57. O final de uma rixa
O dragão voava baixo, desviando das árvores secas e sem folhagens por causa da estação fria. Tanto Jisung quanto o animal estavam com os olhos atentos, caçando o inimigo que não deixou nenhum rastro para trás.
Hendery permanecia escondido em um pequeno buraco que eles haviam feito tempo atrás para esse tipo de situação, apertava a mão ferida que ainda sangrava, tentando fazer o mínimo barulho possível.
Jisung desceu do animal ao ver algumas pegadas na neve, tocando com a ponta dos dedos o lugar enquanto olhava ao redor percebendo que além daquelas pegadas não havia nenhuma outra. Olhou para o dragão o vendo farejar o ar, voando até uma árvore aparentemente podre. O comandante também se aproximou silenciosamente, conseguindo ouvir o barulho da respiração fraca qua praticamente ofegava baixinho.
Antes que pudesse fazer qualquer coisa o dragão soltou uma rajada de fogo, incendiando a árvore enquanto o homem que se escondia no buraco do tronco apodrecido pulava para fora gritando assustado.
Jisung o olhou e então se aproximou, iria agarrar o homem pelos cabelos, mas ele o deu uma rasteira e então subiu em cima de si tentando prende-lo. Hendery segurava os seus pulsos com certa força, rindo ao ver o comandante se debater levemente embaixo de si.
— Você continua sendo ingênuo. — Comentou olhando nos olhos do outro. — Acha mesmo que consegue fazer alguma coisa contra mim sozinho?
— Por que você tem essa convicção que eu não consigo matar você? Acha que sou fraco?
— Não, comandante. — Hendery respondeu e então sorriu minimamente, aproximando seus rostos. — Você é forte, mas acredito que a nossa história e todos os sentimentos envolvidos o impede.
Jisung o olhou seriamente tentando descobrir se ele estava falando sério ou não, mas vendo que não era brincadeira do outro ele acabou rindo enquanto negava.
— Não temos uma história e eu não sinto nada por você além de ódio, Hendery.
— Mesmo? — O meio sangue sussurrou, tocando o tronco magro do comandante enquanto aproximava o rosto do pescoço do Han, deslizando os lábios molhados na pele quente.
O comandante ficou imóvel por um momento, olhando ao redor enquanto procurava algum meio de se livrar do outro. Forçou o quadril para cima ouvindo o riso baixo de Hendery, jogando seus corpos para o lado em uma tentativa de inverter as posições. Conseguiu ficar por cima do meio sangue o vendo agarrar sua cintura, olhou no rosto dele e então fechou o punho, acertando em cheio a cara do outro.
— Escuta aqui idiota. — Falou irritado acertando novamente o rosto de Hendery. — Não fique com suas gracinhas porque sabe que vai morrer, o único sentimento que tenho por você é o ódio e para sua informação estou muito bem casado.
— Isso é algo que nunca vou entender. — Murmurou, olhando o céu. — Por que casou com alguém como ele? Vocês viviam em realidades diferentes, ele é um fracote mesquinho que sequer se importou com o próprio irmão.
— Minho não é fraco. Ele é a pessoa mais forte que conheço. — A resposta foi automática, Jisung se afastou de Hendery e permaneceu sentado ao seu lado. — É generoso, gosta de cuidar das pessoas que ama e não se importa em morrer ou matar para proteger alguém que seja especial para ele... — Sussurrou as últimas palavras relembrando das vezes que o Lee o protegeu erguendo uma espada.
Hendery o olhou e também se sentou, jogando com a mão sarada os cabelos para trás, encarando a floresta silenciosa.
— Isso não faz dele uma pessoa forte.
— Você sequer tem moral para falar sobre quem é forte e quem não é, Hendery. Olhe 'pra você.
O meio sangue riu e então negou, abaixando levemente a cabeça enquanto encarava os próprios pés.
— Cansou de fugir? — Jisung questionou ao perceber que o outro não parecia querer fugir, aparentemente ele havia desistido e se rendido.
— Eu acho que cansei de viver. — Hendery murmurou. — Estive pensando enquanto me escondia em tudo o que aconteceu e todas as pessoas que perdi, acredito que fiz algumas escolhas erradas, mas não consigo me arrepender. — Resmungou. — Só que eu não conseguiria viver sozinho nesse mundo tão grande, sabe? Todos que conheço estão lá e provavelmente já morreram. — Apontou na direção do próprio acampamento. — Quando o ataque de vocês começou eu achei que poderia fugir e recomeçar em um outro lugar, criar um novo legado, mas não é tão fácil.
