" A sua irmã anda sempre com tanta elegância assim?"

A última coisa que Florence queria fazer naquele belo dia de sol era ir a modista, não necessitava de novos vestidos ou vestidos maiores, já tinha todos os vestidos que poderia desejar. Nem conhecia mais cores para usar e o branco era sempre uma ótima opção para bailes.

O baile anual de Caroline Skin sempre ocorria no dia 9 de setembro no meio do verão e seria quente o suficiente para que eles tomassem muita limonada, Florence não tinha costume de comparecer a bailes. Nunca fora em nenhum, não havia sido apresentada a sociedade. E não devia ir naquele se fosse de qualquer outra pessoa. Mas era de Caroline Skin, a Lady Busset e a jovem casada mais importante da alta sociedade, mas não era por isso que a mãe de Florence estava obrigando ela a ir, era porque Caroline Skin era filha de Lady Skin que por pura coincidência era mãe de Florence Skin, a garota que reclamava de ter que ir a bailes.

Ela cedeu e foi com a mãe para a modista, não havia nada melhor para fazer e porque no final sabia que não havia como ganhar da mãe de qualquer forma, ela sempre gostou mais do conforto de sua casa do que alfinetes a espetando por todo o corpo e sempre gostou mais de sentar e costurar sozinha do que ter alguém medindo o tamanho de suas roupas.

— Este não é perfeito, Florence? — a mãe questionou erguendo um vestido branco, a menina tinha quase certeza que haviam mais de três deste mesmo modelo em sua casa, mas ela concordou mesmo assim e fora aquele o escolhido para ser usado ao baile.

Florence resolveu que deixar os longos cabelos soltos evitaria muitos pretendes e convites de dança, era exatamente o que ela desejava, apenas estar presente sem ser notada. Era exatamente o plano e daria certo se ela fingisse tossir ou simplesmente ficasse longe, Caroline faria questão de dizer que sua família inteira estava presente, com excessão de Lucy que era muito nova para ficar em um salão tão cheio de cavalheiros. Quando Florence entrou na enorme casa de sua irmã, só teve certeza de uma coisa: nunca se sentiria bem em um lugar tão grande e cheio. Correu para o lado e observou o quadro pendurado na parede, nada incomum nele e nada diferente. Apenas uma pintura de um pintor qualquer. Em uma parede qualquer.

Ela voltou para o salão principal onde metade de Londres estava e observou em volta e quando encarou alguém, uma onda de energia passou por seu corpo e ela se viu obrigada a sorrir para ele, os olhos verdes dele eram intensos demais para que ela os sustentasse mais de dois segundos. Mas ele a olhava como se nunca a tivesse visto, e ela teve uma certeza: Nunca se sentiu tão bem em um salão tão cheio.

Podia pedir licença, mas precisava falar com ele. Não lembrava seu nome, mas suas características indicavam que era um Blessing e não era o visconde, com toda certeza. Aquela corrente de olhares fora quebrada quando Caroline a puxou de lado e disse:
— Apresento a todos minha família e quero agradecer por estarem aqui, obrigada a todos os lordes e ladies por estarem aqui. Aproveitem a noite.

Assim que a irmã soltou seu braço, ela se desvencilhou e puxou Caroline sem a menor intenção e a mais velha torceu o pé e lançou um olhar furioso para Florence que se afastou tão rápido e chocou-se com outro corpo e se virou automaticamente encontrando seu olhar intenso a encarando.

—  Sua irmã sempre anda com tanta elegância assim? — indagou ele apontando para Caroline que andava devagar tentando se equilibrar em seu pé esquerdo.

— Na verdade, ela machucou o pé. Está mancando.

E os dois riram. Riram muito mesmo. Florence não imaginou que pudesse rir tanto naquela noite, e gostou de ter estado com ele. Não queria mais sair de seu lado, mesmo que nem o conhecesse.

— Sou Oliver Blessing.

Ela sabia quem ele era, mas Oliver? Oliver Blessing lhe caía muito bem, conhecia a fama do pai dele de pura ignorância e arrogância, mas nada importava quando ele a olhava nos olhos. O mundo poderia simplesmente acabar ali e ela ficaria feliz em dizer " Olá, jesus. Eu conheci Oliver Blessing."

Ele esperou que ela fizesse as honras de se apresentar. Ficou esperando muito tempo antes de perguntar qual era seu nome.

— Sou irmã da anfitriã. Deveria saber meu nome.

— Lucy Skin? — ele tentou acertar. — Sei que há uma Lucy.

Ela sorriu novamente para ele e segurou seu riso alto, para que não puxasse a atenção para eles.

— Florence Skin. Este é meu nome.

— Flora. Este é seu nome agora, quando sorrir, uma flor irá florescer e isto será apenas seu. — ele empurrou seu cabelo com os dedos e ela percebeu que amava mais Flora do que Florence. E provavelmente adorava jardins depois de suas palavras.

Eles não se falaram mais durante a noite, mas desde daquele dia nunca mais pararam de falar. Era lindo, era simples e era errado.

Ele apareceu em sua casa novamente outras mil vezes, e sempre levava flores diferentes e a fazia procurá-la por todo jardim, saíam escondidos para deitar na grama ao longe e ver a lua deixar o céu. Eram seus momentos favoritos.

— Skin é um bom nome.

— Blessing também.

— Flora também.

— Oliver também. — e nenhum dos dois disse mais nada, apenas se olharam como se a vida dependesse daquilo e seus corações podiam ouvir um ao outro porque estavam aquecidos demais.