50. ''Tudo acabará bem''
Jisung sentia o corpo estranho, olhando ao redor com um pouco de dificuldade e levemente
desnorteado. Tentou se mover, mas sentiu o corpo doer, especificamente sua barriga, tentando ficar imóvel para a dor parar.
Conseguiu ver Changbin sentado em um canto com os olhos fechados e as mãos sujas de sangue, ele parecia estar cochilando e sua expressão esbanjava cansaço.
Desviou o olhar quando ouviu passos silenciosos, conseguindo ver a silhueta do Lee se aproximar de si com uma manta nas mãos. O comandante sentiu a cabeça doer enquanto se lembrava de tudo o que havia acontecido, apalpando a cama inteira enquanto forçava um pouco o corpo para cima tentando se sentar.
Sentiu os lábios do Lee beijarem carinhosamente sua bochecha, ouvindo um som infantil entrecortar o silêncio do lugar. Automaticamente ele olhou para a criança que o marido carregava, sentindo os olhos se encherem de lágrimas ao ver o rostinho pequeno e vermelho.
Não saberia descrever a sensação que estava sentindo aquele momento, ele se sentiu tão impotente e teve tanto medo na hora, mas agora se sentia extremamente bem ao ver o seu bebê nos braços do pai. Ele estava vivo e aparentava ser saudável, então estava mais do que feliz apesar de saber que a criança nasceu muito antes do que deveria.
— Parece com você. — Murmurou, dedilhando a mão minúscula do bebê. — Céus, é tão bonito.
Minho riu baixo e concordou, olhando o comandante enquanto se virava com cuidado, colocando o bebê nos braços do menor que a pegou de maneira receosa, sorrindo ao tê-la em seu colo.
— É uma menina... — O Lee sussurrou. — A nossa menina.
O comandante concordou, passando a ponta do dedo no rostinho do bebê com cuidado, arrumando a mantinha que o cobria. Os olhos de Jisung se focaram na lateral da cabeça do bebê, percebendo que ele não tinha orelhas. Automaticamente o sorriso que tinha em seu rosto se abateu, checando novamente com os olhos com a esperança de ter visto errado, sentindo um grande peso cair sobre seus ombros.
Tirou a manta que cobria o bebê somente para verificar o corpo minúsculo da criança prematura, percebendo que ele tinha todos os membros a não ser as orelhas e um dedo a menos em um dos pés.
— Jisung... — O Lee murmurou preocupado, tocando o ombro do marido que encarava a criança.
— Ela... — Balbuciou, ficando em silêncio logo depois enquanto a cobria novamente.
Jisung balançou levemente seu bebê, fungando baixinho enquanto sentia as lágrimas silenciosas escorrerem por seu rosto. Queria que fosse lágrimas de felicidade, mas não eram.
O quão pecador era para receber aquele castigo?
Mal teve forças para matar o bebê de outra pessoa, não sabia se conseguiria matar o seu sem contar na dor que iria sentir. Aquele pequeno bolinho de manta era tão quentinho e o trouxe uma sensação incrível quando a segurou, queria poder amamentar e vê-la crescer saudável, acompanhar seus primeiros passos e ouvia-la o chamar de pai pela primeira vez.
— Não vou pensar nisso agora, eu quero apenas ficar com ela assim em meus braços. — Cochichou, limpando as lágrimas com a mão livre.
O Lee não conseguiu dizer nada, tinha tanto para falar, mas ao mesmo tempo as palavras pareciam presas em sua garganta. Apenas abraçou o corpo pequeno com cuidado, deixando diversos selares na testa do menor na tentativa de reconforta-lo.
Jisung soltou um suspiro e então voltou a encarar o bebê, vendo ele esfregar a mão pequena na boca e a chupar levemente. Os dois permaneceram em silêncio apenas observando o bebê que estava nos braços do comandante, admirados demais com a recém nascida.
Não admitiam em voz alta, mas estavam com medo do que poderia acontecer, principalmente o comandante. Ele passou quase a vida inteira seguindo fielmente as leis de seu povo mesmo não concordando com algumas delas ele sempre as aplicava porque era o certo, porém agora não sabia se conseguiria. Não parecia tão certo assim aos olhos dele matar o seu bebê por uma besteira daquela, realmente era um hipócrita.
— Ela tem os seus olhos. — O murmúrio partiu do Lee e no mesmo momento o comandante o olhou, percebendo que lágrimas silenciosas escorriam por seu rosto.
— Minho...
— Eu sei o que você vai precisar fazer, mas... — Fungou. — Não sei se estou preparado para perder uma parte de mim. Ela nasceu agora, mas eu incrivelmente a amo tanto.
— Eu também a amo tanto, estou tão confuso. — Admitiu, suspirando. Os olhos pequenos novamente se voltaram para a bebê em seu colo que agora dormia. — Pela primeira vez na vida estou dividido entre meu povo e minha família, mas eu não deveria.
— "O meu povo é a minha família." — Minho resmungou, relembrando que uma vez o comandante havia o falado aquilo.
Jisung se manteve em silêncio enquanto olhava a bebê, beijando a testa pequena e então suspirando baixinho. Olhou para o marido que estava ao seu lado, sentindo a mão quente do Lee tocar seu rosto com cuidado.
— Além de nós alguém sabe? — Questionou.
— Apenas Changbin já que ele fez seu parto, ele se espantou quando viu e eu acabei comentando sobre essa lei e ele pareceu horrorizado com a hipótese de... Você sabe.
A mente do comandante fervilhava em pensamentos, olhou de relance para o citado que ainda parecia dormir em um canto e então voltou a olhar para o marido.
— Então ninguém precisa saber, certo? — Murmurou. — Eu não quero matar o meu bebê e não quero que ninguém faça isso, ela tem que ficar conosco. — Fechou os olhos com força ao perceber que iria chorar, tentando evitar que as lágrimas caíssem. — Eu... Quero cuidar dela, ver ela crescer e a amar todos os dias.
— Jisung....
— Por que ela precisou nascer assim? — Fungou. — Eu não quero fazer isso, Minho!
— Então não vamos fazer, podemos esconder isso e cuidar dela como você falou. — O Lee se apressou a dizer, beijando o rosto molhado do menor. — Ninguém precisa saber.
Jisung concordou calado, encarando novamente a neném que ressoava tranquilamente em um sono pesado. Acabou sorrindo de maneira triste, sentindo sua boca ficar amarga. A situação era decadente e ele estava se sentindo horrível, mas iria lidar com o peso da culpa e assumiria toda e qualquer consequência que sua escolha poderia o trazer.
— Vamos matar ele. — Murmurou, olhando para Changbin que estava desacordado. — Manter ele vivo vai ser extremamente arriscado, não podemos.
— O que? Não! — O Lee interveio. — Ele nos ajudou, Jisung. Se não fosse por ele não teríamos a Jun em nossos braços agora.
— Mas-
— Ele vai permanecer vivo e não vai contar isso a ninguém, confie em mim. — Minho pediu. — Tudo acabará bem.
Meio incerto o comandante concordou após suspirar, ultimamente não tinha cabeça para assumir todas as responsabilidades sozinhos e agradecia por ter Minho ao seu lado. Havia confiado nele uma vez e ele os levou para um ótimo lugar, talvez aquela fosse uma escolha decente também.
Ele estava cansado e não queria fazer mal a ninguém por motivos fúteis nunca mais.
"Tudo acabará bem", era o que ele repetia para si mesmo em silêncio.
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