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09. você é papel

     
     Como de costume, todos os dias Josh saía para correr antes mesmo de amanhecer. Era sempre o mesmo percurso; do condomínio até a praia, onde assistia o nascer do sol e depois voltava para casa soado, porém com as energias renovadas. No entanto, naquele domingo ao voltar da rotineira corrida, algo inesperado aconteceu; quem ele menos imaginava estava esperando por ele sentada nos degraus da entrada de sua casa.

— Sabina? — chamou, a garota levantou a cabeça, colocando o cabelo atrás da orelha. — O que tá fazendo aqui?

— Eu estava te esperando. — Respondeu ela. — Imaginei que estivesse fazendo sua corrida matinal, como fazia antigamente, então resolvi esperar. Pelo visto algumas coisas nunca mudam.

Josh suspirou e sentou ao lado dela no degrau.

— Antes pelo menos eu tinha minha parceira de corrida. — Alfinetou.

— A gente pode voltar a correr juntos, sinto falta disso.

— Acho melhor não. — Josh disse seco e fez menção em se levantar, mas Sabina colocou a mão em seu joelho, então ele parou.

O loiro esperou ela falar alguma coisa, mas o olhar da mexicana estava parado em um ponto fixo a sua frente, parecia submersa em pensamentos, estava em um lugar distante e inalcançável. Josh notou as olheiras ao redor dos olhos dela e a ponta do nariz vermelho como se estivesse chorado a pouco tempo. Percebeu a tristeza no olhar dela, então concluiu que havia algo de errado.

— Por que não me contou sobre o Noah? — Sabina perguntou sem olhar para ele.

— Seja mais clara, por favor. — Retrucou.

— Por que não me contou dos problemas dele com drogas? Por que não contou nada sobre a overdose que ele teve no verão passado?

Sabina encarou Josh com os olhos lacrimejantes.

— Quem te disse isso?

— A Linsey fez questão de jogar tudo isso na minha cara.

Josh suspirou alto, passando a mão pelo rosto.

— Tá, e como você esperava que eu te avisasse, Sabina? Por telepatia? Ou que colocasse um bilhete numa garrafa e jogasse no oceano na esperança de você recebesse lá do outro lado?

— Você sabe muito bem como, Joshua. — Ela respondeu no mesmo tom. — Eu te disse eu tinha que ir embora; você era o único que sabia por que eu confiava em você. Eu escrevi uma carta pro Noah me explicando e entreguei em suas mãos, eu deixei um número para contato com você, se você tivesse me contado da situação dele, eu teria dado algum jeito de...

— Eu rasguei a carta... — Beauchamp a interrompeu, encarando o chão, envergonhado.

A mexicana paralisou, depois riu com escárnio. Olhou para o céu azul, sem nuvens, fechou os olhos e mordeu o lábio inferior com força tentando não chorar.

Aquilo havia sido um golpe baixo.

Sabina, que pensava que não poderia sentir dor igual a que tinha sentido quando descobriu que Noah quase morreu de overdose, agora sentia a forma mais pura, latente e nociva da dor.

Ela se sentia traída, confiou em Josh mais do que em qualquer um. Confiou nele porque antes mesmo de conhecer Noah ou Bailey, eles já eram melhores amigos. Primeiro vizinhos, depois colegas de jardim de infância, depois de colegial I; onde conheceram Noah, Krys e Diarra. Conforme os anos foram passando e os novos amigos ingressavam ao grupo, nunca deixou de ser apenas Sabina, Noah e Josh, havia uma espécie de singularidade no trio de amigos; uma cumplicidade inexplicável.

— Eu esperava mais de você, Josh. — Disse ela, depois de um longo silêncio. — Achava que nós éramos pedra. Estava enganada. Você é papel, você sempre foi o papel.

A essa altura as lágrimas rolavam pelo rosto da latina, ela já não se dava o trabalho de enxugar. Sua voz saía trêmula enquanto falava, mas não havia raiva em seu tom, apenas decepção, e era isso que quebrava Josh por dentro.

Ele estava envergonhado por sua atitude estúpida e imatura, talvez por isso descontasse todo seu desgosto em Sabina; se ele a culpasse por ela ter ido embora não teria de carregar o fardo por ter rasgado a carta que ela lhe confiou para entregar à Noah. Carta da qual poderia mudar seus destinos, ou pelo menos o do seu melhor amigo.

