38. O Abate
— Você não deveria movimentar mais o corpo? — Minho questionou meio confuso, sentindo-se levemente constrangido.
Ele estava assistindo o treino de Christopher atentamente, adquiriu aquele hábito a sua rotina. O loiro normalmente treinava em um horário que o comandante dormia após o almoço. Graças ao cansaço que sentia ultimamente dormir era o que mais Jisung fazia.
Desde que perdeu uma das mãos Christopher teve que se readaptar a muitas coisas, principalmente ao modo em que lutava e utilizava as lanças ou a espada.
— Deveria, mas sinto que não tenho equilíbrio. — Suspirou cansado, largando a espada e se sentando no chão. — Me sinto inútil.
— Não fale dessa forma... — O Lee tentou lhe reconfortar. — Enquanto vivemos precisamos aprender coisas novas.
— É? Tipo o que? — O loiro questionou um pouco irritado, sentia que ultimamente as pessoas sentiam pena de si e ele odiava aquilo. Afinal, ele não era um pobre coitado.
— Eu por exemplo preciso aprender a ser pai, afinal ainda não tenho essa experiência e como não tive uma figura paterna presente durante minha infância não sei se é algo que serei capaz, mas estou disposto a aprender e dar o meu melhor.
O loiro o olhou e então balançou as pernas, talvez ele estivesse sendo muito duro consigo mesmo. Ainda sentia o membro fantasma e aquilo o assustava, odiava olhar para seu próprio corpo justamente para tentar evitar lembrar que agora não tinha a mão direita.
Ele sempre foi destro e se virar somente com uma mão está sendo seu pesadelo diário, Seungmin e todos os outros sempre estão dispostos a lhe ajudar, porém aquilo o faz se sentir inferior de alguma forma.
— Não se cobre tanto sobre nada, você é bem habilidoso e como sempre está se saindo muito bem.
— Obrigado, Minho.
O Lee sorriu de modo gentil, indo até onde o amigo estava o ajudando a levantar, pegando a espada que estava no chão logo depois. Minho encarou a arma afiada, manuseando ela no ar antes de olhar para o loiro.
— Poderia me ensinar? — Pediu. — Eu sempre quis aprender a usar alguma arma para me preparar melhor, nunca se sabe.
— Não tenho autorização pra isso, sabe que o Jisung não quer que você-
— Christopher, o Jisung não está aqui e ele espera um bebê. Se algo acontecer acha que ele vai conseguir fazer algo? Me proteger? — O Lee lhe cortou rapidamente, falando de maneira franca enquanto suspirava. — Ele não pode se esforçar tanto, não posso continuar parado sabendo que a qualquer momento esse lugar pode ser invadido.
O loiro o encarou em silêncio completamente pensativo, ele concordava com o Lee e na verdade sempre tentou convencer o comandante de que Minho precisaria iniciar os treinos para ficar mais resistente e aprender a lutar, mas o teimoso do Jisung nunca aceitou e encerrava o assunto falando que ele mesmo protegeria o marido assim como protegia seu povo.
— Treinos diários durante esse horário, nada de faltar ou se atrasar. — Christopher falou sério. — E o principal, Jisung não pode saber.
— Por que?
— Ele nunca concordou em treinar você, acredita que não tenha capacidade de sujar as mãos com sangue inimigo. — Respondeu, desviando o olhar. — Sempre discordei disso, então se quer mesmo começar a treinar e se tornar mais forte por enquanto precisará ser um segredo.
— Certo. Tudo bem. — Minho concordou. — Podemos começar então?
Christopher olhou o céu por alguns segundos e depois olhou o Lee novamente, negando.
— Não, vamos voltar. — Pegou a espada das mãos do Lee com cuidado. — Iremos começar amanhã.
Sem dizer mais nada Minho concordou, seguindo o loiro quando ele começou a andar rumo ao mercado principal. Observou as pessoas que começavam a tomar o campo de visão deles cumprimentarem o mais velho, percebendo que ele era extremamente respeitado assim como o comandante.
Quando os dois chegaram na porta da torre viram uma pequena aglomeração, enquanto duas mulheres gritavam uma com a outra. Minho viu o comandante próximo delas e se preocupou, praticamente correndo até ele enquanto o checava rapidamente com os olhos somente para ter certeza de que ele estava bem.
Prestou então atenção na briga das mulheres, tentando entender o que poderia estar acontecendo ali.
— Mostre a ele, Naeyon! — Uma das mulheres gritou, exaltada demais.
