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45_ Mirrors

Nós assistimos cerca de dez episódios de um reality de culinária na sala e ao final do décimo eu já estava com fome. Para falar a verdade, não sei como só senti fome agora, já que, pelo visto, não comi nada a tarde toda por motivos de estar desacordada.

ㅡ To com fome... ㅡ Fiz uma careta para Trevor.

ㅡ Quer que eu peça alguma coisa? ㅡ Ele já pegou o celular, mas impedi que ele mexesse na tela.

ㅡ Posso usar sua cozinha? ㅡ Trevor abriu um sorriso surpreso.

ㅡ Você gosta de cozinhar?

ㅡ Gosto. ㅡ Eu aprendi a gostar de cozinhar quando fui morar sozinha, afinal, ou eu cozinhava, ou gastava uma grana preta com marmitas que levam o nome de " fit ", ou eu comprava besteiras no ifood e ferrava com a minha saúde, ou morria de fome. Então... Aprendi a cozinhar. Desde então, amo o momento de fazer uma comida boa ouvindo alguma música. ㅡ Posso?

ㅡ A casa é sua. ㅡ Ele deu com os ombros ainda com um sorriso no rosto e recostou-se no sofá.

ㅡ Não devia dizer isso para as pessoas, visto que você mora num casarão desses. ㅡ Me levantei do sofá e caminhei na direção da cozinha.

ㅡ Não, só digo isso para minha namorada. ㅡ Eu não me virei para ele, mas dei uma paradinha no lugar só para sorrir feito boba antes de ir para a cozinha.

A primeira coisa que fiz foi abrir a geladeira para ver o que tinha. Mentira, foi pegar o celular e colocar minha playlist. A primeira música que tocou foi Mirrors do Justin Timberlake. Deixei o celular apoiado na janela e parei por uns segundos para admirar a vista.

Um dos meus pequenos sonhos era ter uma janela grande na cozinha. A minha casa era pequena demais e a única janela que tinha no andar debaixo era na sala.

Deixei a música rolar e aí sim fui olhar o que tinha na geladeira. Eu fiquei um bom tempo tentando identificar os alimentos dentro daquela geladeira gigante de duas portas. Fiquei um bom tempo pensando no que faria e optei pela comida que eu aprendi a fazer primeiro: Strogonoff. Por que? Não sei, vai que o Trevor nunca tenha comido e essa seja a oportunidade dele experimentar.

Percebi que a música já estava terminando e voltei no começo, porque eu amava essa música e mal prestei atenção. Após volta-la ao início, aí sim comecei a fazer a comida. Coloquei a água do arroz no forno, verifiquei se tinha batata palha na dispensa e comecei a cortar o frango em cubos.

Eu estava fazendo a comida, ao mesmo tempo parava para cantar a música. Estava fazendo isso quando percebi que Trevor estava apoiado na ombreira da porta com os braços cruzados e um sorriso no rosto.

Senti a vergonha me tomar, mas fingi demência e continuei cantando.

'Cause I don't wanna lose you now
I'm lookin' right at the other half of me... ㅡ Apontei para ele enquanto cantava e ele riu.

The vacancy that sat in my heart
Is a space that now you hold... ㅡ Ele cantou também e balançou a cabeça ao final.

ㅡ Agora pode voltar pra sala. ㅡ Apontei para a porta e ele arqueou uma sobrancelha. ㅡ Vai, vai vai.

ㅡ Ta me expulsando da minha própria cozinha? ㅡ Cruzou os braços.

ㅡ Sim. Gosto de cozinhar sozinha. Se você ficar olhando, vou queimar tudo e vai dar tudo errado. Agora vai. ㅡ Virei-o de costas e o empurrei na direção da porta.

ㅡ Ok, ok. Não vou incomoda-la. ㅡ Saiu da cozinha balançando as mãos. Ele não me incomodava, eu só não sei cozinhar com pessoas por perto mesmo.

Voltei meu foco para a comida e segui me divertindo ouvindo as músicas que tocavam aleatoriamente. Quando terminei, Never say never do Justin Bieber que estava tocando. Pausei a música quase no final, servi tudo bonitinho em dois pratos e coloquei sobre a mesa dele. Sorri orgulhosa de mim, tinha ficado muito bonito. Só espero que esteja gostoso também.

Fui até a sala e Trevor estava brincando com um de seus cachorros enquanto a televisão iluminava a sala. Pigarreei para chamar sua atenção e olhou para mim.

ㅡ Ta pronto. ㅡ Anunciei com as mãos unidas na frente do corpo. Como eu disse, só aprendi a cozinhar depois de ir morar sozinha, o que significa que só cozinhei para mim mesma a vida toda. Ou seja, talvez eu nem saiba cozinhar direito, já que não tenho a opinião de outra pessoa.

Trevor veio atrás de mim para a cozinha e observou a mesa sem exibir nenhuma expressão que denunciasse o que ele achou da aparência.

ㅡJá comeu Strogonoff alguma vez? ㅡ Me sentei a mesa junto dele e ele balançou a cabeça negativamente.

