Estávamos nos aproximando do fim do mês, mais uma entrega estaria por vir. Fui encarregado de ensinar Hwayoung a atirar e a se autodefender, podemos dizer que ela era meio autodidata, mas lhe faltava força. Sempre me impressionava a cada treino, mas nunca ganhou contra mim. Hoje, insolitamente, ela veio junto com Minho. Não quis perguntar, sou orgulhoso, entretanto pude sentir meu peito condoer-se. Riam e sorriam um para o outro. Isso que é ter ciúmes?

— Já terminaram? — tentei controlar o tom da minha voz e ser o mais comum possível — Não temos o dia todo — não me deram muita bola. Fiquei impaciente.

Não era confortável a presença de Minho sempre confortando Hwayoung quando a mesma errava o alvo. Ela já estava bem melhor, acho que não teríamos mais que continuar com isso por muito tempo. Já estava no fim da tarde. Decidimos parar e ir para trás do prédio. Key encontrava-se lá, o que ele tanto mexia naquele motor? Eu não sei, mas parecia inquieto. Jonghyun estava com ele, nenhum dos dois pareciam saber resolver o problema.

— Dá a partida — Key o obedeceu e quando o motor rugiu eles riram com deleite.

Pareciam duas hienas, até mesmo Onew hyung, que se sentava nos blocos caídos do prédio ali próximo, riu como uma criança da alegria dos dois.

— O que vocês estão fazendo? — Hwayoung ria ao mesmo tempo que curiosa.

— Todo final do mês temos trabalho, e esse amigo aqui — Key apontou para o carro — Não estava querendo me obedecer. Não somos mecânicos, mas acho que demos um jeito no problema — ambos, Jonghyun e ele, pareciam orgulhosos de si — Ei que tal darmos uma volta? — sem delongas já estávamos dentro do carro.

Sim, eu tive certeza ali, com o vento que entrava pelas janelas bagunçando os fios do cabelo dela. Minho vibrava a cada vez que Key acelerava. O rádio estava ligado e não sabíamos qual era a canção, apenas que tudo ali se encaixava perfeitamente, era quase como se fôssemos eternos. A melodia ecoava em meus ouvidos assim como meu coração gritava, eu te amo.

"Chego primeiro que você

No final de uma estrada diferente

Limpo suas bochechas

Que estão molhadas de lágrimas e pergunto

Me diga o que fazer"

O sol foi se pondo, a velocidade diminuindo e a lua se erguendo. Eu queria que o tempo tivesse parado.

— Key, você encheu o tanque? — era anormal Onew estar perguntando sobre o carro, ele parecia estar sentindo algum tipo de odor forte.

— O cheiro de gasolina está mais forte hoje, eu também senti. Os galões estão ali — ele apontou a localização do suposto criminoso do cheiro.

O carro estava rangendo um pouco, mas como ninguém se pronunciou, apenas ignorei aquele fato. Talvez eu não devesse ter feito isso.

— Eu comprei comida — Key lançou um olhar a Hwayoung e lhe entregou um marcador de cor preta — Eu não sei por que quis isso, mas aqui está — enquanto conversávamos, fomos juntos para dentro.

Depois de comermos, sentamos em nossos colchões ficando bêbados. Eles estavam um tanto quietos, mas soltavam risos por vezes. Key já estava dormindo e Onew parecia o único sóbrio entre eles. Eu apenas continuei a beber e observar tudo que Hwayoung fazia. Em cada vão do azulejo da parede ela desenhava uma cruz com o marcador.

— Por que uma cruz?

— A cruz tem muitos significados, principalmente religiosos — ela desenhou uma linha vertical — mas alguém me disse certa vez que, a cruz, também pode significar encontro — eu demonstrei bem à ela que não havia entendido. Ela apenas sorriu ao me olhar — Um encontro aqui — desenhou uma linha menor horizontal por cima da vertical formando a cruz — Duas pessoas que cruzam seus caminhos, um encontro — quis pensar que ela estava falando de nós — Não acredito nessas coisas de amores predestinados, mas gosto de imaginar que as coisas acontecem por um motivo.

— Você ama alguém? — ela apenas sorriu e selou minha bochecha.

O que supostamente ela queria que eu pensasse?

Foi no silêncio daquela noite que um gotejar debaixo do carro traria consigo o prelúdio de um desastre.