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Capítulo 2: Teias e Aranhas

Ao chegarem à casa da mulher, entraram na mesma, observando tudo com atenção e cuidado. Koda colocou a mulher na cadeira e rapidamente começou a ajudá-la com o curativo. Enquanto Shino começou a tirar algumas fotos de si mesmo na casa, Nao observava as teias de aranha no telhado e nas vigas da casa e a bagunça em que a mesma se encontrava, parecendo que ninguém limpava aquela casa há séculos.

— Perdoe a casa bagunçada, eu não dou conta de limpá-la sozinha. — disse a mulher, envergonhada pelo olhar julgador de Nao.

— Para mim, ela está perfeitamente limpa. — disse Koda com um sorriso gentil. — A propósito, qual é o seu nome?

A mulher baixou a cabeça, triste, e, após longos segundos, respondeu: — Bom, acontece que meu nome não é grande coisa; ninguém me chama pelo meu nome.

— Mesmo assim, insisto em saber seu nome! — insistiu Koda.

— Meu nome é Namika. — ela respondeu, envergonhada.

— Que nome lindo! — disse Koda, com os olhos brilhando e um sorriso bobo nos lábios.

— Nossa, que triste! Você vive aqui literalmente sozinha! Não tem medo de morar neste lugar onde disseram que desapareceram pessoas? — perguntou Nao, quebrando o clima meloso.

— Eu nunca ouvi falar sobre essas coisas.  — respondeu Namika. — De todo modo, não tenho medo de viver sozinha, mas me sinto muito solitária e às vezes desejo ter companhia na hora da refeição.

Os três se compadeceram dela, olharam para fora, onde o sol já se escondia, e a noite já beirava.

— A floresta pode ser perigosa à noite; por favor, passem a noite aqui! — pediu Namika, com a  expressão triste.

Nao olhou para o irmão, e Koda olhou para Shino, que suspirou e deu a palavra final: — Tudo bem, vamos ficar aqui esta noite.

Namika abriu um largo sorriso ao ouvir as palavras de Shino e agradeceu profundamente, levantou-se, já podendo caminhar, e agradeceu a Koda por sua gentileza. Como recompensa, foi para a cozinha preparar algo para o jantar. Mas, antes, disse aos três: "O banheiro fica no fim do corredor, e nos quartos, há roupas limpas para cada um de vocês."

Os três foram averiguar os quartos e, como Namika havia dito, haviam roupas para cada um deles, e com todas as suas medidas, serviam perfeitamente, como se tivessem sido feitas sob medida exclusivamente para eles. Shino e Nao estranharam esse fator, mas Koda, enfeitiçado pela paixão, pegou o quimono branco e macio e saiu cantarolando pelo corredor, indo para o banheiro.

Nao estranhou a leveza do quimono e sua maciez extrema; então, deu uma leve puxada na gola do seu quimono branco, e o mesmo rasgou, desfiando as linhas frágeis que mais pareciam teias de aranha.

— Minha nossa, essas linhas estão podres! Será que fará bem vestir essas roupas duvidosas? — perguntou a garota, enojada.

— Eu não sei. — disse Shino, ao entrar no quarto de Nao, que ficava do lado de seu quarto. — Mas é melhor fazermos algo para compensar a gentileza de Namika por nos abrigar esta noite.

— Você vai mesmo usar isso aí? — perguntou Nao, incrédula, apontando para o quimono branco nas mãos de Shino.

— Eu não tenho outra opção! — respondeu. — Mas, sendo sincero, não sei se gosto da ideia; esses quimonos parecem mais mortalhas. É como se eu estivesse me preparando para o meu próprio funeral.

— Essa tal de Namika é bem suspeita, você não acha?  — perguntou Nao num sussurro.

— Acho, mas não posso acusar ninguém sem provas; isso é crime. Além disso, o Koda parece estar bem caidinho por ela, e ela é bonita. Quem sabe a gente não está só exagerando devido àquelas coisas que o sacerdote falou? — Respondeu Shino.

 — É, talvez! — disse Nao pensativa.

Logo, Koda saiu do banho, vestido com o quimono, enxugando seus cabelos loiros com uma toalha felpuda.

— Ah, eu posso sentir o cheiro dela nessa toalha! — comentou enquanto cheirava a toalha.