— Desde que voltei, você tem sido a pessoa que mais me julga e me afasta. — Disse Sabina. — E, sinceramente, eu estou cansada disso, eu estou cansada de ser a que todos julgam destruir o coração de alguém. Estou cansada de ser a culpada por tudo de ruim que acontece na vida dos outros. Olha para mim, Josh, eu estou arruinada, quebrada e destruída. É essa a aparência de alguém que não tem sentimentos? Pois eu tenho, sinto mais do que deveria sentir e isso tá me matando.

Sabina fez uma pausa, sentindo uma pontada de dor de cabeça, respirou fundo, e continuou.

— Porra Joshua, você era meu melhor amigo! Eu não tenho mais energia pra ficar correndo atrás de você; não posso e nem vou te obrigar a me perdoar. Mas também não finja que você não tem uma parcela de culpa no que aconteceu com Noah, você poderia ter evitado muito coisa se tivesse entregado aquela maldita carta. 

A morena pegou seus sapatos do chão e se levantou. Josh, que escutava tudo em silêncio, continuou encarando as próprias mãos. Sabina estava caminhando em direção de sua casa, porém parou e se virou para encarar o loiro, que agora olhava pra ela.

— Pode ficar tranquilo que eu não vou contar isso para Noah, ele não merece mais essa decepção. Deixa ele continuar achando que você é perfeito; o melhor amigo de todos os tempos — Ela riu sem humor, enfatizando a última frase. — que não mente, nem tem segredos, o imaculado Joshua Kyle Beauchamp.

Sabina piscou para ele e saiu, o deixando arrasado e terrivelmente culpado.

  
      Ela fechou a porta e encostou a testa na madeira fria. Aquele havia sido um fim de semana cheio de emoções e ainda estava longe de acabar. Sabina sabia que teria que enfrentar as consequências de desistir da carreira como modelo, uma carreira da qual nunca escolheu seguir. Sabia que sua mãe ficaria furiosa ao saber do que aconteceu. Ela queria ao menos uma vez fazer uma escolha por si mesma, queria escolher fazer algo mesmo que pudesse se arrepender futuramente. Isso era melhor do que se arrepender por não ter feito nada. 

— A senhorita está bem? — Ela se virou ao ouvir da voz de Rosália, logo ajeitou a postura.

— Sim... — sorriu docemente para a babá, e indagou: — Onde está Samuel?

— Está lá em cima, dormindo seu sono matinal.

— Ah, obrigado.

Rosália abriu a boca para questionar, porém Sabina foi mais rápido e saiu, subindo as escadas rapidamente. Ela abriu a porta cuidadosamente, para não emitir nenhum barulho. O quarto tinha o característico cheiro de bebê que ela amava mas nunca pôde apreciar quando sua mãe estava em casa. A morena se agachou perto do berço de Samuel e ficou olhando ele dormir.

Era absurda a paz que o pequeno lhe causava, capaz de acalmar até as mais terríveis tempestades dentro dela. Sabina sentia uma calmaria instantânea ao vê-lo, mesmo que de longe, já que sua mãe a mantinha estritamente longe na intenção de evitar que ela sentisse qualquer tipo de afeto por ele.

Devido à isso a mexicana o tratava rudemente, acreditava que assim a criança fosse se afastar ou até mesmo não gostar dela, embora Sabina soubesse que isso era impossível; ele era pequeno demais para ter sentimentos ruins, ele ainda não entendia o quanto que a vida dói. Entretanto, o real motivo da morena realmente o manter afastado era por causa do quê ele a lembrava, ou melhor, de quem, e de tudo que poderia ter vivido e não viveu.

Ela esticou o braço e tocou a testa da criança com o indicador, então desceu o dedo por entre as sobrancelhas até a pontinha do nariz, tudo suavemente para não acordado.

— Desculpa por conseguir te amar do jeito que você merece ser amado. — ela sussurrou para o pequeno, que dormia um sono calmo e profundo. — Desculpa... Você não tem culpa de nada disso.

Ela limpou uma lágrima da bochecha e se levantou, lutando para caminhar até a porta mas sem conseguir tirar os olhos daquele rostinho angelical.

— Eu vou consertar tudo isso. Eu prometo.

