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Para sua surpresa


SeungCheol encarou a janela do consultório que visitava havia pouco mais de uma semana e acompanhou uma única gota de chuva que escorreu pela janela.

- Ainda se sente desconfortável de falar sobre ele?

Sua terapeuta, a senhora Kim, perguntou com a mesma voz calma e melosa que fazia os nervos de SeungCheol se exaltarem. O coreano finalmente se virou para ela, negando e se sentando no divã preto.

- Quem é ele, SeungCheol? Sei que o senhor= veio até aqui por conta disso, mas se ficarmos nesse impasse, não poderei te ajudar e sabe disso.

SeungCheol se manteve em silêncio. Ele ainda podia ouvir a voz de Wonwoo dizendo que era loucura, mas SeungCheol não queria voltar atrás. Sabia que a terapia era o caminho certo e foi difícil tomar essa decisão. Afinal, teve que admitir que estava errado, mas ele precisava colocar sua mente em ordem e esquecer aquela loucura.

- A senhora acredita que amar também é deixar ir?

A senhora Kim arqueou as sobrancelhas. Para a velha mulher, Cho SeungCheol era uma incógnita difícil de ser decifrada. Por trás daqueles olhos escuros, havia uma grade de prisões que mantinham o coreano preso nas correntes do que tinha medo. E SeungCheol não parecia disposta a deixá-lo achar a chave para ser liberta. Batucou a caneta na prancheta e suspirou.

- Sim, acredito. - Uma pausa. SeungCheol assentiu. - Foi WonWoo quem lhe disse isso?

- WonWoo me daria um tapa se me ouvisse agora.

Senhora Kim sabia que senhorita Jeon WonWoo era o melhor amigo da incógnita a sua frente, a única pessoa sobre quem ela falou e que lhe dizia o que os pais de seus pacientes adolescentes geralmente concordavam: era uma perda de tempo.

- WonWoo não pode lhe ouvir agora, SeungCheol. O que quer me dizer?

- Nada.

A velha senhora suspirou. Ela sabia que teria que ter muita paciência e fazer seu caminho para dentro da mente de SeungCheol, mas o coreano parecia conhecer cada um de seus truques.

- O que você faz, SeungCheol?

O Choi a encarou sem expressão, como se ela fosse a psicóloga e estivesse lhe analisando. A senhora Kim se mexeu desconfortável.

- Sou professor do ensino médio.

- E gosta dos seus alunos?

Um sorriso irônico surgiu nos lábios do coreano e ele encostou no divã, dando de ombros.

- Não sei se vai gostar da resposta pouco educada que darei.

- Certo. - Ela falou receosa. - Mas todo professor tem seu aluno favorito. A senhora com certeza não é excessão.

- Não acho que será necessário falar desse assunto.

- O que WonWoo-

- WonWoo não tem nada a ver com isso.

Algo na postura de SeungCheol fez com que a senhora Kim ficasse desconfiada.

- O que pode me dizer sobre sua rotina no trabalho, SeungCheol?

- É normal. - Ela deu de ombros. - Adolescentes idiotas, colegas de trabalho burros, alunas tentando conseguir outros meios de passar, suborno dos pais para que seus filhos não sejam reprovados para não mancharem a reputação da família.

- Considera isso normal? - Perguntou um tanto estupefata.

- É Seul, a senhora não via disso quando estava na escola?

Senhora Kim limpou a garganta. Era difícil tratar de alguém que a fazia se sentir intimidada e interrogada. SeungCheol sabia usar seu poder de intimidação para fugir do que não lhe agradava.

- Continue falando do seu trabalho, SeungCheol.

- Por que quer falar tanto do meu trabalho?

- Porque foi a única coisa que se abriu comigo.

- Não me abri. É algo que a senhora facilmente faz dando uma olhada nas minhas redes sociais.

- Não tem informações nas suas-

A senhora imediatamente se calou, mordendo os lábios. SeungCheol arqueou as sobrancelhas, um certo olhar de malícia em seus olhos.

- Viu? - Sorriu com escárnio enquanto a terapeuta ruborizava. - A senhora já sabia.

- Como eu disse, você não se abre.

- Achei que cada pessoa tivesse seu tempo e era o dever da sua profissão esperar.

- Então deixemos de ser hipócritas. Quem é o menino que você segue?

A expressão divertida sumiu do rosto de SeungCheol imediatamente. Ele encarou a velha senhora com cuidado e lentamente começou a estalar seus dedos.

- Por que quer saber de JeongHan?

- Bem, ele é a única pessoa que a senhorita segue. Nem mesmo seu melhor amigo-

- Repito o que lhe disse alguns segundos atrás sobre tempo.

- Repito o que lhe disse no início da sessão sobre te ajudar.

- Talvez ter vindo aqui tenha sido perca de tempo.

Enquanto o coreano se levantava e pegava sua bolsa, a mente de anos da senhora Kim começou a funcionar e as peças se encaixaram como um quebra cabeças digital. Assim que SeungCheol se virou para colocar o dinheiro da consulta em sua mesa, a mão enrugada da terapeuta segurou com delicadeza o pulso dele. Erguendo as sobrancelhas, SeungCheol a encarou seriamente.

- SeungcCheol, JeongHan é o menino que está apaixonado, não é?

Silêncio. O Choi apenas a encarou, dando-lhe uma certeza muda.

- É ele, não é? O senhor não quer falar sobre isso porque está apaixonado por um aluno.

SeungCheol soltou sua mão com brutalidade e desviou o olhar.

- Por isso WonWoo acha que é loucura o que está fazendo? Ele ainda não tem 18 anos? Pelo que eu vi no perfil, está próximo.

O coreano se virou, possivelmente envergonhado. Suspirando, a velha senhora se levantou e caminhou até ele, pondo a mão em seu ombro.

- Olhe, sigilo confidencial existe e não sou juíza, eu estou aqui para lhe ajudar e julgamentos não estão inclusos. - Ela apertou seu ombro e se preparou para virá-la. - Por favor, se abra comigo.

Para sua surpresa, quando a virou, viu aquela grande e poderosa e imponente homem em um estado que não esperaria ver nem em mais de 10 sessões de terapia. Choi SeungCheol estava longe de estar como estava há cerca de 2 minutos atrás.

Para sua surpresa, Choi SeungCheol estava chorando.

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