Nao fez uma cara enojada, logo passou pelo irmão e foi a próxima a ir para o banho.

— Como você acha que eu estou? — perguntou ao amigo.

— Radiante! Tenho certeza que ela irá te elogiar! — falou Shino, elevando a autoestima do amigo.

— Você é um amigão! — disse Koda com um largo sorriso. Porém, logo fechou a cara e pronunciou: — Mas não pense que eu quero você como meu cunhado! É melhor parar de flertar com minha irmã.

— Não é você que decide essas coisas! E outra coisa, eu vou tratá-la melhor que qualquer outro homem! — berrou Shino, injuriado.

Koda revirou os olhos e saiu em direção ao seu quarto, enquanto Shino bufou e foi esperar na porta do banheiro até Nao sair.

(...)

Todos já estavam com seus respectivos quimonos e tinham tomado banho, logo se assentaram ao redor da mesa baixa na sala de jantar. Namika colocou as comidas sobre a mesa, servidas em pequenas tigelas, e deixou que cada um se servisse da maneira que queriam. A comida tinha uma cara ótima, e a carne estava mal passada; todos se serviram. Koda começou a comer de imediato, fazendo alguns barulhos de satisfação.

Após se entreolharem, Shino e Nao começaram a comer, sentiram um gosto amargo na boca, mas nenhum quis questionar o motivo, então comeram em silêncio.

— Me desculpem! — disse a mulher, interrompendo o silêncio.

— Por que está se desculpando? — perguntou Koda.

— Eu não sou boa com costura, mas tentei fazer o meu melhor para agradar vocês. —  contou melancólica, com os olhos marejados.

— Mas as roupas estão ótimas e são muito confortáveis! — interveio Koda.

— O que eu não entendo é como você conseguiu saber exatamente quais são nossas medidas? — perguntou Shino, intrigado.

— É que eu vi vocês hoje mais cedo, quando entraram na floresta. — respondeu.

— Mas...

— Ah! Deixem de ser ingratos! Olhem só o maravilhoso jantar que ela nos preparou, nos deu roupas confortáveis e um lugar para passar a noite! E vocês ainda ficam criticando com desconfianças infundadas! — esbravejou Koda, irritado, ao interromper a irmã.

— Não é isso o que queremos dizer, Koda; ninguém aqui está criticando a senhorita Namika, só estávamos curiosos para saber de onde ela nos conhecia! — tentou explicar Shino de maneira calma para não estressar ainda mais o amigo.

Koda suspirou, então pegou delicadamente as mãos de Namika e a olhou nos olhos; as bochechas da mesma mudaram para uma cor rosada. Com coragem, ele proferiu docemente: — Você é uma pessoa maravilhosa, Namika; é estranho, mas sinto como se eu te conhecesse há muito tempo. Será que isso tem a ver com a minha vida passada?

Shino e Nao ficaram boquiabertos com o clima entre os dois, mas respeitaram seus sentimentos e ficaram calados, mesmo envergonhados por assistirem tudo de camarote.

Namika puxou suas mãos devagar, constrangida com a situação, então deu um leve sorriso envergonhado e disse: — É melhor terminarmos a refeição. — Koda baixou a cabeça, meio triste, e continuou sua refeição.

(...)

Quando terminaram de jantar, todos saíram para seus quartos. Koda deitou-se no futon e logo pegou no sono. Shino demorou a cair no sono, mas ao ficar deitado olhando para o teto, o cansaço do dia lhe atingiu e seu corpo ficou pesado; logo ele adormeceu. Nao sempre teve dificuldade em dormir fora de casa, então ficou bolando em seu futon, esperando o sono lhe atingir.

De repente, um ar gélido invadiu os corredores da casa, e as lamparinas foram apagadas. Nao ouviu passos mansos, enquanto as tábuas do assoalho rangiam a cada pisada. A garota se levantou amedrontada e ficou olhando para a porta de seu quarto. Uma silhueta apareceu na porta de papel e logo foi abrindo a porta, a deslizando para o lado.

Nao tomou um grande susto, mas se acalmou ao ver que a pessoa era Namika.

— Ah! Que susto eu tomei! Por que você não avisou? — disse Nao, chateada.

Porém, a mulher ficou calada, com expressão séria, o que deixou Nao apreensiva.

— O que foi, Namika? — perguntou, e novamente não obteve resposta.