. . .

  
     Passavam das quatro e meia da tarde, Noah já estava encostado em seu carro, com um cigarro entre os dedos, de frente para casa de Sabina, esperando-a descer.

O americano acordou naquele domingo com uma baita ressaca, encarou o teto de seu quarto por tempo suficiente para lembrar de como havia ido parar lá. Sorriu com a lembrança do beijo de Sabina, precisou cheirar os lençóis da cama para ter certeza que não havia sido ilusão de sua cabeça, como já aconteceu várias vezes antes.

Ele fez uma promessa consigo mesmo de que da próxima vez que Sabina estivesse em sua cama ele estaria sóbrio.

Urrea jogou o cigarro no chão e pisou encima do mesmo no instante em que viu Sabina caminhando em sua direção. Ele passou a mão no cabelo e preparou o seu melhor sorriso que a fez sorri instantaneamente.

— Fiquei surpresa quando olhei sua mensagem, achei que não se lembraria de nada hoje... — Disse ela assim que parou na frente dele.

Em um movimento rápido e sem falar nada, Noah a puxou pela cintura grudando seus corpos, então a beijou. Mesmo surpresa, não demorou para ela retribuir o beijo lento e sem pressa.

Aquele era o paraíso.

Parecia que havia um iceberg no estômago dela e um vulcão no seu coração, coisas que só Noah a fazia sentir.

Ele finalizou o beijo com um selinho, os cantos dos lábios erguidos em um sorriso fechado enquanto admirava o rosto da mexicana, ela abriu olhos, encarou as íris verdes e sorriu genuinamente.

— Oi — disse ele, sorrindo.

— Oi... uau! O que foi isso?

— Uma forma de expressar não esqueci da nossa promessa do dedinho. — disse, apertando-a contra seu corpo.

— Pedra?

— Pedra.

Sabina encarou a boca de Noah, que parecia muito convidativa aos seus olhos. Ela queria voltar a beijá-lo novamente e eternamente, incansavelmente, até seus pulmões queimarem implorando por ar.

Ela inclinou a cabeça para o lado e mordeu o lábio inferior. Noah riu pois conhecia de cor todas as suas manias; sempre que fazia isso significava que estava tendo um grande conflito interno. 

— O que estamos fazendo?

— Achei que tinha ficado claro que eu quero voltar ou você não quer?

— É claro que eu quero, mas...

— Mas? — Noah arqueou uma sobrancelha.  

— É que a gente tem tanto o que conversar.

— Temos todo tempo do mundo, babe. — Ele beijou a ponta do nariz dela e a abraçou. — O que acha da gente ir para o nosso lugar? Uh?

— Oh meu deus! O nosso lugar ainda existe?

— Claro! Para onde você acha que eu vou quando quero ficar só?

— É que, sei lá... aqui é Los Angeles. Achei que já tivessem demolido para construir um shopping.

— Felizmente, não.  

— Por favor, me leva lá — Sabina juntou as mãos e fez biquinho.

— Não precisa pedir duas vezes.

. . .

— Aqui, segura minha mão.

Sabina esticou o braço e se deixou ser puxada para cima por Noah, ela arfou cansada quando seus corpos se chocaram, ele a abraçou, rindo.

— Tinha me esquecido o quão cansativo e perigoso é subir os três lances dessas escadas de incêndio enferrujadas. — Disse ela, recuperando o ar.

— Você ainda vem sempre aqui? — Indagou, olhando para a cidade, que parecia pequena lá de cima.

— Não muito, só quando preciso desacelerar, entende?

Sabina entendia.

— Quantas garotas já trouxe pra cá depois de mim? — Ela perguntou erguendo uma sobrancelha, brincalhona.

— Nenhuma. — Respondeu prontamente.

Seus olhos verdes escureceram quando indagou:

— E você, com quantos caras ficou na Suíça?

O sorriso se desmanchou do rosto de Sabina, sentindo seus músculos enrijecerem e a tensão se instalar no seu corpo. O clima havia mudado drasticamente.

Ela balançou a cabeça antes de responder.

— Nenhum. Eu não fiquei com niguém.

Noah riu nasalado e se afastou dela.

— Espera mesmo que eu acredite que, em dois anos, você não ficou com niguém?

— Sim, eu espero que acredite, porque essa é a verdade.

