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Cookies?

SeungCheol respirou fundo e saiu de seu carro com um desgosto mais do que evidente na face. Ele olhou com olhos fulminantes para duas vizinhas fofoqueiras que espionavam porque um professor, que mais parecia um carrasco do limbo ou desenho juvenil, estava na casa dos Yoon' s, uma família respeitada e que se orgulhava da educação e postura dos filhos. Boa coisa não devia ser.

Uma erguida de sobrancelhas foi o suficiente para que ambas as senhoras desistissem, por agora, de espionar uma possível fofoca quentíssima para movimentar o bairro. Nunca tinham nada o que falar daquela família, não queriam perder a oportunidade. Mas pensando melhor, era melhor perder a oportunidade do que os poucos fios de cabelos verdadeiros que restavam. O homem não parecia estar de brincadeira.

Depois de se certificar de que as duas velhas feias foram enviadas de volta para o inferno que saíram, ele se permitiu observar a grande residência dos Yoon's. Diferente da maioria das casas do bairro, aquela tinha o aspecto mais coreano, com jardim  e tudo. Provavelmente se devia ao fato de que JeongHan era coreano, e ele não se mostrava muito fã do país que viviam. SeungCheol não podia culpá-lo por isso. Ninguém em sã consciência seria fã daquele país.

Respirou fundo derrotada e caminhou cautelosa até a frente da casa. A porta escura tinha o desenho de uma flor, uma tulipa branca, e aquilo a lembrou vagamente de quando viu JeongHan pela primeira vez e achou que fosse exatamente isso, uma tulipa branca. Mas se repreendeu antes que deixasse seus pensamentos irem longe demais. Aquilo era errado e arriscado, precisava melhorar. Reuniu coragem após ver que as velhas não haviam voltado e tocou a campanhia dourada.

Ouviu um "já vai" abafado pela porta e esperou. Enquanto isso, reparou no jardim bem cuidado e na grama real, uma raridade naquele lugar, um pouco destruída. Possivelmente, trabalho de Kkuma, a cadela do loiro. SeungCheol levantou os olhos assim que a porta se abriu.

Quase teve um infarto ali mesmo. JeongHan  sorriu sem graça, toda suja de farinha e com os cabelos presos em um rabo de cavalo alto. Usava uma regata verde escura e calça jeans preta. Nos pés, pantufas de esquilo. SeungCheol achou que a velhice precoce estava cobrando seu preço pelas batidas incessantes do coração idiota que habitava em seu peito. O menino pigarreou, tímido.

— Boa tarde, senhor Choi. Perdoe meu estado e por favor, entre.

SeungCheol esperava que não tivesse sido óbvia, por isso entrou com a postura intimidadora que sabia lhe pertencer e observou o local. O interior era aconchegante, com um hall redondo e uma escada que levava ao andar de cima. Havia uma porta que SeungCheol supôs ser o armário de casacos e sapatos. Haviam quadros na parede de JeongHan e sua família, e SeungCheol não precisava de uma lupa para saber qual das dois meninos era a versão mini de JeongHan.

— O senhor quer colocar o casaco no armário? Temos bast-

— Estou bem. — Falou seco.

Hannie se surpreendeu um pouco, mas assentiu e mordeu os lábios.

— Queira me acompanhar até a cozinha, por gentileza.

— Não tão rápido, JeongHan.

Os dois viraram na velocidade da luz para ver um homem, o senhor Yoon, descer as escadas com uma feição séria. SeungCheol ergueu as sobrancelhas para ele, que vacilou um pouco, mas logo voltou ao normal. Antes mesmo dele abrir a boca, JeongHan já parecia estar morrendo de vergonha.

— Senhorit-

— Senhor. — Ele corrigiu com a voz dura.

— S-senhor. — Ele limpou a garganta. — Digo, senhor. Senhor Choi, Yoon Minho, pai do JeongHan. Peço desculpas já, minha esposa Soohyun lida melhor com isso, mas ela teve que sair com o irmão mais velho de JeongHan.

— JunHui. — Falou sério. Ele se surpreendeu, mas assentiu.

— Isso, JunHui. Bem, eu queria pedir para que tente ensinar meu filho a voltar com as boas notas. Ele nunca teve problemas nas matérias que o senhor leciona, não entendo o porquê disso agora.

SeungCheol controlou o impulso de responder. Não daria certo.

— Dessa parte cuido eu, senhor Yoon. O senhor pode voltar aos seus afazeres.

Minho não se orgulhava do medo que o olhar do professor lhe causava, mas o homem era intimidador demais. Ele não culpava Hannie por se distrair, mas sorriu amarelo e deu um tapinha no ombro do filho.

— Faça tudo que o senhor Choi disser e não tire notas baixas, ou vai se ver comigo mocinho. — A frase foi dita em tom de brincadeira, mas SeungCheol fechou a cara e não gostou de como ele ameaçou JeongHan.

— Papai. — O menino falou envergonhado. — Não tenho mais 5 anos.

— Você sempre vai ter 5 anos para mim. Vou trabalhar, se cuide.

Ele deu um beijo na testa do menino e saiu após pegar uma pasta no armário junto com um casaco. JeongHan se virou, ainda envergonhado, e indiciou a cozinha.

— O senhor quer cookies? Acabei de fazer. — Timidamente, colocou uma bandeja cheia deles na mesa. — Desculpe pela minha aparência e-

— Sejamos diretos, Yoon. — Ele, apesar de surpresa, queria acabar logo com isso. — Diga-me porque estou aqui.

— Como? — Perguntou confuso.

— O senhor queria ser lecionado de verdade, porque não conseguia ficar sem uma base extra. Mas acabou, e se quer mesmo jogar esse jogo, então tudo bem.

— Se o senhor acha que estou ameaçada, se enganou muito. — Aquilo surpreendeu ambos. — Não pedi pela minha "base extra", o senhor me ensinou assim e se quer tirá-la, agradeço. Mas aja como um professor primeiro e cumpra o que o senhor Wonwoo prometeu.

Ele lhes serviu dois copos com leite e se sentou a mesa. Olhou nos olhos do professor e viu que ele o estudava minuciosamente.

— Ok então. — Falou calmo, e sorriu diabólica. — Que os jogos comecem, Loirinho.

— Mal posso esperar, senhor Choi.

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