De repente, do telhado começaram a cair aranhas sobre Nao, que gritou ao se debater. Namika continuou quieta, enquanto mais e mais aranhas surgiam no quarto da garota, almejando pegá-la. Nao levantou e correu para a parede, mas aranhas também desciam por lá, o que a fez gritar, pedindo socorro; porém, ninguém a ouviu.

— Namika, por favor, me ajude com essas aranhas! — Ela pediu.

Então, pela primeira vez, a mulher se mexeu, levantando seu dedo indicador esquelético e pálido e o balançou em negação. De repente, ela começou a se retorcer, enquanto fazia barulhos estranhos.

Nao arregalou os olhos, vendo aquela cena macabra em sua frente. Então, patas finas de aranhas começaram a brotar nas costas de Namika, e seus olhos tomaram uma cor avermelhada. Ela olhou para Nao e abriu um largo riso maníaco.

Nao começou a gritar desesperada, correu para a parede do quarto de Shino e, com toda sua força, bateu na parede.

Namika soltou suas teias na garota e tapou sua boca. Enquanto ela se debatia, tanto as aranhas quanto Namika a enrolavam nas teias que soltavam.

Por instinto, Shino despertou e logo tomou um susto ao ver que haviam muitas aranhas lhe enrolando em suas teias. Ele estendeu o braço e, em suas roupas sujas, pegou a faca que havia trazido de sua casa e esfaqueou as aranhas rapidamente. Cortou as teias que lhe prendiam, levantou-se rapidamente e foi de encontro ao quarto de Nao.

Ao ver o monstro de costas, seu coração acelerou, e seu corpo estremeceu. Ele viu que o monstro enrolava um casulo, e tudo que conseguiu identificar foram os chinelos de Nao próximos ao monstro.

Com seu corpo ardendo em ira, ele correu corajoso e enfiou a faca no ombro do monstro, que gritou, largando o casulo no chão. O garoto chutou as aranhas e rapidamente pegou o casulo e saiu do quarto imediatamente.

Saiu procurando o quarto de Koda, mas, ao abrir a porta, não encontrou o garoto. Ele ouviu os barulhos do monstro, então se apressou em se esconder, entrando em um cômodo pequeno. Logo, arrastou a mobília e a colocou na porta. Encontrou uma lança no meio das tralhas em um velho armário e, com isso, rasgou o casulo e retirou Nao desacordada do mesmo.

Ele a segurou em seus braços, e lágrimas começaram a escorrer de seus olhos.

— Nao! Por favor, acorda! — ele implorou, em meio aos soluços. — Por favor, eu não sei se consigo viver em um mundo que você não existe!

Ele deu leves tapas no rosto da garota, então ela abriu os olhos e começou a tossir, cuspindo teias de aranhas.

— Nao! — berrou Shino, ao abraçar a garota, enquanto chorava incessantemente. — Eu pensei que você tivesse morrido!

Nao relembrou o que passou e então agarrou Shino com força e começou a chorar.

— Ahhh! Eu fiquei com tanto medo!

— Não precisa mais ter medo, eu estou aqui com você! Eu vou te proteger com a minha vida; nada de ruim vai acontecer com você enquanto eu estiver vivo! Eu prometo!

— E o Koda? Cadê o meu irmão, Shino?! — ela perguntou preocupada.

— Eu não o encontrei. 

— Temos que encontrá-lo rápido! Aquela mulher nos enganou! Ela é um monstro! — berrou desesperada.

— O quê? Então aquele monstro é, na verdade, a senhorita Namika?! — perguntou incrédulo.

— Acredita em mim, Shino! Eu vi com meus próprios olhos; eu não quero lembrar daquilo, foi horrível!

Shino segurou a cabeça da garota e a encostou em seu peito, acariciando seus cabelos para confortá-la.

— Não se preocupe, eu acredito em você! Vamos salvar o Koda! Ele é como um irmão para mim; eu nunca deixaria nada de ruim acontecer com ele!

— Obrigada! Muito obrigada!

(...)

Enquanto isso, do lado de fora da casa, Koda estava sentado na varanda observando a lua cheia, que estava bela em seu auge. Ele havia perdido o sono assim que levantou para urinar, então decidiu sair para pegar um ar. De repente, ouviu alguns barulhos vindos da cozinha e levantou-se para averiguar.

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