— Mas eu não acredito nessa sua verdade, porra! — gritou, de repente bastante alterado.

Sabina paralisou em choque e ao mesmo tempo assustada, ela não sabia como agir diante da reação inesperadamente explosiva de Noah. Não esperava que ele acreditasse viamente nela, mas queria, mais que tudo, que ele não duvidasse de suas palavras.

O que mais doía era saber que seu relacionamento estava recomeçando de maneira errada, ainda assim ela insistia no seu ato egoísta, mesmo sabendo que poderia sair com o coração partido, e o que é pior: partir o coração de Noah novamente. A razão estava gritando em seu ouvido, mandado-a parar, mas já era tarde de mais.

Foda-se a razão.

— Me desculpa. — ele disse passando as mãos pelo rosto.

Os olhos da mexicana ardiam, ela mordeu o lábio inferior e virou de costas para ele. Sabina odiava a maneira como ficava vulnerável perto de Noah, seus sentimentos pareciam estar sempre à flor da pele, era tudo mais intenso, tanto no amor como na dor.

— Sabi, desculpa, vai... — Sentiu ele se aproximar e afastar delicadamente seus cabelos de cima do ombro. — Eu não queria ter gritado com você.

Noah beijou a pele fria do pescoço dela com seus lábios quentes, fazendo-a se arrepiar. Sabina fechou os olhos, sentindo ele abraçá-la por trás.

— Você nunca vai me perdoar por eu ter ido embora, não é? — Perguntou com um fio de voz.

— Não vamos falar disso, ok? Estamos juntos de novo. Estamos bem. É só isso que importa agora.

— Você acha que realmente estamos bem?

Ela se virou para ele, ambos se encararam. Noah continuava segurando-a firmemente pela cintura, e sorriu fechado.

— Eu acho está muito cedo para discutir relação.

Sabina suspirou e desviou o olhar, ele segurou o queixo dela, forçando-a encará-lo.

— O que foi?

— Linsey me contou sobre... você sabe... sobre... — Ela se interrompeu quando a sua voz tremeu, fechou os olhos e suspirou.

Por que era tão difícil falar sobre drogas? Esse era um assunto delicado, ela não sabia se era o momento certo para abordá-lo, e principalmente, não sabia como Noah iria reagir.

— Sobre a overdose.

O americano bufou impaciente, se afastando em seguida.

— Lins não devia ter falado sobre isso. — Caminhou de um lado para o outro, passando a mão pelo cabelo, os bagunçando mais ainda.

— Por que não, Noah? Por que só o Josh sabe do que aconteceu?

— Porque eu não queria que nossos amigos soubessem que eu passei o verão internado numa clínica de reabilitação. Não quero que todos pensem que eu sou um drogado, Sabina. — Ele suspirou, cansado, e encarou a morena. — Muito menos você, não era para você saber disso.

— A gente está recomeçando Noah, não acha que seria importante eu saber?

Ela fechou os olhos e mordendo os lábios com força, se auto repreendendo por suas palavras que pareciam vazias, já que ela também escondia segredos dele.

— Mas eu parei, Sabi. Eu juro... Eu juro que parei. — Noah avançou contra ela e segurou seu rosto, encarando-a com os olhos suplicantes, de uma maneira que a mexicana nunca tinha visto antes. — Eu estou limpo a mais de cinco meses. Você precisa acreditar em mim.

— Eu acredito. — Foi a primeira coisa que saiu de sua boca, logo a expressão no olhar do americano se suavizou. Sabina acariciou o rosto dele, os olhos dela estavam marejados mas ela se recusava chorar. Tinha que ser forte, por ela, por Noah.

Ele fechou os olhos sentido os dedos dela acariciar sua bochecha. Nunca um gesto tão simples o tinha feito se sentir tão bem. O doce sentimento de porto seguro, de lar, havia voltado e Noah não queria perder aquilo por nada, mesmo que isso incluísse mentir para quem mais amava.

— Niguém confia mais em mim, Sabi. — Ele disse encostando sua testa na dela. — Meus pais, a Linsey, Josh... Todos acham que eu vou ter uma recaída a qualquer momento. Mas porra, eu estou segurando a barra. Eu estou indo àqueles grupos de apoio idiota todas as quarta-feiras, fico quarenta minutos sentado lá ouvindo eles agradecerem Jesus por estarem vivos. Eu estou aguentando as crises de abstinência sozinho. Eu estou fazendo isso pela minha família, pelos meus amigos, por você.

