Trevor me deixou em casa naquela noite e foi embora com um estranha pressa. Eu até perguntei se ele queria ficar um pouco, mas ele disse que tinham coisas para resolver. Como sua mãe viria na segunda, imaginei que fosse sobre isso.

Eu ainda estava bem pra baixo quando me deitei para dormir naquele dia. Fiz tudo o que precisava e tudo o que me animava, mas eu ainda estava me sentindo bem desanimada. Acho que isso não passaria até que conseguisse mesmo superar o meu passo.

Antes de dormir peguei no celular e procurei pelo tal perfil. Já não estava mais lá. Certamente Trevor fez o que tinha feito da outra vez e o perfil foi excluído. Mesmo assim... Eu ainda me sentia mal me lembrando do vídeo da minha queda, dos comentários rindo e de toda aquela atenção ruim dirigida a mim.

Será que eu era isso tudo que eles pensavam? Será que eu tenho me dedicado a ser uma pessoa melhor, melhorado a minha saúde, tendo uma rotina produtiva só para maquiar quem eu sou de verdade? Será que sou uma zero à esquerda? Será que minha mãe esteve certa esse tempo todo?

Eu não gostava de ir dormir chorando, mas fui.

[...]

ㅡ Sophia!! ㅡ Abri os olhos e observei o meu quarto. Minha visão ainda estava embaçada, mas pude ver que já era dia e o sol estava bem forte lá fora. Ouvi alguém me chamar, mas pensei ter sido só um sonho, então voltei a fechar os olhos. ㅡ Sophia!! ㅡ Ouvi novamente e abri os olhos na mesma hora. Tinha mesmo alguém me chamando e esse alguém não era qualquer um.

Me levantei da cama na hora e abri a janela. Ajeitei o meu cabelo e olhei lá para baixo. Trevor estava fora da minha varanda, onde eu podia vê-lo. Ele olhava na minha direção com a mão estendida sobre a testa para tapar os olhos da luz do sol.

ㅡ Te acordei? ㅡ Ele sorriu.

Admito... Uma das melhores coisas que podia me acontecer era acordar e já poder ver o sorriso dele. O sorriso dele conseguia me derreter e eu não sabia como minhas pernas ainda conseguiam ficar em pé.

ㅡ Eu vou abrir. ㅡ Fechei a janela, calcei minhas pantufas e desci as escadas. Destranquei a porta da sala e passei a mão nos cabelos novamente para que ele entrasse. Dormi de trança embutida na noite anterior, o que significa que na minha cabeça agora só restava duas tranças e vários fios arrepiados.

ㅡ Ta melhor? ㅡ Ele entrou, tirou os... chinelos? Trevor estava de chinelos?? Que coisa inusitada, ele sempre saía de tênis. E, sinceramente, acho que ele tem uma coleção, porque não repetiu nenhum tênis desde que chegou.

ㅡ Acho que sim. ㅡ Falei por falar, na verdade, não sabia se já me sentia melhor. Não tinha parado para pensar nisso ainda.

A primeira coisa que faz depois de entrar e fechar a porta foi segurar minha cintura com uma de suas mãos e me dar um selinho demorado.

ㅡ Tem planos pra hoje? ㅡ Franzi as sobrancelhas tentando me lembrar do que eu tinha planejado.

ㅡ Na verdade, nada muito importante. Sábados e domingos são meus dias de descanso. ㅡ Abracei meus próprios braços. Além de estar com o cabelo bagunçado e pantufas de coelho nos pés, eu estava de pijama. ㅡ Por que? O que faz aqui essa hora?

ㅡ Você estava muito tristinha ontem e eu quis te fazer uma surpresa. Quero te roubar por um dia e te levar pra algum lugar longe daqui pra você relaxar. ㅡ Ele deu um passo na minha direção e tocou meu rosto com a palma de sua mão. Fechei os olhos e assenti sorrindo. Eu realmente queria aquilo. ㅡ Gosta de praias, certo?

ㅡ Eu amo praia. ㅡ Ri. ㅡ Faz tanto tempo que não vou em uma.

ㅡ Ótimo. ㅡ Ele sorriu. ㅡ Fiz uma reserva numa pousada de frente para a praia, assim você pode descansar e aproveitar a praia também.

ㅡ Não precisa ficar gastando dinheiro assim comigo. ㅡ Ele tocou meu rosto de novo e me observou por uns segundos. Seu olhar para mim era tão... Intenso. Aquilo me passava um carinho tão grande. Parecia que eu tinha tanto valor pra ele.

ㅡ Eu gasto o que for, se eu puder passar um tempo com você e ver você ficar bem. Sei que isso não vai resolver a situação, mas o que eu puder fazer para ajudar a " amenizar ", eu vou fazer. ㅡ Fechei os olhos novamente e só senti o toque da sua mão na minha bochecha.