Trevor comeu primeiro. Ele continuou sem expressão durante todo o processo, até que...

ㅡ Sophia... ㅡ Olhou para mim. ㅡ Isso ta muito bom. Como nunca comi isso antes? ㅡ Abaixei os ombros em alívio e só aí comi um pouco da comida que estava no meu prato.

ㅡ Eu não sei, mas foi a primeira coisa que aprendo a fazer. ㅡ Nós dois jantamos juntos e conversamos sobre coisas aleatórias. Sobre a vinda da mãe dele essa semana, sobre como ela iria querer matar ele por estar namorando comigo, sobre o festival de dança que vai ter na Califórnia, sobre como ele cozinha mal e era um alívio estar comendo algo caseiro que tinha gosto bom, até que chegamos no assunto dele cantar bem e nunca ter mencionado.

ㅡ Você pode cantar pra mim? ㅡ Já tínhamos terminado de jantar e ele se ofereceu para lavar a louça, já que eu quem tinha cozinhado.

ㅡ Cantar? ㅡ Colocou um prato molhado no escorredor.

ㅡ É. Canta qualquer coisa, só quero ouvir de novo. ㅡ Apoiei o cotovelo na mesa e segurei o queixo com a mão. Trevor ficou uns segundos em silêncio, até que cantou a mesma música que estava cantando antes, quando desci as escadas.

Ele cantou o refrão e novamente a nota alta. Cheguei fechar os olhos sentindo o arrepio em meus braços. Eu era muito fraca com essas coisas de nota alta e melisma. Eu não cantava nada, mas quando ouvia alguém que cantava bem, me arrepiava inteira.

ㅡ Uau... ㅡ Abri os olhos devagar. ㅡ Não copiando o que você me disse, mas eu escutaria você cantando por horas. Pode fazer um show para mim quando quiser.

Trevor sorriu, se inclinou para mim e me roubou um beijo. Logo depois voltou sua atenção às louças.

ㅡ Você não tem lava louças? ㅡ Perguntei curiosa. Tinha de tudo naquela casa.

ㅡ Tenho.

ㅡ Então, por que está lavando a louça, Trevor?

ㅡ Não é sempre que eu vou ter a oportunidade de lavar a louça depois de você ter cozinhado. ㅡ Achei fofo, mas não faria. Odeio lavar louça.

Ele terminou a louça e decidiu tomar banho. Me lembrei que com tudo o que rolou naquele dia, eu tinha tomado banho antes de ir para a apresentação, mas suei, caí, bati a cabeça e desmaiei, então precisava de um banho também, certamente.

ㅡ Pode usar o meu banheiro, eu uso o lá debaixo. ㅡ Ele me entregou um toalha branca, gigante, e um conjunto de moletom que, provavelmente era dele.

Trevor foi para o andar debaixo e eu entrei no banheiro de seu quarto. Era bem maior que o banheiro lá debaixo e tinha até uma banheira, mas optei pelo chuveiro mesmo.

Tomei um banho quente e usei os shampoos dele. Quando vou ter a chance de usar shampoo de rico de novo?

Quando terminei o banho e vesti suas roupas, saí do banheiro e me deitei sobre sua cama. Foi esquisito deitar em sua cama, mesmo que eu já tivesse passado a tarde toda desmaiada ali. Agora eu estava sã e Trevor também estaria deitado ali. Foi estranho, mas eu estava tranquila, pois sabia que, ao contrário do que meus pais pensam, nada rolaria. Eu não me sentia pronta e sabia que Trevor não me forçaria a nada.

Trevor subiu poucos minutos depois. Seu cabelo estava molhado e ele cheirava a sabonete e desodorante. Também estava sem camisa, mas vestiu uma assim que se sentou na cama.

Assistimos ao filme Coach Carter, Treino para a vida e eu admito que quis desistir na metade. O filme era ruim? Não, muito bom, o problema era que o filme tinha mais de duas horas e, para mim, filme que passa de duas horas é série e eu preciso assistir por parte. Mas, assisti tudo, pois Trevor estava muito interessado no filme.

Quando terminou, eu estava me sentindo bêbada de tanto sono.

ㅡ Oh, minha linda, por que não disse que estava com sono? Não precisava assistir tudo. ㅡ Pelo visto o sono estava estampado na minha cara, pois ele disse isso assim que olhou para mim.

ㅡ Eu não queria te atrapalhar. ㅡMe deitei de lado, virada para ele.

ㅡ Me atrapalhar? ㅡ Deitou da mesma forma, virado para mim. ㅡ Você não atrapalha. ㅡ A palma de sua mão tocou a minha bochecha e eu fechei os meus olhos. ㅡ Pode dormir.

Trevor me deu um beijo na testa e eu me virei para o outro lado. Ele desligou a televisão, apagou o abajur e se deitou também. Eu ainda estava com os olhos abertos, só os fechei quando senti o braço de Trevor me rodear e o seu corpo me tocar. Depois que ele me abraçou, fechei os olhos e dormi com um sorriso bobo no rosto.

•••
Continua...

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