— Você não está sozinho. — Ela sussurrou contra os lábios dele.

— Mas eu me sinto assim o tempo todo.

— Eu estou aqui agora.

— Promete que não vai embora de novo? — Ele se afastou alguns centímetros para poder olhá-la nos olhos. — Promete que não vai me deixar por ser um viciado.

— Eu prometo. Estamos juntos nessa, Noah.

Ela levantou o mindinho, e ele sorriu juntando seus dedos, então selaram o juramento com um beijo terno. 

. . .


   O clima estava tipicamente quente e seco como se sucedera todos os dias do verão na cidade californiana. O suor de acumulava na testa de Sofya à medida que a russa desviava de diversos alunos na cantina, sempre sorrindo e pedindo desculpas quando esbarrava sem querer em alguém. Ela empurrou a porta dupla com o ombro, já que nas mãos equilibrava sua bandeja.

A loira semicerrou os olhos por causa da claridade e deu um sorriso gigantesco quando avistou a mesa dos amigos, ela caminhou saltitante até eles.

— Eu estou tão, tão, tão, tãaaaao feliz por estarmos almoçando juntos novamente! — Bradou, colocando a bandeja na mesa entre Lamar e Hina, se inclinando logo em seguida para beijar as bochechas de ambos. 

— Só faltou a Yoon. — Disse Diarra bebericando seu suco. Sina, que estava ao lado dela, concordou com a cabeça.

— Eu estou até emocionada — Any limpou lágrimas invisíveis. Apoiou os cotovelos na mesa e sorriu docemente olhando para Sabina e Noah sentados à sua frente, o braço do americano repousava sobre o ombro dela enquanto ele estava entretido em uma conversa com Lamar.

Naquela manhã quando os dois anunciaram que tinham voltado, Any, Sofya e Joalin deram um surto de gritinhos agudos. Os outros, obviamente, ficaram felizes mas foram mais discretos ao demonstrar. Depois de todo o alvoroço, Shiv pôde finalmente dizer que já sabia, pois Sabina contou para Bailey, que contou para namorada e pediu para ela não contar para niguém, a indiana era boa em guardar segredos. No entanto, isso acabou gerando uma nova discussão, ao passo que Hina e Krystian ficaram indignados por não terem sido os primeiros a saberem da novidade.

A brasileira também notou o quão distante e indiferente Josh ficou, o loiro apenas deu um abraço rápido com tapinhas nas costas do melhor amigo, mas não comprimentou Sabina, evitou a todo custo olhar para ela. Any fez uma nota mental para questioná-lo sobre isso depois.

— Todas as latinas são dramáticas assim mesmo ou é só a convivência com Sabina? — Bailey brincou, a mexicana jogou uma batata frita nele.

— Acho que é só a tpm. — riu Any, sentindo a mão de Josh em sua cintura. Era tão reconfortante tê-lo tão próximo a si.

— Fazem o quê? Dois anos que não nos sentamos juntos? — Hina perguntou retórica.

— Por aí — comentou Sina. 

— Agora que urridalgo se acertaram, só falta Bailey e Joalin fazerem as pazes para sermos quatorze por quatorze novamente — Sofya jogou no ar, inocentemente, se referindo ao breve romance entre os amigos, que acabou mal.

Os dois eram ficantes oficiais, entretanto Joalin nunca quis nada sério com o filipino, que, cansado de ser rejeitado por ela, acabou se apaixonando pela doce e excêntrica indiana, logo eles engataram em um namoro antes dele terminar formalmente o que tinha com a loira, que ficou, obviamente, com o orgulho ferido.

— Mas nós estamos de bem, somos amigos agora. Não é, May? — Retrucou Joalin, se inclinando sobre a mesa para eles baterem as mãos.

— Isso aí! — Bailey bateu na mão da loira, em sinal de parceria.

Krystian riu alto, jogando a cabeça para trás. Todos se viraram para ele.

— Tá rindo do quê, ô retardado? — Diarra deu um tapinha no ombro do irmão.

— Do Bailey, da Joalin e de como eu demorei para entender tudo isso. — O chinês apoiou os cotovelos na mesa e juntou suas mãos, o característico sorrisinho fechado fez o estômago da finlandesa gelar.

