
— Mindy. — James colocou a cabeça para fora por cima do meu ombro. — Eu esqueci completamente. — Ele sorriu e ela assentiu sem jeito. — Meus amigos chegaram de repente. Me dá só um minuto!
Eu espremi os olhos me sentindo cupido de novo. Deveria parar de tentar juntar os outros, mas parecia ser mais forte do que eu.
James era considerado pequeno perto de seus amigos mesmo sendo mais alto que eu, mas tinha altura perfeita perto da sua vizinha. Ela era fofa como uma bonequinha de porcelana, com bochechas redondinhas e cabelos castanhos que formavam cachos abertos.
— Não precisa se incomodar com isso agora. — Ela disse agitando as mãos.
— Espera. — James disse. — Já trago.
Ele entrou correndo e eu sorri para ela. A garota me observou um pouco e abraçou sua própria barriga coberta por um moletom verde. Ela não era magrinha, era aquela pessoa fofa que dava vontade de apertar. Fazer o que? Simpatizei de primeira, e uma coisa que não falhava era meu sexto sentido.
— Sou Hana. — Falei e ela sorriu parecendo muito envergonhada. — Tão bom saber que o James tem vizinhas bonitas e gentis.
— Não. — Ela negou com as mãos parecendo nervosa. — Ele que é muito gentil.
— Ele é. — Concordei com a cabeça. — Ele é solteiro também. — Sussurrei a última parte e ela deu risada parecendo mais descontraída.
— Aqui, Mindy. — James surgiu com uma sacola. — Eu fiquei tão feliz quando achei esse café no mercado, porque gosto muito! — Disse empolgado. — Imaginei que você pudesse gostar também. Ah, meu amigo me deu uma cafeteira e várias cápsulas, quando quiser você pode usar.
Ela pegou a sacola parecendo mais envergonhada por eu estar ali, mas infelizmente minha curiosidade não me deixou dar privacidade a eles.
— Eu cheguei agora do estágio, eu vim porque você tinha dito mais cedo. — Disse. — Obrigada mesmo, James, com certeza vou gostar. Não vou mais incomodar. Preciso terminar um trabalho.
— Você não incomoda. — James sorriu. — Boa sorte com o trabalho.
Ela assentiu e logo se afastou acenando um pouco.
— Tchau, Mindy. — Acenei e ela sorriu antes de entrar na porta ao lado no corredor.
Fiquei olhando para o James com um sorrisinho quando ele fechou a porta.
— O que? Por que está me olhando assim? — Ele riu com minha expressão. James era um garoto com um coração muito grande. Ele parecia tão preocupado com seus amigos que falava pouco de si mesmo.
— Sua vizinha é bem fofinha. — Falei segurando seu braço e impedindo que ele voltasse para a companhia dos outros.
— Nos encontramos mais cedo, e ela gosta muito de café também. — Ele se explicou. — Sempre me traz coisas da padaria. Eu comprei um café que gosto muito, achei que ela pudesse gostar também.
— Vocês parecem ser muito amigos. — Comentei vendo sua cabeça menear. — Acho que vocês tem muito em comum.
— Parece que sim. — Ele assentiu, mas pareceu não perceber o significado verdadeiro do meu comentário.
— Você é tão fofo. — Falei esticando suas bochechas.
Eu parei de falar quando voltamos para a presença dos outros. Eu sentia que deveria tentar falar com ele em outro momento.
— Você gosta de morangos não é? — Ethan disse tirando da sua torta e colocando no meu prato na hora da sobremesa. Eu fiquei observando ele me dar todos.
— Mas você também gosta. — Falei olhando minha torta recheada de morangos.
— E daí? — Ele disse tranquilo. — Você gosta.
No final não conseguimos pensar em como iríamos resolver o problema do Natan. Mas eu me senti bem. Eu estava com pessoas que me davam momentos importantes. Theo e Will também colocaram seus morangos para mim me fazendo rir com a careta do Ethan. Minha ferida doía menos a cada dia.
Tutorial. Dê o seu melhor em qualquer momento da vida. Seja autêntico.
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