37_ Ele veio
Ouvi-la dizer aquilo com um sorriso fraco me aliviou. Mas, ao mesmo tempo, me fez sentir culpado.
ㅡ Hm... O que foi isso? ㅡ Íris sorriu para Sophia assim que o Igor foi embora. Pela reação dela, Sophia não havia dito nada. Sophia não respondeu a amiga, só sorriu mais uma vez balançando a cabeça. ㅡ Kevin, vamos ali comigo.
ㅡ Ali aonde? ㅡ Kevin fez uma careta.
ㅡ Vem logo, idiota! ㅡ Assim Íris puxou o braço do garoto e os dois saíram de perto da gente, entrando na loja da CA.
A maioria dos alunos já tinham saído, então só Sophia e eu estávamos ali. Um clima estranho. Parecia que nenhum de nós sabia exatamente o que dizer.
ㅡ Que bom que está melhor. ㅡ Fui o primeiro a falar. Ela ergueu a cabeça e olhou para mim quase que de imediato. O pouco sol que aparecia batia em seu rosto e a fazia ficar ainda mais linda.
Coloquei as mãos nos bolsos do moletom que estava usando para controlar a vontade de abraça-la.
ㅡ Obrigada por ter levado os remédios lá em casa ontem. ㅡ Um vento um pouco mais frio nos atingiu e ela abraçou os próprios braços. Não pensei nem duas vezes antes de tirar o meu moletom, já que ela estava sem casaco. ㅡ Não precis... ㅡ Não dei a chance dela terminar de falar, apenas entreguei o casaco. ㅡ Obrigada. ㅡ Sorriu antes de vestir o casaco.
Admito que fiquei uns longos segundos só olhando pra ela enquanto ela ajeitava o moletom em si. Não consigo entender como ela ainda estava solteira. Sophia parecia tão perfeita aos meus olhos que eu poderia ficar o dia inteiro só olhando pra ela.
ㅡ Que foi? ㅡ Perguntou ao notar que eu a estava encarando.
ㅡ Nada. ㅡ Balancei a cabeça. ㅡ É só que...
ㅡ Sophia... ㅡ Ambos olhamos para o lado quando um cara parou perto dela e chamou por seu nome. Não sei muito dele, até porque ele faltou bastante na última semana.
ㅡ Nicolas... ㅡ Ela revirou os olhos. Encarei o cara me perguntando quem ele era e o que ele tinha feito para ela reagir dessa forma. ㅡ O que você quer?
ㅡ A gente pode conversar? ㅡ Olhou para mim, como se pedisse que eu os deixasse sozinhos.
ㅡ Eu não sei se quero. ㅡ Ela cruzou os braços.
ㅡ Eu preciso mesmo falar com você. ㅡ Insistiu.
Sophia o observou por uns segundos com a cabeça pendida para o lado. No fim, ela bufou e assentiu.
ㅡ Tudo bem. ㅡ Descruzou os braços. Nicolas me encarou.
ㅡ Em particular...
ㅡ Não, eu me sinto mais a vontade se ele estiver junto. ㅡ Ela respondeu despreocupadamente.
ㅡ Mas...
ㅡ Você vai falar ou não vai? ㅡ Sophia arqueou as sobrancelhas.
ㅡ Ta bom. ㅡ Ele ergueu as mãos. ㅡ Eu só... Queria te pedir desculpas.
ㅡ Ah, é mesmo? ㅡ Sophia riu.
ㅡ Sim. Eu me sinto muito mal por ter te dito aquelas coisas. A verdade é que minha namorada... Digo, ex-namorada, sentiu ciúmes de você e mandou eu dizer aquelas coisas. Eu nunca teria vergonha de você gostar de mim. Pelo contrário. ㅡ Ele estendeu a mão para pegar a dela, mas ela ergueu a sua, impedindo que ele a tocasse.
ㅡ Não encosta em mim.
ㅡ Mas, Sophia... ㅡ Ele insistiu novamente. Quando vi, minha mão já havia agarrado o pulso dele. Ele me encarou.
ㅡ Ela não quer que toque nela. ㅡ Empurrei o seu braço para trás.
ㅡ Qual é a tua, maluco? ㅡ Nicolas se virou totalmente para mim. ㅡ É namorado dela por acaso? ㅡ Não o respondi, apenas o encarei. Estava com raiva, queria poder dizer que sim.
ㅡ Nicolas, vai embora. ㅡ Sophia tocou o meu braço e me puxou para trás, ficando entre mim e ele.
ㅡ O que ta rolando? ㅡ Kevin apareceu junto de Íris.
ㅡ Arg, você? Já não percebeu o quão inconveniente você é? Mete o pé, Nicolas! ㅡ Íris acenou na frente do rosto dele.
Nicolas ajeitou o casaco com raiva, me encarou novamente e saiu dali, seguindo pela calçada.
ㅡ Ta tudo bem? ㅡ Kevin perguntou.
ㅡ Sim. ㅡ Sophia assentiu. ㅡ O que vocês compraram? ㅡ Apontou para a sacola nas mãos da Íris.
ㅡ Advinha? ㅡ A garota sorriu balançando a sacola.