Trevor me deu mais um beijo e me pediu para separar umas coisas para levar. Biquíni, roupa e " coisas de mulher ", como ele disse. Resumidamente, levei poucas peças de roupa, apenas para caso resolvessemos sair a noite ou coisa do tipo, biquíni, short, shampoo, condicionador e coisas básicas, como carregador de celular, fone e etc.

Depois de arrumar tudo, fui me arrumar. Coloquei uma roupa fresca, já que estava sol e soltei o meu cabelo da trança. Para minha felicidade, ele ficou bem marcadinho com as ondinhas. Depois de me arrumar, desci para o andar debaixo onde Trevor estava sentado no sofá assistindo Brilhante Victoria, que era o que estava passando na minha televisão.

ㅡ Te fiz esperar muito?

ㅡ Não. ㅡ Ele riu. ㅡ Escuta, essa Cat é a Ariana Grande? ㅡ Apontou para a televisão com as sobrancelhas franzidas.

ㅡ Sim? ㅡ Disse como sendo algo óbvio. Ele se levantou do sofá para irmos e eu desliguei a televisão.

ㅡ Ela mudou bastante. Lembro da primeira vez que a vi, estava bem diferente. Mal reconheci. ㅡ Parei no meu lugar e fiz uma careta. ㅡ Que foi?

ㅡ Como assim " primeira vez que a viu " ?

ㅡ A primeira vez que a vi pessoalmente. ㅡ Arregalei os olhos. ㅡ Meu pai já foi dançarino de apoio dela e isso me permitiu conhecê-la. ㅡ Meu queixo caiu. ㅡ Que foi, Sophia? Você está bem? ㅡ Ele me olhou preocupado.

ㅡ Você conheceu a Ariana Grande, cara! Eu tô é chocada! ㅡ Ele riu quando entendeu.

ㅡ Se um dia eu for tão grande quanto meu pai, talvez você a conheça também.

ㅡ Ouviu isso, universo? ㅡ Trevor riu de novo e me acompanhou até a porta. Nós saímos da minha casa e eu avisei minha mãe assim que entramos em seu carro. Trevor deu partida me deixou conectar o meu celular ao som do carro para escolher a músicas que ouviríamos no caminho.

Pegamos a BR e eu já me sentia um pouco melhor. Talvez porque estava cantando e ouvindo várias músicas durante todo o caminho? Talvez. Talvez porque eu estava com o Trevor? Talvez. Talvez porque eu estava indo para longe dos meus problemas? Talvez.

ㅡ I will never say never
I will fight
I will fight 'til forever
To make it right... ㅡ Cantei com a mão fechada na frente da boca, fingindo um microfone. ㅡ Canta comigo, Trevor!

ㅡ Whenever you knock me down
I will not stay on the ground
Pick it up, pick it up
Pick it up, pick it up, up, up
And never say never... ㅡ Ele cantou junto comigo enquanto batucava o dedo no volante.

Chegamos ao pedágio e eu diminuí a música. Ele pagou e assim que passamos, aumentei novamente. Never say never já havia acabado e estava começando Here's your perfect.

ㅡ Ai, meu Deus, você precisa cantar junto! ㅡ Trevor fez uma careta. ㅡ Por favor, você canta muito bem essa música. Eu preciso te ouvir cantando ela de novo.

A música se seguiu e quando o refrão chegou eu coloquei a minha mão fechada na frente da boca dele. Trevor riu, mas cantou junto, sem tirar os olhos da pista.

A cada melisma que ele fazia, eu me arrepiava completamente.

ㅡ Misericórdia, você canta muito. Queria ter nascido com um dom desses. ㅡ Fiz um bico voltando ao meu lugar.

ㅡ Não basta dançar incrivelmente bem?

ㅡ Você dança incrivelmente bem e ainda canta. Como é ser o talento em pessoa? ㅡ Olhei para ele novamente.

ㅡ Acho que você sabe bem como é. ㅡ Sua resposta fez as minhas bochechas corarem, então voltei ao meu lugar novamente e olhei para a janela. Foi aí que eu vi o mar. Nem ao menos notei que estávamos chegando.

O cheiro da água salgada tomou as minhas narinas e eu sorri. Fazia tanto tempo que eu não sentia aquilo.

Olhei para Trevor novamente e o vi dirigindo com mais calma. Já não estávamos mais na BR, então ele diminuiu a velocidade e estava segurando o volante com apenas uma mão. Sua cabeça mexia discretamente na batida da música que tocava enquanto alguns raios de sol entravam pela janela e batiam nele. Tive certeza de que se não tivesse me apaixonado por ele antes, teria me apaixonado agora.

•••
Continua...