35. Unhas e Garras
Jisung estava parcialmente deitado na banheira, os cabelos jogados para fora na tentativa de evitar molha-los e os braços apoiados nas bordas tentando manter seu corpo relaxado com a ajuda da água morna.
O silêncio do lugar predominava, apesar dele não estar sozinho no cômodo. Christopher estava no quarto próximo da sacada, observando o movimento do mercado de maneira distraída.
— O que te preocupa? — Jisung perguntou e então abriu os olhos, apoiando os dois braços na mesma borda, virando um pouco o corpo para a direção em que o outro estava.
— Por que não me puniu? — O loiro questionou, virando-se para o comandante. — Você deveria me matar, Jisung.
Os olhos opacos do Han encaravam o rosto do mais velho, descendo o olhar para o pulso coberto por panos na tentativa de esconder a falta da mão.
— E por que eu deveria? As informações que você passou são irrelevantes, fora que foi um caso de vida ou morte. — O comandante respondeu. — Não tem porque aplicar uma punição em você por ter priorizado a sua vida, Chan.
— Mas...
— Você fez bem em escolher viver, afinal sua família precisa de você. — Jisung o cortou, sorrindo cansado para o mais velho. — Me ajuda aqui? Não sinto minhas pernas.
Prontamente o loiro foi de encontro ao outro, suspendendo-o com cuidado e o enrolando na toalha, antes de pega-lo no colo e o levar até a cama. Jisung moveu os dedos dos pés e então suspirou, sentia sua coluna doer e as vezes a dor era forte o bastante para não conseguir mover as pernas, pelo menos não sentia que as movia.
Com a única mão o loiro tocou um dos pés do comandante, tentando iniciar uma massagem e se frustrando por não conseguir. Ainda estava estranhando fazer as coisas com a mão esquerda.
Batidas na porta soaram antes de Jeongin colocar a cabeça para dentro pedindo por licença, adentrando o cômodo com um pequeno sorriso. Ultimamente Minho estava sempre andando com o adolescente, um seguia o outro para todo lado, tanto que Jisung acabou se acostumando em ter ele presente todos os dias na torre e na mesa com eles durante as refeições.
Não sabia ao certo como aconteceu, mas aparentemente de uma maneira inconsciente eles adotaram o órfão. E graças a convivência Jeongin não gaguejava tanto na frente deles, nem mesmo na de Jisung.
— Temos uma surpresa para o senhor, peço que feche os olhos. — A voz soou entusiasmada e aquilo só preocupou ainda mais o Han, sabia que aqueles dois juntos aprontavam.
Com um suspiro ele obedeceu, fechou os olhos e se manteve imóvel ouvindo passos cautelosos dentro do quarto, antes da voz de Minho soar baixinha pedindo que ele os abrisse novamente.
Quando suas orbes se fixaram na figura do marido ele não acreditou, gargalhando incrédulo. O pequeno dragão estava preso ao peito do Lee, batendo levemente as asas pequenas.
— Quando conseguiu? — Jisung perguntou curioso, ultimamente seu maior entretenimento era ver Minho tentando chocar o ovo do dragão e falhar miseravelmente.
— Não é apenas você que tem um dragão de estimação, sabia? — O Lee falou breve. — Recebi alguns conselhos de Baekhyun e-
— Baekhyun? — O comandante o cortou, mudando a expressão automaticamente.
— Sim... Ele passou pelo mercado para buscar algumas sementes de algo que não entendi bem, percebeu que eu estava com um ovo de dragão e conversamos sobre como chocar e cuidar de um... — Minho respondeu, coçando a cabeça. — E pelo que ele disse, parece ser fêmea.
— Ah... Já está na data. — Resmungou distraído. — E você chocou seguindo quais conselhos dele?
— Ele foi bem generoso em me levar até uma fonte apropriada para isso, já que o meu marido sequer me falou que existia uma! — Minho alfinetou, bufando. — Foi incrível o que eu vi, são tantos reunidos naquele lugar que é surreal.
Jisung sorriu fechado e concordou, sabendo que Minho tinha ido e conhecido pela primeira vez a montanha dos dragões. Era um lugar seguro que os animais viviam para evitar predadores, eles tinham seus filhotes lá e sempre que alguém precisava chocar um ovo utilizava da fonte para isso. O seu povo protegia o lugar e os animais que viviam lá.