ㅡ Outra meia calça? ㅡ Sophia perguntou rindo e a garota comemorou dizendo que sim.
ㅡ Aí, o que acham de sábado agora a gente ir almoçar na casa dos pais da Sophia? ㅡ Íris sugeriu.
ㅡ Como assim? Estão se convidando para ir na casa dos meus pais? ㅡ Sophia cruzou os braços rindo mais.
ㅡ É, a gente ajuda no churrasco. Sei que você almoça lá todo fim de semana. ㅡ Íris sorriu empolgada. ㅡ Deixa que eu falo com a sua mãe. Depois combinamos o que cada um vai levar. ㅡ Ela sacou o celular. ㅡ Ta na hora do ballet... ㅡ Resmungou.
ㅡ Hora da humilhação. ㅡ Sophia disse logo em seguida.
ㅡ Bom, eu vou pra casa dormir o resto da tarde. ㅡ Kevin acenou para elas com um sorriso e saiu caminhando pela calçada.
ㅡ Quem me dera... ㅡ Íris abaixou os ombros. ㅡ Enfim, vamos? ㅡ Olhou para Sophia.
ㅡ Uhum. ㅡ Ela assentiu e olhou para mim. ㅡ Algum dia eu te devolvo. ㅡ Disse se referindo ao casaco, sorriu mais uma vez e seguiu com a amiga para o elevador.
Ela sumiu do meu campo de visão e eu suspirei. É isso. Amigos.
( Narrado por Sophia )
A aula do ballet foi quase uma tortura. Fizemos tanta diagonal que o frio que eu estava sentindo sumiu por completo e deu lugar ao suor. Em dias normais eu iria do estúdio direto para a cafeteria, mas precisava tomar um banho.
Após o fim da aula, peguei minha mochila e o casaco do Trevor, me despedi da Íris e corri para casa. Tomei um dos banhos mais rápidos da minha vida, me arrumei e já estava pronta para sair quando vi o moletom dobrado sobre o sofá.
Eu tinha vestido um casaco meu, mas o tirei e vesti o moletom de Trevor mais uma vez. Eu não demonstrei tanto, mas quis pular de alegria no momento que Trevor me entregou o seu moletom. Quando eu visto, sinto o cheiro dele. Não é a mesma coisa de sentir o abraço dele, mas é parecido. Gostaria de nunca devolver.
Saí de casa e caminhei até o centro da cidade. Cheguei na cafeteria e, infelizmente, tive que tirar o casaco para colocar o uniforme. Talvez por ser segunda-feira, o lugar não estava tão movimentado. Carol não tinha ido trabalhar porque estava resfriada, então fiquei praticamente sozinha, visto que Isadora é a mesma coisa que nada ali.
ㅡ Ta tristinha, Soph? ㅡ Ela se aproximou do balcão onde eu estava com o cotovelo apoiado, segurando o rosto com a cabeça.
ㅡ Não. ㅡ Continuei na mesma posição, encarando a cafeteria, agora, vazia.
ㅡ Então, o que foi? Tá esperando seu namorado gringo aparecer? ㅡ Ela riu. Eu não a respondi, mas admito que estava.
Fiquei a última meia hora olhando para a porta na esperança dele aparecer. Tínhamos alguma coisa? Não. Teríamos? Não. Mas eu queria vê-lo o tempo todo? Sim, sim e sim.
ㅡ Acho que ele não vem. ㅡ Ela disse num tom de provocação e foi para a parte de trás da cafeteria.
A segui com o olhar e revirei os olhos. Ouvi o som de alguém entrando e olhei de imediato na direção da porta. Murchei quando o que vi foi um senhor de barba rala, óculos e barrigudo.
ㅡ Posso usar o banheiro? ㅡ Ele perguntou.
ㅡ Segunda porta à direita. ㅡ Indiquei o corredor e ele seguiu na direção. Bufei me convencendo de que Isadora estava certa. Trevor não viria, e ele não tinha porquê vir.
A última hora se passou e chegou a hora de eu ir embora. O cozinheiro ficou de fechar, então eu não precisei. Isadora já tinha ido embora tinha uns quarenta minutos, com a permissão da chefe.
Peguei a minha bolsa, vesti o moletom novamente e saí da cafeteria. Senti o vento frio que batia lá fora e abracei meus próprios braços. Observei a rua escura, apenas iluminada por postes e vitrines de lojas fechadas.
Parei no lugar quando me deparei com alguém parado na calçada, apoiado num carro. Num belo de um carro.
ㅡ Trevor? ㅡ Não consegui esconder o sorriso e isso o fez sorrir também. ㅡ O que... O que faz aqui? ㅡ Me aproximei dele.
ㅡ Eu não sei. ㅡ Ele deu com os ombros. Ele estava tão cheiroso. Seu cabelo estava molhado como se ele tivesse saído do banho e vindo direto para cá. ㅡ Posso te levar pra casa?
Era tão estranho. Tudo em mim parecia tão completo quando ele estava perto. Era perfeito.
ㅡ Claro. ㅡ Concordei sem pensar muito.
Isadora estava errada. Ele veio.
•••
Continua...
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