— A liderança precisa de poder e força, não é qualquer um que está preparado para ser líder. — O comandante respondeu. — Sabe qual a diferença entre mim e você?
— Qual?
— Em um ataque inimigo a primeira coisa que você pensou e fez foi em fugir e abandonar seu povo com o intuito de recomeçar em outro lugar. — Jisung respondeu. — Eu nunca fugi e nunca fugiria. Sempre estive com meu povo lutando ao lado deles e por eles. Essa é a diferença de um líder para um bom líder.
O comandante se levantou e limpou suas roupas sujas de neve, ficando na frente do outro que olhou para ele.
— E como um bom líder vou levar você como o prometido. — Jisung falou e o olhou, chutando com força a lateral da cabeça de Hendery o vendo desmaiar.
🚀
Quando Hendery abriu os olhos conseguiu reconhecer o próprio acampamento, encarando um pouco assustado as pilhas de corpos próximo dos muros, olhando ao redor e vendo que absolutamente tudo o que ele havia construído estava destruído.
Encarou as pessoas que estavam o cercando, conseguindo ver Jisung um pouco mais afastado. Alguém foi até ele e murmurou algo, atraindo a atenção do comandante para o tronco em que Hendery estava amarrado.
Jisung foi até ele e o encarou, ficando ao seu lado enquanto se virava para seu povo.
— Por causa deste homem nós perdemos muitas pessoas boas e até mesmo o nosso lar. — Falou alto, olhando o rosto da cada um ali presente. — Iremos julga-lo de uma forma diferente. Assim como eu carrego um grande ódio por ele, acredito que vocês também carregam, então cada um vai o mutilar e levar consigo um membro dele.
— O que?! — Hendery falou alto completamente assustado, remexendo o corpo preso desesperado. — Não! Só me mata logo, Jisung!
— Não tenha pressa para morrer, você precisa sofrer aqui na terra antes de ir para o submundo. — Jisung se virou 'pra ele e disse. — Tente aguentar vivo o máximo que você conseguir.
O comandante se afastou e o seu povo fez uma grande fila. O primeiro homem se aproximou de Hendery com uma faca e então fez um corte no antebraço dele, ouvindo o grito desesperado do meio sangue. Antes dele se afastar levou consigo o dedo mindinho do prisioneiro, dando espaço para que outra pessoa fosse. E assim prosseguiu.
Eles começaram pelos dedos das mãos, outros arrancaram os pés e logo depois foram para os braços e pernas. Sequer dava para distinguir a neve, o sangue tomou conta do lugar em que o torturavam. Na vez de Christopher ele enfiou a faca no pulso de Hendery e a puxou com força, abrindo o antebraço ele e o separando em dois antes de arranca-lo fora.
Jisung assistia de longe com certa satisfação, estava com a cabeça apoiada no ombro do Lee que o abraçava por trás observando atento tudo o que acontecia enquanto ouvia os gritos do homem que implorava pela morte.
Quando sobrou apenas o tronco e a cabeça presa Hendery já não implorava mais, ele sequer estava consciente. O corpo ainda tinha leves espasmos quando era mutilado, não estava totalmente morto, mas também não estava totalmente vivo.
— Você quer tentar? — Jisung perguntou baixinho ao ver que todos já haviam mutilado Hendery e arrancado seus membros.
— Não. — Minho respondeu. — Acho que fiquei em paz e me senti vingado somente em assistir.
— Acha?
— Eu estou bem, não sinto nada quando penso nele ou o vejo.
Jisung concordou e então se desvencilhou dos braços do marido, pegando uma foice das mãos de um dos terráqueos e se aproximando do corpo preso. Girou a arma em seus dedos e com um único golpe decapitou o meio sangue, ouvindo o barulho da cabeça cair na neve e o seu povo vibrar em comemoração.
Jooheon pegou a cabeça do inimigo e então a ergueu em cima do comandante, vendo o sangue cair sobre sua cabeça e o sujar enquanto as vibrações aumentavam. Os olhos de Minho estavam fixos em Jisung que ria, comemorando com os outros aquela vitória.
Jisung o olhou e então se aproximou do marido, sendo seguido pelos outros que abraçaram o Lee o incluindo naquela comemoração.
— Eu amo você. — O comandante falou olhando nos olhos brilhantes do Lee.
Minho sorriu e então o puxou para perto sem se importar com todo o sangue fresco que o cobria, colando os lábios em um beijo enquanto ouvia o seu povo falar em coro um "ohh" seguido de risos.
A luta deles contra os meio sangue havia acabado.
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