— Do que está falando, Krys?

— Ai Sabininha, você ficou muito tempo fora, mas eu vou tentar te atualizar de tudo o que rolou. — Começou, virando o rosto para a mexicana. — Bem, todos sabíamos do lance entre Bailey e Joalin, certo? Foi o primeiro beijo do bonitão aí, ele gamou logo na loira.

— Qual é a tua, cara? — Bailey reagiu alterado, Shiv colocou a mão no ombro dele e falou algo em seu ouvido, o acalmando.

Krystian o ignorou, e continuou:

— Eu já estava desconfiado disso a muito tempo, mas depois da noite na casa da Any e de muitos shots de tequila, nossa amiga acabou admitindo.

Krys... — Joalin o advertiu rispidamente entredentes, o fuzilando com o olhar. A tensão estava visível em seu corpo, ela começou a hiperventilar e seu rosto estava ficando vermelho esperando o que estava por vir.

Todos na mesa estavam confusos, até mesmo Bailey, que alternava seu olhar entre a garota e o chinês.

— Joalin fingiu ter ficado magoada com Bailey apenas para disfarçar o quanto que ela não se importava...

— Cala a sua boca, Krystian! — Ela bateu o punho na mesa e se levantou, chamando a atenção de quem estava nas mesas próximas a deles.

Ao ver a reação dela, o garoto se sentiu mais motivado ainda a continuar.

— Eu não tô entendo mais nada. — Bailey comentou, perdido.

— Então eu vou explicar. — O chinês se levantou e falou mais alto, para assim ter a atenção de todos.

Sabina também ficou de pé na intenção de tentar impedir o que estava por vir, mas era tarde demais, o desastre já estava formado.

— Você — Apontou com o queixo para o filipino, depois apontou para Joalin. — Foi usado por ela em sua pequena crise de identidade.

A loira estava com o rosto vermelho e molhado por lágrimas, não entendia por quê estava sendo exposta daquele jeito. Ela só queria sumir, cavar um buraco e se enfiar nele até ser tragada pela terra ou simplesmente acordar daquele pesadelo, era assim que ela se sentia; num pesadelo. O que ela mais temia estava acontecendo diante de seus olhos, o que escondeu por anos viria à tona e não podia fazer nada para impedir.

— A verdade é que Joalin é lésbica mas tem medinho de sair do armário. Pronto falei, viu como foi fácil? Me agradeça por isso depois.

Krystian despejou suas palavras sobre a mesa, deixando todos em silêncio encarando a garota com um olhar penoso, pois era visível o quão nervosa, constrangida e magoada ela estava com aquela exposição.

— Qual é o seu problema, Krys? — Noah se pronunciou em defesa da loira.

— Ué gente, eu só estou ajudando nossa amiga.

— Você não tinha o direito de ter feito isso... Não tinha! — Joalin disse com fio de voz e saiu de lá o mais rápido possível.

— Joalin! — Sabina chamou mas ela já estava longe.

— Pode deixar, eu vou atrás dela. — Disse Sina, já se levantando e correndo na direção que Loukamaa havia ido.

      
       Ela passou como um furacão pelos corredores do colégio, até achar uma sala vazia para se refugiar. Sentou no chão e abraçou suas pernas, repousando a cabeça nos joelhos. A alemã entrou logo em seguida, Joalin levantou o rosto assustada, mas relaxou os ombros ao ver quem era.

— Vá embora, Sina. Eu quero ficar sozinha. — Ela fungou, passando a mão pela bochecha.

— Eu não vou deixá-la sozinha e nem adianta insistir. — disse firme, e sentou ao lado da garota. — Vou ficar aqui por você. Você vai chorar, vai chorar muito porque tá doendo. Não precisa se fazer de durona, Jo... Não comigo. Você pode me abraçar quando a dor ficar insuportável. Não precisa falar nada, mas quando quiser conversar eu vou estar aqui.

As palavras de Sina fizeram Joalin explodir em lágrimas, seu queixo tremeu assim como seus ombros com os espamos de choro. A alemã se aproximou e abraçou a amiga, que, para sua surpresa, deixou-se ser abraçada. Elas ficaram assim por longos minutos, o único som a ser ouvido eram os soluços da finlandesa.