— Não, não... É mentira! — A outra respondeu com lágrimas nos olhos, apertando contra o próprio corpo o que aparentava ser um bebê.
— Mostre agora a aberração que você gerou! — Apontou, nervosa. — Agora!
Jisung suspirou e então apoiou a mão nas costas do Lee, olhando ele de maneira cansada. Pelo sua expressão e os cabelos emaranhados aparentemente havia sido acordado pelas mulheres, e visto a maneira que estavam exaltadas não fazia pouco tempo que estavam ali.
— Senhoras, não se exaltam tanto por favor. — Minho tentou intervir, atraindo a atenção delas duas.
— Cale a boca, forasteiro! — A mulher que estava mais exaltada falou. — Você não sabe de nada, mal conhece nossas regras e pede que eu fique calma? — Riu, aparentemente incrédula. — Eu tive que sacrificar o meu filho, não é justo que ela tente criar o dela escondido do comandante!
Como um flash de luz o Lee se lembrou da lei criada sobre crianças e pessoas com anomalia, engolindo a seco.
Um tanto que trêmula a mulher que aparentava ser mãe da criança removeu o pequeno manto que a cobria, revelando para o comandante o seu bebê. Os olhos de Jisung se focaram no rosto da criança que dormia mesmo com toda aquela gritaria, sentindo o ar lhe faltar.
Suas orbes se focaram nos pés e nas mãos do bebê, ele não tinha os dedos. Novamente seus olhos se focaram no rostinho pequeno, percebendo que os lábios pareciam meio tortos, como se fossem invertidos.
— Jisung... — Minho sussurrou, tocando com cuidado o braço do comandante que parecia estático. Ele encarava a criança em silêncio sem falar nada há minutos.
A criança foi praticamente agarrada dos braços da mãe, sendo jogada nos do comandante junto a uma pequena faca. Os olhos de Jisung ainda estavam focados no bebê e ele o segurava com cuidado, completamente encantado com a sensação de segurar alguém tão pequeno em suas mãos.
Nunca foi apegado a crianças apesar de gostar bastante, porém não se permitia ter nenhum tipo de aproximação. Um grande exemplo disso era o filho de Christopher e Seungmin, ele nunca o carregou por puro receio.
— Sabe a lei, senhor... A mãe ou o líder precisa fazer o abate, ela se nega a fazer isso. — A mulher falou menos exaltada, olhando para o comandante como se aguardasse alguma ação vinda dele.
Jisung olhou para a mãe da criança que chorava silenciosamente com as mãos trêmulas assim como seus lábios, ela sequer conseguia olhar o próprio filho. Por um momento excitou, mas acabou fazendo para acabar logo com o sofrimento da mulher e até mesmo o seu.
Enfiou a faca na garganta do bebê com cuidado, fechando os olhos enquanto fazia aquilo. Infelizmente não era a primeira vez, mas dentre todas pareceu ser a que mais mexeu consigo. O choro alto tomou o lugar enquanto a mulher caía no chão de joelhos, totalmente desamparada.
O comandante temeu olhar o bebê, após desviar os olhos da mãe que chorava ele novamente os fechou, sentindo um nó formar em sua garganta. Minho ao vê-lo daquela forma tirou a criança de suas mãos com dificuldade já que ele não queria soltar, entregando a mulher que inicialmente fez aquele show enquanto a olhava completamente decepcionado.
Como alguém tinha prazer em acabar com a vida de alguém dessa forma? Tinha certeza de que Nayeon nunca mais seria a mesma depois daquele acontecimento.
— Saia daqui e a leve com você. — Minho mandou, sua voz soou grave e um tanto rude.
A mulher puxou a outra pelo braço a obrigando a se levantar, praticamente puxando-a enquanto andava para bem longe da torre. O resto das pessoas que estavam presentes somente para acompanhar o desenrolar daquela trama também se afastaram, sobrando apenas o comandante e Minho na frente da torre. Percebendo do que se tratava Christopher preferiu se afastar antes que a decisão fosse tomada, ele era uma das pessoas que abominava aquela lei idiota e sempre se negou a presenciar tal barbaridade.
Jisung abriu os olhos de maneira lenta, encarando os dedos um pouco sujos de sangue. Estava com o olhar perdido e não conseguia falar nada, sentindo seu corpo ser puxado e acolhido nos braços do Lee.
— E-Eu... — Balbuciou choroso.
— Shhh. — O Lee murmurou , apertando-o mais no abraço. — Eu sei, amor.
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