Era uma água especial e era alimentada pela grande árvore que ficava no meio da montanha, onde continha a escama de diversos dragões.
— Não pretendia me levar lá, né? — Minho resmungou e se aproximou da cama, segurando o dragão com cuidado e o suspendendo para o comandante que o pegou no colo, sorrindo.
— Pretendia sim, mas não agora. — O menor admitiu. — É um lugar delicado para ir, todos os dragões que estão vivos moram lá, então se algum inimigo descobrir pode ser a ruína das nossas divindades dos céus.
O seu povo sempre acreditou que os dragões eram divindades ou reencarnações, eles tinham muito apego ao animal e os protegiam a todo custo. Eles eram presenteados com um filhote de dragão ao nascer ou então quando matavam seu primeiro inimigo.
Afinal, o vínculo deles com o animal era muito forte, algo que ia além da confiança.
Em determinado momento Christopher e Jeongin ao perceberem que os outros dois entraram na bolha deles resmungaram que iriam deixa-los sozinhos e se retiraram do cômodo. O dragão voou para a outra parte do quarto de maneira livre, enquanto o Lee se aproximava da cama onde o menor estava deitado.
Minho massageou os pés do menor em silêncio, fazendo massagem nas mãos pequenas logo depois. Notando que o comandante ainda estava sem suas vestes após o banho, ele escolheu roupas leves e o ajudou a se vestir.
— Ho, obrigado. — A voz de Jisung soou de repente, ele falou de maneira calma e parecia melancólico de alguma forma.
— Por que este me agradecendo?
— Por ter ficado... — Resmungou. — Você é uma parte importante do meu povo, gostamos de ter você conosco...
— A grande maioria ainda não se acostumou comigo e me olha torto quando passo no mercado. — Minho riu. — Tem certeza que está falando do seu povo e não de você?
O Lee tentou soar zombeteiro, gargalhando de maneira divertida com sua própria provocação. Já Jisung não falou nada, apenas encolheu um pouco as pernas enquanto o olhava seriamente como se travesseiro uma guerra dentro de si.
— Você insistiu para que a gente deixasse as coisas fluírem, e talvez eu esteja gostando de você mais do que eu gostaria. — Jisung murmurou, odiava falar aquelas coisas. — Estou falando porque é um sentimento que vem me incomodando ultimamente.
— Como assim incomodando?
— Eu tenho a sensação de que preciso falar isso, não sei o que pode acontecer amanhã e nem como as coisas vão ser daqui alguns meses, então talvez o momento de falar seja esse. — O comandante suspirou. — Ainda acho que amar é uma fraqueza, mas prometo me tornar mais forte por nós dois.
— Você não precisa se tornar o que você já é. — Minho respondeu com um sorriso, beijando a cabeça do menor. — Não pense demais nisso, estamos juntos e vai ficar tudo bem.
Um pouco forçado o comandante sorriu, sentindo o colchão ao seu lado afundar quando o outro se deitou. Abraçou o corpo caloroso do Lee, sentindo as mãos quentes dele afastarem seu cabelo longo enquanto ele avisava o seu ombro coberto.
Os olhos cansados caíram sobre sua barriga, suspirando pesadamente ao se lembrar que gerava uma criança ali. Ainda não tinha uma opinião formada sobre aquilo, mas sentia seu corpo cada vez mais pesado e dolorido.
— Você acha que o nosso bebê vai ser o que? — Minho perguntou curioso ao perceber o olhar do menor sobre a barriga.
— Se puxar a você vai ser feinho. — Jisung respondeu, gargalhando ao ver a careta do outro. — Brincadeira. Eu não sei, mas queria que fosse menino já que ao meu ver é menos trabalhoso de cuidar.
— E ele poderia assumir o seu cargo no futuro, né?
— Também... Apesar que uma garota não seria tão ruim.
Minho sorriu e bocejou, beijando o rosto do menor enquanto o apertava levemente no abraço.
— Independente do que seja irei amar. — O Lee murmurou. — Acho que seremos bons pais.
— Não tenho tanta certeza quanto isso, mas ensinarei tudo o que sei e irei cuidar e proteger com unhas e garras.
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