— Ele não podia ter feito isso. — Ela fungou, um pouco mais calma. — Isso é algo particular meu, eu quem deveria escolher falar ou não.

— O Krystian errou em expor sua sexualidade para a escola inteira sabendo que você não estava pronta para isso, errou feio, na verdade. Mas agora é a hora de você tomar as rédias da situação, você deve escolher se vai se esconder e chorar ou enfrentar tudo isso de cabeça erguida.

Joalin riu nasalado, balançando a cabeça.

— Suas palavras são muito motivacionais, Sina, mas sabemos que não é assim que funciona. Eu te conheço desde os doze anos e você já era assumida antes disso. Mas, eu? Eu vou todo domingo para a igreja com minha família, como acha que eles vão reagir quando souberem? No mínimo vão me expulsar de casa.

Novas lágrimas desceram pelo rosto dela, que suspirou e disse:

— Eu não escolhi ser assim.

— Ah, querida, niguém escolhe... — Deinert falou suavemente e com delicadeza para não assustar mais ainda a garota que estava em sua fase de descoberta e, consequentemente, negação. — Eu tive a sorte grande de ter o apoio da minha família, mas faz ideia de quantas vezes eu peguei meus pais abraçados chorando pelos cantos? Eu achava que eles ainda estavam em choque porque a filha de dez anos havia anunciado num almoço de domingo para toda a família que gostava de meninas, sabe.  — Sina falou com humor e sorriu, fazendo Joalin rir também.

— Eu não entendia por que eles choravam tanto, então um dia eu ouvi meu pai consolando minha mãe, ela estava tão desesperada que eu cheguei a pensar que alguém da família tinha morrido. Mais tarde eu descobri que haviam enchido nossa caixa do correio com bilhetes escrito sapatão, entre outros xingamentos. Uma vez cheguei do treino e meu pai estava pintando a frente de nossa casa, quando eu o questionei ele disse que queria inovar, estava cansado daquela cor...

A alemã parou de falar e olhou para cima, fazendo uma lágrima pesada rolar por sua bochecha, era como se a lembrança despertasse uma dor antiga.

— Um detalhe: estava nevando, abaixo de zero grau, e meu pai estava lá fora apagando resquícios de xingamentos e ofensas dirigidos à mim. Eles fizeram e ainda fazem de tudo para me proteger, para a maldade das pessoas não me atingir. Porém, eles não estavam sempre lá e eu tive que aprender desde cedo a mim defender, não fisicamente, é claro, eu uso palavras na minha causa. E te digo uma coisa: não é fácil ser mulher, lésbica e feminista, a gente não é respeitada quando tem, você sabe, opiniões fortes e pensamentos revolucionários. — Sina piscou para a finlandesa, que ouvia tudo atentamente, então continuou:

— Depois do episódio que picharam a frente da nossa casa, nós nos mudamos para os Estados Unidos, não que a sociedade aqui seja melhor, que não houvesse preconceito, mas era mais fácil ignorar as pessoas quando elas são estranhas. Eu não escolhi ser assim, Joalin. Não escolhi passar por tudo que passei, e que ainda passo, e que fiz meus pais passarem por causa da minha sexualidade. A gente nasce assim, está em nós, sabe? — Sina olhou para Joalin e repousou a mão em seu ombro. — Eu entendo o seu medo, eu entendo a sua não aceitação, entendo você querer guardar isso só para você, no seu íntimo. Entendo porque as pessoas são cruéis quando você foge o padrão exato imposto pela sociedade. Mas, querida, não há nada de errado em você, e sim, nas pessoas.

— Agora eu estou me sentindo péssima porque eu sempre te invejei, eu achava que sua vida era perfeita. — a finlandesa disse, fazendo uma careta como se pedisse desculpas. — Sabe, eu sempre achei você tão decidida, desde o seu namoro com Heyoon aos seus protestos humanitários no centro Los Angeles. Eu não fazia ideia do bullying que você sofreu na Alemanha.

Sina balançou a cabeça, reflexiva. Elas ficaram em silêncio, uma pensando no passado, outra no futuro.

— Eu estou com medo. — Confessou Joalin quase em um sussurro, como se lhe confidenciasse um segredo.

— Eu sei, isso é aterrorizante. — Sina concordou.



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